sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5183: Notas de leitura (31): Notícias da Pátria e dos que a invocam, em vão ou não (António Matos)

1. Texto do nosso camarada, de cepa transmontana, apreciado e regular colaborador do nosso blogue, ex-IBM, António Matos, ou António Garcia de Matos, ex-Alf Mil, CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, onde foi especialista em minas e armadilhas (no TO da Guiné, deve ter visto e manuseados muito mais engenhos explosivos em dias de pesadelo do que carneiros em noites de insónia: 16 mil, contou-as ele, que nem sequer consta do Guiness, no livro dos recordes) (*)... Nota de apontamentos e de leitura a propósito do lançamento do livro de Brandão Ferreira, Em Nome da Pátria (Lisboa, Livros d' Hoje, 2009, 557 pp., c.16 €)(**):


Ainda que esta sempre apaixonante questão de guerra ganha-guerra perdida já tenha sido alvo das opiniões de todos que a quiseram manifestar, a verdade é que, mais ou menos esporadicamente, ela volta à ribalta e presenteia-nos com as habituais cobardias de quem comenta escondido atrás do biombo do anonimato em plena demonstração da falta de hombridade, de verticalidade de respeito por si próprio.

Seja-me permitido também acicatar os ânimos dos que discordam do meu ponto de vista mas direi que há dois momentos absolutamente diferentes nesta discussão que urge chamar a atenção para não estarmos a falar, simultaneamente, de alhos e de bugalhos.
Por um lado, pergunta-se se a guerra estava ou não perdida, ora isso pressupõe uma altura antes da dita guerra acabar. Por outro lado afirma-se que perdemos a guerra e isso dá a guerra já como terminada.

Se quanto ao primeiro ponto sou de opinião que a guerra não estava perdida, já no segundo reconheço que Portugal é que cedeu e aí, a haver a necessária contabilidade, admito que a perdemos.

Continuo, entretanto, a defender que a nós, combatentes, actores vivos dos acontecimentos, não nos cabe fazer a história. Essa será concerteza tema de profissionais ainda que os nossos depoimentos lhes facilitem a tarefa.

Ontem, quarta feira, assisti ao lançamento do livro Em Nome da Pátria (**), escrito por um militar não interveniente naquela guerra (**) mas que nem por isso deixo de lhe reconhecer o direito à opinião com a qual sou livre de concordar ou discordar.

O livro, prefaciado pelo Prof. Doutor Adriano Moreira que abrilhantou a sessão com a frescura do seu pensamento e a clarividência do seu raciocínio, é composto por 551 páginas de texto compacto, estruturalmente bem concebido ainda que o conteúdo possa estar eivado de anti-corpos passíveis de alta contestação.

O ambiente na sala pareceu-me bastante heterogéneo e o modo desabrido e frontal do autor deu azo a vários cruzamentos e descruzamentos de pernas e aos "comprometedores" sons abafados dos rabos a virarem-se nas cadeiras...

Algumas palmas que entrecortaram a sua intervenção pareceram-me demasiado fundamentalistas a darem o ar de contas mal ajustadas com o passado.

Seguiu-se um Porto aquando da sessão de autógrafos durante a qual tive oportunidade de me dar a conhecer ao coronel Coutinho Lima e a quem lhe fiz a pergunta : "Como tem convivido com a sua decisão de então ?", à qual me respondeu "Muito bem, pesem embora as opiniões de oposição, algumas das quais muito violentas".

Mais uma vez tive ocasião de lhe manifestar a minha maneira de ver de que não podemos querer ser senão os relatores da nossa estória para que outros escrevam a História.

[Revisão / fixação de texto / itálicos / título: L.G.]

_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 1 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3390 Tabanca Grande (95): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula (1970/72)

(**) 28 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5173: Agenda Cultural (38): Em Nome da Pátria, de Brandão Ferreira: Hoje, às 18h00, na Academia Militar, em Lisboa

(***) O autor entrou para a Academia Militar em 1971. Foi também comandante de linha aérea. É actualmente Ten Cor Pilav Ref e estudioso de questões de defesa e estratégia, bem como de história militar. Tem 56 anos. A seguir ao 25 de Abril de 1974, esteve nos Estados Unidos em formação.É sócio efectivo da Revista Militar.

"Esteve 27 anos na Força Aérea e foi adido de Defesa na Guiné-Bissau, Senegal e Guiné-Conacri. Nunca combateu na guerra colonial mas os valores que professa no livro (Pátria, um Portugal do Minho a Timor) são os dessa época. Os seus princípios parecem inabaláveis: 'Por aquilo que é secundário, negoceia-se; pelo que é importante, combate-se; pelo que é fundamental, morre-se' " (IOL - Diário > 20-10-2009 > "A descolonização enfraqueceu o país").

A sua editora, a Livros d'Hoje, a acrescenta os seguintes dados biográficos:

"João José Brandão Ferreira é (...) mestre em Estratégia pelo ISCSP.

