terça-feira, 17 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5283: Carta aberta ao António Lobo Antunes: que p... é essa de ter talento para matar ? (Amílcar Mendes, 38ª Cmds, 1972/74)

1. Mensagem do Amílcar Mendes , membro da nossa Tabanca Grande (foto à esquerda; o primeiro, de camisa branca, boina e crachá dos comandos, ao lado do nosso co-editor Virgínio Briote, também ele um ex-comando da Guiné(*)

Assunto - Ter talento para matar ou morrer: Carta aberta ao Sr. Lobo Antunes


Luís Amigo, nos intervalos da minha actividade na praça de Lisboa, vou me deliciando a ler algumas pérolas literárias de ex-combatentes (?) acerca da ex-guerra do ultramar, em especial daqueles que, evocando as suas memórias, as vão editando em livro, o que fazem muito bem, até para que a geração actual possa avaliar o que passaram os pais, avós, etc….

Por esse motivo devem aqueles que escrevem ter o cuidado de transmitir tudo o que se passava na guerra. Vejamos: actividade operacional, social, relações com a população, falar se foi justa ou não, sequelas deixadas, os camaradas mortos, as saudades, tudo, mas tudo aquilo que passou deve ser deixado em escrita. Sem nunca sair da realidade, porque estivemos lá milhares e sabemos avaliar a verdade e a mentira e, se a mentira exceder a verdade,. o escritor arrisca-se a cair no ridículo.

Um caiu ! Ó Sr. médico, escritor combatente, Lobo Antunes. Por favor, Sr. Lobo Antunes, apenas peço que me explique a mim, ex-combatente que repetidas vezes olhou a MALVADA nos olhos, que A viu por uma dúzia de vezes levar nas garras os seus camaradas de COMPANHIA, eu que por uma vez A iludi mas ficou a SUA marca,a mim que dormi em bolanhas noites a fio, que em emboscadas intermináveis mijava no camufulado (e que bem sabia o quente) sem me poder mexer, que sentia um medo danado a cada vez que ia para a mata, a mim que comi marmelada com capim, a mim que bebia o mijo dos animais nas raras poças de água na mata, e finalmente a todos os milhares que lá estivemos, gostaria por favor que me respondesse a esta simples pergunta:

- Mas que porra é essa de ter talento para Matar? É como ter talento para Mentir ? Vou pensar que o Senhor é um ficcionista da escrita e como tal inventou tudo o que escreveu. Se é esse o seu caso está perdoado, mas quando escrever mais alguma coisa sobre guerra, peça aconselhamento a alguém sério que lá tenha estado e tenha realmento conhecimento do que foi a guerra e combater nela, não invente demasiado se não ninguém o vai levar a sério.

Bem, mas a pergunta mantem-se para quem souber responder, talvez o Sr. João Silva (**). Mas que raio é ter talento para matar? Uma pista: Os HÉROIS acontecem por acaso,os cobardes vivem com convicção. Desculpe a minha ortografia mas sou um pobre inculto sem pretensões a escritor.

Amílcar Mendes, [taxista na praça de Lisboa,] ex-1ª cabo COMANDO da 38ºCOMPANHIA DE COMANDOS, em 72, 73 e 74 na ex-Guiné Portuguesa.

[ Revisão / fixação de texto / bold a cores / título: L.G.]

____________

Notas de L.G.:

(*) Vd., por exemplo, os seguintes postes de Amílcar Mendes sobre Guidaje, 1973:

22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1201: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (3): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (I parte)

23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1203: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (4): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (II Parte)

23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1205: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (5): uma noite, nas valas de Guidaje

24 de Outubro de 006 > Guiné 63/74 - P1210: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (6): Guidaje ? Nunca mais!...

