sábado, 28 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3951: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (8): Diana Andringa, jornalista e cineasta

1. Mensagem, com data de 25 do corrente, da Diana Andringa, que é uma das ainda relativamente poucas mulheres que é membro da nossa Tabanca Grande, jornalista, cineasta, realizadora (com o guineense Flora Gomes) do filme documentário As Duas Faces da Guerra (Portugal, 2007), disponível de resto em duas partes no sitío da Guerra Colonial, da A25A, em versão da RTP:

1970-01-20 • As Duas Faces da Guerra - Parte 1
1970-02-20 • As Duas Faces da Guerra - Parte 2


Luís,

Não irá sendo altura de deitares um pouco de água na fervura que vai pelo vosso blogue em relação aos jornalistas? Sabendo como é doloroso o tema em causa, parece-me que estão a ferver em pouca água.

Como bem sabes, a imagem que passarão aos vossos filhos e netos será a que quiserem que seja. A Comunicação Social não altera o conhecimento directo que cada um tem da realidade. O mais natural é que a imagem que passem seja “O meu pai (o meu avô), na juventude, teve de participar (ou participou) na guerra travada nas antigas colónia portuguesas. Foi para a guerra por que acreditava que ia defender a Pátria (ou por que foi obrigado, ou por que não teve outra hipótese). Aquilo foi muito duro! Com vinte anos corriam o risco de morrer, viam morrer camaradas, às vezes matavam outras pessoas... Quero crer que não cometeu nenhum crime de guerra, mas, às vezes, confrontada com o perigo, ou com a dor da morte de um amigo, uma pessoa faz coisas de que mais tarde se arrepende... E, afinal, o país veio depois a concluir que a guerra não tinha razão de ser, que Portugal devia ter dado a independência às colónias quando os outros deram. E se calhar, eles, os soldados, foram os que mais se alegraram com o 25 de Abril. Aliás, agora, ele até tem amigos entre os que combateu. Temos sorte, nós, em não termos um governo a mandar-nos para a guerra.”

Esta é, aliás, creio, a imagem que fazem dos combatentes a maioria dos jornalistas. Mas isso não os pode impedir de, ao falarem da guerra, referir os crimes de guerra que foram cometidos (e foram) e condenar a política seguida por Salazar e Caetano. Não o fazem, no entanto, com o intuito de ofender os combatentes. Quando criticas o facto de a caravana humanitária ter sido pouco referida nos jornais também não estás a querer atacar os jornalistas, pois não?

Quanto ao vosso sofrimento – tão referido sempre em contraponto aos trabalhos jornalísticos – é óbvio que nenhum jornalista o conta como cada um de vós gostaria de contá-lo. Seja qual for o tema sobre que se escreva, haverá sempre alguém a dizer que “não foi exactamente assim”. É por isso que o vosso blogue é tão importante.

Não tendo nenhuma procuração para falar por outros jornalistas, não posso também deixar de lembrar que já houve reportagens sobre algumas dessas viagens de antigos combatentes à Guiné. (Pessoalmente, como sabem alguns bloguistas, só por problemas de produção não acompanhei a ida de um desses grupos.) E que perguntar ao Joaquim Furtado se fez a guerra, num debate sobre a série A Guerra, é um pouco como pretender que, para escrever sobre o cancro, tem de se ter tido um, ou que não se pode escrever sobre o abandono escolar se se completou um curso universitário.

Abraço, Diana

PS - O Almeida Martins é um bom jornalista, um profissional sério – e foi, parece-me, mal interpretado.Também senti como injustas algumas das críticas quando As 2 Faces da Guerra passou na RTP. Entendi que não devia alimentar discussões. Mas agora não sei se fiz bem. (...) .

2. Comentário de L.G.:

Cara amiga: Agradeço as tuas palavras e o teu apelo à serenidade. Já recebi também o comentário do jornalista em questão, Luís Almeida Martins, um homem de resto da nossa geração e da geração do Afonso Praça (um antigo combatente, em Angola, que eu conheci e estimei, como jornalista de O Jornal). Irei publicar a resposta do Luís Almeida Martins no fim de semana, com um comentário (final) meu.

Não seria saudável prolongarmos este clima de tensão no blogue. Não creio, aliás, que o nosso blogue tenha vocação para provocar e alimentar polémicas. O nosso blogue é uma estrada, aonde afluem viajantes de diferentes tempos e lugares. É um caminho, plural, feito de muitas picadas, trilhos de floresta, rios e braços de mar. Somos um grupo de pertença, mas o nosso único denominador é a Guiné e os verdes anos que lá passámos (ou deixámos). Como tu muito bem dizes, o nosso blogue é importante por que o essencial da sua matéria-prima não são as notícias nem sequer os docuemntos, mas o vivido, as memórias, a experiência pessoal, única e intransmissível.

Somos todos pessoas civilizadas. E responsáveis. Todos reconhecemos que a emoção nem sempre é boa conselheira. E que as memórias da guerra, desta guerra, são um caixa de Pandora. Muitos dos meus camaradas que aqui escrevem não são, contudo, profissionais da palavra. Quero com isso dizer que não têm necessariamente o domínio da arte de comunicar. Tu sabes, melhor do que ninguém, que se pode ferir e até matar com as palavras (por exemplo, o assassínio de carácter). A propaganda é uma forma de comunicação. O communicare (do latim, pôr em comum) não é fácil. Nem é natural. Nem é neutro. Rio-me quando eu próprio falo, em sessões de formação, na comunicação assertiva. É a maior treta que impingimos às pessoas nas organizações. As nossas comunicações tresandam a emoção e às vezes a manipulação.

Como já tenho aqui dito e redito, nós não fazemos, no nosso blogue, nem jornalismo nem historiografia. Não competimos nem com os jornalistas nem com os historiadores. Queremos apenas contar as nossas histórias uns aos outros. E arrumá-las, por séries temáticas. O que também não é fácil...

Por isso também fazemos blogoterapia. Temos posto camaradas da Guiné a falar, em voz alta, do passado, coisa que eles não faziam há muitos, muitos anos... Não somos um comunidade terapêutica, não somos um grupo de autoajuda, nenhum de nós está doente ou em reabilitação. Mas a verdadade é que somos veteranos de guerra, quer se goste ou não do termo. Ex-combatentes, dizem outros. E esse é um traço de união. O passado que partilhámos, no teatro de operaçõeas (TO) da Guiné, é o nosso traço de união. Talvez o único, para além da circunstância da sermos concidadãos, portugueses, falantes da língua portuguesa...