"Durante toda a sua vida profissional foi colaborador de quase todas as revistas militares portuguesas e de alguns jornais, tendo já publicado mais de 600 artigos e efectuado mais de 50 conferências.

"É ainda autor de vários livros entre eles A Evolução do Conceito Estratégico Ultramarino Português e A Inserção das Forças Armadas na Sociedade".

22 comentários:

Anónimo disse...

Matos
Não ha dúvida : Para já...só Lisboa é Portugal!!O resto do rectangulo virá também a ser.

Pelo que me coça atràs da orelha...algo começou a fervilhar nessa cabeça e a breve prazo teremos um novo livro,mais ou menos polémico e eventualmente incómodo, a enfocar e questionar aspectos da nossa Guerra,menos pacíficos.

Será?

Abraço
Luis Faria

Juvenal Amado disse...

Caro camarada
A Guerra perdida ou não.

Na altura expressei a minha opinião. Embora não de acordo de todos como é sabido, é ainda assim minha opinião de hoje.

Possivelmente escreveria de outra forma.

Aceito que a guerra poderia durar eternamente se, economicamente pudesse ser sustentada. Mas como o armamento que nós precisávamos não era dado,o nosso atraso como nação era notório, os que lá estavam queriam se vir embora e os que cá estavam não queriam embarcar. Penso que pouco mais há a dizer sobre o assunto.
Há no entanto um novo dado adquirido por desde o meu comentário de então. No blogue aparecem muitos camaradas a lamentar a forma como "aquilo" foi entregue sem mais nem menos. É de facto um dado novo, pois que eu saiba, ainda não ouvi nenhum dizer, que se tinha voltado a oferecer para lá combater.
Todos queríamos era vermo-nos livres daquilo rapidamente.

Na altura apelidei de pensamentos
neocolonialista algumas das intervenções, mas mal sabia eu que a procissão ia no adro.

Fiel ao lema de quem diz o que quer, ouve por vezes o que não quer só me resta acrescentar, que algumas intervensões no blogue são pura propaganda de uma razão que nunca foi nossa, os responsáveis por tais opiniões nunca estiveram disposto a levar até às ultimas consequências, o que hoje defendem.
A guerra foi perdida no dia em que o Governo de então se negou a negociar como o movimentos de libertação e prendeu os seus dirigentes. Depois foi só esperar que se cumprisse a História.
Portugal de Minho a Timor, é um pensamento antigo, está fora do que considero ser razoável nos dias de hoje.

Um abraço
Juvenal Amado

António Martins de Matos disse...

Caro homónimo
Em primeiro lugar quero desde já reconhecer que António Matos há só um, tu e mais nenhum, eu sou o A MARTINS de M.
Também eu estive na apresentação do livro “EM NOME DA PÁTRIA”.
Muitas caras conhecidas, eventualmente cruzámo-nos sem contudo nos reconhecermos; paciência, ficará para uma outra ocasião.
Gostei do discurso do Prof. Adriano Moreira, sempre claro, preciso e conciso.
Gostei (menos) do discurso do autor, mas já devia saber que escreve melhor do que fala.
Sobre o tema da “GUERRA GANHA-GUERRA PERDIDA”, a minha convicção é de que desde o seu inicio que ela estaria perdida politicamente, mas não ao nível militar.
Puxando a brasa à minha sardinha estou convicto que enquanto a Força Aérea voasse nos céus da Guiné o inimigo nunca se atreveria a mostrar-se.
Foi assim durante toda a guerra e nem os mísseis nem a prenda com que os brindámos com o abandono do Guileje mudou a situação.
E até a famosa declaração de independência, pretensamente efectuada em Madina de Boé foi feita bem distante, não fosse o caso de lhes cair uma bomba no meio do discurso.
Um desafio ao LG para um dia podermos discutir estes temas à volta de uma mesa.
A propósito do Guileje, vislumbrei entre os presentes o Cor Coutinho e Lima.
Ainda hoje não consigo compreender a razão pela qual a apresentação do seu livro “A retirada de Guileje” ter sido feita igualmente na Academia Militar, local onde se ensinam e desenvolvem as capacidades de Comando e Chefia dos futuros oficiais do Exército Português.


Um abraço
Do Martins de Matos para o Garcia de Matos

Anónimo disse...

Uma pertinente pergunta quanto á escolha do local para a apresentacao do livro "Retirada do Guileje".Anti-Spinolismo radical de alguns dos senhores?Ou....mais uma tardia,e expectacular "Opcao de classe" como em 74/75 tanto se dizia em determinados meios militares? José Belo.

Anónimo disse...

