quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5206: Efemérides (31): as eleições de 26/10/1969, as oposições democráticas (CDE e CEUD) e a escalada da guerra (João Tunes)

1. Mensagem do nosso camarada e amigo João Tunes, um histórico da nossa tertúlia (está cá desde Setembro de 2005) (*). 

 Para os periquitos, que ainda o não conhecem , eu costumo apresentá-lo como engenheiro químico reformado, ex-Alf Mil Trms, do meu tempo de Guiné. De 1969 a 1971, andou por desvairadas terras: Pelundo, Canchungo (ou Teixeira Pinto), Catió, Guileje, Bissau... (Na foto, à esquerda, o João é o condutor do jipe... Pelundo, Dezembro de 1969). Está, todos os dias, no seu posto de trabalho, o blogue Água Lisa. Faz parte também da redacção dos Caminhos da Memória, juntamente com Diana Andringa, entre outros membros da Associação «Não Apaguem a Memória!». Caro Luís, Como te lembrarás bem, pouco tempo tinha passado desde que chegámos à Guiné em Maio de 1969, realizaram-se “eleições” para a Assembleia Nacional (a votação foi a 26/10/69, portanto há 40 anos), precedida de uma “campanha eleitoral” em que a oposição se apresentou dividida, através da CEUD (só concorreu em três distritos) e a CDE. A posição face à guerra colonial era um dos temas fortes que dividiam as posições políticas perante o “marcelismo” por parte das duas forças oposicionistas. Essa clivagem, bem analisada numa interessante entrevista com José Tengarrinha (http://caminhosdamemoria.wordpress.com/2009/10/26/entrevista-com-jose-tengarrinha/), marcou não só a campanha como os “resultados” da CEUD e da CDE. Já nas últimas “eleições” realizadas antes da queda do regime, em 1973, a oposição, que então não foi a votos, se apresentou unida, sob a sigla da CDE, e com uma posição frontal de condenação da guerra colonial. Para quem, como nós, estava enfiado no mato durante um destes “períodos eleitorais”, esta problemática passava-se “longe” e dele só recebíamos eco pela correspondência da família, nas férias ou pela leitura de um ou outro jornal ou revista que, quando nos chegavam, era tarde e a más horas. No entanto, as campanhas da CDE (e os Congressos da Oposição em Aveiro, 1969 e 1973), particularmente no que concerne à guerra colonial, tiveram grande impacto significativo e progressivo sobre o posicionamento de vários oficiais do quadro permanente, o que foi ampliado pela influência de milicianos que tinham sido mobilizados para a guerra depois de fazerem o seu estágio político (antifascista e anticolonialista) nas lutas estudantis em Lisboa, Porto e Coimbra. E a génese do MFA, a sua radicalização e a acção revolucionária vitoriosa de 1974, como depois a descolonização, não são alheias a estas influências determinantes. Por tudo isto, o tema não me parece que deva passar ao lado de um blogue centrado nas memórias vivas e lúcidas de antigos combatentes na guerra colonial na Guiné. E julgo que seria interessante que os membros desta animada web-tertúlia dessem conta da forma como os ecos das “campanhas” de 69 e 73 chegavam (ou não chegavam) a cada um enfiado no seu “cú de judas” situado algures no mato da Guiné. Na linha do que disse, se os editores considerarem interessante o post que dediquei a este tema no meu blogue (http://agualisa6.blogs.sapo.pt/1573943.html), estão desde já autorizados a dele fazerem transcrição. E outros que digam o que lhes aprouver pois a memória não deve ser amarrada com tabus. João Tunes. 2. Água Lisa, blogue de João Tunes > 1 de Novembro de 2009 > 1969, as "eleições" e a guerra Os curiosos sobre as “eleições” de 1969, particularmente acerca das razões porque a “oposição” se apresentou dividida (CDE/CEUD), têm disponível para consultarem aqui uma entrevista com José Tengarrinha, então um quadro do PCP e da cúpula da CDE. As fracturas tiveram sobretudo a ver com as expectativas existentes relativamente à “abertura” de Marcello Caetano, marcando depois e naturalmente os discursos eleitorais. A guerra colonial, então particularmente acesa em Moçambique e na Guiné, era o principal separador das posições das duas agregações oposicionistas – a CDE reproduzia o posicionamento do PCP e apostava forte na denúncia máxima e possível da guerra colonial com partido implícito pelos movimentos de libertação, a CEUD evitava referir o tema e quando este era