(**) Referência a João Céu e Silva, autor do Uma Longa Viagem Com António Lobo Antunes (Porto Editora, 2009)

Parece que o pomo da discórdia, as declaarações feitas por A. Lobo Antunes, no México, em Agosto de 2008, está na página 391... Escreve o autor de Uma Longa Viagem..., João Céu e Silva:

(...) Nas várias entrevistas que deu durante a deslocação a Guadalajara [em Agosto de 2008, para receber o Prémio Literário Juan Rulfo], António Lobo Antunes fez uma declaração inédita, que poderá ser parte da solução do mistério sobre um certo episódio em África que se recusou revelar-me:

"Eu tinha talento para matar e para morrer. No meu batalhão éramos seiscentos militares e tivemos cento e cinquenta baixas. Era uma violência indescritível para meninos de vinte e um, vinte e dois e vinte e três anos, que matavam e depois choravam pela gente que morrera. Eu estava numa zona onde havia muitos combates e para mudar para uma região mais calma tinha de acumular pontos. Uma arma apreendida ao inimigo valia uns pontos, um prisioneiro ou um inimigo morto outros tantos pontos. E para podermos mudar, fazíamos de tudo, matar crianças, mulheres, homens. Tudo contava, e como quando estavam motros valiam mais pontos, então não fazíamos prisioneiros" (...).


É preciso recordar que A. Lobo Antunes foi Alferes Miliciano Médico, entre 1971 e 1973, no Leste de Angola, e não na GUINÉ... O tema da guerra colonial é recorrente nos livros e nas entrevistas do escritor... Cite-se, por exemplo uma entrevista dada o ano passadado ao Público... É, quanto a mim, que sou seu leitor (de longa data, mas nem sempre regular - não gosto da palavra 'fã', procuro ser um leitor crítico), uma notável entrevista do escritor de Arquipélago da Insónia (o seu penúltimo livro, acabado de sair), e em que se fala dos temas que lhe são caros e obsessivos: a literatura, a escrita, a infância, a figura do pai, a psiquiatria, as mulheres, a vida, a doença, a morte…

Havia duas referências à guerra colonial nessa entrevista... O escritor tinha passado recentemente por uma situação, bem dura, de combate contra a doença, uma neoplasia. Tudo se relativiza quando um homem ganha este round e se prepara para o próximo… A vida é um combate de boxe contra a morte...

Aqui vai um pequeno excerto:

Lobo Antunes: Como posso eu, cristal, morrer? Entrevista por Anabela Mota Ribeiro. Público. 12.10.2008

(…) [Público: ] Quando digo que tresanda a morte, não digo que me apeteça morrer ou matar-me, ou matar.

[António Lobo Antunes:] Não queria falar sobre isso, mas eu estive na guerra. Matar é muito fácil. Quando o Melo Antunes estava doente, nunca tínhamos falado sobre a guerra e ele começou a falar; a mulher aproximava-se e ele dizia: "Não podemos falar mais." Perguntava-lhe: "Ernesto, porque é que não sentimos culpabilidade?" Assisti e participei em coisas horríveis. E ainda hoje não sinto culpabilidade. Porquê? Ele também não soube responder. É estranho. Porque sinto culpabilidade por ter ferido uma pessoa verbalmente, por ter sido injusto para alguém.

[Público:] Sente culpabilidade por que pensa que vai sobreviver àqueles que estão na mesma sala, à espera da radioterapia.

[António Lobo Antunes:] Sentia-me culpado porque eu ia viver e eles não. Eles eram melhores do que eu. Tinham coragem. Eu estava todo borrado. Li um bocadinho das cartas da guerra, cartas que me oferecia para ganhar o meu respeito; cheguei a ir sentado no guarda-lamas dos rebenta minas. Porque me achava um cobarde e me enojava a cobardia física. Assisti uma única vez ao espectáculo da cobardia física, e é repelente. Os nossos soldados eram miúdos, de 19, 20, 21 anos. Admiráveis. Agora vão para a discoteca, naquela altura iam dar tiros. Iam matar e morrer. Voltando ao livro: o que eu queria era meter lá a vida toda, e não acho que seja triste. Acho que sou agora mais alegre do que era. (…)

Há já mais de duas dezenas de comentários (alguns destemperados, contrários ao espírito do blogue, onde o chamado direito à indignação não pode levar, por seu turno, ao incitamento à violência...) sobre este famigerado tópico do "talento para matar"...

