terça-feira, 26 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4420: Meu pai, meu velho, meu camarada (5): A minha família e o RAP2 (Vila Nova de Gaia) (David Guimarães)

Foto: David Guimarães, à esquerda; e seu pai, também David Guimarães, 2º Sargento de Artilharia e Herói da I Grande Guerra, França, 1917-1918 - foto, à direita, tirada em Macau, em 1933.



Texto que o David Guimarães reformulou, a pedido do L.G., para esta nova série ("Meu,pai, meu velho, meu camarada") (*)


O RAP 2 (Gaia) fez parte da minha família

Texto e fotos: David Guimarães (2009). Direitos reservados


Sempre me preocupei, durante a guerra, em contar cá para a Metrópole (era assim que então se dizia), não propriamente as peripécias da nossa vida militar mas as coisas mais belas que encontrava na Guiné: os mangueiros carregados de mangas, os milhares de morcegos que povoavam o céu ao escurecer e ao amanhecer e que dormiam nas árvores, os macacos, as galinhas de mato, etc.

Eu achava que deveria poupar a minha família e que esta não teria que ouvir e até viver a guerra em directo: bastava para isso o sofrimento de saber que eu andava por lá...

Foi assim que eu senti e vivi a guerra. Lembro-me um dia, quando alguém me disse:
- Guimarães, este batalhão vai para a Guiné ...
Ainda estávamos no RAP 2 em Gaia...E eu exclamei:
- Ainda bem, é a província mais próxima de Portugal para vir de férias...
Não será aqui o sítio certo para falar do RAP 2. Mas na minha vida pessoal foi um marco importante. Foi de lá que foi mobilizado o meu pai, militar de carreira, para ir servir em França… na 1ª Grande Guerra (Ele nasceu em 1893 e eu nasci quando ele tinha 54). É de lá mobilizado o meu irmão que parte, com o BART 525, para Angola... E sou eu mobilizado, no BART 2917, para servir na Guiné...
Ironias do destino ou coincidências de graus de parentesco... É que, entre o meu irmão e o meu pai, também é mobilizado para África um primo meu, em 1º grau. Não há dúvida, aquele Regimento entrou na nossa casa, muito antes de eu ter nascido... Se fosse isto um romance serviria para dizer que a minha existência como que começou ali. Mas isto é outra história que, não sendo menos curiosa, não vem agora a propósito.

Não pensem que há algum anacronismo quando eu refiro que o meu pai foi mobilizado, pelo RAP 2, para servir a Pátria, em França, em 1917... O meu pai nasceu em 1893 e eu em 1947, o que quer dizer que nos separam, portanto, 54 anos... 2º Sargento de Artilharia de Campanha, segue para França integrado no Corpo expedicionário, comandado pelo General Gomes da Costa.
Como mera curiosidade, sou eu que tenho a caderneta militar e as condecorações de meu pai: guardo com toda a estima sete medalhas, sendo uma delas a da Vitória... Por outro lado, e como sabem, nós estivemos na 1ª Guerra Mundial e não na 2ª...

Um grande abraço,

David Guimarães
Ex-Fur Mi Atirador Arr e Minas



Xitole 1970/72
NOTA - Envio por aqui as fotografias e são três de meu falecido pai - 2º Sargento de Artilharia, em Macau 1933. Por coincidência, ele nasceu em 1893.

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Nota de MR:

Vd. último poste desta série em:

3 comentários:

Unknown disse...

David Guimarães, aceite a minha admiração pela decisão da publicação do seu texto. Admiração porque tambem sou fiel depositário de uma variante da sua história de reconhecimento. Poderá consultar em http://parameuneto.blogspot.com/ logo do lado esquerdo em cima.
Um abraço.
Carlos Filipe
ex CCS BCaç3872 Galomaro/71

Anónimo disse...

Caro David Guimarães

Quer queiram quer não, PORTUGAL foi e ainda é, um País de Soldados.
Em menos de um século, travamos três guerras, que ainda são, e cada vez mais, do desconhecimento dos nossos compatriotas.

O teu pai é contemporâneo, em França, de JOSÉ MARCELINO (meu avô materno)e de JÚLIO MARTINS (meu tio paterno), ambos com a patente de 2º Sargento e do Batalhão de Infantaria 7 (Leiria).

O meu avô regressou passados 6 meses ferido, pelo que passou à reforma. O meu tio manteve-se até ao final da guerra.

Mas o meu avô já tinha estado em Moçambique, durante as campanhas do Ocupação, no final do Século XIX; o meu tio foi, em 1962, Comandante das Milícias de São Salvador do Congo, em Angola.

Com a passagem do Manel e de mim próprio pela Guiné, a família respondeu presente, enviando um membro da mesma, quando foi chamada.

Um abraço

José MARCELINO MARTINS

Unknown disse...

Caro David
Já tinha lido esta tua divagação pela estória de família e simultâneamente pela história de Portugal.
Simplesmente maravilhosa a forma como as contas.
Um abraço de amizade