incontornável procurava um posicionamento não radical sobre a guerra e punha em cima da mesa a quimera retórica de defesa de “autonomias”. Nas “eleições” seguintes, as de 1973, já a oposição se apresentou unificada e o posicionamento acerca da guerra colonial, entretanto agravada, retomou o essencial das posições da CDE de 1969. A guerra colonial era, para o regime, a grande questão política tabu. Caetano, por convicção e pela pressão dos ultras nacional-colonialistas entrincheirados atrás do Presidente Tomás, continuava o dogma-mito herdado de Salazar: “não discutir o Ultramar”, continuar a guerra. Então, colocar sequer a questão da guerra colonial, discutindo saídas para ela, mesmo que tímidas, configurava uma traição à pátria. Tal não era sequer permitido durante as “campanhas eleitorais” (se tal fosse feito, e normalmente era-o no último discurso, o representante das “autoridades” intervinha e fazia terminar a sessão, a que se seguia, por regra, uma carga policial). Mas Caetano não só prosseguiu a guerra colonial, como o fez recorrendo a “operações sujas” e outras em larga escala perante o progressivo agravamento das situações militares em Moçambique e na Guiné, gerando uma dinâmica de “tudo ou nada”. E, nesta via, aprofundou-se a “fusão”, na máquina de guerra colonial, entre a polícia política (PIDE) e o exército colonial. Logo no início de 1969, pouco tempo depois de Caetano suceder a Salazar, o então líder da Frelimo (Moçambique), Mondlane, foi assassinado na Tanzânia através de uma encomenda-bomba, o que desencadeou não só uma crise na Frelimo como uma atribulada luta pela sucessão na liderança. E, no ano seguinte, Kaulza de Arriaga (comandante-chefe) montou uma das operações militares mais gigantescas e recheadas em meios humanos e militares ocorridas na guerra colonial, a operação “nó górdio”. Em resultado final, a Frelimo expandiu a sua área de intervenção guerrilheira em Moçambique. Na Guiné, Caetano deu luz verde a Spínola e à PIDE para uma das mais vastas e custosas operações de tentativa de aliciar e corromper uma das frentes do PAIGC, ocorridas no norte no “chão manjaco”, e que terminou em Abril de 1970 quando os guerrilheiros atraíram a uma cilada um grupo de elite dos oficiais do exército português, massacrando-o. Spínola e a PIDE, com o acordo prévio de Caetano, reagiram no final de 1970 através de uma operação com grandes meios (“mar verde”) de invasão da Guiné-Conacry e que tinha, entre os objectivos, assassinar o Presidente deste país (Sekou Touré) e colocar um “partido amigo” no poder, assassinar Amílcar Cabral e o núcleo dirigente do PAIGC (sediado em Conacry), destruir a força aérea e a frota naval guineense, libertar os prisioneiros militares portugueses. Só o último objectivo foi alcançado. Em 1973, como culminar de uma operação de infiltração da PIDE, foi conseguido o velho objectivo de assassinar Amílcar Cabral. A este desaire, a perda do seu líder carismático, o PAIGC respondeu, através de novo e sofisticado armamento, com a prática neutralização do domínio do espaço aéreo pelo exército colonial e declarar a independência unilateral da Guiné-Bissau, rapidamente reconhecida por dezenas de países membros da ONU. Todos estes factos, na sua maioria iniciativas de “guerra suja” desenvolvidas em íntima colaboração entre a PIDE e as forças armadas e apoiadas por Caetano, pelos seus fracos ou nulos resultados, quando não fazendo pender a balança da guerra ainda mais para o lado dos guerrilheiros, tornaram grande número de oficiais profissionais não só descrentes quanto à possibilidade de saídas para a guerra e colocando as derrotas no horizonte, como receptivos a uma argumentação política contra a guerra colonial e que recebiam de duas fontes: uma, a das “campanhas” da CDE de 1969 e 1973; outra, a influência e agitação de muitos oficiais milicianos colocados na guerra colonial e que tinham adquirido posições frontais relativamente a estes conflitos nas referidas “campanhas da CDE” e nas lutas estudantis. O MFA e a Revolução foram questões de decantação e tempo. Afinal, a campanha contra a guerra colonial, limitada mas valentemente veiculada pela CDE, sobretudo nos “períodos eleitorais” de 1969 (**) e 1973, que a CEUD não quis em 1969 e Caetano mandou a PIDE reprimir sempre, acabou por chegar aos seus