quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4864: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (14): "A gastronomia guineense em 1969/71 e na actualidade"

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, que foi Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 14ª estória:

Camaradas,

Ao vasculhar os meus apontamentos dei com um texto, que me fez lembrar os sítios e gastronomia que na época, 1969/71, existia em Bissau.

Só de lê-lo faz-me crescer a água na boca!

Como profissional de hotelaria, não poderia deixar de tecer alguns comentários à deliciosa e variada gastronomia guineense nos dias de hoje.

Gastronomia esta que recomendo principalmente aos apreciadores de bons gostos e paladares africanos.

"A GASTRONOMIA GUINEENSE EM TEMPO DE GUERRA"

Em Bissau, local onde só estive de passagem,
esporadicamente, e quando fui hospitalizado em sequência de um ferimento, despertou-me a atenção para o roteiro gastronómico, ou melhor dizendo, locais onde se comesse bem.

A gastronomia da Guiné, na altura, não se podia dizer que despertava o melhor sentido do sabor aos que procuravam uma lauta ou gostosa refeição.

Os melhores restaurantes da época em Bissau, estavam condicionados ao abastecimento de produtos, para a confecção dos típicos pratos guineenses. Resumindo-se basicamente à oferta das célebres ostras, frango à guinéu, piche-pache de ostras, moqueca de peixe e chabéu de galinha.

Para complementarem a sua oferta na Ementa ou Carta, sugeriam pratos de origem portuguesa, onde poderíamos encontrar sabores em conformidade com as nossas raízes.

O restaurante “SOLAR DOS 10”, um dos mais conhecidos, senão o mais famoso, tinha uma Carta onde sobressaíam as lulas grelhadas com piri-piri, e o famoso bife à Solar dos 10.

No “SOLMAR”, além das ostras, serviam um bom bitoque e omoletes de gambas que eram um regalo.

No “PELICANO”, o ex-líbris, era a francesinha que, para a época, era agradável.

Na estrada, entre o QG e Bissau, a seguir à entrada do Pilão, do lado esquerdo, havia um restaurante pequeno que servia um Piche-Pache de Ostras e um Chabéu de Galinha, que era de comer e chorar por mais.

Junto ao Forte de Amura, existia uma tasquinha que servia uns pastéis de bacalhau e vinho verde, que eram um primor.
A Moqueca de Peixe, para os apreciadores, encontrava-se nos restaurantes dos naturais da Guiné, localizados na zona do Pilão.

O Frango à Guineense, que consistia num frango previamente temperado com sal e limão e depois grelhado, com muito piri-piri, coisa comum em todos os restaurantes.

Na época a que me refiro, proliferava o mercado negro de géneros alimentícios em Bissau, o que condicionava a boa gastronomia e a elevava para preços demasiado altos, pouco acessíveis à fraca bolsa dos militares.

"A GASTRONOMIA GUINEENSE ACTUAL"

A actual gastronomia tradicional guineense é caracterizada por paladares intensos e apimentados, onde o limão, a malagueta e o jindungo são condimentos indispensáveis.

O arroz (bianda), é a base principal da alimentação popular, ao qual depois de cozinhado se adiciona o mafé, nome dado aos caldos geralmente feitos com peixe, marisco, galinha ou carne.

O chabéu e o óleo de palma são gorduras vegetais de eleição utilizados por todos os guineenses. A mancarra é outra gordura oleaginosa empregue frequentemente em molhos.

Os legumes mais conhecidos são a baquitche, a candja e o djagatú, muito utilizados para acompanhar o arroz e o mafé.

Saborear o caldo mancarra de chabéu, galinha de terra à Cafreal, bica grelhada, futi, sigá, acompanhados de vinhos de palma, vinho de cajú, refresco de fole, veledé, cabaceira, tambarina, mandiple e miséria, entre outros, são autênticos prazeres gastronómicos da Guiné.

Há ainda uma riqueza alimentar natural naquele país que é constituída pelo famoso marisco e peixe da sua costa marítima.

Toda esta excelente e deliciosa cozinha guineense, hoje, pode-se encontrar em qualquer restaurante da Guiné, bem como em Portugal, em alguns estabelecimentos nas zonas onde se concentram as habitações dos naturais daquela terra.

Para os mais interessados nesta específica gastronomia, recomendo o livro Guiné-Bissau, TERA SABI.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

4 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro Mário Pinto
No roteiro pela Bissau do teu tempo (que, em parte, também foi o meu), acho que te esqueces de mencionar para o "Solar do 10" uma "Açorda à Sta. Teresinha" que era mesmo boa, tipo açorda de marisco mas com bastantes pickles em pedacinhos pequenos e um "Bife á inglesa" que realmente, não tendo nada a ver com a gastronomia local davam nota alta ao espaço de restauração em causa.
No "Pelicano" a francesinha era a diferença, mais para o tipo de snack-bar, mas o restaurante que ficava no piso mais inferior tinha pratos sofisticados e bem elaborados.
No "Oásis" as alheiras de Mirandela "davam cartas" e foi a acompanhá-las que fui descobrindo diversos vinhos brancos "monocasta" duma Casa ribatejana que acabou, a "Francisco Ribeiro", de Vila Chã de Ourique, onde havia "Boal", "Fernão Pires", "Cercial", etc., e que na altura eu desconhecia essas diferenças, passei a reconhecê-las depois, já que "vinho era vinho" e mais nada.
Junto ao Forte da Amura, para além dos pastelinhos de bacalhau, acho injusto não referires as melhores "iscas" que havia por Bissau. Era um regalo, ao fim de tarde, com o Sol já menos forte, ali na esplanda do largo, com a Casa "Salgado & Tomé" mesmo na esquina.
É claro que o pessoal do "Vietnam" não tinha estes mimos, mas não se podia ter tudo, não é verdade?
Um abraço
Hélder S.

mario gualter rodrigues pinto disse...

Caro camarada
Helder Valério

Obrigada pelo teu conhecimento, e com isso teres enriquecido este post., como
fácilmente é visivel eu só pude mensionar o que conheci e a vivencia em Bissau não era o meu forte.
E como dizes e bem o pessoal do Vietname, não tinha esses luxos.

Um abraço

Mário Pinto

Anónimo disse...

Que bom recordar estas coisas, não se vivia só da guerra. Até ficamos com água na boca. Henrique Matos

Anónimo disse...

Mario Pinto

De Bissau e da sua restauraçaõ,pouco conheci,dado o pouco tempo que por lá estive em "férias"!
Recordo o Pelicano,sobre o rio(?);o Bento; e um outro que não recordo o nome(quem subia a avenida em direcção ao Palacio,ficava numa paralela a esquerda)

Um abraço
Luis Faria