Caro António de Matos. Gostei de ler o teu texto.Concordo plenamente quanto á citada mistura de "alhos com bugalhos".Mas o fim da guerra terá sido uma derrota para Portugal?Falar de derrota(ou vitória)militar nao será abstrair a total submissao dos altos chefes militares ao poder político de entao?Alguns dos "brilharêtes" e consequente procura(em aproveitamentos imediatos dos sucessos militares)de solucoes POLÍTICAS possiveis nao foram lá muito bem recebidas pelos poderes em Lisboa.Kaulza de Arriaga em Mocambique,Costa Goumes no leste de Angola,Spínola na Guiné,ramalhête de estrelados tao díspar polìticamente,mas que,cada um a seu modo procuraram solucoes que,todas tiveram como ponto comum...o nao aceitamento pelo poder político central.Mas como nimguem,antes de 74 se atreveu a perguntar ao povo portugues,em referendo livre,se concordava com o continuamento da guerra,apresentando claramente o que a mesma significava quanto a sacrifícios humanos,á economia,ao desenvolvimento cultural e educacional,e á nossa integracao nas sociedades OCIDENTAIS com valores próximos dos nossos;foi assim facilitado o argumento aos que,depois de 74 gritaram nas ruas,e plenários,que o povo nao queria continuar a guerra.Estes,como os anteriores,tambem nao se atreveram ao tal referendo,agora em ...liberdade!Com o fim daquela guerra,mais uma das muitas,da nossa História multi-secular,virou-se mais uma página no nosso caminhar para o FUTURO. Um abraco Amigo do José Belo.

António Graça de Abreu disse...

Eu ando a pôr muitos comentários no blogue, às vezes a brincar.
Este comentário é sério e a sério.

Os historiadores fazem a História, não isentos de paixões, distorções,esquecimentos(como todos nós!) e muitas vezes elaboram os seus textos a partir de dados falsos, ou falsificados. A verdade histórica não é fácil. Talvez eu saiba do que falo, tenho um Mestrado em História dos Descobrimentos e Expansão Portuguesa, concluído em 1999. Já agora, em Janeiro próximo, começo a leccionar no Museu do Oriente, Fundação Oriente, um curso intitulado Introdução à História da China e para me sentir seguro ao falar de 24 dinastias chinesas, preciso de cabeça fria e algum estudo, o conhecimento trabalhado.
Tenho aprendido muito com o nosso blogue, é um manancial fabuloso de informações para sabermos mais e entendermos melhor a nossa guerra na Guiné.
Dou apenas três exemplos:
Primeiro:
Um qualquer historiador (há historiadores mauzinhos) que escreveu sobre a Guiné falou da declaração de Independência em Madina do Boé, Setembro de 1973. Afinal tudo indica que foi noutro local, a uns bons quilómetros de distância. Leiam textos recentes do blogue com inteligência e espírito critico.
Segundo:
A tese da guerra militarmente perdida, -- entre outras premissas, para justificar o descalabro da descolonização, os fuzilamentos, etc. --, assenta na convicção falsa (de quem não estava na altura na Guiné, ou então é mentiroso)de que com os mísseis Strela a Força Aérea deixou de voar, deixou de dar apoio às tropas em terra, bombardeamentos, evacuações, apoio logístico, enfim perdemos a supremacia aérea. Ora os nossos tertulianos cor. Miguel Pessoa, abatido por um Strela, e ten. general António Martins de Matos já explicaram tim tim por tim no blogue, como continuaram a voar, a bombardear(e de que maneira) com os seus Fiats no ano que se seguiu ao aparecimento dos Strela, até Abril de 1974.
É preciso fazer justiça a esses homens,admirar a sua coragem e sobretudo dizer a verdade. Não podemos falsear a História, as gerações futuras não nos vão perdoar.
Terceiro. O abandono de Guileje teve uma repercussão tremenda na sociedade portuguesa de então. Havia censura, o boato imperava, nem sequer o regime dizia a verdade. A tese da guerra militarmente perdida tem a ver com Guileje. Graças ao nosso blogue, eu hoje vejo tudo mais claro. Se um aquartelamento de fronteira caiu (eu acho não caiu, foi abandonado) muitos outros (Guidage, Gadamael) se seguirão, "vamos embalar a trouxa e zarpar" porque perdemos militarmente a guerra.
Ora em 1973 havia 257 aquartelamentos e destacamentos portugueses no território da Guiné.
Apenas um foi abandonado, Guileje.
Esta a verdade histórica.

Conclusão:
Então a guerra não estava perdida?
Claro que estava, em termos políticos estava perdida desde o primeiro dia. Os ventos da História sopravam contra nós, o regime de Salazar e Caetano não quis, ou não foi capaz de entender as mudanças que se estavam a registar no mundo. O Portugal do Minho a Timor era, infelizmente, uma quimera e uma utopia.
Por isso, os sacrifícios que fizemos e o sofrimento que causámos a outros povos, nossos irmãos. Foi o fim doloroso de um Império com quinhentos anos.
Mas quase todos nós saímos da Guiné de cabeça erguida, fomos dignos como pessoas, o esforço de guerra foi enorme mas não nos deixámos vencer, militarmente, no terreno. Em onze anos de Guerra o PAIGC não conquistou ou destruiu um único aquartelamento com tropas portuguesas lá dentro (pois, mas então Guileje...)Também porque o IN, embora bem armado e com muitas razões do seu lado, era mais fraco do que alguns arautos da desgraça ainda hoje nos querem fazer crer.
Não er minha ideia falar da "guerra militarmente perdida" e afinal falei.
Um abraço,
António Graça de Abreu

Unknown disse...