destinatários principais – os capitães e majores que faziam a guerra em África, transformando, num curto período de tempo, oficiais colonialistas em militares revolucionários. Nota pela memória: Um dos paradoxos cruéis deste contexto vivi-o em proximidade. Colocado em 1969 no “chão manjaco” da Guiné, conheci e tornei-me amigo do oficial mais brilhante da “nata militar” que Spínola tinha ali colocado na atrás referida operação de corrupção do PAIGC (Major Passos Ramos, oficial de Artilharia e do Corpo de Estado Maior). Era, não só um dos oficiais mais brilhantes do exército português, um homem culto, generoso e cordial, como um oposicionista declarado ao fascismo e ao colonialismo. Enquanto na metrópole decorriam as “eleições de 69”, sempre que nos encontrávamos em Teixeira Pinto, trocávamos as informações que cada um tinha disponíveis pelo correio com as famílias ou obtidas em férias sobre o andamento da campanha da CDE. Metidos no mato profundo da Guiné, alimentávamos assim uma espécie de tertúlia oposicionista que acompanhava a luta dos que na metrópole defrontavam o regime na “farsa eleitoral” e demarcados dos crentes nas “boas intenções” de Caetano. Passos Ramos foi um dos oficiais portugueses barbaramente chacinados pelo PAIGC em Abril de 1970 perto do Pelundo. Como profissional militar de elite, cumpria ordens de chefias que lhe repugnavam politicamente. Era contra a guerra e fazia a guerra, como tantos outros até que a resolução da contradição levasse até à conquista do Carmo. Estando desarmado, Passos Ramos, juntamente com mais três outros oficiais, baqueou de uma forma indigna que nenhum homem merece - arrastado, esfaqueado, retalhado e metralhado - às mãos do inimigo que profissional e militarmente queria vencer servindo um regime que politicamente combatia. Não só as revoluções, também a guerra procura devorar os melhores. João Tunes 3. Comentário de L.G.: Querido amigo e camarada João: Que bom saber de ti!... De tempos a tempo, vou espreitar o teu blogue ou os Caminhos da Memória. Estive há tempos, no DocLisboa 2009, com a Diana que me apresentou o José Augusto Rocha... Vou republicar, com autorização dele e da Diana, o texto sobre a Guiné, já inserido no blogue Caminhos da Memória... Quanto ao teu texto, estou inteiramente de acordo: Não podemos deixar de celebrar a efeméride... Tenho bem presente essa data: numa companhia de 50 mecos (brancos, da CCAÇ 12), só eu, o Capitão (do quadro, Carlos Brito) e o alentejano Quadrado, 1º Cabo Apontador de Armas Pesadas, é que estávamos recenseados (posso estar a cometer uma injustiça, omitindo alguém, mas julgo que não)... Votei em branco, claro, mas votei. Já estava recenseado desde 1965, quando a oposição democrática levantou, pela primeira vez, o tabu da guerra colonial... Caiu o Carmo e a Trindade... Participei, nessa época, com 18 anos, na minha primeira campanha eleitoral que foi abortada logo pela desistência da oposição, e o terror da repressão (estive ligado ao sempre combativo e corajoso Catanho de Menezes, advogado da família do Humberto Delgado, e amigo íntimo do Soares, e futuro fundador do PS, precocemente desaparecido depois do 25 de Abril e hoje miseravelmente esquecido: tem apenas o nome de uma avenida na minha terra, Lourinhã; na biblioteca dele, no solar da família, no Toxofal, tinha acesso, pela primeira vez, em 1965, a títulos da imprensa estrangeira como o Le Monde ou o Nouvel Observateur). Agradeço a tua gentileza. E fica também o teu desafio, para a malta deixar o seu testemunho dos eventuais ecos, no CTIG, da "campanha eleitoral" de 1969 (mas também das "eleições" de 1965 e de 1973)... Temos, além disso, esse dever de memória. Quanto a tabus, no nosso blogue, sabes que não os há (ou não devia haver...). Recordo-te um das dez regras de convívio da nossa Tabanca Grande: "(ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus)"... Um Alfa Bravo. Luís. ___________ Notas de L.G.: (*) Vd. poste de 22 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4722: Depois da guerra, o stresse... da paz (4): Os dois piores anos da minha vida (João Tunes) (**) Cartazes de propaganda política, da CDE - Comissão Democrática Eleitoral, usados na campanha eleitoral de 1969. Fonte: Cortesia de EPHEMERA, Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira

