domingo, 11 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3722: Fauna & flora (4): Tudo o que sabemos sobre o macaco-kom (Jorge Teixeira-Portojo / António J. P. da Costa)

1. Mais informações em resposta ao pedido da Maria Joana Ferreira da Silva, investigadora portuguesa que está a fazer, no Reino Unido, a sua tese de doutoramento sobre o macaco-cão da Guiné (*):


(i) Jorge Teixeira (ex-Fur Mil, Guiné, 1968/70):

Caro Luís:

Uma vez provei um pouquinho de carne que me disseram que era de macaco. Na realidade só sei isso. Creio que foi assado pelo pelotão fula da artilharia.

No Cantanhez, ali para os lados do cruzamento de Camaiupa, onde fiz algumas emboscadas e no tempo em que eram possíveis os reabastecimentos por terra para Cufar, avistei alguns macacos. Muitas vezes sentavam-se na picada. E voavam por entre as árvores, provocando-nos um cagaço tremendo. Mas não sei que raça eram.

O nosso cabo Valadares, e o furriel Mendes, da CCS do BART 1913, adoptaram um macaquito, mas era um sagui. Do qual o Furriel André tem uma estória engraçada, no tempo em que ele viveu no quarto deles. Com o dito sagui tenho uma foto com ele no meu ombro.

É tudo que eu sei sobre macacos.

Um abraço de amizade. Espero que já estejas de boa saúde. Eu já estou a 90%
Jorge Teixeira

(ii) Cor Art António Pereira da Costa (ex-Cap Art CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)

Por mim lembro-me de que na estrada Cutia - Mansabá havia um lugar que se chamava Mamboncó, ao qual chamávamos a Aldeia dos Macacos. Era uma aldeia abandonada devido à guerra e com muitos mangueiros onde os macacos-cães tinham inteira liberdade. Às vezes saíam à estrada asfaltada e iam à frnte das colunas mais de 1 Km, a correr. Pelo Google Earth creio que Mamboncó hoje foi reocupada.

Viviam em grupos da ordem dos 10 -15, entre adultos e pequenos.

Creio, sem confirmação, que os manjacos os comiam. Nunca vi matar nenhum e não creio que os comêssemos.

Lembro-me que as mascotes dos quartéis eram os saguis. Creio que os macacos-cães não se habituavam ao cativeiro. Os campos de mancarra (amendoim) e de abacaxi era protegidos dos macacos por miúdos que os afugentavam para não estragarem as culturas.

Lancei um campo de minas naquela aldeia. Os macacos desenterravam-nas com extrema perícia e chupavam na pontinha do elemento iniciador. Eram minas minúscula que pareciam uns tinteiros antigos. Nunca nenhum accionou nenhuma. Não sei o que é cabrito pé da rocha. Nunca detectei o uso de macacos para fins religiosos. Só numa operação à Ponta Varela encontrei un pequeno "pagode" com algo parecido, mas eram ratos do campo. Alguns naturais comiam animais que outros abominavam como os pelicanos. Em Cacine, o pescador senegalês comia pelicano e gostava, embora o pessoal Nalu dissesse que sabia a peixe.

Há uma curiosidade. É que a guerra criava regiões protegidas para os animais. Nem nós nem o PAIGC íamos caçar a certas zonas e os animais expandiam-se, como no Quitafine (extermo SW da Guiné) Aí o caçador Alfa Bá (civil marido da Mariama) vindo de Cacoca caçou porcos-espinhos, muito saborosos, javakis (porco de mato) cabras de mato e até um pangonlim enorme que é um bicho muitagiro!...

É tudo o que me lembro. Pergunte que se me lembrar digo.

Um Ab do
António Costa
________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anterioers desta série:

10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3714: Fauna & flora (1): Pedido de apoio para investigação científica sobre o Macaco-Cão (Maria Joana Silva)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63774 - P3720: Fauna & flora (2): Os macacos-cães do nosso tempo (Luís Graça / J. Mexia Alves)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3721: Fauna & flora (3): Mais histórias de macacos (Henrique Cabral / Luís Faria)

2 comentários:

Anónimo disse...

Como ainda não apareceu outra informação já enviada.
Aqui fica a correcção:
Camaiupa fica a Norte da mata de Cufar Nalu, na margem direita do Cumbijã.
O Cantanhez fica na margem esquerda.

Mário Fitas

Unknown disse...

Mário.
Naquele tempo, em que ninguem falava de "coisas" sérias comigo,e Catió era considerado um centro de férias, limitava-me a ouvir e a aprender com soldados mais velhos. Creio -nao tenho a certeza,- que ainda saí uma ou outra vez com pessoal da companhia do Branquinho e do Cepa para aqueles lados. E o Cantanhez e Camaiupa eram sinónimos de porrada, de muito respeito, silencio. Ali comecei a aprender o que eram fornilhos, minas pessoais, minas anti-carro, minas armadilhadas, essas coisas banais que ao longo duma "carreira" fomos deglutindo.
Amante que sou de Geografia e História, lamento que o Google Eart tenha tão mal definida aquela área.
Um abraço para toda a Tabanca Grande.