quarta-feira, 18 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4048: Estórias do Jorge Fontinha (5): Lavadeiras de Bula

1. Mensagem de Jorge Fontinha, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791, (Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 15 de Março de 2009 dirigida ao co-editor CV:

Aí vai mais uma Estória. Esta para descontrair, nostálgica e saudosa.
Transmite o meu abraço a toda a Tabanca.

Jorge Fontinha


LAVADEIRAS DE BULA

Aeródromo de Bula

As minhas Estórias nem sempre seguem uma ordem cronológica. Também não tenho a pretensão de me recordar de tudo e não é minha intenção escrever a História da CCAÇ 2791, até porque me preocupo somente por descrever o que vivi ou presenciei, durante o tempo que permaneci naquelas paragens.

Hoje, até vou saltar uns meses, sobre os últimos acontecimentos relatados. Vou localizar-me no período dos Reordenamentos, já em pleno ano de 1972.

Como referi, aquando da descrição do meu Grupo de Combate, o 4.º, este esteve no destacamento de Mato Dingal. Naturalmente que várias atribuições nos eram confiadas, como por exemplo promover, principalmente, o apoio sanitário, assistência medicamentosa e humanitária, defesa da Tabanca e ensino escolar básico às crianças. Eu próprio fui o professor oficial. Era igualmente da nossa responsabilidade, proceder à substituição das velhas Palhotas “Tabancas”, construindo outras de blocos e telhados de zinco.

Naturalmente que tínhamos as obrigações próprias da defesa e manutenção das instalações Militares, bem assim, como providenciar o reabastecimento de bens alimentares e fornecimento de água potável.

Para o efeito, pelo menos dia sim, dia não, uma Secção deslocava-se a Bula que era relativamente perto, para na Sede do Batalhão requisitarmos o que era necessário. Na mesma viagem ia outro Unimog atrelado a um auto-tanque e com bidões recuperados, dos postos de abastecimento de combustível, para complemento de fornecimento de água.

Este serviço, por se tratar duma escapadela à rotina, era feita por rotação de secções, que eram três. A do Alferes Gaspar, a do Furriel Fontinha e a do Furriel Chaves.

O episódio que vou contar é um daqueles momentos espectaculares e inesquecíveis e é também daqueles das boas lembranças, que nos fazem olhar para trás com saudade e nostalgia…

Em certo dia, tínhamos já saído do Batalhão, com os reabastecimentos carregados, faltando deslocarmo-nos ao fontanário para reabastecimento de água, o que acabamos por fazer, pois este ficava num caminho mesmo em frente à porta de armas e a muito pequena distância, 100 a 200 metros. Era natural que o local não estivesse totalmente livre, pois o enchimento do auto-tanque e dos bidões levava algum tempo.

Não me lembro de todo quem estava à minha frente a fazer o mesmo que eu iria fazer, mas efectivamente estava outra secção, doutro Grupo de Combate e até podia ser de outra Companhia do Batalhão. Não tenho ideia, passados estes anos quem eram. O que fica para a História, foi o que eu assisti, enquanto conversava com o meu camarada da outra secção, que terminassem e nós iniciássemos a nossa tarefa.

Ora, o que aconteceu foi o seguinte:

O local era composto por um fontanário que jorrava bastante água potável para o interior de um tanque rectangular, seguramente com uma frente de 6 metros por 4 de largura e daí escorria para um lago de média dimensão, com algumas pedras salientes, e depois seguia por um riacho directamente para a bolanha. Era no tanque e no lago que as lavadeiras, BAJUDAS e as restantes mulheres, lavavam a nossa roupa e a delas. Cada um de nós tinha a sua lavadeira. Bastante alegres e ruidosas, na sua azafama.

Bajudas lavando roupa

Todas elas, salvo umas poucas, faziam o seu trabalho completamente nuas, enquanto não chegava nenhuma tropa para se reabastecer de água. Ficariam assim, se não fossem molestadas com gracejos ou até apalpadas por alguns militares mais brincalhões. Depois de chegarmos, normalmente cobriam-se com uns ligeiros panos, que de um certo modo, nada cobriam.

Passando ao relato dos acontecimentos, os militares que se encontravam no local, haviam lavado alguns bidões, que tinham sido esvaziados de gasolina dias antes, no tanque onde elas deveriam lavar a roupa, o que originou que bastantes resíduos de gasolina tivessem ficado na água. Naturalmente, uma camada de cerca de meio centímetro de gasolina, cobria a superfície.

O engraçado do episódio deu-se quando um militar, inadvertidamente, se lembra de lançar um cigarro acabado de fumar, que viria a cair no interior do tanque. Escusado será retratar a cena que se passa. O tanque incendeia-se, provocando espanto e medo em toda a gente, dando lugar a grande alarido entre elas que atropelando-se umas as outras, se põem em fuga, deixando cair os panos e passando a correr em direcção as suas tabancas, mesmo à frente da porta de armas em grande algazarra e completamente nuas. Foi um espectáculo hilariante e felizmente sem consequências.

Lavadeiras lavando no lago, junto ao tanque

Nem sempre nos dedicávamos à Guerra. Por vezes até nos divertíamos.

Fur MIl Jorge Fontinha e Sold Álvaro Lobo

Fotos e legendas: © Jorge Fontinha (2009). Direitos reservados


Um abraço para a Tabanca.
Jorge Fontinha
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Nota de CV:

Vd. último poste de 13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3888: Estórias do Jorge Fontinha (4): O primeiro morto do 4.º GCOMB/CCAÇ 2791

1 comentário:

Anónimo disse...

Tudo bem , Fontinha ?
Até que enfim reapareces e com uma estória engraçada,que desconhecia.
Que me recorde só uma vez fui a essa fonte que, ao que sabia era um tanto problemátic a, conforme as horas, já que o IN também lá se abasteceria.
Se te recordas ,foi lá que o Mealha apanhou um susto!!

E a propósito da foto em que estás com o Lobo, almocei em casa dele hoje, e trouxe o álbum das fotos .Está gordo que nem” um chino”!!

Vê lá se passas a ser mais assíduo nos escritos, ok ? Tens muitas coisinhas a contar, vá … FORÇA !!

Grande abraço ,Amigo
Luís Faria