"Continuo, entretanto, a defender que a nós, combatentes, actores vivos dos acontecimentos, não nos cabe fazer a história. Essa será concerteza tema de profissionais ainda que os nossos depoimentos lhes facilitem a tarefa."
-----------
É capaz de haver alguma razão neste parágrafo, porque há dois tipos de História. A protagonizada por homens honrados e intelectualmente honestos; e a outra imaginada por pretensos conductores de rebanhos a caminho do matadouro de uma guerra imaginária.
Acrescentando-se que já não somos combatentes, mas sim EX-combatentes.
Cumprimentos para para todos.
Carlos Filipe
CCS - BCaç3872 - Galomaro 71/73

Anónimo disse...

Caro Graca de Abreu.Estamos totalmente de acordo em que a guerra estava perdida.Os exércitos nacionais existem para permitir aos governos margens de manobra política em defesa de interesses por estes considerados fundamentais.Uma componente militar nao é algo que exista "em abstracto"isolada de uma globalidade política envolvente.Nao é a utilizacao do poder militar uma forma (se bem que extrema)de se procurar obter os resultados políticos desejados?Quando ao utilizar-se a componente militar os resultados políticos desejados nao sao obtidos,como caracterizar a efectividade e os resultados desta componente,tendo em vista os fins justificativos da sua existencia? José Belo.

Anónimo disse...

Caros Tertulianos,

O António Matos deixou-nos uma questão pertinente e realista! Mas!... Ela existe sempre!

Complicado!

Está o Blogue a construir uma História através de muitas estórias e histórias?

Fica aqui um pedido de reflexão a toda a tabanca sobre o comentário do José Belo:

Lê-de e analizai!

Que queredes vós agora?

_Hipotéticamente_ "ex-Militares Portugueses"!?

Que o Luís me tir ainda por mais uns anos a foto, mas com voz! Cantarei o Hino Nacional em louvor dos homens que comigo estiveram! "Sendo ele ainda o do mesmo Império".

Mais uma vez é complicado!

Será que vamos construir uma HISTÓRIA? Ou vamos viver ouvindo estórias?

"Alhos e Bugalhos" "Militares e Politica ou Militares Politicos".

É que eu fui ingénuo e acreditei!

Mas agora vejo o meu Pais!

Agora vejo como a minha Pátria tratou possivelmente os seus melhores e honestos filhos.

Não destruam nem apaguem a nossa memória!

Um abraço ainda do tamanho do Cumbijã porque não?

Mário Fitas

Anónimo disse...

Caros camaradas

Para que não haja mal-entendidos quanto ao que vou expor a seguir, começo por dizer que, é para mim um grande ORGULHO ter servido nas Forças Armadas Portuguesas (Exército), com uma comissão de 25 meses na Guiné.

Guerra ganha/Guerra perdida

Pois é...OS VENTOS DA HISTÓRIA!

Eles estavam contra nós, como reconhece o camarada António Graça de Abreu. Sendo ele historiador, saberá muito melhor que nós, como eles podem ser terríveis e arrasadores, capazes de causar autênticos "tsunamis".
Quantos Impérios Coloniais existem hoje? Mais, quantos existiam naquela altura?
Que países, potencialmente superiores ao nosso (França, Inglaterra, Espanha,eventualmente até Holanda e Bélgica), conseguiram manter as suas colónias? Qual deles conseguiu fazer uma "descolonização exemplar"?
Não tiveram todos de "largar" o seu império de uma maneira ou de outra?

Na altura, os VENTOS DA HISTÓRIA, espalhados por todo o lado, diziam-nos que estávamos quase "orgulhosamente sós".
Como se sabe,da maioria dos países a nível mundial (pelo menos os que contavam e contam) quem nos apoiava?
Praticamente nenhum (e, um ou outro que o fazia, era pela "porta do cavalo").
Sendo assim, a meu ver, a derrota já era política (ou viria a ser muito em breve).
Agora, a questão principal: Face a este contexto, quanto tempo aguentaria Portugal a situação militar? Onde estava a nossa capacidade para tal? e margem de manobra?
A população portuguesa (que já começava a dar sinais de saturação e, nao só, ao receber os seus mortos e feridos), apoiava a continuação da guerra?

Qual o preço HUMANO a pagar?


No geral, estou de acordo com o comentário do Juvenal Amado.

Na parte da sua "CONCLUSÃO", e, de modo geral,estou de acordo com o comentário do António Graça Abreu.
Apesar disso, discordo da parte relativa a Guileje.
Na altura, na Guiné, tive relatos de quem acompanhou de perto a situação. Aqui no blogue, já li relatos de quem esteve "lá" no meio da fogueira e, por eles, eu tenho muito respeito.
Poderíamos estar hoje aqui a falar do "cemitério de Guileje", se a ordem de saída não tivesse sido dada.
Creio que nenhum de nós quereria isso. Os que lá morreram e ficaram feridos, foram mais do que suficientes (diria demais).

