quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4929: Memória dos lugares (41): Estragos no quartel dos COMANDOS, Brá 1968 (Magalhães Ribeiro/Abreu dos Santos)

O nosso Amigo e Camarada-de-armas Abreu dos Santos (ex-Combatente em Angola), enviou-me oportuna e importante informação, que aqui muito lhe agradeço, sobre alguns pormenores que poderão contribuir para ajudar a esclarecer, o que é que se passou no aquartelamento dos COMANDOS, em Brá, no ano de 1968, que provocou os enormes estragos que se podem verificar nas fotos, que nos foram enviadas pelo nosso Camarada José Nunes, e foram publicadas no poste P4895 (*):

«Não é conhecido, que algum "quartel dos comandos" tenha sofrido «um forte ataque do IN», fosse na Guiné, em Angola ou em Moçambique. Não pela circunstância de ser "tropa especial" (tal como os camaradas pára-quedistas ou fuzileiros especiais, poderiam ter sido alvo de rocketadas e/ou morteiradas In), mas pela singela questão de, nos anais castrenses [e não só], se desconhecer um tal «forte ataque do IN aos comandos de Brá». Se alguém sabe, que avance e fundamentadamente contradite. Se não, deixem-se de estórias da carochinha...

Como toda a gente, minimamente informada, sabe, Brá não era "o" quartel dos Comandos: era um Campo Militar ou "grupo de aquartelamentos" (mal-acomparado, assim-a-modos-que um mini-polígono de Tancos, ou um Grafanil ou um Boane), no qual os Comandos tinham o sector próprio e perfeitamente delimitado, com a respectiva porta-de-armas para a estrada Bissalanca-Bissau. Aliás, o próprio BEng447, tanto quanto julgo ser correcto, também estava instalado "em Brá"...!, paredes-meias com os aludidos "Comandos". Portanto, aquelas imagens de abarracamentos meio-desmantelados – dir-se-ia "por um tornado" –, tanto poderiam ter sido produzidas em instalações do BEng447 como em qualquer outro dos quartéis que existiam naquele Campo Militar. Mas, acaso tenham sido obtidas "no quartel dos Comandos", tê-lo-ão sido: em que precisa data? por quem? e com autorização de quem?

Quanto às objectivas perguntas, colocadas pelo co-editor MR:

1. «Foi um temporal? Um incêndio? Um acidente? Um defeito de construção?»:

As fotos não demonstram, de forma concludente e iniludível, «um incidente que teve lugar no quartel dos COMANDOS em Brá»; ilustram, sim, uma das especulações relacionadas com o seguinte recorte noticioso (que poderia enquadrar, parcialmente, a 2ª pergunta)...

2. «Em que data, mais ou menos?»:

19Fev68 (2ªfeira) – Em Conackry, o PAIGC usa a emissora oficial guineana, para fazer propaganda sobre os seus últimos feitos, afirmando que lançou «ofensivas sobre as localidades de Bafatá, Gabu, Farim, Mansôa, Cansumbé e Bolama»; e que anteontem, numa acção chefiada por André Pedro Gomes, «atingiu com foguetes o aeroporto de Bissau»; mas omite, obviamente, que no cais de Conackry lhe foram recentemente entregues lanchas rápidas de origem soviética, com as quais iniciou a flagelação de destacamentos da Armada no rio Corubal.

– «Atacámos todos os centros urbanos do país, excepto Bissau, se não contarmos com o ataque [!?] ao aeroporto. O ataque ao porto [sic] de Bissau foi planificado por nós com todas as precauções. O único contratempo foi o de se não ter realizado na data marcada, por terem surgido dificuldades materiais: houve um atraso de alguns dias, mas foi planificado por nós no decurso de uma reunião com todos os camaradas; escolheram-se mesmo os homens que deviam tomar parte na acção.

Centros como Bafatá, Gabu, Farim, Mansôa, Cansumbé e Bolama foram atacados várias vezes; fizémos um certo número de prisioneiros; houve várias deserções e destruímos um grande número de barcos portugueses, o que nunca tínhamos conseguido.»¹

¹ (Amílcar Cabral, in "Cadernos Necessários", 1969)

3. «Que companhia lá estava na altura?»:
Como aquartelamento-base, a 3ªCCmds [operacional 02Nov66-08Abr68], comandada pelo cap mil inf cmd Álvaro Manuel Alves Cardoso.