18 comentários:

Anónimo disse...

Caros Camaradas e Amigos de debates anteriores!Só espero que o blogue,ou tavez mesmo toda a internet,tenham espaco suficiente para todas as intervencoes que se aguardam.E,mais uma vez,para evitar mal-entendidos refiro-me a espaco "métrico" e nao a "espaco ideológico"! José Belo.

Luís Graça disse...

Amigos e camaradas:

Não tenho dados concretos, mas tudo leva a crer que o nível de recenseamento eleitoral, em 1969, entre os milicianos e a malta do contingente geral fosse muito baixa...

Os únicos que poderiam exercer o direito de voto, estando recenseados, seriam os funcionários públicos, civis e militares... No caso da tropa, os oficiais e os sargentos do quadro. Na minha companhia, a CCAÇ 12, que só tinha 50 quadros e especialistas, de origem metropolitana, não tenho ideia de os dois 2ºs sargentos, o Piça e o Videira, terem votado em 26/10/1969. Tenho ideia que em 50 cidadãos portugueses, só 3(!) eram ou foram eleitores (6%): o Capitão, eu e um cabo, o Quadrado (se não me engano). No entanto, posso estar a ser traído pela memória...

Noutras companhias e batalhões, o panorama não deveria ser melhor... Deveria manter-se a proporção de 56 para 100... A generalidade da população portuguesa não votava nem podia votar (havia limitações no que dizia respeito à capacidade eleitoral)... Por outro lado, num sistema de partido único e de "liberdade condicional", as oposições só podiam aparecer, timidamente, no curto período das campanhas eleitorais...

Os cadernos eleitorais, a campanha, o acesso aos jornais, à rádio e à TV, a organização de comícios e reuniões, a fiscalizaçáo do acto eleitoral, etc., deixavam muito a desejar... Memso em 1969, com a "primavera marcelista", que permitiu a eleição, na lista do partido do poder (a Acção Nacional Popular, substituta da União Nacional) de uma "ala liberal" (Pinto Leite, Sá Carneiro, Francisco Balsemão, etc.).

Os portugueses que nasceram em democracia, já depois do 25 de Abril, não são capazes de imaginar como eram esses tempos...

Luís Graça disse...

Maldita gralha!...Queria eu dizer: na proproação de 6 (seis) para 100 (cem)...

Juvenal Amado disse...

Eu ainda cá estava e sem idade para votar pois tinha 19 anos.
Participei ainda assim na distribuição de propaganda e assisti a comícios dos quais guardo memórias.
Vasco da Gama Fernandes
José Vareda
O ex ministro da justiça Alberto Costa que é de Alcobaça. Aliás ele foi impedido de seguir com a sua candidatura pois era estudante.
Isto se não estou em erro.
Tenho alguns panfletos da época, que porei à disposição se necessário.
É bom que se mantenham as memórias vivas daquele tempo, em que tudo era proibido.
Um abraço
Juvenal Amado

Antonio Graça de Abreu disse...