Vd. poste de 6 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5058: In Memoriam (33): Alferes Henrique Ferreira de Almeida, morto em combate em 14JUL68 em Cabedu (J.A. Pereira da Costa)

Ainda sobre o António Lobo Antunes, vd. os seguintes postes publicados no nosso blogue:

6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2161: Pensamento do dia (12): Camarada, uma palavra que só quem esteve na guerra entende por inteiro (António Lobo Antunes)


(...) "Não morreste na cama mas morreste entre lençóis de metal horrivelmente amachucados na auto-estrada de Cascais para Lisboa e a gente ali, diante do teu caixão, tão tristes. Eras meu camarada, que é uma palavra da qual só quem esteve na guerra compreende inteiramente o sentido: não é bem irmão, não é bem amigo, não é bem companheiro, não é bem cúmplice, é uma mistura disto tudo com raiva e esperança e desespero e medo e alegria e revolta e coragem e indignação e espanto, é uma mistura disto tudo com lágrimas escondidas" (...).

9 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2169: Antologia (63): Zé, meu camarada, eras um dos nossos e cada um de nós um dos teus (António Lobo Antunes, Visão, 4 Out 2007)


30 de Junho de 2008 >Guiné 63/74 - P3003: Blogoterapia (58): Que o País os beije antes de os deitar fora, e lhes peça desculpa (António Lobo Antunes / A. Graça de Abreu)

28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3375: (Ex)citações (5): Os nossos soldados eram miúdos, de 19, 20, 21 anos. Admiráveis. Iam matar e morrer (A. Lobo Antunes)

32 comentários:

Unknown disse...

Camarada Luís Graça

O Camarada Amílcar Mendes de CASIMA branca NOINA e Crachá é demais.
Dá lá um jeito a isso para ficar legível.Bem sei que é a pressa mas põe o corretor a funcionar
Armandino Alves

António Matos disse...

Meu caro Amílcar Mendes, por estar em total desacordo com os argumentos que usas para expressares a relutância à escrita do António Lobo Antunes é que eu também volto a este tema não para defender o escritor ( ele não precisa e não quer ) mas sim para acentuar o que já anteriormente tinha dito.
Julgo que estás a ser honesto no teu discurso mas não é quanto à forma que lhe dás que me insurjo mas sim quanto ao conteúdo e isto porque me parece que andas perto do insulto ao referires as agruras pelas quais passaste como se isso tivesse sido um "privilégio" teu.
Esse tipo de argumentação faz-me lembrar aqueles gajos que para demonstrarem o seu curriculum cívico, vêem logo dizer que estiveram presos nos cárceres políticos ...
Nada disso dá mais credibilidade à pessoa do que às outras que por lá não passaram !
Estou em crer que Lobo Antunes não responderá à tua carta aberta pois não só não é uma tentativa de esclarecer seja o que fôr como, por outro lado, assume um tom de confronto pouco correcto.
Se não percebes a expressão " talento para matar" sou eu agora que te pergunto porque não mencionaste o "talento para morrer" ?
Amílcar Mendes, julgo que a tua passagem pela Guiné te terá dado um verdadeiro manancial de estórias para nos poderes brindar aqui no blog pelo que te digo que, pessoalmente, fico a aguardá-las com expectativa.
Um abraço,
António Matos

Anónimo disse...