Não te sei, dizer, Diana, se eu próprio e os meus camaradas fervemos em pouca água... Não é habitual. Costumamos cultivar a contenção verbal. E ainda temos o velho hábito, dado pela disciplina militar, de pôr a G3 em posição de segurança. Não puxamos facilmente pela G3. Mas não quero, ainda para mais na pele de editor deste blogue (que também sou, com o Carlos Vinhal e o Virgínio Briote), fazer um juízo de valor acerca das nossas reacções ao texto (ou melhor, ao parágrafo) do Luís Almeida Martins que, ele próprio, achou repentinas e até despropositadas. Eu aliás, alertei para o risco de se tomar a árvore pela floresta, pelo que aconselhei a leitura na íntegra do artigo. É sempre possível sermos mal interpretados. Temos, nós próprios, essa experiência no blogue.

Sou editor, mas não sou juiz. Deixei fluir a palavra, as nossas palavras, evitando apemas o anonimato, o insulto e o excesso verbal. Há comentários que estão no downstairs do blogue que eu não trarei à superfície, mas que também não vou eliminar. Excessivos ou não, foram ditados pelo calor da batalha (que, desta vez, é ou foi felizmente apenas verbal).

Deixa-me, por fim, dizer-te que não nego, bem pelo contrário, valorizo e defendo o papel do jornalismo (seja de opinião, de notícia ou de investigação). E por isso é que é tão preciosa, para mim, pelo menos (e seguramemte para todos nós), a liberdade de imprensa, a liberdade de expressão.

Tu sabes a força que têm as palavras, as imagens e outros signos. A força da comunicação (social). Os jornalistas não podem, por seu turno, ficar surpreendidos, muito menos melindrados, com as reacções, às vezes aparentemente intempestivas e até injustas, dos seus leitores. São os ossos do ofício de quem escreve e publica, de quem se expõe e dá a cara...

Quando há conflito entre duas partes, o problema nunca está no A ou no B, mas na sua relação A/B. Aqui houve tão apenas um problema de comunicação. Não está em causa um jornalista, que até deve ser uma pessoa estimável e estimada. (Embora eu não o conheça pessoalmente, leio-o há anos; não nenhum novato em bicos de pé, à procura da glória e da fama). Não estão sequer em causa os jornalistas. Não vamos diabolizar ninguém, muito menos os jornalistas. Estão em causa, às vezes, os nossos processos de percepção e de comunicação. Obrigado, Diana, pela tua tentativa de ajuda na melhoraria do processo de comunicação entre todos nós, os amigos e camaradas da Guiné.
_______

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 28 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3950: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assasinos (7): Manuel Maia, o bardo do Cantanhez

26 comentários:

Anónimo disse...

Estimada Amiga:
O tratamento é devido ao comentário ser feito no Blogue.
Há dias vi a Diana Andringa no Fundão. Ia falar-lhe e agradecer "As Duas Faces da Guerra". Fiquei mudo e quedo. Podia ficar agora. Mas não. Só uma breve nota. Eventualmente, algum Camarada meu, como diz o Luís Graça (depois do que ele escreveu, tinha mais uma razão para nada dizer)pode ter generalizado, pode ter ido além de. Mas um Combatente sente certos tratamentos de forma diferente.Só eles sabem. Nem todos reagem da mesma forma. Eu escrevi aos Editores. Depois comentei em escrito ao nosso Camarada Vasco. Disse, se bem me lembro, que compreendia a indignação dele, eu tinha sentido repulsa pela frase. Mas , para mim certas pessoas ficam transparentes. Deixam de ser Seres. Redundância?Ser do verbo e Ser do que existe.Logo se deixam de existir são transparências...
Os Jornalistas defendem-se. Nós Combatentes(ex)podemos divergir mas, se houver algo...vem a união.
A guerra é algo que nunca devia ser vivido por ninguém.
Aquela foi igual a outras e houve excessos de ambos os lados. Era escrita longa para quem só junta letras mas, ainda hoje, em parte estou lá, ou volto lá, como ontem, ao ver o sofrimento daquele Povo. Hoje mando, para a Mulher que ama e lutou pela Liberdade, que fez um filme a mostrar um pouco da guerra e da amizade entre dois Povos, um abraço e um bem hajas, com dizem as gentes de cá e eu "roubo".
Torcato

Anónimo disse...

Eu sou dos que criticam a política Ultramarina de Salazar.Senão fosse ele ter ignorado quem por diversas vezes o aconselhava, na resolução dos problemas Ultramarinos, antes de 1961, a Guerra nem sequer tinha começado.
Já não estou de acordo, dizer-se que os militares Portugueses praticaram massacres e tenham sido os únicos.Infelizmente tinha eu 12 anos, quando a exemplo de outras, a fazenda do meu pai em NAMBUANGONGO, foi massacrada e lá ficou o meu único irmão morto á catanada.Nove anos mais tarde fui militar na Guiné e em zonas de imtensa actividade operacional.Que tenha sido do meu conhecimento, não vi massacres nossos.Sei que ouve e sobretudo em Moçambique algumas acçãoes desnecessárias.Talvez na Guiné possa também ter havido algumas semelhantes.
Todavia se vamos falr de massacres comecemos pelo 15 de Março de 1961!
Os meus cumprimentos á Diana Andringa, jornalista com "J" grande, que ao londo dos anos aprendi a respeitar.É um exemplo a seguir pelos seus colegas.

JORGE FONTINHA

Anónimo disse...

Caro Luís, caros camarigos

Estou quase a fazer 60 anos, o que não sendo muito, também já não é pouco.

Tenho portanto idade para deixar ferver a água que eu quiser, sobretudo porque só depois da água ferver é que os alimentos ficam cozinhados, ou seja, nesta Tabanca encontrei espaço para escrever o que me vai na alma, para discordar e concordar, com os meus camarigos, ex-combatentes e assim deixar que, “fervendo os sentimentos”, eles possam ser “cozinhados” e irem assim aliviando as noites de insónia, as indignações das injustiças, acalmando as irritações.

Diana Andringa teria feito bem, a meu ver, se tivesse escrito qualquer coisa informando-nos que tinha escrito ao seu colega jornalista, dizendo-lhe que ele tinha exagerado, ou pelo menos tinha escolhido mal as palavras que usou.

Mas não o fez, veio antes defender a classe e dizer-nos que não tinhamos entendido bem e que afinal ele não tinha dito nada de mais.

E repete mais uma vez a história dos “crimes de guerra”, pois então!

Em 13 anos de guerra em três frentes, o que fica então são os crimes de guerra! Mas quais e quantos? Porque fica quase implícito nas suas palavras que os mesmos apenas foram feitos pelas Forças Portuguesas!

Mas percebe-se, porque no fundo o que interessa da guerra é chegar à politica de Salazar e Caetano!
Porque a descolonização foi exemplar e não causou mais mortos directos e indirectos do que a própria guerra!