Meu caro João Tunes
Há sempre política, demasiada política nestas abordagens à guerra de África.
Do teu texto, destaco a sobrevalorização do papel da PIDE na Guiné. Tens a certeza que foi a PIDE, infiltrada, no PAIGC que criou as condições e mandou matar o Amílcar Cabral?
Estive em Teixeira Pinto, 1972/73, com o Coronel Rafael Ferreira Durão e o restante pessoal do CAOP 1.Recordo muito bem as nossas relações militares com o PIDE de Teixeira Pinto, um melífuo senhor Costa. Tive o desprazer de lhe apertar a mão, no desempenho das minhas funções de pequeno alferes no CAOP 1. Tinha uma vivenda ao fundo da avenida, do lado direito. Mas o homem mandava pouco e inventava muitas notícias para justificar o seu trabalho e salário.O coronel e os majores davam-lhe quase nenhuma importância.
Já agora, deixa-me rebater uma afirmação tua que não é verdadeira. Dizes:
"O PAIGC respondeu, através de novo e sofisticado armamento, com a prática neutralização do domínio do espaço aéreo pelo exército colonial".
Neutralização do domínio do espaço aéreo?
Tens lido no nosso blogue os importantíssimos testemunhos dos então tenentes António Martins de Matos e Miguel Pessoa, pilotos das DOs e FIATs,73/74?
A força aérea, depois de um impasse de três semanas, em Abril de 1973, voltou a voar como nunca até então na guerra da Guiné. Sei do que falo. Esta a verdade.
Um abraço,
António Graça de Abreu

José Marcelino Martins disse...

No dia das eleições, na Guiné, estava em Canjadude. Era uma companhia nativa. Ninguem votou.

Anónimo disse...

Vou escrever num caderninho que uso para registar as máximas que leio e oiço e mais me impressionam, a frase “Há sempre política, demasiada política nestas abordagens à guerra de África”. Porque se a frase é excelente e inspirada, permitindo-me saudar o seu brilhante autor, melhores são as suas implicações, nomeadamente que a decisão de responder com as guerras coloniais às vontades independentistas africanas, bem como o seu prolongamento durante treze anos, foi uma decisão técnica e ética, segundo as deontologias intelectual e castrense, não passível de conotações políticas. Pois, a política metem-na os outros, dizem as virgens cheias de nojo. Mesmo quando se chama “guerra de África” (raio de categorização…) à guerra colonial.

João Tunes

Antonio Graça de Abreu disse...

João Tunes, regista no teu caderninho esta minha frase acabadinha de inventar "a porca da política obscurece o brilhante entendimento de brilhantes pessoas".
Um abraço,
António Graça de Abreu

Juvenal Amado disse...

Caros camaradas

A politica é boa ou má consoante quem a pratica.
Felizmente ela existe para que se separe o trigo do joio, se não somos capazes, somos culpados do seu mau uso.
Embora descredibilizada, penso ser a única forma de regulamentar conflitos sem recorrer às armas.
Se tivesse sido feita boa política à cinquenta anos atrás ter-se-ia evitado muita miséria.
Durante e no pós guerra.
O problema foi sempre politico e nunca militar.
Um abraço

Juvenal Amado

Anónimo disse...