Termino com uma frase tirada da Conclusão de A.G.Abreu:
"Quase todos nós saímos da Guiné de cabeça erguida"
Só acrescentarei: Nenhum de nós deve ter qualquer complexo de lá ter estado.

Um abraço para todos os camaradas

José Vermelho
Ex-Furriel Milº
CCAÇ 3520 Cacine/Cameconde
CCAÇ 6 Bedanda
CIM Bolama

Joaquim Mexia Alves disse...

Caros camarigos

Tinha prometido a mim mesmo que não voltaria a este assunto da guerra perdida/guerra ganha, mas decidi fazê-lo, embora não vá acrescentar nada de novo.

A verdade é que esta “polémica” nasceu de algo muito simples e que foi a afirmação de alguns dizendo que a guerra na altura do 25 de Abril estava perdida, ou seja, que as Forças Armadas Portuguesas a tinham perdido.

E não vale a pena andarmos a “encanar a perna à rã”, falando agora da política, e da geoestratégia mundial e disto e daquilo.

Aquilo porque eu e muitos como eu se indignaram foi apenas esta afirmação de quer a guerra no 25 de Abril estava perdida!

Tudo o resto, ou seja, se ela ia ser perdida ou ganha, se a conjuntura internacional, etc, etc e por aí fora não tem a ver com a discussão inicial provocada por aquela afirmação.

E esta afirmação baseava-se sobretudo na “retirada/abandono do Guilege” e na existência dos mísseis.

Como vemos a Força Aérea continuou a voar e até pelos vistos mais do que o fazia depois de um período de reacerto operacional.

Também pelo que vimos mais nenhum quartel foi ocupado, retirado, abandonado, mesmo debaixo de intensa pressão inimiga.

Continuávamos a deslocarmo-nos na Guiné em todos os lugares com mais cuidado ou mais à vontade.

Continuávamos a destruir acampamentos do PAIGC e a proteger as populações.

Resumindo só por muito boa vontade para com o PAIGC ou com outros fins “propagandísticos” se poderia ter dizer que as Forças Armadas Portuguesas tinham perdido a guerra na altura do 25 de Abril.

Já se escreveram livros e hão-de escrever muitos mais tentando passar para cima dos que lutaram na Guiné uma derrota que não tiveram e eu pessoalmente não admito eufemismos que me venham dizer que não fomos nós mas a política e os comandos e não sei mais o quê.

Quem lá esteve fui eu, e comigo todos os que lá passaram e deram o melhor de si, contrariados ou não, e eu como todos esses não perdemos guerra nenhuma.

Escusam de me vir “passar a mão sobre o lombo” dizendo que embora eu tenha estado lá não fui eu quem perdeu a guerra, mas sim a conjuntura e tudo o resto, mas eu reafirmo que as Forças Armadas Portuguesas não perderam nenhuma guerra na Guiné nem no 25 de Abril, nem sequer depois, visto que o poder então instalado é que deu ordem para calar as armas e em boa hora o fez.

E mais afirmo ainda que a maioria esmagadora daqueles que lá estiveram como eu, não queriam a guerra, não a desejavam, nem sequer provavelmente acreditavam nela, e por isso mesmo repudio e não admito qualquer título de “fascista”, “neocolonialista”, ou outros epítetos semelhantes aos quais só posso responder como o Almirante Pinheiro de Azevedo respondeu aos que lhe chamaram a mesma coisa.

Mais afirmo ainda que não estou zangado com ninguém, não vou estar, nem quero estar, mas apenas peço que escrevam a direito e não utilizem palavras e formas de escrever que querem dizer 3 ou 4 coisas ao mesmo tempo, conforme a interpretação que se lhes quiser dar.

Disse!

Abraço camarigo para todos

Não revejo o texto, por isso se tiver erros perdoem-me.

António Matos disse...

