sábado, 7 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5233: Controvérsias (42): A nossa idade de sexagenários! (Mário Gualter Rodrigues Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem:

Camaradas,

Na necessidade de manter a actualidade dos temas comuns a todos, aqui deixo mais umas “achas para a fogueira” dos graves problemas que afectam a generalidade dos Veteranos da Guerra do Ultramar:


"A NOSSA IDADE DE SEXAGENÁRIOS"


Com o avançar da idade, é fundamental para nós aquilo que eu penso ser um misterioso e estranho preconceito, que se tem agravado na sociedade dos nossos dias, que é a exclusão das pessoas idosas e a consequente descriminação e, infelizmente, é já um hábito no nosso mirrado país.

A relação entre os nossos pais e os nossos avós, deixava-nos satisfeitos e com a sensação interior que éramos seres mais humanos. Lembro-me de me sentar, longos períodos junto deles, para ouvir as suas histórias e factos das suas vivências de outros tempos.

Hoje, existe uma grande parte da população que não estima e muito menos acarinha aceita os seus idosos e despreza totalmente as suas memórias descritivas.

Chego a pensar que mundo é este em que vivemos, onde o respeito pelos mais velhos se perdeu quase completamente

Neste contexto integro os ex-Combatentes, que apesar das provas dadas, já todos sexagenários, donos de Histórias de grandeza Patriótica, são impiedosa e vilmente ostracizados por quem os havia de, pelo menos, ouvir.

Ainda por cima somos o alvo dos nossos actuais políticos, para sucessivos ataques aos parcos direitos, que havíamos adquirido entretanto e nos foram reconhecidos migalha a migalha.

Mais, somos descriminados nas leis difundidas nesta Sociedade. Tal como esta:

"Todos os ex-Combatentes da Guerra do Ultramar, que após o regresso, não entraram por uma actividade do Estado, não têm, por isso, a contagem de tempo em que estiveram em zonas de perigo. Nem esse tempo conta a dobrar para efeitos de reforma, não obstante esse direito estar escrito na caderneta militar. Para uns conta, para outros não, isto é pura descriminação."

Deixou de haver respeito pelos mais idosos (ex-Combatentes incluídos), apesar da maioria das famílias portuguesas terem estes “engulhos” no seu seio. Ninguém perde tempo em ouvir e honrar as suas memórias e as justas reivindicações dos seus direitos.

Uma sociedade que comparada com outras mundiais, é muito preconceituosa, isto é, não sabe e, ou, nem quer, louvar e dignificar os Homens e Mulheres (também as ouve), que combateram e se bateram por Portugal.

Só nos resta continuar unidos na contestação e na luta diária pela conquista de justos e merecidos direitos sociais.

Juntemo-nos pois, TODOS, em manifestação pelos nossos direitos. Não podemos ficar insensíveis aos apelos das organizações e associações de ex-Combatentes, que nos querem unir para uma mega-manifestação em Lisboa.

Vamos todos estar presentes e assim mostrar a estes senhores do governo, a nossa Unidade e a nossa Força.

Finalizo lançando aqui o grito de guerra da minha companhia:

VAMOS A ELES!

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

4 comentários:

Anónimo disse...

