quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5109: Meu pai, meu velho, meu camarada (18): Do Mindelo a... Bambadinca, com futebol pelo meio (Nelson Herbert / Luís Graça)

Guiné > Zona leste > Bambadinca > Rio Geba > Porto fluvial > 1970 > A grua Galion a operar no cais (um pontão de madeira!) de Bambadinca... O Rio Geba era navegável até Bafatá, mas do Xime para cima o curso do rio, sinuoso e mais estreito, só permitia a navegação de pequenas embarcações militares (LDM, LDP, lanchas) ou civis (por exemplo, da Casa Gouveia)... O pai do nosso Nelson Lopes Herbert, de seu nome Armando Duarte Lopes, uma antiga glória do futebol caboverdiano e guineense ("Armando Bufallo Bill, seu nome de guerra, o melhor futebolista da UDIB, do Benfica de Bissau, internacional pela selecção da antiga Guiné Portuguesa"...) , trabalhou na administração do porto fluvial de Bambadinca, entre 1969 e 1971 (L.G.)

Guiné > Zona Leste > Bambadinca > 1970 > A Galion a carregar vacas para o matedouro de Bissau...

"A Galion a carregar vacas no cais fez-me lembrar o episódio dela no percurso do Xime para Bambadinca. A Galion veio numa LDG [ Lancha de Desembarque Grande] desde Bissau até ao Xime. E daí para Bambadinca ia pelos seus próprios meios. Passou bem pelo destacamento da Ponte do Rio Undunduma, mas quando chegou a meio da bolanha a estrada não aguentou o peso e cedeu. Resultado, a Galion desequilibrou-se e ficou meio enterrada na bolanha.Julgo que isto se passou em Novembro de 69 (dia 24 ou 25 - aniversário do Tony) Tenho este episódio documentado mas, como era hábito naquele tempo, está em diapositivo (em português slide, como dizia o saudoso Fernando Peça) e não em fotografia" (Humberto Reis).

Guiné > Zona leste > Bambadinca > 1970 > O Geba Estreito, junto a porto fluvial de Bambadinca.

Fotos de 1970, gentilmente cedidas pelo Luís Moreira, ex-Alf Mil Sapador da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), gravemenbte ferido numa mina anticarro em 13 de Janeiro de 1971, e evacuado para o HM 231.

Fotos: © Luís Moreira (2006). Direitos reservados.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea da tabanca de Bambadinca, tirada no sentido sul-norte. Em primeiro plano, a saída (nordeste) do aquartelamento, a ligação (B) à estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá (C), paralela à antiga estrada (A) que cortava a tabanca ao meio. Ao fundo, o Rio Geba Estreito (E). Junto ao rio, as instalações do Pelotão de Intendência (D), junto ao porto fluvial de Bambadinca.


Foto: Humberto Reis (2006). Direitos reservados.


Guiné-Bissau >Mansoa > 9 de Setembro de 1974 > Cerimónia de transferência de soberania. Foto de autor desconhecido

Guiné-Bissau > Bissau > s/d (pós-independência > Campo de jogos de Bissau > Um jogo de futebol, sob a bandeira da nova República, duas equipas locais, com equipamentos de clubes portugueses (Benfica e Sporting). Foto de autor desconhecimento.

Imagens: Gentilmente cedidas por Nelson Herbert / Maria da Conceição Silva Évora

Portugal > Cadaval > Adão Lobo > 1950 > Equipa de futebol do Sporting Clube Lourinhanense, da Lourinhã, no campo de jogos do Adão Lobo. O segundo da primeira fila, da esquerda para a dierieta, é o meu pai, Luís Henriques, então com 29 anos... Esteve toda a vida ligada ao futebol, quer como jojador quer como dirigente e treinador de futebol das camadas mais jovens... Tem hoje 89 anos... Esta foto foi tirada em 1950, no dia em que o Benfica (seu clube de eleição) ganhou a Taça Latina (pode-se ler-se na legenda da foto... Ao que parece foi o primeiro feito internacional do S.L. Benfica: ganhou à Lázio nas meias-finais e depois ao Bordéus na final) Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "A equpa do R. I. 5 [ Caldas da Rainha,] composta de sargentos e furriéis a qual bateu a do R.I. 7 [ Leiria,] por quatro a um, num jogo de camaradagem. Abril de 1943. Lu´si Henriques"... [Local: Lazareto ?, ao fundo o Monte Cara].