Caro Mexia Alves, a conversa é como o coçar, depois de começar, o difícil é acabar.
Pessoalmente adoro conversar e se o tema for polémico, nem por isso o minimizo, pelo contrário, dá-me gozo dissecá-lo.
Começo, portanto, por reconhecer que temos a mesma ideia sobre a quem pertenciam os louros no evoluir da guerra na Guiné no nosso tempo.
Permito-me, no entanto, discordar sobre o pontapé de saída que originou a discussão deste tema.
Dizes que terá sido sobretudo, a retirada / abandono de Guileje o que, para mim, não corresponde à verdade pois sempre discuti esta problemática ( ainda mesmo na Guiné ) sem qualquer conhecimento daquela ocasião !
Aliás só comecei a ouvir falar desse marco cronológico muitos anos após ter regressado daquelas bandas.
Resumindo ; volto a repetir o que já disse várias vezes neste blog. Guileje terá sido uma referência naquela guerra pelo mediatismo que se lhe associou e explorado à exaustão em "literatura" não de referência !
Concomitantemente, este blog tem sido alimentado por muitos dos que intervieram naquele episódio o que deu ao caso uma notoriedade desmedida.
Não me parece justo fazerem-se comparações bacôcas mas a reconquista de Nambuangongo ( Angola ) pelo tenente coronel Maçanita terá sido, porventura, bem mais marcante do que aquele episódio. E não se ouve falar disso, porquê ?
Respeito os camaradas que protagonizaram os antecedentes de Guileje mas respeitemos também aqueles que nas outras zonas de intervenção comeram o pão que o diabo amassou !
Basta de Guileje !
Quando um dia for à Guiné, tentarei ir ver Guileje mas tenho a certeza que os pêlos iriçar-se-ão quando percorrer a estrada Bula- S.Vicente e dificilmente me apanharão a calcorrear aqueles fatídicos 12 kms do lado direito da mesma !
Vamos em frente ...
Como segundo ponto que me incentivou a escrever este comentário foi a finalização do teu.
Apelas, e bem, àquilo que em gíria se apelida de "pegar o touro pelos cornos", na exortação ao acabar com as interpretações dúbias por via de dúbias maneiras de escrever.
Se bem que a escrita tenha, por vezes, essa particularidade nefasta de sermos mal interpretados, e o esclarecimento ser demorado ( só na volta do correio, ainda que electrónico ), permite-me, no auge do respeito que nutro pelas tuas opiniões, que não te deixes cair na mesma tentação e esclareças o que ou a quem te referes quando aludes às tais maneiras ínvias de escrever a suscitar interpretações " à la carte " ....
Um grande abraço para ti e aparece mais assiduamente cá por estes lados!
António Matos

Joaquim Mexia Alves disse...

Caro António Matos

Quando me referia ao ínicio da "polémica", referia-me á Tabanca e não à sociedade em geral e às nossas preocupações particulares ou com os nossos camaradas em tertúlias etc.

Quanto a uma "listagem" de quem escreve ou não com "imagens literárias" que poderão dar azo às mais diversas interpretações, não o farei porque seria longa e fastidiosa e eu teria se calhar da encabeçar.

Aliás permite-me que te diga que se sou uma pessoa frontal e directa, não sou de maneira nenhuma uma pessoa que procure confrontos escritos ou verbais, até por que reconheço que é bem melhor olhar primeiro para os meus defeitos do que olhar para os dos outros, isto sem qualquer nenhum segundo sentido.

Quando escrevo aprendo e eu farei o possível a partir de agora para ser o mais claro e directo possível.

Abraço camarigo para ti e bom Domingo

António Matos disse...

Caro Mexia Alves, afinal o nosso tempo de resposta anda à volta dos 15 minutos o que me apraz registar.
Além disso também prova que este domingo está chuvoso e faz-nos estar em casa a olhar para o computador ...
Obrigado pela tua resposta.
Um abraço,
António Matos

JD disse...

Camaradas,
o texto do António visa, tão só, reportar o lançamento de um livro sobre a guerra no antigo ultramer português.
Sabendo a elevada susceptibilidade que impende sobre as convicções que o livro aborda, o António, muito bem, resguarda-se da polémica, apenas refere que, entre o não ter perdido, ou ter perdido a guerra, considera uma linha temporal, que divide as situações, e lhes confere conclusões definitivas.
Ainda fez outras referências que não me parece tenham sido a dinâmica para despoletar nova prova de força entre os adeptos de uma e outra tese.
Surgiram diversos comentários, no geral cordatos, assentes em alguns raciocínios que não esgotam os alicerces das nossas razões, e, curiosamente, até de sinais contrários, uns relativamente a outros.
Um amigo meu, de coração na boca, sobre a mesma matéria referiu o seguinte: "as Forças Armadas Portuguesas não perderam nenhuma guerra, nem no 25 de Abril, nem sequer depois, visto que o poder então instalado é que deu ordem para calar as armas e em boa hora o fez".
É conclusivo.
Abraços fraternos
José Dinis

Juvenal Amado disse...

Caros camaradas
Possivelmente nunca se encontrará a verdade que agrade a todos.
Eu cá por mim, adoro estas trocas de impressões.
Mantêm-me vivo e para que não dize-lo, que a forma como todos esgimem os pontos de vista civilizadamente e fratenal, é sinal de que os excombatentes do blogue Luis Graça têm muito que ensinar à sociedade em geral.
Já que não nos respeitam, respeitemo-nos a nós próprios.

Um abraço para todos

Juvenal Amado

Hélder Valério disse...

