quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3743: Estórias do Jorge Fontinha (3): O meu Grupo de Combate (Jorge Fontinha)


1. Mensagem de Jorge Fontinha, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791, (Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 9 de Janeiro de 2009:

Caro Carlos Vinhal:

Tenho andado entretido a ler os Posts do Sampaio Faria que me fazem reviver melhor que as minhas próprias memórias. Todavia ocorreu-me hoje mandar uma outra Estória, esta a do meu Grupo de Combate, que enviarei em anexo deste Email. Será a 3.ª e será: "O MEU GRUPO DE COMBATE".

Tenho pena de não ter uma réplica do Crachá que eu próprio, na altura fiz. Mando no entanto uma fotografia em que ele está, ao lado do da Companhia, à entrada do então destacamento de MATO DINGAL.

A encabeçar a Estória gostaria que figurasse a foto militar e o Crachá da Companhia.

Um abraço para toda a Tertúlia.
Jorge Fontinha

O MEU GRUPO DE COMBATE

O meu Grupo de Combate, constituído já em Bula, é organizado inicialmente sem Oficial, tendo de começo, uma formação atípica de 3 furriéis. O Sampaio Faria, que o comandou de início, eu próprio, Jorge Fontinha e o também Furriel Antonino Chaves. Um mês passado, chega finalmente o Alferes Rua Gaspar, que o passaria a comandar até ao desembarque em Lisboa, tendo saído da composição, o Sampaio Faria que viria a integrar o 2.º Grupo, comandado pelo Alferes Carlos Barros.

Como furriel mais antigo, passo a substituir o Alferes, nas suas ausências, que diga-se de passagem era a maioria das vezes...

Foto 1 - Alferes Gaspar e Jorge Fontinha

Foto 2 - Furriéis Jorge Fontinha e Antonino Chaves

A minha secção era a 1.ª, a da frente, que desbravava caminho e levava os restantes, em bicha de pirilau, ao objectivo e por vezes até par o evitar!...

O meu desempenho nessas funções, chegou a ser famoso, ao ponto de quando saía mais que um Pelotão ou mesmo a Companhia completa, era sempre o meu que ia na frente. Na verdade, uma bússola um mapa e um rádio Banana, para além da G3, eram os meus instrumentos permanentes de trabalho.

Foto 3 - Da esq. para a dir: Alferes Gaspar, Soldado Mário Lobo, Furriel Fontinha, Soldado Sampaio (de pé) e Cabo Tony Pinho

Houve até quem me baptizasse de Inchalazinho!... Foi o Bom e grande amigo, Antonino Chaves. (Há trinta e seis anos que não o vejo, todavia sei onde está e com ele mantenho troca constante de Email's. O velho Obelix, que vive na sua ilha nos Açores!... Ainda contarei o contexto em que ele no auge da sua fúria contida, mas amiga e compreensiva o fez!... O esgotamento era tal e a minha persistência também... eu sei que ele compreendeu.

Inchalá, era o guia mais famoso, em toda a região de Bula e quase todos o pretendiam para servir de guia. Eu não o fazia e nem queria nenhum à minha frente. À minha frente eu só queria o Octávio Domingos, com a sua HK 21 e logo atrás de mim, o Azevedo, em 3.º na progressão.

Eram constantes as missões que nos foram confiadas, na primeira fase, da nossa permanência em Bula, tendo aí ocorrido o nosso baptismo de fogo, já descrito na minha primeira História publicada no Blogue, e igualmente ocorrido a primeira morte no Grupo e concretamente, na minha secção, o Celestino. Hoje não me disponho a contar os pormenores. Será para uma outra oportunidade. Honra à sua memória.

Ano Novo, vida nova. Nos primeiros dias de Janeiro, somos destacados da sede da Companhia e rumado para Teixeira Pinto, onde fomos postos à disposição do CAOP 1, Comandados na altura, pelo Sr. Coronel Rafael Durão.

