domingo, 28 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3676: As Nossas Mães (1): Um poema da minha Mãe, Leopoldina Duarte (António Duarte de Paiva, ex-sold cond, HM 241, BIssau, 1968/70)


A minha Mãe


Caros Carlos, Luís e Virginio

Andando por aqui, nesta casa só, vasculhando malas e caixinhas, algumas do meu tempo de menino, pertences de minha mãe que me deixou em 96, sou surpreendido por uma folha de papel dobrada em 12 partes, da qual não tenho a mínima ideia de ter tido conhecimento e com os nossos tertulianos quero partilhar. Minha mãe também a eles se dirigia.

Se entenderem, que merece ser publicada, podem fazê-lo.

Minha mãe, mal sabia ler ou escrever, mas em quadras soltas era mestra, hoje tenho pena de nunca ter escrito o que ela dizia. Não sei quem lhe escreveu isto à máquina, mas pouco importa.

Está com data de 10 de Dezembro de 1969, em cima, mas não consegui aqui no scan apanhar data e assinatura, preferi assinatura Leopoldina Duarte.

Quero aqui deixar a todos os tertulianos e suas famílias um Feliz ANO NOVO.

Um abraço a todos


António Paiva


Meu filho, a tua mãe
Tanto suspira por ti,
Até chego a pensar
Que não te lembras de mim.

Se tu soubesses, meu filho,
O amor que a tua mãe te tem,
Vejo vir os aviões
E notícias tuas não vêm.

Será que tu me esqueceste
Ou a carta se perdeu ?
Mas perdoa-me, meu amor,
Se a criminosa sou eu.

Tinha a carta quase feita
E ainda fui ao correio,
Agora estou satisfeita
Porque a notícia já veio.

Lá vinha o meu querido filho
A ler o que me mandava,
Com uma cara de riso
E eu com saudades chorava.

Agora estou satisfeita
Assim como tu também,
Já recebeste notícias
Da tua mãe por alguém.

Adeus, meu filho querido,
Eu do coração te peço
Que não esqueças a tua mãe
Que aguarda o teu regresso.

Trago-te no coração
Mas ando sempre em cuidados,
Daqui mando um forte abraço
Para todos os nossos soldados.

Eu aqui peço, a Deus
E à Virgem Santa Maria,
Que seja a vossa protectora
E de todos a vossa guia.

Adeus, amor, que eu cá fico,
Com o coração em pedaços
E saudades de não te ver
Para te apertar nos meus braços.

Leopoldina Duarte

[Revisão e fixação do texto: L.G.]
__________

Nota de vb:

1. António Paiva foi Sold Cond no HM 241 de Bissau, entre 1968 e 70

2. Artigos da série em

22 de Dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3662: As Nossas Mulheres (1): As que casaram com ...a Guiné. (Virgínio Briote)

24 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3667: As Nossas Mulheres (2): De Bissau a Lisboa, com amor (Cristina Allen)

2 comentários:

Anónimo disse...

Bendita Mãe António!
Que sejas um filho digno Dela.
A tua Mãe, não interessa o grau leterário, foi uma Mulher com sentimentos que deveriam envergonhar o país em que vivemos.
Bem hajas por ser filho de uma mulher assim!
Tudo de bom para ti e que o próximo ano te seja pródigo em felicidade.

Um abraço do tamanho da nossa Tabanca,

Mário Fitas

Luís Graça disse...

Tomo a liberddae de divulgar, aqui, a mensagem que o Paiva me mandou no dia 30 de Dezembro.

Caro Luís

Ontem não vim a casa.
Só agora pode vir ver os mails e estou bastante comovido, sem encontrar palavras certas para agradecimentos, mas ficarei eternamente grato, a ti e ou Carlos, pelo carinho e atenção que dispensaram aos versos de minha mãe.

Nunca ela pensou, nem eu, que l2 anos passados sobre sua morte, ia ter prioridade no reino dos vivos.
Pensando um pouco nos modos de minha mãe, vos deixo dela o agradecimento:
- Obrigada, bem hajam, meus filhos.

Aproveito para deixar aos três, incluindo Briote, um feliz Ano Novo com vossas famílias.

Um grande abraço
António Paiva