Escusa alguém de vir já dizer que sou saudosista do antigo regime, porque não o sou, e sou absolutamente contra a guerra, esta ou outra qualquer, mas a verdade é que como repetidamente tenho dito esta discussão da guerra está eivada de politica.

E o que são “crimes de guerra”?
O ataque a Pearl Harbor é um crime de guerra e a largada das bombas atómicas também o é ou não?
Onde isto nos levava, o que não quer dizer que os ditos “crimes” sejam desculpaveis.

Por outro lado, e porque se percebe na maioria esmagadora dos artigos sobre a guerra de África está eivada de política, é que é necessário explicar aos filhos e netos a história da guerra e eu não passo essa incumbência a nenhum jornalista.

Concordo Luís, com tudo o que escreves, excepto de que na nossa Tabanca, haverá alguns que não terão “dotes” de comunicação.
E discordo porque acho que esses têm a comunicação mais pura e mais sincera, ou seja, escrevem exactamente o que querem dizer, ou seja, não utilizam as palavras com segundos sentidos, nem com segundas intenções, como infelizmente uma grande parte dos textos jornalisticos fazem.

Não sei já se foram mais penosos dois anos na Guiné, se 34 em Portugal a ser desconsiderado e ultrajado. E eu nem tenho grandes razões de queixa, mas aqueles que ficaram com a vida definitivamente estragada, destroçada, mereciam outro respeito, e eu não vejo os jornalistas escreverem sobre isso.

Diana Andringa aliás fez um filme que se chama “As duas faces da guerra” e se devia chamar “Uma face da guerra”.

Não tenho pachorra para o politicamente correcto e a mim não me calam enquanto contarem histórias enviezadas sobre a guerra de África.
O problema é muitas vezes esse. Calamo-nos e deixamos que o politicamente correcto tome conta de nós.
Já muitos o disseram e eu também. Somos uma força, porque ainda somos muitos, embora com a idade estejamos a desaparecer. Mas ainda podemos e devemos lutar pelo nosso lugar digno na história e sobretudo pelos nosso camaradas que ainda sofrem na pele os efeitos da guerra e a quem o Estado, passados 34 anos, olha com desprezo e como se não existissem.

Quanto ao Luís Almeida Martins, parece-me pelo mail que o Magalhães Ribeiro me enviou, que reconheceu o seu erro, e eu que não sou pessoa de ressentimentos, já nem me lembro do que aconteceu.

Desculpem a extensão do comentário, mas a pachorra começa a faltar-me para atitudes paternalistas e repito “politicamente correctas”.

Abraço forte, grande e camarigo para o Luís e restantes camarigos
Joaquim Mexia Alves

Santos Oliveira disse...

Caros Camaradas
Coloco mais uns oito anos sobre a idade do Joaquim Mexia, mas assino por baixo, tudo quanto disse.Sem excepções!
Mas, aproveito para afirmar e acrescentar que são necessários certos cuidados com a Democracia (escrita e não só), porque o seu uso, mansamente abusivo, leva seguramente a direcção da Ditadura. E disso, já todos (??) sofremos e ficamos fartos.
Uma saudação especial para o Mexia.
Abraços solidários á Tabanca.
Santos Oliveira

Anónimo disse...

Concordo com o Joaquim Mexia Alves, só reforço com a ideia que se calhar a indignação é grande pois a Comunicação Social expressa-se normalmente em meios de grande audiência pelo que o impacto e a respectiva responsabilidade são grandes. É muito difícil reparar eventuais estragos. Seguramente que aqueles que conseguem vão contando aos seus filhos e netos, mas a desproporção de meios é grande. É duro, não ser dado valor ao que esta geração amargou ou quando se fala é por mensagens enviesadas.
Saudações Especiais,
João Carlos Silva

Anónimo disse...

Tenho muita esperança que, graças aos editores deste Blog, e ao Blog, certas certezas indesmentíveis nestes 35 anos sejam questionadas e certas mentiras generalizadas sejam particularizadas.
E que este Blog ajude a despertar a sociedade para olhar para a GUERRA do ULTRAMAR, com um olhar plural, porque o tempo foi passando e as explicações teem sempre um tom muito repetitivo.

Parabens editores

Antº Rosinha

Anónimo disse...

Magalhães Ribeiro diz:

O Mexia Alves, em poucas palavras, disse TUDO - 100% -, o que eu também penso sobre as "tretas" que a Diana Andringa mandou para o blogue.

Diana, tem paciência, lê bem o parágrafo da Visão em questão, analisa e ajuíza com isenção.

Eu estou MUITO LONGE, de eventuais saudosismos pois participei activa e entusiasticamente no 25 de Abril, pois estava no R.I.15, em Tomar, a formar o batalhão 4612/74, que foi depois para a Guiné.

Diana agradeço que releias as palavras do Mexia Alves, que passo a citar:

"Diana Andringa teria feito bem, a meu ver, se tivesse escrito qualquer coisa informando-nos que tinha escrito ao seu colega jornalista, dizendo-lhe que ele tinha exagerado, ou pelo menos tinha escolhido mal as palavras que usou.

Mas não o fez, veio antes defender a classe e dizer-nos que não tínhamos entendido bem e que afinal ele não tinha dito nada de mais."

Podes crer que pelos "ecos" que me chegam, esta será a conclusão, que quase todos os restantes ex-Combatentes, retirarão da leitura das tuas palavras.

Reforço a ideia, embora não nos conheçamos pessoalmente, que tenho de seres uma óptima profissional no mundo jornalístico.

Quanto ao Luís Almeida Martins da Visão, que também deve ser um bom profissional, já lhe transmiti, que pela minha parte, o assunto está encerrado.

Agora não me venhas dizer que o que está escrito naquela página da Visão, não é, no mínimo, infeliz.

Eduardo J. Magalhães Ribeiro

Anónimo disse...

Que dizer?

Desculpas a Diana Andringa! Há várias faces nesta "Visão" (ponto de vista).

Sinto-me honrado por ter familiares e amigos Jornalistas!

Palavras mais!? Não!

O comentário do Luís: sereno,ciêntífico, cultural e pedagógico.

O comentário do Joaquim Mexia Alves: Humanista! De uma realidade e verdades estraordinárias.

Bastam-me!

Como homem. Como Veterano de Guerra (Talvez dos mais velhinhos próximo dos 67 anos).
Subscrevo-os em toda a plenitude.

Contradizendo _as minhas desculpas_ o nosso Chefe de Tabanca, este Blogue não vai descrevendo as nossas histórias:
_Ele está a descrever o "Vietname Português" consubstanciando a História de dois Povos.
Quantos livros e filmes seriam necessários para reescrever os próximo de quatro mil Post deste Blogue!?
Leiam! Confirmem! Meditem! Vale a pena!
Não parem queridos Companheiros desta Grande Tabanca.
A GUINÉ-BISSAU já nos tem, pela simpatia e amizade que temos ao seu Povo.
Portugal merecer-nos-há pelo respeito que nos tiver e aos nossos mortos.