Foto 4 - Na "Ponte" Alferes Nunes, entre Teixeira Pinto e Cacheu

Nesse período que decorreu até 25 de Maio, altura a que o resto da Companhia se veio juntar a nós, passamos a colaborar activamente com patrulhamentos, seguranças e emboscadas, no avanço e cadência de ritmo dos trabalhos da estrada Teixeira Pinto-Cacheu que é accionada pelo CAOP 1. Por outro lado, em parceria com Fuzileiros Especiais, Paraquedistas e Comandos, são efectuadas Operações de grande envergadura, sobretudo na Região de BURNÉ e na Península do BALANGUEREZ.

Foto 5 - Com o Enf. Silva, no Balanguerez

A vinda do resto da Companhia, sem o 3.º Grupo que entretanto havia sido deslocado para BISSUM, veio reforçar-nos no esforço de colaboração com as Tropas Especiais do CAOP. Nem por isso a nossa actividade viria a diminuir.

Entretanto, Bissau começou a ficar carente de protecção urbana e eis que a Companhia para lá foi, a fim de colaborar também, com guardas, escoltas, rondas, patrulhamentos, etc. Foi durante o mês de Agosto.

De regresso a Teixeira Pinto, voltamos à rotina anterior, que viria a estender-se até ao fim de Novembro.

Findo este período, a Companhia reagrupa-se finalmente em Bula, mas em missão diferente.

O meu Grupo de Combate, juntamente com alguns Cabos e Soldados Especialistas, foi para uma missão de Reordenamentos, aliás como a restante Companhia. A nós coube-nos o Destacamento de MATO DINGAL

Foto 6 - Entrada do destacamento de MATO DINGAL, com o Crachá da Companhia e o do 4.º Grupo de Combate (da minha autoria)

Aí fizemos de tudo. Construímos casas de tijolo, demos aulas às crianças, prestamos assistência medicamentosa à população local e com eles até assistimos à exibição de filmes, naturalmente e superiormente organizado pelo saudoso e grande amigo já não entre nós, do Furriel Fotocine que nos visitava com frequência

Foto 7 - Ensinando as crianças a fazer uma horta, nas traseiras da escola

Foto 8 - Dando aulas em Mato Dingal na escola local, por nós improvisada

Foto 9 - Festejando o Natal de 1971, com parte do Grupo de Combate, em Mato Dingal

Jamais esquecerei o Furriel Fotocine, Fernando Barradas. Paz à sua alma! Foi um grande Homem. As minhas homenagens. Já na altura era Jornalista de “O Comércio do Porto”. Nesta missão, os bravos soldados foram trolhas, carpinteiros, pedreiros, etc. O Alferes Gaspar, o Engenheiro, Arquitecto e Construtor Civil. O Furriel Antonino Chaves, o Vagomestre, o Ministro da Administração Interna, o homem do sistema… O Cabo Silva, o médico, o Enfermeiro, o parteiro e até o Furriel Chaves lhe serviu de assistente na sala… de Partos. Eu fui o professor, coadjuvado pelo Cabo Tony, o homem do Lança –Rockets! É evidente que a maioria das aulas foram dadas por ele. A esta missão, confesso que me baldei um pouco. Eu era mais, não um homem do sistema mas da guerra!...

De regresso a Bula, a Companhia reagrupa-se e prepara-se para os últimos meses de Comissão.

A partir de Julho de 1972 o Grupo de Combate, juntamente com a restante Companhia, retoma a missão original, Operações ao Choquemone, patrulhamentos ao redor da cidade de Bula, protecção aos grupos de desminagem, escoltas e outras acções de protecção à população civil.

Finalmente o regresso a Lisboa, no final do mês de Setembro

Foto 10 - Alferes Gaspar, Capitão Mamede Sousa, Furriéis Fontinha e Sampaio Faria, de frente e Furriéis Antonino Chaves e Madaleno, de costas

A festa da despedida.

