sábado, 9 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4312: Antropologia (14): Dança dos bijagós, uma redacção escolar, de 1958, do menino Abreu (António Graça de Abreu)

1. Mensagem de António Graça de Abreu (*), ex-Alf Mil do CAOP 1, Teixeira Pinto ou Canchungo, Mansoa e Cufar, com data de 27 de Abril de 2009:

Com os Bijagós na ilha Roxa, Fevereiro de 1974

António Graça de Abreu


Pouco ou nada se tem falado sobre os bijagós no nosso blogue. O povo desta etnia da Guiné teve mais sorte que os balantas, fulas, mandingas, etc., teve a felicidade de habitar em ilhas separadas do território onde se desenrolava a guerra. Além de Bolama, quase nenhum de nós conheceu as ilhas dos Bijagós.

Numa das minhas idas de Cufar para Bissau, naveguei na LDG Alfange (foram vinte e sete horas!) e como era preciso aguardar pela maré-cheia para concluir a viagem, a lancha grande quase se encostou à ilha Roxa. De manhã, ficou tudo a torrar ao sol durante umas boas horas dentro da LDG, excepto o comandante e o imediato que lançaram um zebro à água e foram pescar, e ainda cinco fuzileiros do destacamento de Cafal que, noutro zebro, resolveram ir para a praia na ilha Roxa. Pedi-lhes boleia e como era alferes e um deles me conhecia do CAOP 1, de Cufar, embarquei com eles. Foi um deslumbramento a descoberta da ilha e o contacto com os bijagós. No meu Diário da Guiné, a 16 de Fevereiro de 1974, pags. 194 a 197, descrevi, ao pormenor, o que me sucedeu na ilha Roxa.

O que eu tinha completamente esquecido é que, com 11 (onze!) anos de idade, no antigo 2.º Ano do liceu, havia escrito um texto sobre os bijagós. Só a semana passada, ao arrumar e deitar fora muitos papéis velhos, descobri a singular prosa no meu caderno de redacções, no Liceu Alexandre Herculano, no meu Porto, cidade onde nasci e cresci.

Lembrei-me do blogue e deixo à consideração do Luís e do Vinhal a eventual publicação deste texto.

Aí vai, um menino do Porto a escrever sobre a Guiné, em 1958:

A Dança dos Bijagós

De um dos trechos existentes no meu livro de leitura, achei um, de certo modo curioso, sobre a dança dos Bijagós.

Esta dança é executada pelos nativos de uma raça da Guiné chamada Bijagós. Nesta interessante dança, os homens dão a ideia de serem animais ferozes pois eles modificam completamente o seu aspecto de seres humanos. Pintam o corpo com tinta vermelha, cobrem a cabeça com barro e enfeitam-na com penas ou peles. Alguns põem chifres na cabeça. De vez em quando, um dos dançarinos dá um grito rouco que ecoa pelos ares dando a impressão de ser um animal feroz. Esta dança é acompanhada pelo rufar dos tambores. As pessoas que a executam fazem diversas contorções com o corpo, o que muito agrada aos forasteiros que vão ver os nativos dançar.

FIM





Grupo de mulheres bijagós com os seus apetrechos e trajes de dança

Localização da Ilha Roxa no Arquipélago dos Bijagós e Sul da Guiné
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4100: Blogpoesia (34): Regressei um dia / lavando a alma na espuma das lágrimas... (António Graça de Abreu)

2 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns, aos 11 anos já tinhas talento para a escrita e sensibilidade sócio-cultural... LG

António Matos disse...

Os blogs dum modo geral, o LUÍS GRAÇA & CAMARADAS em particular, têm servido para reencontros inesperados de toda a ordem com predominância, neste último caso, para amigos que seguiram rumos diferentes, acabada que foi a guerra do ultramar.
Este teu post onde transcreves uma redacção num caderno do Alexandre Herculano leva-me a puxar pela memória e a perguntar-te : foste aluno da professora de francês a D.Maria de Fátima Braga ( bijoux, choux, genoux, hiboux, joujoux,poux )?
Chegaste a ser aluno do dr. Sílvio Matos ( inglês ). Tiveste como colega um tipo judeu o ( nome parecido com ) Frankenstein ?
António Matos