Para toda a Tabanca o Veterano Abraço do tamanho do Cumbinjã e agora também da minha Planície,

Mário Fitas

Hugo disse...

Camaradas e amigos e já agora Senhores Jornalistas

Eu gosto muito de futebol, mas como só fui uma vez a um jogo ver a despedida do Travassos, já lá vão mais de 55 anos(?), limito-me a ver pela TV e não mando bitaites sobre um assunto onde não pesco nada.
Vai daí que me seja difícil entender algumas barbaridades que, profissionais da comunicação social escrevem como se percebessem alguma coisa do que falam.
Claro que me estou a referir ao artigo da Visão e também à solidariedade manifestada pela Diana Andringa com a classe jornalística tentando pôr água na fervura num panelão que ainda está em ebulição.
Não escrevam disparates ofensivos para toda uma geração que por lá passou, e ouçam todas as partes que viveram o verdadeiro conflito.
Todas as noites quando me deito e tiro o meu "olho de vidro" para meter num copo de água (magoa-me dormir com aquele caco há 38 anos),não posso deixar de me sentir revoltado e indignado com o que acontece à nossa volta e o que é escrito com alguma leviandade quase 40 anos após Março de 1961.

Quando embarquei no cargueiro Ana Mafalda em Setembro de 1968 fiquei escandalizado por ver no mesmo camarote que o meu, a bagagem de um Alferes que levava uma raquete de tenis.
Aquilo mexeu comigo e senti-me como se tivesse apanhado o comboio errado.
Só depois soube que ele era de Administração Militar e ia fazer Contabilidade no QG de Bissau.Ficamos muito amigos e..nunca deixei de sentir um pouco de raiva pela malvada sorte.

Possivelmente foi com ele que o Senhor Jornalista da Visão falou para estar tão bem informado da Guiné.
Mas como eu calculo que ele venha ler o nosso blogue vou aqui descrever um pequeno apontamento dessa mesma altura em que o General Spínola vivia em Bissau e este pobre escriba, mais os outros largos milhares, foram colocados frente a frente com "os turras".

A mim calhou-me o Nino Vieira e sus muchachos cubanos, pois fui parar em Gandembel.
E, se ele tem duvidas dos contactos entre as NT e o IN só lamento, que não me tenha acompanhado numa incursão ao Corredor de Guilege onde vi, ouvi e assisti à morte de vários soldados do PAIGC, fortemente armados e que as tropas Par-quedistas emboscaram com êxito.
Mas esta foi uma confrontação minha
em terreno aberto ,sem napalm nem massacres,( que também os houve mas noutros palcos),deve ser a bem da verdade multiplicada por n vezes no TO da Guiné.
Para não restarem dúvidas sobre os contactos que o"marciano" da Visão nunca viu ainda lhe digo na continuação , que nessa noite fomos cercados dentro do nosso aquartelamento de Gandembel e a tão pouca distância uns dos outros que dava para rir, se não fosse tão sério, a troca de insultos entre eles e nós (filho da puta e outros) antes e durante o fogachal que nessas noites só acabava de madrugada, quando chagava a força aérea;e lá vinha também o nosso General Spinola que para dar ânimo às tropas subia para cima duma caserna e desafiava o IN a vir lá para se haver com ele, coisa difícil de acontecer pois os sobreviventes já tinham recolhido para lá da fronteira.

Quanto aos acidentes de viação sem mais, é duma brutalidade a sua afirmação que só me admiro que nenhum dos sobreviventes feridos gravemente não tenha ainda mandado com uma perna postiça ao Senhor Jornalista.

Pela minha parte vou só enviar-lhe um "olho de vidro " que não uso agora, que sempre é mais leve que uma perna e que, pode colocar num copo de agua todas as noites à cabeceira da cama para ver se começa a perceber que aquilo não foi a guerra do Solnado e nós na Guiné combatíamos como homens e não como assassinos.

Um abraço do
Hugo Guerra

PS: De Setembro de1970 a Setembro de 1974 vivi e trabalhei em Angola.
Aí a história é outra e embora como civil corri Angola de carro do Zaire a Nova Lisboa e do Ambriz aNegage. Um dia poderei falar dessa minha experiência, se for considerado conveniente.

Anónimo disse...

Camaradas
Como me manifestei contra o infeliz parágrafo do artigo da Visão, sinto-me na obrigação de voltar a dar a cara, quando já tinha dado por encerrado o assunto, face ao comunicado pelo Magalhães Ribeiro. Já não guardo ressentimento ao jornalista, mas BURRO NÃO SOU.
Na minha modesta opinião, para falar sobre a celebração da data de publicação do livro do Marechal Spínola, que na época li do principio ao fim, não havia necessidade de se colocar aquele parágrafo.
Quando quiserem fazer artigos sobre a Guerra Colonial façam-nos, mas analizando conscientemente as situações. Porém não se esqueçam que estão a falar de GUERRA. E não me venham com as tretas dos vencedores de que, houve massacres...brutalidades...barbaridades...eu sei lá que mais. Mas há GUERRAS limpas, assépticas, feitas de luvas brancas e punhos de rendas?
Bolas, não era isto que queria escrever, mas apenas dizer que, o Luís foi bem explícito e concordo com as opiniões de quem já comentou.
Acrescentando quase mais 5 anos ao Rijo, Valente e Destemido Mário Fitas, que muito bem resumiu tudo, ouso assinar ao seu lado o seu comentário.
Não do tamanho do Cubijã, que não conheci, mas do Mansoa e Cacheu, envio um abraço para toda a Tabanca.
Jorge Picado

Anónimo disse...

Camaradas,
Também manifestei repulsa ao sr. jornalista, cingindo-me ao parágrafo da polémica. Referi que as Forças Armadas Portuguesas não eram comparáveis a hordas indisciplinadas e assassinas, como resulta da publicação. Referi que fui combatente, que tenho orgulho nos meus camaradas, que, no geral, os portugueses comportaram-se com grande nobreza,por isso não tenho razões para complexos de culpa. Referi, que foram manifestadas provas de solidariedade e humanidade para com inimigos capturados e feridos.
Houve massacres em Angola, como reacção aos acontecimentos, ainda não era a guerra. Era terrorismo. Houve Wiriamu. Não sei de outros. Houve napalm na Guiné, mas não sei a extensão do uso. E houve combates e emboscadas, como aqui foi referido à saciedade.
Depois recebi uma resposta do jornalista (igual à de outros).
Respondi que, para retratar-se, deverá reescrever o texto sem o sentido insidioso de que enferma.
E, enquanto não o fizer, ou a direcção da Visão não o decidir, a mensagem transmitida é a que perdura, pelo menos para os leitores habituais e quem eles influenciarem. Como para quem, um dis, vasculhar os arquivos da Visão.
Asiim, não considero o caso sanado.
Quero subscrever o texto do Joaquim, a a prontidão de respostas de quem se sente ferido na dignidade e honoribilidade.
Para a Tabanca Grande,
Abraços fraternos
José Dinis

Anónimo disse...