Caro Graca de Abreu.Alguns,nos quais me incluo,sentem pelo "argumento da autoridade",seja ela paternal,religiosa,policial,ou mais sofisticadamente,cultural(o nosso tao referenciado...falar de cátedra!)uma necessidade de obter esclacimentos para os "dogmas".Quando se escreve:-Sei do que falo!Esta é a verdade! Terá que se aceitar que alguns pensem que aquele senhor:-julga saber do que fala como tambem julga saber a verdade. Desde os tempos de um antigo programa da rádio nacional chamado---A verdade é só uma!rádio Moscovo nao fala verdade!(quando na realidade nem os organizadores do programa,nem a rádio Moscovo falavam verdade)que me apercebi que isso de verdades absolutas tem o que se lhe diga! Dentro desta "relatividade de verdades" tenho que,frontalmente,discordar com a tua apreciacao quanto ao trabalho dos agentes da PIDE nos teatros da guerra em África.Terás ,por certo,toda a razao na tua descricao do Sr.Agente Costa de Teixeira Pinto.Será,no entanto injusto,menosprezar o enorme esforco de recolha de informacoes realizada por esta organisacao em África.Muitos dos exitos das operacoes militares dependeram de informacoes,e relatórios destes agentes espalhados um pouco por toda a parte colonial.Nao se deve também convenientemente esquecer que,imediatamente após o 25 de Abril/74,tanto Spínola,como Costa Goumes,como alguns outros membros da Junta de Salvacao Nacional,nao queriam terminar com o funcionamento da PIDE/DGS em Angola,Mocambique e Guiné,até serem encontradas as solucoes para a guerra.Por mera generosidade para com os agentes,pagando-lhes os salários devidos em troca dos tais relatórios irrelevantes?Alguns dos que tiveram oportunidade de "esfolhear"muitos desses relatórios arquivados na sede da rua António Maria Cardoso,podem garantir que os mesmos nao foram escritos nem por amadores,nem por ingénuos incompetentes.Á tua referencia quanto aos Oficiais de um comando de Batalhao nao se "preocuparem" com o agente local da PIDE,oponho a minha experiencia pessoal em 1969,de ter visto todo o Comando do Batalhao entao em Buba,literalmente ....de cócoras perante o Inspector Barbieri Cardoso,quando este,em visita á Guiné,por lá passou para abracar o filho,conhecido Oficial Fuzileiro entao em operacoes na zona. Mais uma vez,verdades diferentes,ou talvez melhor,diferentes faces da verdade.Eu,um homem do "reviralho" que ainda por cima apanhou um bom par de bofetadas,mais alguns menos amistosos safanoes de um senhor inspector da PIDE aquando das greves estudantis dos anos sessenta,talvez seja a pessoa nao indicada para aqui estar a tentar:-Dar o seu a seu dono no que respeita a estes Snrs! Fico,no entanto preocupado quando um ESPECIALISTA em HISTÓRIA (com "H" grande),aparentemente,lhes passa um certificado de medíocridade profissional. Um abraco do José Belo.

Antonio Graça de Abreu disse...

Meu caro José Belo
Obrigado pelo teu simpático puxão de orelhas.
Primeiro, depois de Abril de 1973, os aviões e helicópteros continuaram a voar na Guiné, e muito. É verdade, sei do que falo. Quais dogmas? Voei com eles. Sei do que falo. Verdades absolutas. verdades relativas? Os pássaros voam, os aviões voam hoje sobre sobre a Suécia e o mundo. É verdade, sei do que falo, ainda em Setembro último voei sobre Estocolmo no regresso de Xangai, via Helsínquia. Sei do que falo, é verdade.
Dizia Mao Zedong que para "saber qual o gosto de uma maçã é preciso comê-la."
Há pessoas que confundem uma maçã
com um diospiro, uma laranja com uma abóbora. Estão no seu direito. Ou então não confundem nada, interessas-lhe confundir.
Segundo, a PIDE.
Limitei-me a referir a incompetência do Pide de Teixeira Pinto, não passei esse atestado de incompetência a toda a execrável corporação. Já agora podes consultar o meu processo na PIDE, está no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, PIDE/DGS, Procº. 9175.
Por acaso são incompetentes no dissecar da minha vida, mas não deixam de ser uns refinados filhos da puta.
Terceiro, não me chames Historiador com H grande, tenho apenas alguma formação na área da História.
Um abraço,
António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Caro Graca de Abreu. Acredites,ou nao,fico sinceramente contente por,finalmente......existir um ponto de total acordo! Os gajos eram realmente uns grandes filhos da puta! Um abraco do José Belo.

MANUELMAIA disse...

SERÁ QUE NÃO SE ESTÁ A EXTRAVASAR?

AFINAL EM QUE FICAMOS?

NÃO ERA SUPOSTO DEIXAR A POLÍTICA DO LADO DE FORA DA TABANCA?

COMO DISSE O ALBERTO PIMENTA,UM GRANDE FILHO DA PUTA COMEÇA SEMPRE POR SER UM PEQUENO FILHO DA PUTA...

