domingo, 25 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3793: Fauna & flora (16): Relações amistosas com o Macaco-cão na zona de Cufar (Mário Fitas)

Mensagem de Mário Fitas, de 12 de Janeiro de 2009


Fauna na região de Cufar em 1965/66

Quando a CCaç 763 tomou conta do sector de Cufar, existia uma enorme lagoa entre o Aquartelamento - antiga quinta do madeirense Sr. Camacho - e a tabanca de Iusse.
Era pois um ponto onde, para além do gado dos moradores daquela tabanca pastoreava e se sedentava, havia outros clientes que passo a referir: gazelas, cabras do mato, javalis, porcos-espinhos e alguns predadores, como uma espécie de gato bravo, mais parecido com o nosso furão.

Quanto a répteis desde as serpentes às mais variadas espécies de cobras, tudo por ali aparecia, até uma espécie de lagarto grande parecido com as iguanas e de que o meu amigo Alfa Nan Cabo se banqueteava.

Mas o verdadeiro espectáculo era dado pelas aves: eu, que depois da guerra fui ornitólogo, fartei-me de identificar variadíssimas espécies que frequentavam a lagoa: desde o grou coroado lá conhecido pela Ganga; pato da Berbéria cá conhecido como pato mudo. Havia diversas qualidades de patos e de todos os tamanhos, assim como rolas, onde conheci pela primeira vez a rola diamante (pequenina com os seus pontinhos nas asas) até às rolas gigantes incluindo pombos verdes.

Os massorongos (conhecidos por papagaios do Senegal) e periquitos verdes. O marabu, os jagudis (almeidas daquela terra) e protegidos por lei. Vinha depois a passarada miúda: desde os barulhentos tecelões que faziam das árvores colmeias de ninhos, até aos pequeninos bicos de lacre, degolados e sumptuosas viúvas do paraíso no seu lindo e ondulante esvoaçar.

Com tudo isto, a guerra foi acabando. Não foi só desastre humano, foi também ecológico.

Quanto aos nossos amigos Babuínos (macaco-cão), nunca houve conhecimento de matança, para comer ou por simples desporto.

Tirando os problemas das suas relações provocatórias com os nossos cães (por esse motivo tivemos de prescindir deles em determinadas operações). As relações eram amistosas e até por vezes nossos batedores, pois quando progredíamos por estrada, eles faziam a mesma coisa que nós, progredindo à nossa frente “em fila de pirilau” e houve pelo menos duas ocasiões se bem me lembro que nos foram úteis. Mas nessas alturas pareceu que fizeram mais barulho que o matraquear das armas.

Em termos que possam servir para estudo, e relativo ao tempo em que estivemos em Cufar, havia dois grupos bem definidos e localizados, e que seguramente se a memória não me falha, andariam pelos trinta e cinquenta exemplares entre todos, fêmeas, machos e é claro o manda chuva dominante, sempre no comando.

Um dos grupos, e o mais numeroso, costumava-nos acompanhar pela estrada (antiga) para Catió. Desde o começo da mata ao cimo da lala a seguir ao cruzamento de Camaiupa (Cabaceira) chegando até às proximidades de Priame.

O outro grupo aparecia na estrada Catió Cobumba, após Camaiupa já próximo da mata de Afiá.

Parece ser tudo, ficarei satisfeito, se este escrito servir para qualquer estudo.

Da esquerda para a direita: Soldado que não recordo o nome, de camuflado o Fur Mil Enf Juvenal, o Fernando que nos acompanhou desde Bissau, Mário Fitas Fur Mil Oper. Espec. e Olindo apontador de bazuca da minha secção. Foto de Mário Fitas.

Foto que me foi concedida pelo Manuel Brita condutor das Fox e que esteve em Cufar no tempo do António Graça de Abreu.
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Notas de vb:


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