Concordo plenamente com o Luís Graça, concordo com algumas coisas da Diana, partindo do princípio de que não se deve apagar fogueiras com gasolina, mas concordo muito mais com o que diz o Joaquim Mexia Alves, e que subscrevo totalmente.
Entrou-se na fase do politicamente correcto, mas se repararem a Diana termina o seu parecer com uma expressão que pretende chamar a si toda a razão. Invocar o abandono escolar, ou insucesso escolar que são no fim a mesma coisa, para justificar não sei bem o quê, mas que não será por acaso, dito por uma jornalista da craveira da Diana Andringa.
Porque será que toda a gente se preocupa com o insucesso escolar e ninguém se preocupa com o sucesso escolar?
Todos se lembram certamente do falso médico, condenado, que eu tive o prazer de ter tido como explicador de Matemática no ano de 1969.
Hoje temos falsos médicos, falsos engenheiros, falsos gestores, etc. e nada lhes acontece, porque a preocupação é apenas o abandono escolar.
Todos amigos como dantes é que é bonito… tudo na paz do Senhor…o que prova que os combatentes ficaram saciados de guerra, mas não insensíveis, nos anos em que queriam paz e não lhes era dada.

Grande Abraço para todos, e em especial para os participantes no enriquecimento da defesa da dignidade dos ex-combatentes.
Artur Conceição

Anónimo disse...

Parece que o Mexia Alves tem toda a razão, ou quase. No parágrafo:"Não tenho pachorra"... culpa o Estado pela nossa situação,quando o Estado somos todos nós e provàvelmente queria referir-se a todos os governos que por cá, tristemente temos tido. TODOS, os governos repito,sem excepção são os culpados e não me canso de acusar a privilegiada classe política que são uns autênticos politiqueiros da panelinha(partido)e que infelizmente vamos alimentando nas eleições. Não nos respeitam e não merecem o nosso respeito.
"Somos uma força porque ainda somos muitos"... dizias, mas aonde está a nossa luta? Será preciso puxar pela G3 e tirar a patilha de segurança, como dizia o Luís Graça e que "desta vez,é ou foi felizmente apenas verbal"?.

"Não tenho pachorra...nem paciência para os aturar".
Há 39 anos ainda lhes podia dizer: Ide p'ró mato,malandros.

Um abraço a todos os veteranos de guerra.Honremos os nossos mortos, já que a Pátria não os contempla.

cumprim/jteix
veterano de guerra
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Anónimo disse...

E os massacres que se fizeram na guinè depois da nossa saída?
Porque não falam desses.
A companhia de comandos africanos foram todos dizimados D. Diana.
E os 3 Majores e 1 Alf que foram cobardemente mortos à catanada, quando iam em missão de paz e conversações?
E veja-se hoje em dia, cada ano um golpe de estado na Guiné e é logo com mortes.
Era esta a liberdade e libertação que queriam?
Isto é libertinagem.
A Arvore conhece-se pelos seus frutos.
Paulo Lage Raposo

Anónimo disse...

COMANDANTE LUÍS GRAÇA,
CAMARADAS DA GUINÉ,
OUTROS AMIGOS,

Compreendi o alcance do que escreveste e como não sou nem rancoroso nem teimoso, desisti do que pretendia fazer, isto é responder em poste à Diana Andringa, limitando-me a este comentário, pois se não o fizesse ficaria mal comigo mesmo e isso nunca! Já o disse e repito-o: "prefiro a fome do lobo à coleira do cão", talvez por isso nunca tenha pertencido a nenhum partido político, mas tenho a liberdade de não fazer fretes a ninguém.A reacção do nosso blogue não se cifra em meia dúzia de comentários, pois só aos meus escritos contei trinta e nove (trinta mais nove)comentários. Entendo, se calhar mal, que todos deviam ter sido publicados.
Notas dispersas:
1.Não irá sendo altura de deitares um pouco de água na fervura da Diana Andringa? Não sabia que a jornalista,cineasta e realizadora Diana Andringa, pertencia à nossa Tabanca! Então em vez do vosso blogue, talvez o nosso blogue....
2.Tirei, eu sei, está fora do contexto...afirmações como" "a imagem que passarão aos vossos filhos e netos será a que quiserem que seja.."...Quero crer que não cometeu nenhum crime de guerra,mas,às vezes,confrontada com o perigo....uma pessoa faz coisas de que mais tarde se arrepende...
3.Em minha casa, antes do 25 de Abril,o Vasco pai era assinante da República.Aprendi a respeitar jornalistas como o Alfredo Guisado,o Carvalhão Duarte, o Raul Rego.Conheço também obra da Diana Andringa que respeito mas o comentário que faz no nosso blogue,no contexto da discussão é incendiário.
4.O dia 25 de Abril, foi dos dias mais felizes da minha vida!Democracia,Igualdade,Liberdade são conceitos que bebi de pequenino.O fim da guerra... que maior alegria? Enquadro-me na categoria dos combatentes que foram obrigados a ir fazer a Guerra colonial.A reacção do blogue ao escrito, é a reacção da malta que fez a guerra, de direita, do centro, da esquerda,de cima ou de onde quiserem.Nunca nos questionamos a esse respeito, pois saber o que é ter sido Combatente na Guiné, não se explica, vive-se..Entende agora a pergunta ao Joaquim Furtado? Não sei quando nem quem a fez,mas deve ter surgido na sequência de algo...
5.Condene-se o Salazar,condene-se o Caetano,condene-se o Kaúlza de Arriaga,condene-se o Estaline, mas não maltratem a malta da Guiné. Somos do melhor que há à face deste Portugal.Dentro de pouco mais de vinte anos ninguém falará de nós, pois a História não é escrita nem pelos nossos filhos nem pelos nossos netos.Teremos tanto espaço nos livros escolares como a Primeira República teve quando eu era estudante!É curioso!
6.Tive agora conhecimento da troca de correspondência que o jornalista Luís Almeida Martins trocou com camaradas nossos.Diz entre outras coisas que:" Já vos transmiti a minha simpatia e expliquei qual o objectivo que me norteou ao escrever.Vejo agora que não o fiz da melhor forma.....:falta pois,pedir-vos desculpa sem ambiguidades se não soube transmitir com clareza o que pretendia."
OBRIGADO SR. JORNALISTA ALMEIDA MARTINS, estas afirmações revelam a sua grandeza de carácter.
Espero que o nosso Comandante publique o seu texto e aproveito a oportunidade para lhe pedir desculpa se fui incorrecto nalguma afirmação que tenha feito.
P.S. Venha até ao nosso Blogue. Vai conhecer a melhor malta do mundo: OS EX COMBATENTES DA GUINÉ.