Caro António Matos

Sou, normalmente, um leitor atento e interessado dos teus escritos.
Acho que, não raras vezes, colocas muito bem o "dedo na ferida" quanto ao(s) caminho(s) pelos quais pode descambar este nosso Blogue, em função da recorrência de certos temas, que parecem nunca estar resolvidos, ou mesmo por alguns comportamentos menos consonantes com os, digamos assim, "estatutos" do Blogue.
Por esse aspecto, pelo menos (para além das tuas histórias propriamente ditas, é claro, considero as tuas intervenções não só interessantes como muito importantes.
No que se refere ao teu texto deste "post", por muito que se lhe diga e, valha a verdade, os comentários que lhe foram apensos são reveladores de quanto se sente a necessidade (real ou induzida) de se debater e rebater o tema, gostaria apenas de sublinhar uma frase (um parágrafo) que está lá e que para mim é decisivo.
Trata-se então da frase "Algumas palmas que entrecortaram a sua intervenção pareceram-me demasiado fundamentalistas a darem o ar de contas mal ajustadas com o passado."
Para mim, esta é que é a verdadeira chave para a compreensão do problema, ou do falso problema, se preferirem.
É que se trata exactamente disso!
Todos estão fartos de repetir que "a História é feita pelos vencedores". E isso também concordo.
Só que é necessário saber o que é isso de vencedores. O que é, quem é e sobre quem ou quê.
Na minha opinião especulo que aqueles que se consideram "vencidos" relativamente aos acontecimentos passados da História, acham que os tempos vão maduros para reinverter a História e reescrevê-la, agora sob os seus próprios paradigmas, e assim "ajustarem melhor as contas passadas".
Um abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Caros camaradas.Será que só se consegue ler o que se quer ler?Ainda em zona operacional do sul da Guiné,decidi,aproveitando oportunidade que me foi oferecida,seguir a vida militar ingressando nos quadros do Exército.A guerra decorria com intensidade,e,como é óbvio,ao efectuar tal escolha tinha plena consciencia de....onde me ia meter.Nao sou nem pacifista,nem idealista ingénuo que por lá andou a "apanhar bonés".Orgulho-me dos louvores em combate que constam da minha folha de servicos,como das bofetadas que levei de um sr.inspector da PIDE aquando das greves estudantis dos anos sessenta.Orgulho-me dos camaradas que a meu lado,e tantas vezes á minha FRENTE,milicias africanos,comigo combateram na mata.Nao saí da Guiné,nem derrotado,nem envergonhado.Depois disso,estive mobilizado duas vezes,e nao recusei ambas as mobilizacoes.Considerava entao,como hoje,e sempre o disse "em voz alta",que aquela guerra era impossível de se ganhar no contexto histórico-internacional em que era travada.O papel das forcas armadas seria o de dar tempo,e oportunidades,ao poder político de encontrar saídas viáveis para o conflito.Os governantes de entao remetiam-se a um imobilismo total.Mau grado a trágica experiencia da queda da India Portuguesa,preparavam-se,mais uma vez,as condicoes para os combatentes serem os acusados dos resultados provenientes de uma total incapacidade política.Creio ter o direito á opiniao de que Portugal,ao terminar a guerra nas colónias,NAO saiu derrotado!Que o virar de mais uma página no nossa história de muitos séculos feita,onde tantas vitórias e algumas graves derrotas existiram,mais nao é que um caminhar para um FUTURO VIÁVEL de integracao numa comunidade de valores cristaos,ocidentais e LIVRES.Será isso uma derrota? Será isso uma vergonha?A bandalheira que foi,a entao tao apregoada "descolonizacao exemplar",nao nos pode levar a convenientemente esquecer que as responsabilidades que levaram ao tal caos,e ao desmoronar de tantas instituicoes(incluindo a militar),já vinham a manifestar-se desde há muito.O nosso querido Portugal tem até hoje,conseguido sair sempre dos "charcos" em que alguns o pretendem afogar,tanto em traicoes subtis,como em altos gritos de pseudo-patriotismo exclusivista. José Belo.

Hélder Valério disse...

Caro A. Matos e restantes camaradas

Peço desculpa de voltar a colocar aqui um comentário mas acabou de "cair" o que o José Belo escreveu e senti profundamente "o seu grito, o seu murro na mesa".
Concordo com o que ele diz.
Não se deve misturar, confundir ou "atropelar" responsabilidades. A seu tempo, todos (os responsáveis) tiveram as suas e não vale, por incompreensível seguidismo, escamotear umas e salientar outras.
Um abraço
Hélder S.

Luís Graça disse...

Amigos e camaradas:

Apraz-me registar o elevado nível, intelectual e ético, com que hoje somos capazes de expor e gerir as nossas eventuais diferenças de leitura, de análise e de interpretação dos acontecimentos da guerra colonial (ou do Ultramar, com quiserem) e do seu contexto, mundial, nacional, regional e local.

Não temos, felizmente, G3 distribuídas pelo povo da Tabanca Grande. Sabemos demasiado bem usá-la e quais podem ser os seus efeitos... E não mais usamos, uns contra os outros, mimos como "fascista", "reaccionário", "comuna", "colonista"... Não fulanizamos as nossas discussões.

