sábado, 12 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4941: Banco do Afecto contra a Solidão (4): Um grande capitão da Guiné - Eurico de Deus Corvacho - CART 1613, continua hospitalizado


Guiné > Guileje > CART 1613 (1967/68)> 1967 > Regresso ao quartel de uma operação, com o Capitão Corvalho à frente, seguido pelo Costa da Bazuca.
Foto: Zé Neto (2005). Direitos reservados.

Camaradas,

Em 23 Fevereiro 2006, foi publicado um poste da autoria do saudoso Zé Neto, com o título:

Guiné 63/74 - DLXXVI: O meu capitão, o capitão Corvacho da CART 1613 (1966/68) (Zé Neto)

Muito recentemente, mais precisamente em 6/08/2009, surgiu no citado poste a seguinte mensagem:

«Fui condutor do coronel Corvacho na 1ª comissão em Angola, na C.P.M 150. Era alferes e fui eu, com um outro soldado (hoje presidente da Câmara de Alenquer), que lhe oferecemos os galões de tenente, porque sabíamos que ia ser promovido no dia seguinte. Lidei com ele 27 meses e nunca mais irei esquecer estes fabulosos meses, que passei (foi um privilégio) com ele. Até à pouco tenho almoçado com ele regularmente, mas como o deixei de ver, fui a casa dele saber se estava melhor. Segundo me informou a Srª. sua esposa, meteu-o num Lar de Idosos, pois já não tinha paciência para lidar com ele, tal a dependência a que chegou aquele homem bom e humano. Bom não quero fazer mau juízo de ninguém, mas creio que a 1ª esposa, que bem conheci, não faria tal coisa. Com pena o deixei de ver, e até a ajudá-lo. Cheguei a ir ao Colégio Militar, aonde foi pagar uma viagem do filho mais novo.»

Três dias depois, em 9/08/2009, foi a vez da sua neta Catarina deixar também uma curta mensagem:

Em nome do meu Avô, que se encontra neste momento numa cama de um hospital a lutar contra a doença que tem (amarrado, pois a suposta família foi de férias), agradeço a homenagem.

Catarina Corvacho

Preocupado com um eventual agravamento do estado de saúde, deste nosso excelente Capitão da Guiné, que hoje é Coronel na situação de reforma e foi brigadeiro graduado em 1975, tendo estado à frente da região Militar do Norte, enviei um e-mail ao seu filho mais velho, em 9 de Setembro de 2009, nos seguintes termos:

Boa noite Exmo. Sr. Eurico C. Corvacho,

Quem se lhe dirige, por esta prática via, é Eduardo Magalhães Ribeiro, um colaborador do blogue de Luís Graça & Camaradas da Guiné, que foi furriel miliciano na Guiné, em 1974.

Acabei de saber agora, por uma mensagem deixada no blogue, por uma neta do nosso muito estimado por diversos dos seus bem comandados homens, que o nosso Brigadeiro Eurico de Deus Corvacho se encontra numa cama do hospital.

Será que o Senhor não nos podia fazer um ponto da situação do estado de saúde do seu querido pai, permitindo-nos a posterior "postagem" no blogue para informação e conhecimento de todos os interessados?

Desde já, em meu nome pessoal e de todos quantos se interessam de algum modo por este assunto, muito agradecido fico por todo e qualquer esclarecimento prestado.

Cordiais saudações e cumprimentos de,

Eduardo Ribeiro

No dia 10 de Setembro de 2009 recebi a resposta:

Bom dia Sr. Magalhães Ribeiro,

Tudo isto é uma história muito triste. Eu encontro-me em Luanda/Angola a trabalhar.

No decorrer da semana passada recebi um telefonema de um camarada do meu pai, Coronel Fonseca, que me conhece e o qual não vejo faz muitos anos. Foi portador da pior notícia, informando-me que o meu pai estava hospitalizado e bastante mal.

Fiquei preocupado e espantado pela forma como me chegou a notícia e porque razão estaria ele no Amadora/Sintra e não HMP.

Efectivamente tenho que dizer que não tenho as melhores relações com a minha madrasta, falamos o indispensável, no entanto, perante assunto desta gravidade, não havia razão para ela não entrar em contacto comigo ou com a minha mulher para informar, por um lado que ele estava num lar, por outro que tinha sido hospitalizado, facto que ela tem conhecimento.

Bem, de imediato coloquei-me em campo e fiquei chocado com o que encontrei.