DEIXEMOS ENTÃO A "FILHADAPUTICE" DA POLÍTICA,E CINJÁMO-NOS À GUERRA PROPRIAMENTE DITA ONDE HAVIA,APESAR DE TUDO,MUITOS ESPÉCIMES DESSES CONSAGRADOS PELO PIMENTA...
jÁ AGORA,POR FALAR EM FILHOS DA PUTA,RECORDO QUE TINHA ACABADO DE CHEGAR HÁ UNS ESCASSOS DIAS EM JULHO DE 74,E CONHECI,NO CAFÉ ONDE HABITUALMENTE PARAVA,UM "LAVADOR DE CÉREBROS" QUE PROCURAVA "ENSABOAR" A MALTA QUE ALI PARAVA...
NINGUÉM O CONHECIA,MAS ELE FEZ-SE CONHECER...
A DETERMINADA ALTURA FIZ UMA AFIRMAÇÃO SOBRE A GUINÉ DONDE,REPITO,ACABARA DE CHEGAR,E O DITO CONTROLEIRO CHAMOU-ME MENTIROSO.
AO PERGUNTAR-LHE O PORQUÊ DA SUA AFIRMAÇÃO DISSE-ME QUE LÁ TINHA ESTADO TAMBÉM,FÔRA TELEGRAFISTA DA MARINHA,ESPECIALIDADE QUE CONSEGUIRA POR SE RECUSAR A PEGAR EM ARMAS,E QUE ESSA ESPECIALIDADE LHE PERMITIRA AVISAR "OS NOSSOS
IRMÃOS DO PAIGC"...
NÃO CONSEGUI CONTER-ME E DISSE-LHE: -IRMÃOS SÓ TENHO DOIS!
E JÁ AGORA DIGO-LHE QUE SÓ HÁ DUAS ALTERNATIVAS,OU VOCÊ É UM REFINADO MENTIROSO OU ENTÃO UM GRANDE FILHO DA PUTA( CÁ ESTÁ DE NOVO A ABORDAGEM DO PIMENTA...)
INCLINO-ME PARA A PRIMEIRA ,POIS SENDO PRATICAMENTE DA MINHA IDADE SE ME RECUSASSE A PEGAR EM ARMAS AQUECIAM-ME O CORPO E MANDAVAM-ME PARA O FORTE DE ELVAS...OU CAXIAS.

E SE DAVA INFORMAÇÕES AO PAIGC PONDO EM RISCO A VIDA DOS SEUS CAMARADAS,ERA DE FACTO UM MONSTRUOSO FILHO DA PUTA...

LEVANTÁMO-NOS,EMPURRÕES DE UM LADO PONTAPÉS DO OUTRO, ATÉ QUE NOS IMPEDIRAM DE CONTINUAR.

LAMENTÀVELMENTE IMPEDIRAM-ME,NA ALTURA,DE ARRIAR NO DITO À MINHA VONTADE,DANDO-LHE A MEDALHA QUE ELE MERECIA.

UM ABRAÇO A TODOS


MANUEL MAIA

Anónimo disse...

Caro Manuel Maia. Peco-te desculpa se a linguagem de caserna foi menos própria quanto á caracterizacao de alguns dos elementos da polícia política do regime anterior:Mas,por vezes,falta o "engenho e alma",e as palavras saem-me directamente do........corta-palha! Um abraco Amigo do José Belo.

Anónimo disse...

Caros camaradas

Permitam-me intrometer-me nesta conversa tão animada (hoje possível, porque aconteceu uma coisa linda em 1974: o 25 de Abril).
Ao ver o símbolo da CDE e o texto do João Tunes, velhas memórias saíram do "sótão":

O PANFLETO DA CDE QUE VIAJOU CLANDESTINAMENTE PARA A GUINÉ:

1969: Com 18 anos e poucos meses (faria 19 anos em Setembro), deixei a minha vila no Alto Alentejo para vir para o 1º emprego em Lisboa.
Politicamente, era virgem. De política, só aquilo que o meu coração e a minha mente me diziam face ao que via, ouvia e lia. E o que me diziam, não era bom.