Ah! Pois é Mário Pinto!
Tocas exactamente num ponto que é extremamente sensível!
Sem querer, e obviamente que não quero, criar clivagens entre nós, Ex-Combatentes, que como tão justamente está consensualizado entre nós, e aliás é letra dos n/Estatutos, todos fizemos (ou fomos obrigados a isso)a mesma Guerra, todos pegamos na G3 para matar ou morrer, todos sofremos as mesmas pressões , inquietudes, ansiedades, até as mesmas picadas dos malditoa mosquitos, fomos e somos solidários, fomos e continuamos a ser, amigos camaradas, se quizeres, irmãos de sangue, daqueles que não deixam para tráz os camaradas de ontem e de hoje, fomos e continuamos a sèr tudo isso(o n/Blogue, gosto mais do nome Tabanca Grande,é prova provada disso mesmo) mas a verdade é que, sem que nenhum de nós tenha culpa disso, O "Estado" continua a dividir-nos, òbviamente para melhor reinar.
È que para os profissionais( entenda-se militares de carreira e digo desde já que não tenho nada contra a classe, aliás muitos deles, na altura, conviveram e sofreram como nós as agruras e as consequências diversas daquela guerra, não desejada, mas suportada
estóicamente até ao limite, por questões de sobrevivência, companheirismo, solidariedade, que eles, os profissionais, mormente nas patentes ditas subalternas, de Cap. para baixo, talvez com uma ou outra excepção até Ten.Cor.(Comando de Batalhão ou COP ou CAOP)tiveram que partilhar/conviver/protagonizar connosco, os não profissionais, nos diversos "burakos" de Norte a Sul da Guiné.E eu, e se calhar muitos de nós, convivemos de perto com essa vivência, e percebemos que esses homens também tinham sentimentos, tinham idéias que não eram própriamente alinhadas com a chamada "ideologia dominante". E se calhar muitos deles fazem hoje parte da n/Tertúlia, ou pelo menos
consultam-na, são visita assídua, pelo que consta por aí. Ah! E é preciso nâo esquecer, isto está escrito e assumido, a "semente" que cresceu e deu origem ao 25 de Abril de 1974, nasceu precisamente na Guiné, se calhar fruto, dos "diálogos", das raivas contidas,dos olhos nos olhos, das solidariedades expontâneas e não decretadas, enfim de tudo o que passámos e experimentamos juntos.
Portanto, como vêem, camarigos e amigos, não tenho nada contra a classe profissional de "militar de carreira", pelo menos aqueles do n/tempo e que conheci(infelizmente não se poderá falar assim de todos) a ter em conta algumas "estórias já publicadas no n/ Blogue" e que eu próprio, algumas presenciei.

Anónimo disse...

Bem! Ponho-me a escrever e depois acontece-me disto!. Já ultrapassei oe 4.000 caracteres!- Mas vou terminar.
Portanto não tenho nada contra os "profissionais". E também não tenho nada contra os que, como nós, tiveram que fazer a guerra,e depois ingressaram, profissionalmente, numa carreira dita pública, digamos sob a égide do Estado. Temos aqui na n/Tabanca muitos e bons camaradas que fizeram esse trajecto e ainda bem, cada um seguiu o seu caminho.
Seguramente que quando pudemos encetar a n/vida profissional, após ficarmos livres e
capazes,(infelizmente não para todos)após aquela malfadada Guerra,
seguramente que não previamos(não poderíamos prever) que aquele tempo passado em "condições especiais de dificuldade ou perigo"
previsto e regulamentado em Lei já desde há muito,como passível de ser considerado a 100%(vulgo a dobrar)independentemente de se ser beneficiário/Contribuinte da Cx.Geral de Aposentações ou do Sistema de Solidariedade e Segurança Social(Oficial)ou até de outro qualquer. Porque as minas e as roquetadas do PAIGC/MPLA/UNITA ou FRELIMO, obviamente não escolhiam entre nós. Portanto, retomando ao cerne da questão, nós estamos todos no mesmo lado, somos e continuamos todos iguais, o "chamado Estado, seja ele qual for" é que nos tenta dividir, para melhor nos controlar, nós é que temos de, como sempre, dar as mãos, cerrar fileiras, solidarizarmo-nos e fazer ouvir a n/voz. Como?...-Cabe-nos encontrar o modo como, o tempo de, e a mais consensual opção.
Desculpem a longa lenga-lenga, mae é o que me vai na alma. Um abraço a todos os camarigos(desculpa Mexia Alves, mas gosto do termo)
Francisco Godinho
Ex.Fur. Milº. C. Caç. 2753
(Mansabá; Bironque; M.Fula: K.3)

MANUEL MAIA disse...

CARO MÁRIO,

VIVEMOS DE HÁ MAIS DE TRINTA ANOS A ESTA PARTE, NUM VERDADEIRO ANTRO DE LADRÕES...
ALI-BÁBÁ,ENTENDER-SE-IA CÁ ÀS MIL MARAVILHAS...

TODOS SABEMOS ONDE ESTÁ A CULPA MAS CONTINUAMOS COM SUBTILEZAS DE LINGUAGEM,COM SALAMALEQUES ATÉ PARA COM A SEVANDIJA QUE TEM FEITO DE NÓS VERDADEIROS ATRASADOS MENTAIS.
TEMOS SIDO CUMPLICES NESTA INACÇÃO...