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Uma fase do jogo de voleibol no dia da festa da restuaração , organizada pelo Regimento de Infantaria nº 5. Lazaret, 1/12/1942. São Vicente, Cabo Verde. Luís Henriques".

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Uma jogada movimentada entre duas equipas que disputaram o jogo de basquetebol. Na festa de 23 de Julho [,1º aniversário da chegada das tropas expedicionárias à ilha,], no Lazareto, em 1942. Luís Henriques".

Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados.

1. Mensagem do Nelson Herbert:


Caro Luis

Hábitos da educação africana...Mais velho é sempre mais velho.. Me obrigam a manter essas formalidades no nosso tratamento [, por você, e não por tu]. (*)

Indo entretanto à questão:

1- O meu velho entrou para a tropa a 15 de Agosto de 1943. Fez a recruta e o treino militar em Chã de Alecrim [, a nordeste da cidade do Mindelo, Ilha de S. Vicente, Cabo Verde].,

Depois do juramento da bandeira (será esse o termo ?) é transferido para Lazareto e São Pedro [, na parte oeste, sudoeste da ilha].

Lembra-se perfeitamente do corpo expedicionário vindo da então Metróçole. Termina o serviço militar em Janeiro de 1945. Frequenta , como vários outros nativos crioulos, o Curso de Sargentos Milicianos, graduação a que entretanto dificilmente os nativos hegavam...

Participou de forma rotineira nos tais exercicios físicos da tropa, na Praia da Matiota ... (que melhor lugar para um exercício matinal!). Já naquela altura era futebolista do Amarante Futebol Clube, um dos históricos clubes de Mindelo. Ainda se recorda, e bem, da argumentação semanal para conseguir a devida licença da tropa, para os treinos e jogos do fim de semana...

Alias, é pois o futebol que o acaba por levar à então Guiné Portuguesa, para jogar na UDIB - União Desportiva e Internaconal de Bissau.


2- Sobre a passagem dele, por Bambadinca... Mandatado pela JAPG, foi ele quem implanta e organiza a administração local (serviço de escrituração -seré esse o termo) do porto local. Finda essa fase de estruturação da funcionalidade do porto local, é chamado à sede (Porto de Bissau) e em substituição é despachado um outro colega.

Lembra-se do batelão Poana , de umas 100 toneladas, e que, sob escolta da tropa, fazia o trajecto Bambadinca-Bissau e vice-versa com carga militar e civil (esta último sobretudo gado para os matadouros em Bissau).

E, era segundo ele, na gestão "da hora e da vez de cada um " na utilização da embarcação, que surgiam os inevitáveis "atritos" com a tropa .

Durante esse peróodo (uns dois anos passados em Bambadinca entre 1969 e 1971/72 ) nós, os filhos (seis), por questões de segurança, tivemos que nos manter em Bissau. Lembro-me entretanto da nossa mãe, tê-lo visitado uma ou duas vezes em Bambadinca e de lá ter regressado, de avião, um dia após um ataque da guerrilha!

Quanto a fotografias, a primeira deslocação dele a Mindelo, conto ter algo !

Djarama
Nelson Herbert
___________

Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 12 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5101: Meu pai, meu velho, meu camarada (17): Ilha de S. Vicente, S. Pedro, 1943: Armando Duarte Lopes (Nelson Herbert)

(....) Comentário de Luís Graça:

Mando um abraço do meu para o teu velhote... Ambos ainda estão de pé, aos 89 anos... Árvores valentes, com muitas coisa em comum, entre eles, o futebol e o Mindelo... E o mais espantoso foi o teu pai, natural de Cabo Verde, ter trabalhado, já depois de retirado do futebol (presumo), em Bambadinca, em plena época da guerra colonial (1963/74)... Confirmas ?

