quinta-feira, 11 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4510: Memória dos lugares (31): Fá Mandinga, CCAÇ. 1589 (1966/68) (Armandino Alves)




1. O Armandino Alves foi 1º Cabo Enfº da CCAÇ. 1589 (1966/68), em Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé e, respondendo ao nosso desafio, para escrever mais sobre o que de bom, e menos bom, recordar sobre aqueles bura.. kos, enviou-nos mais uma mensagem, que muito agradecemos, com data de 9 de Junho de 2009 p.p.




Camaradas Luís Graça e demais Tertulianos,

Sobre o Aquartelamento de Fá Mandinga, ainda recordo que:

Em Dezembro de 1966, a minha CCAÇ. 1589, recebeu Guia de Marcha para Fá Mandinga.

Embarcamos em Bissau numa LDG em direcção a Bambadinca e daí seguimos em viaturas, pela estrada em terra batida, que estava a ser aberta pelo Batalhão de Engenharia, em direcção a Bafatá.

A certa altura viramos á esquerda e entramos na picada que nos ia levar a Fá. Era tão estreita que mal lá cabiam uma GMC ou uma Mercedes. Passamos o Aquartelamento de Fá de Cima e começámos uma íngreme descida até Fá de Baixo.

O Aquartelamento era constituído por 4 grandes barracões, dois de cada lado, com uma grande parada no meio. À volta era só capim, que era preciso desbastar para podermos ver mais longe e evitar surpresas “desagradáveis”, embora o pessoal de Fá de Cima nos protegesse pois, devido á sua posição no cimo da colina, viam muito mais longe.

Mas, pelo que eu sei, Fá nunca foi atacada.

A partir daqui fizemos várias operações, com outras Companhias que tinham a sua base em Porto Gole. A maior delas foi à mata do Saraoul, durou 10 dias e foi feita a nível de Batalhão.

Nesta operação, quando embarcamos na LDG, tivemos um grande “incentivo” moral e psíquico, para a operação que íamos realizar. No meio da LDG estavam 6 urnas, com 6 camaradas dentro, que exalavam um pestilento cheiro a carne putrefacta devido, não só ao muito tempo decorrido sobre as suas mortes, como pelo efeito do calor do sol, que incidia sobre as urnas que se encontravam a céu aberto.

Não sei se eram para serem inumadas em Bissau, ou serem mandadas assim para a Metrópole.

Entretanto o Capitão da minha Cia. adoeceu, apresentando um elevado estado febril. Tratei dele o melhor que soube e fui ter com o Major dando-lhe conta da ocorrência.

O mesmo, não queria que o Capitão seguisse para o mato e decidiu que ia entregar o Comando da Companhia a outro oficial. Só que, o Capitão mesmo doente opôs-se terminantemente, e, dirigindo-se a mim, disse-me que eu tinha que o repor em condições de seguir viagem, porque se não, quando regressasse-mos a Fá, me dava uma “porrada” e me despromovia.

Dentro dos meus conhecimentos e conforme pude (pois os Médicos não foram feitos para andar em operações), lá consegui que a febre baixasse o suficiente, para ele se aguentar de pé e seguir connosco para a operação. Durante todo o percurso de ida eu fui a sombra dele. Quando paramos para nos instalarmos já ele estava a cem por cento.

Durante a operação fomos fustigados por fogo de morteiro e, como o IN conhecia bem a mata, os rebentamentos davam-se muito perto de nós. Foi então que um dos nossos soldados, foi atingido no pescoço por um grão de areia projectado pela deslocação do ar de uma das explosões.

Julgo que ainda hoje ele o tem no corpo, pois os médicos preferiram não o tirar, visto que o local, onde se encontrava o dito grão, era muito perigoso para a sua extracção clínica.

Quando regressávamos fizemos uma paragem para retemperar as forças. O pessoal foi distribuído de maneira a manter a segurança. No momento em que um dos nossos camaradas foi fazer as suas necessidades fisiológicas, ouviu-se um tiro que felizmente não atingiu ninguém.

Detectado o atirador, no cimo de uma árvore, o mesmo foi abatido de imediato.

Ao reagir ao som do tiro, o pessoal abrigou-se o melhor que pôde e soube , mas um dos nossos soldados, pró azar, encostou-se a uma árvore de pequeno porte e derrubou, inadvertidamente, uma colmeia. Foi o fim do mundo. As abelhas atacaram em força e, quando nos conseguimos livrar delas, tivemos de solicitar a evacuação de dois soldados bastante atacados pelas abelhas, para o Hospital Militar de Bissau.

Claro que, em poucos segundos, os anti-histamínicos desapareceram enquanto o diabo esfregou um olho.

A partir daí tudo correu bem e regressamos a Fá.

Pouco tempo depois recebemos guia de marcha para Madina do Boé.

Quanto ao quartel de Fá, lembro-me que o 1º barracão se situava do lado direito de quem entrava no quartel e servia de caserna dos praças e quartos dos sargentos, e o 2º destinava-se aos Comandantes e, creio que também, a camarata dos oficiais.

Nas traseiras do 1º barracão estava instalado o “meu” Posto de Socorros e o reboque com o material de Campanha do SS, que nunca foi usado.

O 2º pavilhão, do lado esquerdo, só estava meio ocupado por nós, pois a outra metade estava vedada com rede e tinha guardado o material, para a fazenda do Amílcar Cabral.

Não me lembro onde ficavam a cozinha nem as oficinas auto.

Um abraço para todos do,
Armandino Alves
Ex 1º Cabo Enfº da CCAÇ. 1589
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:


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