quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3939: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (III) Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos

1. Mensagem do Vasco da Gama, que reside na Figueira da Foz, e foi Cap Mil da CCAV 8351, Os Tigres de Cumbijã, Cumbijã, 1972/74

BANALIDADES DA FOZ DO MONDEGO - III

Sr. Jornalista (*)

Antes que se digne responder a alguém do nosso blogue e, se tiver postura moral para tal, faça-o em sentido, pois toda esta malta que ronda os sessenta anos, são os velhinhos da geração mais sacrificada de Portugal a quem portanto o sr. jornalista, os srs. governantes, os srs. banqueiros, os srs. políticos em geral, e os outros srs. que por aí pululam, devem o maior respeito!

Não sei o seu nome, não sei a sua idade, mas de uma coisa eu tenho a certeza: não pertence à minha geração. Vª. Exª., como eu detesto a palavra Vª.Exª., não sabe sequer o significado da palavra solidariedade, difícil de escrever, difícil de ler e ainda mais difícil de praticar, mas que é apanágio e privilégio da minha geração que combateu na Guiné!

Vª Exª não confunda regimes políticos nem cabos de guerra nem exageros pontuais, com os combatentes da Guiné, nem com a guerra que travámos.

Vª Exª não pode afirmar que a maior parte das baixas se deveram a desastres de viação ou ao rebentamento de minas.

Vª Exª não pode ignorar as centenas e centenas de mortos em combate.

Vª Exª. não pode ignorar as centenas de deficientes que a guerra colonial provocou.

Vª Exª não pode ignorar os lares desfeitos pela guerra.

Vª Exª não pode ignorar o sofrimento de muitos de nós, onde eu me incluo, que ainda hoje acorda pela madrugada dentro aos gritos, julgando estar no inferno da Guiné.

Exijo que Vª Exª se curve perante a memória dos mortos em combate da Companhia de Cavalaria 8351 que eu comandei na Guiné (**);

exijo que Vª. Exª. respeite os mortos da minha Companhia que, feridos em combate, vieram a falecer em Portugal;

exijo que Vª Exª. respeite os meus camaradas que não resistindo aos pesadelos do pós – guerra se vieram a suicidar;

exijo que Vª Exª respeite toda a minha geração de combatentes da Guiné: O vento sopra a nosso favor, pois sabemos para onde ir. Estive, como outros camaradas, para ignorar o seu escrito, mas ignorar os factos não os altera, por isso erguendo as mãos ao céu exclamo: Que Deus nos proteja dos medíocres!

Queria ainda dizer a Vª Exª que camaradas meus chegarão dentro de dois dias àquele país onde lutaram – A Guiné Bissau - , numa missão humanitária de auxílio às crianças do povo irmão! Que linda reportagem daria se jornalistas como Vª Exª. se interessassem por tais eventos… O vosso silêncio a este respeito ficará para outra altura…

Gostaria ainda de mostrar uma fotografia tirada em 12 de Maio de 1974!

Como podem verificar, soldados da CCav 8351, Os Tigres do Cumbijã, aguardam juntamente com elementos do grupo de milícias, o início de um terrível “massacre” a duas cabras do mato e a não sei quantas galinhas, na comemoração do nascimento da primeira alma no Cumbijã. O padrinho foi o Vasco e a menina chama-se Fatmata Gama. O Dotô Carvalho, de Mampatá [, que vai integrado na Missão Humanitária - Memórias e Gente, 2009, que deve chegar amanhã à Guiné-Bissau], foi portador de duas fotografias e desejo do fundo do coração que a consiga encontrar algures na Guiné.


Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > CCav 8351 (1972/74), Os Tigres do Cumbijã > 12 de Maio de 1974 > Malta da companhia e da milícia local festejam o nascimento da Fatmata Gama, a primeira criança a nascer no Cumbijã, no Cantanhez. O padrinho foi o Vasco da Gama (aqui na foto, de óculos escuros, bigode, sentado, ao centro direita).

Foto: © Vasco da Gama (2009). Direitos reservados

Para todos os meus camaradas e amigos da Guiné, um pequeno poema [, de Pablo Neruda] :



Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.

Pablo Neruda


Nós fomos, camaradas da Guiné!

Um abraço fraterno do

Vasco da Gama
__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3935: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (II): O artigo da Visão e o meu direito à indignação

(**) Vd. último poste da série > 15 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3898: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (8): Maio de 1973 na vida da CCAV 8351 - (Parte I)

11 comentários:

Anónimo disse...

Grande Vasco!
Excelente o teu texto, embora longo para uma revista que, à falta de visão, pode não o inserir, ou mutilá-lo.
A ver do que eles são capazes, mas é, para todos nós, o melhor chamamento à formatura que já tive oportunidade de sentir.
Por fim, e não com menos valor, fico sensibilizado com o ensinamento do Pablo, a grande lição de camaradagem e verticalidade que ele contém.
Eh pá, um grande abraço.
José Dinis

Anónimo disse...

Obrigado Vasco.
Vemos ouvimos e lemos, não podemos ignorar.
Somos filhos de boa gente, não nos podemos calar.
Já só nos resta este meio.
Mesmo assim, vamos lutar...

