domingo, 14 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4524: Fauna & flora (24): Companhia indesejável no meu bura… ko morreu, sem apelo nem agravo, no Cachil (José Colaço)

1. Mensagem de José Colaço (*), ex-Sold de Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65, com data de 13 de Junho de 2009:

Camaradas,

Muitos dos factos acontecidos na guerra na Guiné, são comuns, em situações idênticas, a todos os ex-Combatentes que por lá passaram.

Coisas que aconteceram a um de nós, vem-se a verificar que algo semelhante aconteceu a outros camaradas. Aquela passada na “latrina” não comento, porque ainda hoje me cheira "mal"… eheheheheheheh…

Mas a passagem que se me proporcionou, em dado momento, com uma cobra, da qual envio foto em anexo, foi no buraco do Cachil.

A data precisa não sei, por não ter tomado nota, mas pelo tempo que vivi no buraco, foi entre Fevereiro e Abril de 64.

Depois de mais um dia de prevenção e trabalho esforçado no abate da mata, dirigimo-nos já noite para o nosso habitual buraco e não nos apercebemos da presença de tal companheira enorme, silenciosa e indesejável.

Toca a deitar e… dormir!

Por imposição das explorações rádio eu e meu colega, 1º Cabo, ao romper da manhã tínhamos que responder à chamada de Catió e dizer ok, correcto e terminado. Esta acção obrigava a sermos os dois a tratar dela, porque a energia fornecida ao posto de rádio, provinha de um gerador manual, que funcionava por manivelas. Um girava as manivelas e o outro falava no rádio.

Os habitantes daquela agradável “suite”, que passo a citar por ordem hierárquica: Capitão Ares, Tenente-Médico Miliciano Dr. Rogério Leitão, Furriel Ferreira das Transmissões, Furriel Enfermeiro Arlindo, 1º Cabo Enfermeiro Salvador, 1º Cabo Rádio-Telegrafista Joaquim da Lousa e eu.

Então não é que ao levantarmo-nos e ao olharmos para os restantes camaradas, deparou-se-nos, do lado direito do buraco, toda enrolada a dita cobra.

Não era nenhuma jibóia mas podem constatar pela foto que, a mesma, metia respeito e não só.

A sentença, sem qualquer tipo de julgamento,” por invasão de propriedade privada sem autorização superior”, foi logo dada, tal como ela se nos havia imposto: silenciosamente, sem declarações a favor, ou contra, unanimemente, ali mesmo e com efeitos imediatos: morte sumária à catanada.

A “sentença” foi pronta, ordeira e devidamente executada!

Foto: © José Colaço (2009). Direitos reservados

As personagens da foto são (da esquerda para direita): Eu de quico a sair do buraco, o Tenente-Médico Miliciano Rogério Leitão de calções, atrás está o 1º Cabo Enfermeiro Salvador, servindo de divisória a respectiva cobra pendurada na árvore, a seguir o 1º Cabo Rádio-Telegrafista Joaquim da Lousa e por último o 1º Cabo Enfermeiro “o Leiria”.

Um alfa bravo,
José Colaço
___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

2 comentários:

Santos Oliveira disse...

Colaço

Gostei de recordar as vossas caras daquele tempo!

Mesmo assim fico com pele de galinha por causa da "bicha".

Mas, Colaço, ela (a cobra)apenas queria viver sossegadinha dentro do arame farpado (ou paliçada). Não incomodou nem questionou ninguém. Afinal todos andávamos em Bandos ( a Ordens deles) dentro da nossa Fortaleza. Ela seria só mais um(a).
... É mais forte que nós, não é? Na falta de guilhotina, a... Catana.

Abraços
Santos Oliveira

Colaço disse...

Santos peço desculpa mas nesta fase não havia paliçada nem arame farpado.
O bando andava á "solta".
A análise feita localmente e aprovada por unanimidade:
A cobra naquela noite fresca, só procurou o ambiente mais ameno que aqueles corpos na "luxuosa Suite" emanavam.
Mas a sentença já tinha sido executada.
Abraços retribuídos Colaço