Caros tertulianos
Aqui está um tema que vai fazer correr alguns litros de tinta.
Já tinha recebido um e-mail do António Brandão, do Porto, sobre o assunto e tive oportunidade de ler hoje o comentário de Barroso da Fonte, que vem publicado no “Notícias de Chaves”.
Se não fosse António Lobo Antunes o autor dos escritos em causa apetecia-me dizer que aqui está um ex-combatente que não tomou os comprimidos e”estreleu”. Diz-se na minha terra dum Fulano que não está bom da cabeça que ”tanto leu que estreleu!”
Reproduzo seguidamente parte do comentário de Barroso da Fonte:
«Este senhor foi mobilizado como médico, para a guerra do Ultramar. Nunca terá sabido manobrar uma G-3 ou mesmo uma Mauser. Certamente nem sequer chegou a conhecer a estrutura de um pelotão, de uma companhia, de um batalhão. Não era operacional mas bota-se a falar como quem pragueja. Refiro-me ao seu mais recente livro: Uma longa viagem com António Lobo Antunes. João Céu e Silva pode reclamar alguns méritos deste tipo de escrita. Foi o entrevistador e a forma como transpõe as conversas confere-lhe alguma energia e vontade de saber até onde o entrevistado é capaz de levar o leitor. Mas as ideias, as frases, os palavrões, os impropérios, as aldrabices - sim as aldrabices - são de Lobo Antunes. Vejamos o que ele se lembrou de vomitar na página 391: «Eu tinha talento para matar e para morrer. No meu batalhão éramos seiscentos militares e tivemos cento e cinquenta baixas. Era uma violência indescritível para meninos de vinte e um, vinte e dois ou vinte e três anos que matavam e depois choravam pela gente que morrera. Eu estava numa zona onde havia muitos combates e para poder mudar para uma região mais calma tinha de acumular pontos. Uma arma apreendida ao inimigo valia uns pontos, um prisioneiro ou um inimigo morto outros tantos pontos. E para podermos mudar, fazíamos de tudo, matar crianças, mulheres, homens. Tudo contava, e como quando estavam mortos valiam mais pontos, então não fazíamos prisioneiros».
Cento cinquenta baixas num Batalhão? Armas, prisioneiros e mortos a valer pontos? Onde é que isto aconteceu?
Isto tudo é muito grave e tem que ser esclarecido.
JERO

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Permito-me repor aqui, sublinhando o valor literário, para além do seu evidente vigor, o escrito elegante e forte de um 'taxista de Lisboa', a dar dez d'avanço a muitas dez-linhas do tal escritor
Leia-se, então, outra vez:
"(...)peço que me explique a mim, ex-combatente que repetidas vezes olhou a MALVADA nos olhos, que A viu por uma dúzia de vezes levar nas garras os seus camaradas de COMPANHIA, eu que por uma vez A iludi mas ficou a SUA marca,a mim que dormi em bolanhas noites a fio, que em emboscadas intermináveis mijava no camufulado (e que bem sabia o quente) sem me poder mexer, que sentia um medo danado a cada vez que ia para a mata, a mim que comi marmelada com capim, a mim que bebia o mijo dos animais nas raras poças de água na mata, e finalmente a todos os milhares que lá estivemos, gostaria por favor que me respondesse a esta simples pergunta: Mas que porra é essa de ter talento para Matar? (...)"

S.Nogueira

Anónimo disse...

Caro Luis Graça,

Quando ía para fazer um comentário ás deficiencias encontradas reparei que o camarada Armandino Alves já estava em campo,mas esqueceu-se de uma: brnca.
Mete lá um (a) para que fique uma camisa mais bonita.

Um abraço
António Paiva

Anónimo disse...

Ao ler o comentário de António Matos recordei algo atribuído a A.Aleixo referindo-se a Deus. "Alguem com infindável humor e incrível paciência....para os estúpidos como eu,e os inteligentes como tu!" José Belo.

Anónimo disse...

Amílcar Mendes que prazer voltar "a ter noticias tuas",ainda por cima apareces em óptima foto com o Camarada e Amigo Virgínio Briote.

Dois jovens a quem envio um par de fortes e fraternos abraços.

Um abraço fraterno a toda a Tertúlia,
Torcato Mendonça

Esqueci-me: estou a ler a longa entrevista - Uma longa viagem com A. L. Antunes e, dele mesmo, o seu ultimo livro -Que cavalos são Aqueles que Fazem Sombra no Mar? um titulo mal escolhido para esta época do ano. Não é? Isto de escritores, de quando em vez dizem cada uma...merecia reparação...coisas!!!!

manuel amaro disse...

Eu creio (eu sou muito crente), que o camarada José Marcelino Martins, (ou talvez outros camaradas) poderá esclarecer aqui qual o número de baixas do batalhão do Lobo Antunes.
Cento e cinquenta, mesmo em Angola, no período quente, parece-me exagerado.
Baixas, quer dizer mortos?
Mortos e feridos?
Mortos, feridos e desenfiados?
Esta guerra, que foi do ultramar, colonial e de libertação, permite realmente que se diga de tudo sobre ela.
Mas quando se fala de números... é preciso muito cuidado.

Manuel Amaro

Anónimo disse...