Ele foi parar ao Amadora/Sintra por estar internado, desde data inserta, numa casa de saúde, em completo abandono.

A razão do internamento dele teve a haver com uma infecção pulmonar e, posteriormente, com uma infecção hospitalar. Continua a lutar contra a doença que o acompanha faz alguns anos e que é do vosso conhecimento.

Soube que está internado desde 13 de Agosto, sem qualquer visita ou acompanhamento de alguém. No hospital não sabiam sequer que se tratava de um Coronel do Exército. Pelo quadro de abandono, já estava envolvida uma assistente social.

Bem de imediato a minha mulher foi ao hospital, inteirou-se da situação, falou com os médicos e com a assistente social, explicando quem ele é, que tem família e as razões pela qual se tinha criado esta triste e desagradável situação.

Estamos neste momento a tratar da sua transferência para o HMP, que ainda não sei quando terá lugar, cancelando o processo de abandono com a assistente social, bem como recorrendo a apoio jurídico para o acompanhamento deste processo.

Voltando ao estado dele, encontra-se em recuperação das infecções aguardando resultados de novas análises. Está internado em regime de isolamento na medicina 1A, 6º. Piso do Amadora/Sintra e diariamente recebe visitas da nora e dos netos. É notória a alegria dele ao ver caras conhecidas e de pessoas que ama.

O comentário da minha filha mais velha, Catarina, foi um desabafo perante todo este cenário, em tempos enfiei aos meus filhos o endereço do vosso blogue para terem a noção da estripe que é feita o avó deles, um grande Homem.

Para qualquer informação adicional, não hesite em me contactar, e pode publicar o conteúdo do presente correio.

Do meu lado podem contar com informações sempre que houver algum desenrolar deste assunto.

Melhores cumprimento e grato pela vossa preocupação

Eurico C. Corvacho

Resta-me agradecer ao Sr. Eurico C. Corvacho, em meu nome pessoal e de todos os Homens que serviram sob as ordens do seu querido pai, e que dele guardam as melhores recordações, as boas notícias que nos foram prestadas, registando aqui o renovar dos sinceros desejos das melhoras do seu estado de saúde.

Com um abraço de,

Magalhães Ribeiro

___________

Notas de M.R.:

Vd. postes anteriores desta série em:

15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3630: Banco do Afecto contra a Solidão (2): Ajuda ao João Santos, ex-combatente em Moçambique, que vive num contentor (Mário Fitas)

4 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3562: Banco do Afecto contra a Solidão (1): A última comissão do Coronel (Jorge Cabral)

Vd. outros postes sobre o Capitão Corvacho:

31 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2493: Estórias de Guileje (6): Eurico de Deus Corvacho, meu capitão (Zé Neto † , CART 1613, 1966/68)

22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)

24 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXVIII: Corvacho, um homem com honra (João Tunes)

23 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXVII: Corvacho, um capitão de Abril (A.Marques Lopes)

23 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXVI: O meu capitão, o capitão Corvacho da CART 1613 (1966/68) (Zé Neto)

10 comentários:

Luís Graça disse...

Desgraçadamente, casos como este, estão a acontecer com demasiada frequência e tenderão a aumentar no futuro... O mínimo que podemos fazer é alertar, no nosso blogue, os amigos e camaradas da Guiné, e se possível mobilizar recursos e conhecimentos...

Há homens abandonados, sem terem sequer assistência médica: é o caso, por exemplo, dos nossos antigos camaradas guineenses que cá vivem: uns suicidam-se, outros morrem sozinhos como cães...

Soube há dias através do Virgínio Briote, que tem sido mais do que pai dele, que o Amadu Djaló precisa de ser visto por um médico... Está em casa de uma das filhas por cuja naturalização portuguesa ele tanto tem lutado.. O seu coração está fraco e receamos que possa não chegar ao dia do lançamento do seu livro (Novembro / Dezembro de 2009)...

Por que é que as portas do Hospital Militar não se abrem a homens como o Amadu Djaló ? É preciso "meter uma cunha" para o internar lá ? Em último caso, ele pode ser visto no SNS...

Anónimo disse...

Meu caro Luís,

É verdade! É a triste situação a que este país votou os seus melhores, os Homens de uma Palavra só!
Não conheci pessoalmente o sr. Coronel Corvacho, mas li e ouvi muito sobre ele, para me merecer todo o meu respeito e admiração.
O Corn. Costa Campos que tambem me falou dele, não o teve os ultimos tempos de vida com a honra e respeito que lhe seriam devidos.