Um abraço,

Manuel Amaro

Anónimo disse...

Caro Vasco da Gama,

Obrigado pelas tuas palavras e sabiamente trazeres aqui Pablo Neruda.

Assim se ensinam os mentecaptos!

Como sofredor da minha Planície, fui totalmente tocado por Florbela Espanca. Por este motivo, para oferta à Exa. aprendiz de jornalista que tão mal nos tratou, aqui vai um (naco) do diário de Florbela, pouco antes do
seu fim:

"_Tenho pela mentira um horror quase físico. Sinto-a à distância e agora... neste mesmo momento... sinto-a vaguear, asquerosa e suja, em volta da minha alma que vibra no orgulho de ser pura. Se os outros me não conhecem, eu conheço-me, e tenho orgulho, um incomensurável orgulho em mim!

(Florbela Espanca Setembro 1930)

Não só do Cumbijã, mas hoje de todos os rios da Guiné o tamanho do Alfa Bravo que envio para ti e toda a Tabanca,

Mário Fitas

Anónimo disse...

Caro camarigo Vasco da Gama

Assino por baixo e onde está o Cumbijã, coloco o Xitole, o Mato Cão, Mansoa e por aí fora, por onde passei.

Continuo a pensar que seria bom os nossos editores colocarem todos os comentários anteriores num post para mais rápida percepção da nossa indignação.

Caro Vasco da Gama, somos praticamente vizinhos!
Um dia destes temos de almoçar juntos.
Um dos meus camaradas do Xitole vive também na Figueira da Foz, é o Artur Soares.

Abraço camrigo para ti e para todos
Joaquim Mexia Alves

Anónimo disse...

Bem hajas Vasco da Gama

Que alívio que sinto ao ler as tuas duas intervenções, bem como os comentários que lhe foram adicionados.
Penso que nenhum de nós, combatentes da Guerra de África, esteja à espera de vir a ser canonizado, mas cravarem-nos mais espinhos...isso não ..!
O sr jornalista da visão ofendeu o colectivo, e já tem a resposta merecida. Espero que sirva de exemplo para outros que gratuitamente vão fazendo ataques pessoais, de que já fui vítima algumas vezes.
Para todos um grande abraço.
Vamos gritar bem alto o slogan do Luís Graça. "Não deixaremos que sejam outros a contar a nossa história".
Artur Conceição

Anónimo disse...

Como o passar dos anos vão demonstrando o quanto errado esteve o processo para as Áfricas, tanto inglesas, Francesas ou Belgas, quer no tempo como no modo, (lá viria a hora e os homens certos), e todos os que vivemos um dos momentos históricos mais importantes da vida deste rectângulo, não estivemos orgulhosamente sós, mas acompanhados por milhões de Angolanos, Moçambicanos, Caboverdeanos, e Guineenses e Sãotomenses, continuamos a ser alvos de destruição de uma imagem que se está agigantando por ela própria.
E,os que eles próprios ou familiares, se negaram a pertencer a este grupo e cuja imagem tem sido auto-vangloriada todos estes anos, quer criar um pedestal próprio, e um dos processos já vimos que é denegrir a imagem dos que lá andaram.
Não tenho dúvidas que o tempo vai honrar todos os que lá deixaram a vida e todos os africanos que ao nosso lado se esforçaram para evitar o pior.
Cada um deve contar o que viu, não esquecendo os "Wiriamu"
Que o tempo vai esclarecer tudo.

Antº Rosinha

Anónimo disse...

Camarada Vaco da Gama
Os meus mais sinceros parabéns pela brilhante resposta que enviaste ao aprendiz de jornalista, que mais não é do que um mentecapto.
Apoio e assino igualmente as tuas expressivas e sentidas palavras, que tão bem traduzem o que passaram, sofreram e tantos continuam a sofrer, milhares de combatentes de 1961/74 e que sem o confessarem, sentem a perda daqueles que lá deixaram os seus sonhos.
Como o camarigo Mexia Alves diz acrescento: Mansabá, Cutia, Braia e Infandre...
Abraços para todos
Jorge Picado.

Anónimo disse...

Já manifestei o meu desagrado ao jornalista e subescrevo,toda a indignação expressa pelos meus Camaradas,tratar de forma tão leviana o que se passou no teatro de operações choca-me,não respeitar a memória de tantos Camaradas que caíram,é algo que me dá uma dor imensa,e saber que ainda hoje os familiares esperam a devolução dos seus restos mortais,e este Estado rico que têm dinheiro para tudo,são as Autarquias a substituir-se ao Estado.Que não me respeitem,aceito,
mas não respeitar os nossos Mortos.
Se tivermos de vir prá rua Gritar nós,somos Homens pra isso,não nos envergonhamos do nosso passado,de Homens e Militares.
JoséNunes
BENG 447
Guiné 68/70

Anónimo disse...

Caro Vasco da Gama

Ja manifestei noutro comentario a minha indignaçao pelo que a Visao publicou. Agradeço-te a forma pujante e firme que utilizas no teu texto para defender a Dignidade dos Combatentes.
Honra e Dignidade, assim ela existisse em quem nos pretende ofender.
Um Bem Hajas
Luis Dias

Anónimo disse...

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