Quanto à contemporânea 5ªCCmds (cap art cmd António Gabriel Albuquerque Gonçalves), foi deslocada em 19Jan68 para Cacine e mantida no sector sudoeste até seguir em 10Jul68 para o Gabu, pelo que à época não estava em Brá.»
Melhores cumprimentos,
Abreu dos Santos
(ex-Combatente em Angola)

Foto: © Virgínio Briote (2009). Direitos reservados.
___________

Notas de MR:

(*) Vd. poste com as fotos do José Nunes em:

4 comentários:

Anónimo disse...

Camaradas,quem fez as fotos fui eu,sei do que falo porque o Quartel dos Comandos ficava entre o Beng,e o Depósito garal de adidos.
Eu estava a almoçar no Beng.ouvimos explosões e saímos prá rua,só viamos chapas e demais coisas a voar,não foi ataque nenhum,decerto foi um acidente.
Ao estado aque ficaram as casernas,não se verificar vitimas,
foi um acaso mas por ser hora de almoço ajudou,na noite do ataque á base eu tinha acabado de regressar de Bissau,e constatei das movimentações que houve nessa noite
foram disparados alguns morteiros e
nem sequer houve tempo de reacção das nossas forças embora tivessem logo iniciado a caça,aos atacantes.
Ao enviar as fotos procurei um esclarecimento visto continuar sem saber de concreto o que se passou.
Mas ataque inimigo não foi!
Acidente é o mais provável.
Só a verdade interessa,isto verificou-se,emtre MaioSetembro de 1968,pois eu vim de Porto Gole finais de Abril e em setembro fui pra Bissum.a data ao certo não sei.
José Nunes
1º Cabo Mec.Electr.
Beng 447

Zé Teixeira disse...

Apenas uma correcção. A Comp. de comandos não era a 5ª mas a 15ª que tinha chegado a Bissau em Maio de 1968
Zé Teixeira

Unknown disse...

Caro Magalhães Ribeiro

Na estrada Bissau - Mansoa existiam
os seguintes estabelecimentos militares: HM241 Batalhão de Engª,
Comandos, Deposito de Adidos, Base Aérea 12 e Aeroporto de Bissalanca.
Se o Zé Teixeira diz que foi à hora
do almoço,não podia ser do ataque do IN pois esse foi à noite. Quanto a não haver tropas dos Comandos em
Bissau como diz o Abreu dos Santos
foi o Sr General António de Spínola
quando tomou posse como Governador
que achou que tropas especiais como
os Comandos não deviam estar estar
refasteladas em Bissau fazendo operações esporádicas enquanto a tropa macaca andava no mato de um lado para o outro. Por isso deu ordem para irem para o mato e eles foram para Cacine. Isto era o que se comentava no QG. Nisto só me admira que seja um Comando que combateu em Angola a defender os Comandos da Guiné. Não quero crer que nesta Tabanca não haja Comandos da Guiné. Esses sim podem informar com verdade o que se passou.
Armandino Alves

Anónimo disse...

Caros amigos nada do que foi dito foi a verdade a 5ª.CC esteve em Cacine de 19/01/68 a 24/02/68 e nessa altura o General Spínola ainda não estava na Guiné. Quando ele foi nomeado Governador da Guiné estava a 5ª.CC em Gandembel. Quanto aos estragos no quartel de Comandos foi em 1969 e era a 15 e l6 CC que estavam lá a 5 já tinha regressado à metrópole. Esclarecendo algumas pessoas os comandos não faziam operações exporádicas. A 5 CC esteve 18/2 a 28/3/67 no Olossato, de 27/4 a 10/6/67 no Jolmete, de 14/8 a 28/8/67 em Có, além de Cacine esteve em Gandembel e Aldeia Formosa de 11/5 a 11/6/68 de 10/7 a 3/08/68 esteve em Nova Lamego, de 18/8 a 26 de Setembro esteve na Ilha de Jeta no sector de Teixeira Pinto e no intervalo destas datas fez a 5 CC dezenas operações por toda a Guiné. Consultem a história da companhia junto do Arquivo Histórico Militare confirmarão tudo o que escrevi