É o país que temos! Há que lutar e denunciar! Há que trazer aqui todas estas situações, caso contrário não seremos dignos dos que tornaram Portugal Grande.

Do tamanho do Cumbijã o AB para toda a Tabanca Grande.

Mário Fitas

Do tamanho do

Anónimo disse...

Luís Graça,Editores e Camaradas:
Adiei,por razões sem interesse, uma saída. Almocei e vim ver o Blogue: Li e senti-me tão mal meu(s)caro Camarada(s). Dirijo-me a ti pois,além de subscrever o que dizes creio que, ao criares este espaço,ele terá como "missão"
principal a denuncia, a ajuda, a casos como este e não só evidentemente.As nossas estórias ou histórias, com os desabafos, o trazer ao presente um passado, em pequena parte, por nós vivido como Povo humilhado e ofendido. Mesmo até, e porque não, temas de combustíveis...enfim. Agora aparece este caso revoltante. O Coronel Eurico Corvacho, que não conheci,foi um Homem de Abril. Tem determinado significado para mim; muito mesmo. Ele e outros foram tão maltratados posteriormente. Passível de contestação mas, por favor, não me lixem! Temos dois Coroneis ex-comandantes meus que certamente o conhecem; há homens nesta Tertúlia que igualmente ficaram conhecedores de sua situação e da de outrs Camaradas, conforme, qual pequena gota de água, citas. Então porque não serve o caso Corvacho ou Amadú de pontapé de saída para tomada de posição? Basta!
Não continuo porque a cabeça "estala" e tu sabes que isso é chato para mim...vidas.
Abraço fraterno para todos e um voto de melhoras e melhores dias para os que sofrem...TORCATO

Anónimo disse...

Luís Graça,Editores e Camaradas:
Adiei,por razões sem interesse, uma saída. Almocei e vim ver o Blogue: Li e senti-me tão mal meu(s)caro Camarada(s). Dirijo-me a ti pois,além de subscrever o que dizes creio que, ao criares este espaço,ele terá como "missão"
principal a denuncia, a ajuda, a casos como este e não só evidentemente.As nossas estórias ou histórias, com os desabafos, o trazer ao presente um passado, em pequena parte, por nós vivido como Povo humilhado e ofendido. Mesmo até, e porque não, temas de combustíveis...enfim. Agora aparece este caso revoltante. O Coronel Eurico Corvacho, que não conheci,foi um Homem de Abril. Tem determinado significado para mim; muito mesmo. Ele e outros foram tão maltratados posteriormente. Passível de contestação mas, por favor, não me lixem! Temos dois Coroneis ex-comandantes meus que certamente o conhecem; há homens nesta Tertúlia que igualmente ficaram conhecedores de sua situação e da de outrs Camaradas, conforme, qual pequena gota de água, citas. Então porque não serve o caso Corvacho ou Amadú de pontapé de saída para tomada de posição? Basta!
Não continuo porque a cabeça "estala" e tu sabes que isso é chato para mim...vidas.
Abraço fraterno para todos e um voto de melhoras e melhores dias para os que sofrem...TORCATO

Anónimo disse...

Magalhães Ribeiro

Foste Grande,diria foste um OP.Especiais ao tomares a iniciativa de ,após a comunicação da Catarina teres, contactado com o filho do Brig.Corvacho que autorizou a publicação.

De seguida deste-lhe seguimento,publicando nesta "nossa caixa", tambem de surprezas,para conheciment(revolta?)de quem o conhece(ia)ou por ele tem justa consideração.

Não conheci o Brig.Corvacho mas tanto quanto sei ,tinha/tem "calor humano"e é ... Homem com letra grande.

Espero que com a actuação da Familia a situação se resolva rápidamente.

Para ti,M.Ribeiro ,tudo de bom
Luis Faria

Anónimo disse...

Caro Luís,

Com o devido respeito....

Como sabeis vivo nos Estados Unidos da América. Neste país nem tudo é perfeito. Mas uma coisa posso garantir: os americanos tomam conta dos seus veteranos. E de cada maneira!

Para se ter uma ideia do que por aqui se faz, aqui estão dois casos que eu julgo elucidarem a minha afirmação.

Espalhados por tudo este país há os hospitais de veteranos que, pura e simplesmente, atendem os veteranos de então e de agora. E, ainda, o facto das cidades e vilas terem os seus departamentos de veteranos, e cuja missão é zelar pelo bem estar dos ex-militares.