Vê se consegues apurar melhor essa história de Bambadinca e do batelão que foi objecto de conflito entre a tropa (leia-se: Batalhão de Intendência, BINT, de Bissau ? Comando ou CCS do Batalhão de Bambadinca ? ) e a administração do porto fluvial...

De qualquer modo, mais ou menos em que época (1964/66, 66/68, 68/70, 70/72, etc.) ?

Recordo-te que eu conheci dois batalhões, em Bambadinca, o BCAÇ 2852 (1968/70) e o BART 2917 (1970/72)...

O porto fluviall de Bambadinca tinha muito movimento no meu tempo e nós gastávamos muita energia a montar segurança às embarcações que subiam e desciam o Geba Estreito... As famosas patrulhas a Mato Cão, de que temos falado aqui tanto...

Em Bambadinca havia um entreposto e um destacamento, a nível de Pelotão, da Intendência... Nunca convivi muito com eles, os intendentes... Talvez eles possam também esclarecer essa história...

PS - Nelson, não te esqueças: Os amigos e camaradas da Guiné tratam-se por tu... Podia tratar-te por irmãozinho!

4 comentários:

José Marcelino Martins disse...

Boa tarde

O batalhão expedicionário do RI 5 (Caldas da Rainha) realizou um jogo de camaradagem com o do RI 7 (Leiria), em São Vicente em Abril de 1943.

Alguem sabe alguna coisa da participação do RI 7 na expedição a Cabo Verde em 1943?

José Martins

Luís Graça disse...

Zé:

Confesso que sei pouco sobre as forças expedicionárias que estiveram em Cabo Verde durante a II Guerra Mundial, e as suas unidades mobilizadoras...

Das memórias (fragmentadas) dos nossos pais (do meu, do Hélder Sousa, do Nelson Herbert...) apanha-se ou um outra referência a este ou aquele batalhão deste ou daquele regimento.

No tempo do meu pai (Julho de 1941/Setembro de 1943), havia homens da região do Oeste estremenho, oriundos das Caldas da Rainha (RI 5), de Leiria (RI 7), mas também do BAC (Cascais ?) e ainda do Regimento de Infantaria de Tomar .



O meu pai pertencia ao 1º Batalhão Expedicionário do R.I. nº 5, que desembarcou no Mindel´p, em 23 de Julho de 1941. Ignoro se outros batalhões foram para outras ilhas (Santiago, por exemplo, onde estava a capital do arquipélago, Cidade da Praia). Mindelo era mais importante, do ponto de vista estratégico (porto de águas profundas, passagem dos cabos submarinos, etc.).

A malta que veio das Caldas ficou na Ilha de São Vicente... Foram pedidos voluntários para Santo Antão, a ilha vizinha... Ao todo terão passado pelo arquipélago cerca de 5 mil homens, entre 1941 e 1945 (li isso algures).

Talvez possas saber mais na Liga dos Combatentes, na revista "Combatente", no Museu do Exército... ´

Quando tiveres uma resenha histórica sobre as forças expedicionárias em Cabo Verde. durante a II Guerra Mundial, a gente publica... e agradece, com uma chapelada...

Luís Graça disse...

O futebol, ontem como hoje, é um traço de união entre os povos... Em Bissau, continua a ser jogado e vivido com paixão, apesar de as equipas que disputam o campeonato da 1º divisão de futebol não terem craques com ordenados milionários...

Leia-se o blogue do Miguel Garcia de Sousa, "Bissau Calling", que é desde Maio de 2008 Conselheiro Político, de Protocolo e de Informação Pública da Missão da União Europeia de Apoio à Reforma do Sector de Segurança da Guiné-Bissau.

