quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4867: Memória dos lugares (35): Porto Gole, Março/Abril de 1968, CART 1661 (José Nunes, ex-1º Cabo, BENG 447, Brá, 1968/70)



Guiné > Região do Oio > Porto Gole > Março / Abril de 1968 > CART 1661 >
Trabalhos de electrificação do aquartelamento a cargo de uma equipa do BENG 447, onde se integra o José Nunes, autor destas imagens...

Guiné > Região do Oio > Porto Gole > 1968 > Vista geral da povoação e aquartelamento

Guiné > Região do Oio > Porto Gole > 1968 > O Sesimbra, o Biaia e o José Nunes, posando junto ao temível Morteiro 81

Guiné > Região do Oio > Porto Gole > 1968 > Junto a um dos abrigos do aquartelamento

Guiné > Região do Oio > Porto Gole > 1968 >O Biaia, que presumimos ser um 'protegido' da tropa, quiçá a mascote da companhia (CART 1661), que - como muitos outros miúdos guineenses - cresceram dentro do arame farpado, ao longo da guerra colonial...


Guiné > Região do Oio > Porto Gole > 1968 > O José Nunes posando para a posteridade com a inofensiva (para os humanos) mas sempre mítica jibóia...

Guiné > Região do Oio > Porto Gole > 1968 > Todos à v0lta da jibóia - I


Guiné > Região do Oio > Porto Gole > 1968 >Todos à volta da jiboia - II

Guiné > Região do Oio > Porto Gole > 1968 > Todos à volta da jibóia - III

Fotos: José Nunes (2009). Direitos reservados



1. O José Nunes (, de seu nome completo, José Silvério Correia Nunes), ex-1º Cabo, BENG 447 (Brá, 1968/70) esteve na Guiné de 15 de Janeiro de 1968 a 15 Janeiro de 1970.


Fez assistências e electrificações em aquartelamentos como Porto Gole, Enxalé, Ponta do Inglês, Bolama e Bissum-Naga.

Esteve em Porto Gole em Março/Abril de 1968, altura em que se procedeu à electrificação do aquartelamento (foto à esquerda). Não tínhamos até agora fotos dele. Finalmente, e a nosso pedido, ele procedeu à digitalização de uma série de fotos, que iremos publicar. Hoje começamos com as suas memórias de Porto Gole.

"Nesse tempo o Comando ficava na Habitação existente, e servia de alojamento aos Oficiais e Sargentos. O restante pessoal ficava no celeiro e nos abrigos, construídos, e nos abarracamentos construídos junto da casa maior" (*).

A tabanca "estava alinhada, formando uma rua até ao cruzamento da estrada que ía pra Mansoa e para Enxalé. De frente para o Geba, junto ao monumento, a pista ficava do lado direito; no esquerdo, no pequeno vale com laranjeiras e uma horta, ficava o poço onde nos abasteciamos de água".

Na altura a CART 1661, a que pertencia o nosso camarada Abel Rei (**), "tinha pessoal em Bissá e em Enxalé"... Acrescenta o José Nunes:

"Sei que tinha um número considerável de baixas. Foi quando apareceram as primeiras minas incendiárias que fustigavam as colunas de reabastecimento a Bissá. Tenho algumas fotos lá tiradas com a malta, impecável. Em Porto Gole foi onde vi a maior jibóia na Guiné, morta quando se ía buscar lenha para fazer a comida.

"Foi aqui que tentaram envenenar toda a Companhia, deitando no poço toda o tipo de restos de vacas mortas, tripas, peles... O poço era tapado com tampo de madeira e na base do gargalo havia um buraco para enfiar a mangueira da bomba, foi por aí que introduziram tudo, nas barbas de um posto de sentinela, mas pela horta era fácil. As flagelações eram feitas do cruzamento, na altura foi construido aí um posto avançado [, um fortim], para evitar as flagelações. Durante a minha estada nunca fomos atacados". (***)

__________

Notas de L.G.

(*) Vd. postes de:

10 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4492: Memória dos lugares (30): Porto Gole, CART 1661 (1967/68) (José Nunes / Abel Rei)

22 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2470: Diorama de Guileje (5): Geradores na Guiné (José Nunes)

22 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2469: Tabanca Grande (55): José Nunes, ex-1.º Cabo Mec Electricista de Centrais (BENG 447, 1968/70)


(**) Vd. postes de:

12 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4815: Notas de leitura (14): As memórias do inferno de Abel Rei (Parte I) (Luís Graça)

14 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4820: Notas de leitura (15): As memórias do inferno de Abel Rei (Parte II) (Luís Graça)

24 de Agosto de 2009 > Guiné 1963/74 - P4858: Notas de leitura (16): Memórias do inferno de Abel Rei (Parte III) (Luís Graça)

(***) Último poste da série Memória dos lugares:

14 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4682: Memória dos lugares (34): Guiné, Sol e Sangue, de Armor Pires Mota, CCAV 488, 1963/65 (José Marques Ferreira)

3 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro José Nunes
As tuas histórias, as tuas recordações, assim reveladas, vêm demonstrar que aquela época marcou de forma indelével todos os que a viveram, fosse qual fosse a sua actividade.
Sem dúvida que todos tiveram as suas circunstâncias e para uns, mais que para outros, as dificuldades foram incomparáveis, mas o que é decisivo é a forma como se olha e sente o que se viveu.
Um abraço
Hélder S.

Luís Graça disse...

Havia todo um outro exército, de que pouco se falava, a não ser quando faltavam os géneros alimentícios, as bebidas, as munições, a electricidade, os abrigos, as peças para as viaturas...

Toda a rapaziada, desde o BENG ao BINT, que nos prestava, a nós, operacionais, o precioso e indispensável apoio sem o qual a nossa resistência e a nossa sobrevivência teriam sido bem mais difíceis..

Obrigado, Zé Nunes, por nos ajudares a compor o "puzzle" da nossa memória... Na guerra, como em todos os empreendimentos humanos, não há vedetas, há equipas, não há heróis individuais, há competências... Nunca me passou pela cabeça que, para ter luzinha à noite em Bambadinca e gelinho para o meu uísque com água de Perrier, era preciso haver homens, dedicados e competentes, como tu, Zé Nunes...

Aquele abraço, daqui, da Cidade Invicta, onde estou de pasagem para a outra margem...

Anónimo disse...

Camaradas,nós no Beng tinhamos a noção de tudo o que fazíamos era muito pouco pra minorar o sofrimento dos nossos Camaradas operacionais,desde o melhorar e ampliar "infelizmente" o HM241,novas salas de operações,quando nos apercebíamos das flagelações aos aquartelamentos,fazia-se um silêncio onde quer que nos encontassemos,e pela calada da noite quando era-mos convocados pra ir disponibilizar sangue,pois de madrugada,os nossos chegavam,
Bissau,não era só farra, estavamos convosco sempre!-Tivemos mais Sorte.Ao furriel Subtil Soares e ao Baiona de Andrade,a minha equipa
sempre,procuramos fazer o melhor,e fizemos,Amigos em todo o lado por onde passamos,Gratos pra sempre por nos terem dado a vossa amizade,
e algumas patuscadas inesquecíveis.
Com amizade,obrigado Camaradas.
José Nunes
1ºCabo Mec.Elect.
Beng-447
Brá-68/70