Como resolver a situação em Portugal?, é a pergunta à qual os veteranos portugueses têm que dar resposta.

E sei que a podem dar.

Neste país americano seria impensável, com conhecimento de causa, dar um trabalho de serviço público ou eleger alguém que não tivesse, honrosamente, passado à situação de disponibilidade.

Para bom entendedor, é uma questão de lei. Mas também é um caso de cultura.

Neste aspecto as diferentes Associações de Veteranos em Portugal têm que se juntar e meterem ombros à obra.

É indigno que homens que serviram Portugal, caiam na situação deste nosso camarada.

Em solidariedade um abraço do tamanho do Atlântico,

José Câmara

JD disse...

Camaradas,
Subscrevo o comentário do José Câmara, provindo dos Estados Unidos.
Não é uma nação que politicamente me seduza. Não é uma sociedade exemplar, com critérios de justiça que me perturbam.
Mas, relativamente aos veteranos de guerra, tem valores.
Refiro-me agora ao vizinho Canadá.
Recentemente vi um mail sobre os funerais de dois militares abatidos na Ásia.
O cortejo era de dia. As cerimónias no aeroporto foram testemunhadas por muitas pessoas. Mas impressionante foi o cortejo funebre. As viaturas deslocavam-se por estradas onde se amontoavam pessoas em viadutos, com cartazes de reconhecimento e glória. O cortejo dilatava-se com a presença de novos acompanhantes anónimos. E as imagens de público nos locais possíveis era constante.
Provavelmente não foram heróis. Mas foi como heróis que foram recebidos. A comunidade reconhecia-lhes o sacrificio máximo, e fazia-lhes uma pequena homenagem. Homenagem que solidarizava os sobrevivos relativamente a sentimentos pátrios.
Mas no Canadá não se conhece a barafunda governativa deste país. Aqui todos se demitem de responsabilidades. O pessoal vota e a caravana passa.
Abraços fraternos
José Dinis

Hélder Valério disse...

É lamentável este tipo de situações que, como refere o Luís e nós também constactamos, acontecem cada vez com mais frequência.
E reparem camaradas como isto é transversal às diferentes classes ou camadas sociais.
A vida está difícil e o abandono de valores sobre os quais se tem pautado a evolução da humanidade, tem vindo a gerar cada vez mais sofrimento, incompreensão e a criar condições para o surgimento de novas formas de totalitarismo.
Neste caso concreto ainda bem que parece que foi possível inverter a situação que se desenhou, mas muitos outros haverá que tal não será possível.
Talvez seja essa uma das áreas, a solidaridade, o alerta denunciador e a acção concreta, que podem dar ao Blogue uma das suas áreas de elição.
Um abraço
Hélder S.

José Martins disse...

É de lamentar tudo o que se passa à nossa volta, e no que. especialmente se refere aos antigos combatentes.

Estou a concluir um texto sobre um caso real, que irei enviar não só para o nosso blogue, mas para outros locais onde possa ter eco.

Votos de rápidas melhores para o "nosso capitão Corvacho".

Porque razão não avisaram os intervenientes na guerra, directos ou indirectos, que só muitos anos depois viriam os problemas?

José Martins

Anónimo disse...

Caro Luís
Estou chegando a pouco e pouco ao Blogue, depois da época balnear.
Tenho quase 300 Postes para ver...
Já tomei conhecimento com novas "situações de conflito verbal", que muito afectarão novos aderentes e o conhecimento de "novos factos" para a feitura da história desses "anos de brasa" da juventude (e outros menos jovens) de então.
Agora deparo com esta situação miserável, só possivel, por que não dizê-lo, numa actual Guiné ou outro País desse Mundo...
O camarada José Câmara, por lá viver, dá-nos o exemplo de um País que de que tenho igualmente conhecimento, não só pelos familiares que por lá passaram ou ainda lá vivem, mas também dos vários conterrâneos que conheço e conheci (alguns já morreram) veteranos da II Guerra, da Coreia e até do Vietename e sei bem como foram e são tratados.
Também já vi as imagens a que o josé Dinis se refere relativamente ao Canadá.
Pois é, mas aqui o tratamento é este...
Só nos resta denunciar estas situações, para ver se a vergonha, alguma vez, atinge os que chegam às cadeiras do poder.
AB para todos
Jorge Picado