Anónimo disse...

Caros Camaradas

Preparava-me para responder em post à sra. jornalista Diana Andriga (porque depois do mail do Magalhães Ribeiro, passou-me a azia contra o jornalista da visão), quando li o comentário do Mexia Alves e concordando com ele em absoluto e com outros comentários aqui produzidos, julgo não haver mais necessidade de intervir.
Mais palavras para quê. Há ainda quem nos deteste por não termos fugido à guerra, por não termos ido aos milhares para terras de França.
Obrigado Joaquim Mexia Alves, camarada da CART3492, geminada com a minha CCAÇ3491.

Luís Dias

Luís Graça disse...

Caros camaradas, e em especial o Joaquim Mexia Alves e o Vasco da Gama:

1. Obrigado a todos pela avalanche de comentários e mensagens que produziram, e que vem reforçar aquilo que eu e os meus/nossos co-editores dizemos, ou seja, que há mais vida... para lá dos postes que aparecem no blogue.

Gostaria de reproduzir, em letra de forma, todos os comentários aqui produzimos (e todas as mensagens recebidas na nossa caixa de correio), à volta da saudável e oportuna reacção do nosso camarada Vasco da Gama ao artigo (ou de um parte do artigo) do Luis Almeida Martins, jornalista da Visão.

É-me, porém, materialmente impossível fazê-lo, a mim e aos meus dois co-editores. Como devem imaginar, nenhum de nós se dedica a tempo inteiro ao blogue. Aliás, há mais vida para lá do blogue...

Por outro lado, nem todos os comentários preenchem os requisitos que eu considero aceitáveis, do ponto de vista editorial: alguns são lacónicos, um ou outro é anónimo, alguns são insultuosos, violando as nossas regras de convívio e de tolerância... Mas a boa parte, diria mesmo a maior parte, é publicável, e revelora da grande riqueza humana da nossa malta, da pluralidade de pontos de vista e sensibilidades, a par da grandeza, solidariedade e camaradagem dos membros da nossa Tabanca Grande.

Aliás, deixem-me congratular-me pelo alto nível de participação da malta do blogue, e sobretudo pela firmeza com que souberam manifestar as suas reacções mas também a elegância, a serenidade e a tolerância com que o fizeram. Aprendemos a respeitar (mas não a temer) os adversários no campo de batalha...

Joaquim, o que eu queria dizer (e se calhar não o consegui fazê-lo de maneira bem clara, concisa e precisa) é que NÃO É FÁCIL COMUNICAR POR ESCRITO AS NOSSAS EMOÇÕES!!!... Mas isso não impede ninguém de participar, de comentar, de escrever, de emitir a sua opinião!

2. Joaquim e Vasco:

A propósito da Diana Andringa e da surpresa, por parte de vocês, por ela fazer parte da nossa Tabanca Grande, na qualidade de 'amiga' (e não de 'camarada') da Guiné, devo lembrar o seguinte:

Ela 'apareceu' no blogue em Outubro de 2007, por ocasião da estreia do filme "As Duas Faces da Guerra" de que ela é realizadora juntamente com o guineense Flora Gomes ( Temos sido injustos para com o FLORA GOMES, ao omitir o seu nome como co-realizador do filme, ele que é reconhecido internaconalmente como um grande cineasta africano!).

A Diana entrou formalmente para o nosso blogue em 12 de Novembro de 2007: vd. poste de 12 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2260: Álbum das Glórias (33): Inauguração da exposição de fotografia do Américo Estanqueiro, hoje, na Fundação Mário Soares

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2007/11/guin-6374-b-p2260-lbum-das-glrias-33.html

Fui eu que a convidei (como gostaria de ter convidado o Flora, que mal conheci em Bissau, em Março de 2008) e e fui eu que escrevi a esse respeito o seguinte:

"Temos para com a Diana e o Flora, uma dívida de gratidão... Foi também por isso que, por ocasião da inauguração da exposição fotográfica do [Américo] Estanqueiro, na Fundação Mário Soares, ao encontrá-la, eu aproveitei para lhe tirar a chapa da praxe para a nossa fotogaleria dos amigos e camaradas da Guiné, sem mais demoras nem explicações...

"Há tempos já a tinha convidado expressamente para fazer parte da nossa Tabanca Grande. Sem pompa nem circunstância, decidi então dispensá-la de mais provas, como as que tenho exigido ao comum dos camaradas - uma chapa antiga, uma chapa nova, uma estória da vida militar... Depois do filme 'As Duas Faces da Guerra', a Diana (que é uma paisana) só podia entrar na nossa Tabanca pela porta... Grande... Ela, muito amável e naturalmente, aceitou o meu convite, e eu devo dizer, mais uma vez, que a sua presença (proactiva) no nosso blogue muito nos honra... Julgo que, para ela, também é, no mínimo, simpático passar a ser considerada, de pleno direito, uma bloguista, leia-se, membro do nosso blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné... Por fim, também me parece que ela está até a dar-se muito bem, no convívio com toda esta maralha da nossa caserna virtual" (...).

3. Sobre o filme da Diana Andringa e do FLORA GOMES, o Joaquim já conhece a minha opinião:

(i) Não é o FILME DA GUERRA DA GUINÉ... Aquele que hipoteticamente algum dia há-se ser feito, por algum grande cineasta, com um equipa de produção de luxo, um orçamento milionário, etc. Na América, já teríamos meia dúzia de grandes filmes. Mas nós estamos em Portugal.

(ii) Este é um pequeno filme, documentário, feito com honestidade, escassos recursos e em seis semanas;

(iii) Não é sequer, não tem a veleidade de ser, um "trabalho de história", de investigação, académico, isento, objectivo, chato, distanciado dos actores...

(iv) É um filme-documentário, muito simplesmente... Feito de palavras, imagens, memórias, emoções...

(v) O Joaquim e outros camaradas, como Rui Ferreira ou o António Martins de Matos, já manifestaram a sua opinião: o filme não é "isento", só viram 'uma face da guerra', a do PAIGC e mais nenhuma...

(vi) Respeito essa opinião,embora se pareça um pouco redutora. Nestas coisas da arte (e o cinema, mesmo o filme-documentário, é arte), cada um tem o direito, felizmente, de gostar ou não.

(vii) A Diana Andringa, tanto quanto sei (e é pouco) da sua biografia como cidadã, jornalista e cineasta, não representa os portugueses que defendiam a guerra (do ultramar)... São publicamente conhecidas as suas posições políticas: era uma "mulher antifascista e anticolonista", mesmo sendo angolana e irmã de um general da Força Aérea...