Caro Vinhal,
os meus agradecimentospor ter retirado o comentário, conforme solicitado.
Vou investigar a origem do meu equívoco, uma vez que tendo encontrado o Lob'Antunes (fomos colegas no Liceu Camões) lá 'no Leste', pensei que fora na N'Riquinha; julgo agora, melhor, que poderá ter sido no Chiúme; a 'obscuridade' deve-se ao facto de ter na mesma ocasião encontrado por lá um outro ex-colega do Liceu e, eventulamente, por ter andado, eu, 'a saltar de um lado para o outro', apagando o que ia deixando para trás sem fazer registos - tudo isto há 40 anos...

Se recuperar 'a condição do Lob'Antunes' que de qualquer modo, como era comum naquela zona, não terá saído do aquartelamento onde -no caso de se tratar de Ninda ou Chiume- as flagelações foram muito raras, ilustrarei melhor a ideia de que não foi um combatente no terreno, de molde a ter que suportar vicissitudes que, em meu entender, tenham sido excepcionais.
As minhas desculpas pelo lapso anterior.


S.Nogueira

Anónimo disse...

Caros amigos

Venho intervir para apoiar as críticas às afirmações do homem, que, na qualidade de escritor (escrevendo ou dando entrevistas nessa qualidade, promovendo os seus livros)atentam contra o bom senso e o conhecimento da situação em clima de guerra de contra-guerrilha, como, por exemplo:
1- O referido pelo Amilcar Mendes - "talento para matar";
2- A passagem (que está transcrita) da pág.391 do livro "Uma longa viagem com A.L.A.";
3- As afirmações, ouvidas por mim, de intitular-se "ex-combatente" e as referências "aos meus homens".
Não vejo como um alferes miliciano médico que tenha desempenhado bem a missão que lhe foi atribuida, se possa intitular "ex-combatente". A menção de "os meus homens" referia-se ao furriel enfermeiro ou aos cabos enfermeiros que ele "comandava"(?) em acções operacionais?

Não é tudo, mas por ora acho que chega.
Isto nada tem a ver com a sua escrita, em geral, como parece ser óbvio.
Alberto Branquinho

Anónimo disse...

Caro Alberto Branquinho
Quero aqui deixar uma rectificação ao posto que deste a esse senhor, ele foi Tenente em Angola durante 27 meses entre 71 e 73. Só friso isto porque quanto mais alto fôr o posto, mais consciência se deve ter sobre o que diz.

Um Abraço
António Paiva

Anónimo disse...

S. Nogueira
A título meramente informativo e citando só de memória.
Há um livro - D'este viver aqui neste papel descripto - que é a publicação das cartas de "guerra", pelas filhas do A. L. Antunes para a sua já falecida mulher. Lá v~em Gago Coutinho,Chiúme,Ninda e outros locais que não recordo. Aquelas cartas formam o livro com o percurso dele por Angola. não recordo se no Memória de Elefante, Cú de Judas etc essas terras lá vêm e não tenho pachorra para ir ver agora. Gosto muito de o ler. Não comento nada mais e nem me sinto nesse direito.
Um abraço do Torcato

Antonio Graça de Abreu disse...