Devo dizer-vos que é raro, na blogosfera (portuguesa e internacional), ver malta, como a nossa, debater e rebater pontos de vista divergentes e até antagónicos e depois ir beber um copo... Temos conseguido sobretudo evitar o insulto pessoal. Temos vindo a construir, na blogosfera, uma escola de respeito mútuo, de pluralismo político-ideológico, de liberdade de pensamento e de expressão, de tolerância... Náo escondo que há "limites" para a tolerância quando a "buldozzer" da mi nha liberdade irrompe pelo quintal do vizinho adentro...

Pode haver uma excepção ou outra em relação à nossa postira bloguística, que eu interpreto como acidente de percurso, casos temperamentos impulsivos, maus momentos de humor, não comparência aos treinos ou simples desconhecimento das normas de conduta do nosso blogue...

Tenho uma filosofia para lidar com os conflitos (interpessoais), que acho que é a única que, aplicada a situações concretas, pode levar à resolução efectiva, eficaz e duplamente vencedora dos problemas, e que costumo exemplificar através de uma lista seleccionada de provérbios populares:

(i) A verdade, ainda que amarga, se traga

(ii) Escutando, falando e errando é que se aprende a falar

(iii) Jogo franco, cartas na mesa

(iv) O diabo não é tão feio como o pintam

(v) O dente morde na língua mas mesmo assim vivem juntos

(vi) O preto no branco fala como gente

(vii) Os homens conhecem-se pelas palavras e os bois pelos cornos

(viii) Um dia vale dois para quem diz "já" e não "depois"

(ix) Não há concórdia sem discussão

(x) Segue tu sempre a verdade e a razão, embora a uns agrade e a outros não

... Não escondo que, na prática, a coisa pia mais fino. Mas vale a pena sempre tentar os caminhos da resolução (positiva) dos conflitos que, uma vez desencadeados e sob o efeito de bola de neve, podem ter um efeito devastador entre os homens... (Vejam como, em nome dos deuses, das verdades absolutas, dos dogmas, das bandeiras, das ideologias, nos temos matado uns aos outros ao longo da história)...

Desculpem lá esta incursão (que espero não ter nada de paleio de sociólogo).

Anónimo disse...

Luís,

não é paleio sociológico é a verdade.

Fizeste bem em vir a terreiro, pois assim se vai verificando que o que se escreve e diz aqui na Tabanca é algo de importante.

Para o José Belo um muito obrigado pela clarividente explanação do ultimo comentário, é que falando assim ficamos sem dúvidas de interpretação dos comentários.

Que me desculpem os que vão um pouco mais além e ter de andar a rabuscar por vezes o sentido dos escritos. É pá nem todos temos a mesma capacidade de escrita. Escrever de forma que a mesma coisa não tenha duas interpretações ou duvidas.
Eu já escrevi dois livros, e estou a anos luz de ser escritor! Não me preocupo com a forma como escrevo. Digo aquilo que senti e vivi na minha linguagem simples de homem da planície.

Para toda a Tabanca o AB do tamanho do rio que escolher-des,

Mário Fitas

Anónimo disse...

Caro António G Matos,

Conseguistes, com algumas palavras, dissecar a grande realidade daquilo que, tenho a certeza, muitos de nós sentimos, enquanto combatentes no ultramat, no nosso caso particular na Guiné.
Nós não perdemos a guerra.
Pelo contrário, enquanto militares, até ganhamos a guerra.
Baseio as minhas afirmações nos seguintes factos:
As nossas tropas conseguiram sempre manter a segurança suficiente para que as populações fizessem a sua vida com relativa normalidade;
O PAIGC nunca conseguiu a adesão das populações, em massa, para o seu lado, e tão pouco impediu a adesão dessas mesmas populações para o nosso lado;
O PAIGC nunca conseguiu impedir que as nossas instituições (Governo, escolas, hospitais, conselhos de Administração, etc) funcionassem normalmente;
O PAIGC nunca impediu as nossas tropas de se movimentarem na Guiné.
Enquanto militares podemos ter as nossas sequelas, e podemos discutir a razão e a justiça da guerra. Mas isso nada tem a ver com o Perde/Ganha.
Os políticos, antes e depois do 25 de Abril, decidiram da guerra. Isso transcendeu-nos e continua a transcender.

Camaradas,

Nos meus trinta e tal anos de "americano" tenho assistido a grandes debates entre os mestres da política americana, de grandes militares e analistas, jornalistas e simples povo. A guerra na Coreia, no Vietame e Kosovo, Iraque e agora o Afganistão tem sido grandemente debatidas nos meios de comunicação americanos. Ainda não ouvi nenhum americano, que se preze, de alguma vez ter dito que os militares americanos perderam alguma dessas guerras.
A responsabilidade última recai sempre nos políticos que decidem. Todos esses debates são feitos com um grau muito elevado de civismo.
Ao ler todos os comentários sobre o artigo do António apreciei a civilidade com que foram feitos. Vale a pena estar entre camaradas com este nível.
Se me permitem, daqui vai um abraço à americana,
José Câmara