(viii) Flora Gomes não sei se é militante do PAIGC... Que eu saiba, não... Não fez a luta de libertação, como gostam de dizer os nossos amigos guineenses, desse tempo, e que estiveram do outro lado da barricada.

(ix) O filme, de 100 minutos, tem, obviamente, lacunas: por exemplo, dá pouca atenção à promoção social, económica e até política das populações locais, no tempo do Spínola... Não exalta o papel das nossas tropas especiais, em particular os pára-quedistas do BCP 12, cuja actuação foi determinante em Gadamael... Não há entrevistas com os 'falcões' (de um lado e do outro)... Também não sei se foram contactados ou se recusaram a participar... Enfim, podíamos apontar diversos 'erros e omissões'...

(x) Para mim, neste projecto (feito com escassos meios financeiros...) , vale sobretudo esta tentativa de, ao fim de estes anos todos (!), pôr uma portuguesa e um guineense, a quatro mãos, a duas vozes, a fazer um filme sobre um guerra que foi dolorosa e injusta para todos nós, portugueses e guineenses.

(xi) E mais, aprecio a motivação pessoal de Diana Andringa que está por detrás deste projecto (e do seu convite ao Flora Gomes): como ela explica, no filme foi a "pedra de Geba" (quando em 1996, creio eu, foi à Guiné e descobriu, inscrito numa pedra, em Geba, o nome de um militar que tinha morrido no dia em que ela fazia vinte anos, em 21 de Agosto de 1968, se não me engano), a par da constação da "ausência de ódio" dos guineenses em relação aos portugueses... É bom que se refira a surpresa dela: NÃO HÁ HOJE RESSENTIMENTO EM RELAÇÃO AOS 'TUGAS', BEM PELO CONTRÁRIO!... E isto é uma prova de honestidade intelectual por parte da jornalista e cineasta!

(xii) Que eu saiba é um projecto inédito: americanos e vietnamitas, franceses e argelinos, ... nunca o tentaram (fazer um filme a duas vozes, e a quatro mãos, sobre a guerra que os dividiu). Podiam tê-lo feito. Provavelmente não é fácil encontrar, nesses países que já se enfrentaram em guerras de tipo colonial, pessoas com a qualidade humana de uma Diana e de um Flora, com vontade de mostrar, num filme feito em parelha, que, na guerra, como em tudo na vida, há o verso e o reverso, há pelo menos duas faces, há uma multiplicidade de faces, se quisermos...

(xiii) CLARO QUE NÃO ESTÁ LÁ TUDO O QUE CADA UM DE NÓS GOSTARIA VER OU REVER... Como não está nos poucos filmes de reportagem que a RTP fez, na Guiné (para não falar de Angola e de Moçambique).

Um Alfa Bravo
Luís

Anónimo disse...

Luis

Falta aqui o meu comentário de ontem à noite, que, ao contrário de outros em outro POST, não era... insultuoso.
Alberto Branquinho

Anónimo disse...

CARO COMANDANTE LUÍS GRAÇA
CAROS CAMARADAS E AMIGOS DA TABANCA

Julgava ter dado por terminada a minha participação neste episódio,mas vou fazer, telegraficamente as seguintes considerações:

1.A intervenção da Diana Andringa,não foi um apelo à serenidade,como diz o nosso Comandante.Li-o, apenas e só, como a manifestação de solidariedade a um colega de profissão que ela respeita e terá, tenho a certeza, razões para tal. Queridos camaradas coloquem o texto à frente e leiam-no com serenidade.

2.Tenho todo o prazer em que ela pertença à nossa Tabanca.Pessoas da sua dimensão intelectual fazem falta e enriquecem o conjunto. A minha estranheza é que a Diana se refira ao Blogue como o VOSSO Blogue e não ao NOSSO Blogue.

3.O Jornalista não foi mal interpretado por nós, como a Diana afirma.O Jornalista expressou-se mal e reconheceu-o ao afirmar " Falta pois pedir-vos desculpa sem ambiguidades se não soube transmitir com clareza o que pretendia".

4.O nosso Comandante e amigo Luís Graça, no seu comentário anterior afirma"....Provavelmente não é fácil encontrar, nesses países que já se enfrentaram em guerras de tipo colonial,pessoas com a qualidade humana da nossa Andringa e de um Flora...". Não duvido camarada; só faltou realçar que nesses países dificilmente se encontrariam pessoa tão nobres, sublimes,notáveis e solidárias como os EX-COMBATENTES DA GUINÉ.
VIVA A TABANCA GRANDE!
Vasco da Gama

Anónimo disse...

Meu caro Luís e camarigos

Faço minhas as palavras do Vasco da Gama, (o ex-combatente, não o navegador), no seu ponto 1 e 3.

Se a Diana Andringa é membro do blogue é uma opção tua que eu não discuto, mas lembro que noutros tempos foram colocadas em consideração outras hipoteses de membros da Tabanca e não foram consideradas sobretudo por não serem ex-combatentes.

Quantos aos elogios feitos à jornalista, não me revejo neles, embora tenha de considerar que é pessoa muito cotada nos meios jornalisticos tendo por isso com certeza os seus méritos.

Esta frase não a entendo,
«São publicamente conhecidas as suas posições políticas: era uma "mulher antifascista e anticolonista", mesmo sendo angolana e irmã de um general da Força Aérea... »
porque talvez por ser angolana seja exactamente como afirmas, o que não é condição para tal.

Aliás esse tipo de considerações, que reparo colocas entre aspas, não têm para mim qualquer significado, a não ser muitas vezes a tendência com que exercem essa condição.

O ser irmã de um Gen. da Força Aérea não vem ao caso julgo eu, que aliás conheço desde garoto pois foi camarada de um dos meus irmãos mais velhos na Força Aérea.

Qunato ao filme, digo e repito, que deveria chamar-se "Uma face da guerra" e volto a dizer que em nada nos ajuda, nem homenageia.

Aliás este tipo de filmes são feitos com uma intenção muito mais política do que outra qualquer.

Volto a dizer ainda e desculpem por me repetir que não concordo com o "politicamente correcto", e que para se fazer amizade entre antigos inimigos é preciso que ambas as partes assumam os seus defeitos e as suas virtudes.

O que acontece muitas vezes no contacto pessoal, muito mais, do que em "coisas oragnizadas" em que se tenta muitas vezes com "outros fins", sobretudo políticos, explicar o que só os sentimentos de aproximação de quem viveu a mesma coisa e o humanismo podem reflectir.

Abraço forte e camarigo para ti Luís e todos os camarigos
Joaquim Mexia Alves

Unknown disse...

