segunda-feira, 2 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3960: Nuvens negras sobre Bissau (3): O insólito... e a fraternidade na aldeia global (Torcato Mendonça)

1. Mensagem de Torcato Mendonça (Fundão):


Caros Editores, o insólito aconteceu neste pequeno mundo. De manhã ouço, o mais atentamente possível, os noticiários sobre a Guiné.

Depois do assassinato (o terceiro em pouco tempo) do General Tagmé Na Waié, Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e, nesta madrugada, do Presidente "Nino" Vieira. Morte esperada mas que repudio. Não éramos amigos...nunca esqueço...mas assim, não!
Muitos, com mais conhecimentos e visão - quer-se sempre uma melhor visão - que eu, irão falar e escrever. Espero não voltar a escrever. Difícil. A Guiné está demasiado ligada a mim e estes trágicos acontecimentos preocupam-me.

Então porque nos chateeis? Poderão vocês dizer. Porque o insólito aconteceu.
Estava, como disse, a tentar ouvir tudo sobre a Guiné e toca o telefone. Era alguém a tentar "vender-me" algo mais de um serviço que já tenho. Não costumo desligar logo. Ouvi um pouco e interrompi.
- Não estou interessado. Não perca mais tempo comigo.

Insistem do outro lado e respondo.
- Não insista, pois está a interromper-me a audição sobre um acontecimento trágico, acontecido numa antiga colónia.
- Senhor, que Colónia?
- Da Guiné-Bissau. - Um breve silêncio e um:
- Ai meu Deus, da Guiné.

Só então senti o sotaque e perguntei de onde era a senhora.
- Da Guiné, de Bissau e a minha família está lá e em ...

Ficamos a falar por breves minutos, irmanados e ligados por um fio, num sentimento de fraternidade, de desejo que o Povo, as Gentes daquela Terra encontre a paz, a concórdia e o desenvolvimento. Falamos da reportagem há dias passada na TV. Falamos, como amigos e conhecidos, como se ambos estivessemos na diáspora. Falamos fraternalmente das preocupações pelos guineenses e pelos portugueses, quer os que lá vivem, quer os que lá chegaram há pouco em Acção Humanitária.

O insólito, ou talvez não, parece que sou, somos, um pouco ou muito de lá e sentimos fortemente tudo o que na Guiné se passa.

Isto foi um encontro com uma irmã, que desconheço até o nome, da segunda Pátria e receber o retorno da amizade.

Votos que tudo se resolva bem.

Abraços para vocês do Torcato

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá a todos,

Acabei mesmo agora de falar com amigos em Cantanhez e as coisas estão calmas no sul do país.

Em Bissau, uma amiga disse-me que existem muitas movimentações de militares nas ruas (o que seria de se esperar). No entanto, está tudo fechado e as pessoas permanecem em casa.

Espero ajudar de alguma maneira.

Cumprimentos

Joana Silva

Anónimo disse...

Caro Torcato,
O insólito aconteceu!?
Não seria de esperar? É tudo muito complicado.
Respeitei e admirei o "Nino" comandante de guerrilha.
Ele com 25 anos e eu com 22. Ele na margem esquerda eu na margem direita do Cumbijã.
Como político desiludiu-me, não seguia a linha de Amilicar Cabral, e que se confirmou mais tarde.
É imcompreensível, como é que os homens que lutaram para terem uma terra (livre) se matem uns aos outros!
Pobre Povo da Guiné que tanto sofre. Triste sorte!´
Nestas situações é que verificamos que nos dói por amarmos aquela terra.
Um Abraço,

Mário Fitas

Anónimo disse...

Mário:
"O insólito aconteceu neste pequeno mundo". Refiro-me ao telefonema que recebi, de uma guineense devido á sua profissão. Não me referia á previsibilidade das mortes, do Presidente e,antes,do CEMFA da Guiné. Só que me esqueci de colocar no mail PRIVADO. Assim sendo o Luís Graça,com o direito que lhe assiste, publicou.Não quero ou espero não escrever sobre a morte destes homens.
Neste momento estou bem melhor informado...o que é natural.
Exprimi-me mal. Era um mero mail a contar uma situação inesperada.
Um abraço (de Campo Maior até á ponta Sul da planicie) eh Compadre ca grande abraço porra... Torcato