Foto 11 - de pé Furriel Sampaio Faria, de bigode e sentado no banco: Furriel Jorge Fontinha. De braços abertos outro furriel do Batalhão cujo nome me não recordo

Foto 12 - Furriel Sampaio Faria, Furriel Mecânico Auto Santos Mealha, Furriel de outra companhia do Batalhão e Jorge Fontinha

Fotos : © Jorge Fontinha (2009). Direitos reservados [Legendas: JF]

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3186: Estórias do Jorge Fontinha (2): Estrada de Teixeira Pinto-Cacheu (Jorge Fontinha)

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro Jorge Fontinha
Acabo de ler esta tua 3.ª parte das tuas andanças, que devem ter sido bem duras, pelo "Chão Manjaco" e depreendo que foste para Teixeira Pinto nos idos de JAN71. É isso não é? Eu aportei ao CAOP1 em 04MAI71, vindo de Mansabá, mas a minha estadia era "bem mais agradável", pois era adjunto do Maj dos assuntos das POPS. Talvez nos tivessemos cruzado, mas não me recordo de vocês. Agora daquela Ponte, que apresentas na foto 4, lembro-me muito bem, pois igualmente a atravessei várias vezes. Posso guardar no meu ficheiro essa foto, ainda que identificada como tua?
Já agora um esclarecimento. Eu quase afirmaria que só estiveste sob as ordens do então Cor Rafael Durão mais tarde, porque julgo que quando lá cheguei ainda comandava o CAOP1 o Cor Art Gaspar Pinto de Carvalho Freitas do Amaral, que foi substituido pelo Cor Pára quando terminou a comissão mais tarde.
Abraços
Jorge Picado

Anónimo disse...

Meu grande amigo Inchalazinho.

Até que enfim te resolveste a mandar mais um escrito.Continua pois tens estórias para contar que podem complementar as que eu próprio vou enviando.Se mais alguem da nossa companhia desse o seu
contributo,concerteza que podiamos ficar com a real história,agora com h.dos GR Comb e da 2791
Já falei com o Urbano,Castro,Cancelo e outros...e espero que se decidam.

Lembras-te daquela vez em que eu tinha chegado de férias da Metropole,na mesma noite arrancamos para o Balangerez,embrulhamos e eu te pedi para vires a abrir caminho na retirada?Eras mesmo um Inchalazinho!
Um abraço
Luis S Faria

Anónimo disse...

Um abraço ao Jorge Picado.
Eu tenho uma nini-agenda da época,onde normalmente tenho uns apontamentos e efectivamente era o Sr.Coronel Rafael Durão, o Comandante.Certamente que nos teremos cruzado por algumas vezes.Algumas delas até nas instalação do CAOP, pois na ausência do Gaspar, eu comandava o Grupo de Combate e foram muitas as vezes que lá tive de ir, sobretudo, para falar com o Sr. Major de Operões esse sim, cujo nome se me varreu.
Naturalmente que podes utilizar a fotografia.

Ao Faria, um obrigado grande pela sua generosidade nos comentários e o reconhecimento da minha perícia em orientação de ida e sobretudo de regresso das zonas menos propícias á nossa estadia...

Obrigado a ambos.

JORGE FONTINHA

Anónimo disse...

Caro Jorge Fontinha
Antes de mais obrigado pelos esclarecimentos e, já agora, o Maj das Operações quando lá estive e que ainda ficou até ao tempo do Graça de Abreu, era o Barroco, que tinha como adjunto o Cap Art Borges, meu camarada de quarto.
Abraços também para ti
Jorge Picado

Jose disse...

Pertenci à CCaç 3327, companhia de açoreanos, que esteve acampada na Mata dos Madeiros, nos dois destacamentos à esquerda da estrada, a seguir ao Bachile. Fomos para lá a 6 de Abril de 1971. Na altura, o comandante do CAOP1 era, de facto, o Sr. Coronel Amaral. Ficou célebre a procissão de velas, em honra a N.Sr. de Fãtima, que fizemos em plena mata, e na qual participou o referido Coronel. Nervosamente, claro...e não era para menos.
Já foi sobre as ordens do Tenente Coronel Durão, que se realizou a operação "SEMPRE ALERTA",nos fins do mês de Junho. Nessa operação participaram todas as forças envolvidas na proteção da referida estrada Teixeira Pinto/Cacheu: infantaria, comandos, fuzileiros e paraquedistas.
Foi nessas andanças da Mata dos Madeiros que conheci o Furriel Chaves, natural da ilha de Santa Maria. Nunca mais soube dele.
Cumprimentos,
José Câmara
Stoughton, MA