Para a Amiga Adriana
Acho que fez uma grande confusão. Nós não dizemos mal dos jornalistas; revoltamo-nos contra este pelo seu artigo e especialmente sobre a frase que publicou. E não tem desculpa, até pela idade que me parece ter. Deveria pensar um pouco mais.
Por outro lado, também não tem razão noutra coisa. Não nos pômos em bicos de pé nem nos vangloriamos por ter andado por África. Não precisamos de explicar aos nossos filhos e netos o que aquilo foi, para eles nos considerarem heróis. Se reparar bem e olhar para tráz, se tiver convivido com a rapaziada, não vê grandes escritos, nem conversas sobre o nosso passado. Os livros publicados são uma excepção e até na minha opinião em pouca quantidade. Mas foram escritos por gente que por lá passou. Este blogue, juntamente com mais alguns que estão criados, mostram mesmo assim o pouco que falamos de nós.
Como disse um camarada, por sermos tão calados é que temos o tratamento que vamos recebendo.
Receba um abraço de amizade, extensivo a toda a Tabanca e não só.

Anónimo disse...

Tivemos conosco na Guiné, o Grande amigo e já na altura jornalista de "O Comercio do Porto", o Ex-furriel fotocine FERNANDO BARRADAS.Conheci-o em Mato Dingal, destacamento entre Bula e João Landim.Com ele,numa qualquer noite do ano de 1971, aprendi algo do que andava-mos a fazer na Guiné. Já na altura era um jornalista bém informado, não dependesse ele directamente do então Capitão Otelo.
Nesta altura que se fala de jornalismo e de jornalismo de Guerra,é bom recorda-lo com saudade.Ninguém melhor que ele soube, já pós 25 de Abril, escrever
as palavras certas que porventura terão sido a causa da sua morte...Como ele, haverá outros que igualmente tiveram a coragem de contar a verdade.Ainda há, houve e haverá jornalistas com "J" grande.Ele foi um dos exemplos.
Presto-lhe a devida homenagem.

Jorge Fontinha

Anónimo disse...

Comentário? Estória? Se calhar Blogoterapia.


Corria o ano de 1968, quando prestes a concluir o Curso, não resisti ao convite do Estado – Férias pagas em Africa, com grande animação e desportos radicais. Primeiro o estágio-praia para os lados da Ericeira, findo o qual, tive um grande desgosto. Tinham-me destinado ao turismo intelectual – secretariado.
Felizmente as cunhas funcionaram e consegui ser reclassificado em atirador, tendo passado a frequentar no Alentejo, o estágio-campo. Terminado este, ainda vivi muitos meses de tristeza e inveja ao ver os meus camaradas integrarem satisfeitos numerosas excursões, as quais iam embarcando.

Mas o meu dia chegou. No cais, a minha Mãe e toda a família rejubilaram. Deve ter sido para eles, o dia mais Feliz das suas vidas...

O paquete era o Alfredo, um verdadeiro Barco do Amor. Enorme, faustoso, pleno de diversões. E lá cheguei a Bissau. De clima tépido, uma brisa suave encheu-me o peito de calma e de bem estar... nem militares, nem polícias, só Paz e floridos jardins. No dia seguinte dirigi-me ao Gabinete do Coordenador-Geral do Turismo, a fim de escolher a unidade hoteleira que iria ocupar. Na parede uma velha carta militar, havia sido adaptada, assinalando as centenas de empreendimentos de lazer. E havia de tudo...

Resortes de luxo, hotéis cinco estrelas, pousadas, pensões, residenciais e turismo rural, todos com oferta variada, desde o montanhismo aos desportos náuticos... Porém, as vagas eram poucas. Mesmo assim, tive sorte, calhou-me a estancia de Missirá. Não tinha piscina, mas ficava perto da praia do Mato Cão, possuía Casino, e contava com óptimo pessoal.

Teixeirinha - o cozinheiro francês, Mamadú - o mordomo inglês e o Nanque - “croupier” italiano, além de três fogosas acompanhantes suecas, já muito bronzeadas!...

Lá chegado, constatei a excelente organização das actividades. À quinta-feira tínhamos Massacre. O difícil era escolher, pois todas as aldeias queriam ser massacradas. Terça-feira era o dia das violações. O Fim de Semana era passado na praia, com surf no Macaréu. E ainda existiam torneios de morteirobol e as deliciosas gincanas inter-minas, e muito, muito fogo de artifício.

Que férias!
Que saudades! Nunca mais encontrei nenhuma Organização Turística que me proporcionasse férias tão formidáveis...

Caramba, nem a oportunidade para um massacrezito...


Jorge Cabral

Anónimo disse...

Meu caro camarigo Jorge Cabral

Brilhante, homem, brilhante!

Tem graça que um anito mais tarde auferi das mesmas benesses que tu!!!

Isso é que foi gozar, pá!!!

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves

JC Abreu dos Santos disse...

... "and now, for something completely diferent" - e em complemento ao antecedente "comment" cabraliano (que, do VaVá das avenidas, passou pelo ericeirense café Xico antes de ir aos trópicos trabalhar-o-bronze):

- «[...] a Visão Júnior (sai na primeira 5ª feira de cada mês), direccionada ao público infantil, [...]. As personagens foram criadas [...] sob argumentos [http://photos1.blogger.com/blogger/8140/903/1600/junior2.0.jpg]
coerentes e imaginativos de Luís Almeida Martins»; (in http://divulgandobd.blogspot.com/2006/05/banda-desenhada-infantil-portuguesa-i.html)

- «[...] argumentista, Luís de Almeida Martins. [...] este último está parecidíssimo [http://photos1.blogger.com/blogger/8140/903/1600/0002%20001.jpg] - há elementos que ajudam: as sobrancelhas carregadas, o bigode e a barba grisalhas, até o jeito do cabelo»; (in http://divulgandobd.blogspot.com/2006/08/autor-de-bd-como-personagem-da-sua.html)

- «Quando o [António] Mega [Ferreira] foi dirigir editorialmente o Círculo de Leitores, em finais de 1985, substituiu-o como chefe de redacção, com o cargo também de director-adjunto, o Luís de Almeida Martins (LAM), que era um dos societários de O Jornal e vinha de dirigir o Se7e, o semanário de espectáculos que criáramos em 1978, com grande sucesso. O LAM, assegurou essas funções até 1992 , com a competência e o empenho que se lhe conhece, e hoje continua na Visão.»; (in http://bloguedeletras.blogspot.com/2009/01/1000.html)

Anónimo disse...

Meu caro Jorge Cabral,

Esqueceste algo de muito importante: às sextas feiras era dia de Napalm. Só se o produto não existia no teu tempo...Em 1972/74 era á fartadela lá para os meus lados...

Vasco da Gama