VAMOS PARA LISBOA EM FORÇA SEM MEDO.
ELES NÃO PODEM PRENDER 100 MIL OU MAIS...
É TEMPO DE ACORDARMOS DA MODORRA EM QUE NOS COLOCARAM...

SEGUEM-SE SEXTILHAS...



Dois anos logo após a eclosão,
no angolano solo,surge então,
conflito mais sangrento que esse até...
Em Tite tem início a guerra horrenda,
que arrasta p´ro tarrafo esta contenda,
dos matos e bolanhas da guiné...


Angústia,medo,dor,e sofrimento,
carência,fome,sede,isolamento,
de tudo padecemos na Guiné...
A impotência havida ante a ameaça,
a raiva então sentida na desgraça,
buliram com o ego e com a FÉ...


Sabeis vós, governantes desta terra,
dos gritos lancinantes que há na guerra,
lançados por gargantas sofredoras?
Quereis vós,responsáveis p`lo país
que as tropas sigam vossa directriz,
honrando-vos com gestas ganhadoras?


Parai,pensai,honrai os combatentes,
algures nas ruas,meros indigentes,
vilmente maltratados desde então...
Reparação dùrgência é ponto d`honra
p`ra todos nós que achamos ser desonra,
o seu esquecimento p`la Naçã0...


HÁ ALGUMAS BEM MAIS VIOLENTAS QUE SAIRÃO SE CONTINUAREM A ASSOBIAR PARA O LADO...

UM ABRAÇO
MANUEL MAIA

José Marcelino Martins disse...

No próximo dia 14 de Novembro, junto ao Monumento Nacional aos Combatentes do Ultramar, em Lisboa, será comemorado o 91º aniversário da I Grande Guerra e o 86º aniversário da Liga dos Combatentes.

Nesta cerimónia estarão presentes os seguintes camaradas entes os seguintes camaradas:

Soldado MANUEL MARIA RODRIGUES GERALDES, mobilizado no Regimento de Infantaria nº 15, em Tomar, integrando a 2ª Companhia do Batalhão de Caçadores nº 4512/72, solteiro, filho de António Emílio Geraldes e Ascenção dos Santos Rodrigues, natural da freguesia de Vale de Algoso, concelho de Vimioso. Morreu em Guidage em 10 de Maio de 1973, vítima de ferimentos em combate rebentamento de uma mina anti pessoal. Foi sepultado no cemitério de Guidage.

1º Cabo GABRIEL FERREIRA TELO, mobilizado no Batalhão Independente de Infantaria nº 19, no Funchal, integrando a Companhia de Caçadores nº 3518, solteiro, filho de João de Jesus Telo e Maria Flora Ferreira Telo, natural da freguesia de Paul do Mar, concelho de Calheta - Madeira. Morreu em Guidage em 25 de Maio de 1973, vítima de ferimentos em combate durante um ataque inimigo ao aquartelamento. Foi sepultado no cemitério de Guidage.

Furriel miliciano JOSÉ CARLOS MOREIRA MACHADO, mobilizado no Batalhão Independente de Infantaria nº 19, no Funchal, integrando a Companhia de Caçadores nº 3518, solteiro, filho de Manuel achado e Delta de Jesus Moreira, natural de freguesia de Ervões, concelho de Valpaços. Morreu em Guidage em 25 de Maio de 1973, vítima de ferimentos em combate durante um ataque inimigo ao aquartelamento. Foi sepultado no cemitério de Guidage.

Os corpo nossos camaradas foram recuperados em conjunto com os dos nossos camaradas paraquedistas que foram sepultados em Portugal, nas suas terras de naturalidade, depois da homenagem que teve lugar na Igreja da Força Aérea, em Lisboa, e no Regimento em Tancos, no dia 26 de Julho de 2008.

Nesta cerimónia estará presente o Ministro da Defesa Artur dos Santos Silva que, devido ao cargo que exerce presidirá às cerimónias.

É uma boa altura para que TODOS os antigos combatentes que possam, estarem presentes, não só para honrar os nossos camaradas que agora regressam, mas para fazer sentir à Nação e aos seus Governantes que ainda estamos vivos e assim pretendemos continuar.

José Martins
7 de Novembro de 2009
(a partir da noticia publicada em ultramar.terraweb.biz)