Aqui vai, com a devia vénia:

Quarta-feira, 30 de Setembro de 2009 > Bola meio quadrada

A época de futebol na Guiné-Bissau está quase a começar mas a realidade por aqui é um pouco diferente. Não se discutem orçamentos milionários, contratações de grandes jogadores ou se as acções da SAD estão bem ou não. O artigo que transcrevo (após várias correcções ortográficas) do jornal Donos da Bola do dia 23 de Setembro, ilustra bem como a bola pode ser redonda de tantas maneiras.

A Federação de Futebol da Guiné-Bissau (FFGB) entregou no passado fim de semana (19 Setembro) a todas as equipas que militam na Primeira Liga do Nacional de Futebol um lote de materiais desportivos para iniciar a próxima época desportiva (2009/2010). Aquele organismo máximo do futebol, presidido por José Medina Lobato cedeu a cada formação nacional da primeira liga dezoito bolas, trinta e dois pares de botas, dez pares de luvas de guarda-redes, trinta e duas caneleiras, dez postes de treinos, setenta e dois mecos (pinos) normais e mais um meco de trinta e seis cm e ainda setenta e dois coletes.

(…)

O Director da FFGB, Simão Lucas da Rocha, segundo o jornal: “exortou aos dirigentes dos clubes nacionais beneficiários deste donativo para o usarem de uma forma racional ao serviço dos seus clubes para que os jogadores possam, aproveitar ao máximo os aspectos técnicos e tácticos necessários para o desenvolvimento de um bom futebol no nosso país”.

O jornal Donos da Bola ao contrário do que possam pensar não é um jornal desportivo, mas antes um jornal generalista. O título resulta de uma escolha feita pelos alunos que o produzem da Universidade Moderna do país.

http://bissaucalling.blogspot.com/

Adriano Miranda Lima disse...

Sr. Dr. Luís Graça

Sou Adriano Miranda Lima, coronel reformado, residente em Tomar, e nascido em Cabo Verde, S. Vicente. Não estive na Guiné, apenas em Angola e Moçambique.
Tive acesso ao seu blogue e só tenho razões para o felicitar efusivamente por esta belíssima e interessante iniciativa.
Revisitar estas saudosas memórias é recolocar a história no seu devido lugar e com ela reencontrar-se num abraço fraterno em que o coração se dá inteiro.
Como servi longos anos no RI 15, aliás, a minha unidade de colocação, após o termo das comissões no ex-Ultramar, acompanhei sempre o convívio dos antigos expedicionários mobilizados pelo Regimento. Algumas vezes coube aos expedicionários do RI 15 a organização do convívio, com participação dos camaradas de outros regimentos e unidades mobilizadoras. Cada "regimento" organizava o convívio de todos os que serviram em S. Vicente. Com o meu apoio pessoal, sendo eu então major, por duas vezes o convívio realizou-se no meu Regimento, em Tomar, e numa das vezes ele foi integrado nas comemorações do Dia da Unidade. Noutra ocasião, foi num restaurante em Tomar, e também estive presente, por simpático convite do elemento organizador, Sr. Francisco Lopes (Chico Concertina), infelizmente falecido há cerca de 4 anos. Dava-me muito bem com ele, e era sogro de um amigo meu, advogado.
Se estiver interessado em saber alguma coisa sobre o Batalhão que saiu de Tomar, terei o maior gosto em prestar informações ao blogue. Por acaso, publiquei um artigo num jornal online, sobre a memória desse batalhão.
Há um blogue chamado "Praia de Bote" (nome de um local de S. Vicente), em que tenciono publicar uns spots sobre as forças expedicionárias a Cabo Verde. Como tenho poucas fotos, queria pedir a sua autorização para me servir das que constam do seu blogue respeitantes ao BI 5, que eram do seu pai.Apenas como ilustração. Naturalmente que me refiro a fotos de carácter genérico, não pessoais.
Apraz-me também registar o afecto e a admiração com que cultiva a memória do seu pai neste Blogue.
Um abraço
Adriano Lima