1969: Campanha eleitoral - Teatro Vasco Santana - Feira Popular - Comício da CDE - 1º orador: Mário Soares (na mesa estavam outras figuras que vieram a ser públicas no pós 25 de Abril, mas que eu não conhecia).
Diz Mário Soares: "Ontem, a PIDE prendeu o camarada Urbano Tavares Rodrigues à saída deste teatro...".
Seguem-se intervenções contra a PIDE, a ditadura e, claro, a guerra colonial, todas sublinhadas pelos aplausos de concordância da plateia.

1971 -: Guiné - Cacine - 1ºs meses do ano.
Peço aos meus pais para me enviarem uns livros. Recebo os livros, acompanhados de uma carta, na qual, logo após os cumprimentos, aparecia um aviso: "Reparámos que aí no meio de um livro, está um folheto a falar contra o governo. Cuidado. Vê lá no que te andas a meter. Olha que "eles" podem dar-te cabo da vida"

Então não é que no meio do livro de Filosofia lá estava um panfleto da CDE das legislativas de 1969?

Portugal era, de facto, um país amordaçado e que vivia no medo.

Um grande abraço para todos os camaradas

José Vermelho
Ex-Furriel Milº
CCAÇ 3520 - Cacine
CCAÇ 6 - Bedanda
CIM - Bolama

Anónimo disse...

Camarada José Vermelho,

Deveras interessante o teu testemunho. Mas não bate certo o teu registo de memória no seguinte ponto:
"1969: Campanha eleitoral - Teatro Vasco Santana - Feira Popular - Comício da CDE - 1º orador: Mário Soares (na mesa estavam outras figuras que vieram a ser públicas no pós 25 de Abril, mas que eu não conhecia).
Diz Mário Soares: "Ontem, a PIDE prendeu o camarada Urbano Tavares Rodrigues à saída deste teatro..."."
É que Mário Soares, em 1969, não pertenceu à CDE mas sim à CEUD, organização oposicionista sua rival. Em 1973, sim, unificaram-se sob a sigla da CDE (mas Mário Soares não participou nessa campanha, estava exilado em França). Ou o comício era da CDE mas o orador era outro ou assististe antes a um comício da CEUD.

Desculpa os escrúpulos para com o rigor.

João Tunes

Anónimo disse...

Camarada João Tunes

Sendo eu, ou tentando ser, um defensor do rigor dos factos, quero agradecer-te a correcção/esclarecimento do que escrevi no comentário.

Pelo que expões, só poderia ser então um comício da CEUD e não da CDE.
(Quem fez os comícios no Vasco Santana - Feira Popular- em 1969?).

Desde já só posso aceitar a correcção como certa.

Sou eu que tenho de pedir desculpas.

Isto, porque aprendi a respeitar-te quer através da leitura dos teus escritos neste blogue quer através do teu próprio blogue "Água Lisa".

Sem querer arranjar falsas desculpas, como eu disse, tinha 18 anos e tal, tinha vindo de uma pacata vila alentejana para a "selva" de Lisboa e era virgem na política e mais ainda na política partidária.

Terei então que mudar o título para:
O PANFLETO QUE VIAJOU CLANDESTINAMENTE PARA A GUINÉ NÃO ERA DA CDE....MAS SIM DA...CEUD.

(Regressei da Guiné em Janeiro de 1974. Durante vários anos, este panfleto esteve guardado e localizado (pela história que o rodeava). Perdi-lhe, entretanto, o rasto. Não sei se foi parar ao caixote. Vou tentar fazer umas buscas. Caso o encontre, servirá para meu esclarecimento e terei muito gosto em voltar ao assunto).

Renovo o pedido de desculpas, em especial àqueles a quem possa ter induzido em erro.

Um abraço ao João Tunes
extensivo aos restantes camaradas da Tabanca.

José Vermelho

jpscandeias disse...

Vermelho!
Pode ser que apareças por aqui, embora já tenham passado mais anos desde que aqui deixas-te o teu comentário que aqueles que passamos na guiné, mas arrisco e vou te deixar uma pista. Talvez te recordes de mim. Vai ao you tube e vê o - biosfera entrevista joao candeias.

Um abraço joao silva ex-furriel, bolama 1973 a 1974