Também tenho de meter a colherada, desculpem.
O Amilcar Mendes merece-me um enorme respeito , tal como todos os homens da 38ª C Comandos. Conheci-os bem no meu CAOP 1 em Teixeira Pinto, em Mansoa e depois em operações à volta de Cufar. No meu Diário da Guiné refiro-me largamente à 38 C Comandos, sempre com admiração e simpatia. Sofreram o inenarrável, creio que tiveram uma dúzia de mortos, foram sempre dignos.
Por isso, não entendo o comentário do António Matos que não conheceu a guerra da 38ª. de Comandos e compara o entendimento que pensa ter da guerra dos Comandos na Guiné na Guiné, 72/72, com a sua guerra pessoal, que viveu em circunstâncias diferentes.
Pois, o horizonte são as palavras infelizes e invenções do António Lobo Antunes, guerra em Angola, 71/73. Tudo diverso, com um denominador comum, a guerra de África, Colonial, do Ultramar,de Libertação, como quiserem.
O António Lobo António é um grande escritor e tem páginas admiráveis sobre a sua guerra sobretudo nos aerogramas que escreveu à esposa e depois as filhas organizaram em livro com o título Deste viver aqui Neste Papel Descrito, Cartas da Guerra. Mas como o próprio Lobo Antunes reconhece, ele às vezes perde-se, passa-se, fantasia, é o ofício do escritor. Nestes temas
bélicos é preciso cuidado. Como romancista, cronista, ficcionista o homem pode e deve inventar o que quiser. Mas as suas afirmações infelizes aparecem numa longa entrevista que deu depois um livro. E aí -- talvez seja da idade, mas o António Lobo Antunes ainda não tem a vetusta idade do Saramago!- lembrou-se de inventar umas tantas tolices sobre o seu tempo em Angola.
Também já temos tido camaradas nossos a escrever tolices dentro e fora do nosso blogue. Sim, também é a blogoterapia. Nada de muito grave, há sempre um cachorro velho a ganir e a caravana do blogue, da vida, a passar.
Mas o nosso Amílcar Mendes não escreve pepineiras nem despautérios. Envio-lhe um forte abraço, e recordo que há uns anos atrás publicou no blogue relatos impressionantes da sua,-- e minha, mas mais suave -- guerra.
O António Matos não sabe, mas pode ir procurar lá para 2007, creio.
Um abraço a todos,
António Graça de Abreu
Ps. Confirmo agora, está no meu Diário da Guiné:
CAOP 1 e 38.º de Comandos, viemos de coluna de Teixeira Pinto para Mansoa, via, Pelundo, Có, Bula, João Landim, Safim, no dia 3 de Fevereiro de 1973. Dois pelotões da 38º. fizeram a segurança às vinte e quatro viaturas carregadas com a nossa tralha. Eu, no meio da coluna, de camuflado e espingarda entre os joelhos, bala na câmara, com as costas quentes porque tinha os comandos comigo para o desse e viesse. Nenhum perigo, não deu nada, só paz.

Luís Graça disse...

Alguns meses depois de ter sido operado a um cancro, o Lobo Antunes, na coluna de cronista, na Visão, de 4 de Outubro de 2007, evocou com grande ternura o seu camarada Zé, que tinha acabado de falecer em brutal acidente de viação na auto-estrada de Cascais. (Tratava-se de outro Zé, que não o José Cardosos Pires, um dos seus grandes amigos, a par do Melo Antunes, ambos já falecidos, à data)...

Dele, Zé, dizia o Lobo Antunes: "África ficou para sempre dentro de ti, a roer-te, e deu cabo da tua vida"...

Na altura, no nosso blogue, eu escrevi o seguinte:

"A crónica começa assim, dando a melhor definição que eu alguma vez li sobre o que ser um camarada. Só o Lobo Antunes poderia escrever isto: 'Não morreste na cama mas morreste entre lençóis de metal horrivelmente amachucados na auto-estrada de Cascais para Lisboa e a gente ali, diante do teu caixão, tão tristes. Eras meu camarada, que é uma palavra da qual só quem esteve na guerra compreende inteiramente o sentido: não é bem irmão, não é bem amigo, não é bem companheiro, não é bem cúmplice, é uma mistura disto tudo com raiva e esperança e desespero e medo e alegria e revolta e coragem e indignação e espanto, é uma mistura disto tudo com lágrimas escondidas' (...).

E eu terminava o poste, fazendo uma promessa (que, julgo, nunca cheguei a cumprir, ou se cumpri só apenas em parte e temporariamente):

"Vou pôr esta definição de camarada na primeira página do nosso blogue (citando o ilustre autor, com a devida vénia...)"...

Só um camarada (só UM!) se dignou na altura comentar o meu poste Poste de 6 de Outubro de 2007
Guiné 63/74 - P2161: Pensamento do dia (12): Camarada, uma palavra que só quem esteve na guerra entende por inteiro (António Lobo Antunes)...

Aqui vai o nome do nosso camarada Henrique Matos, o primeiro comandante do Pel Caç Nat 52 (1966/68) que disse:

"A definição merece mesmo honras de primeira página"...

Camaradas e amigos: por favor, não façamos juízos apressados uns sobre os outros... No passado, os juízos sumários podiam levar à fogueira, à execução em público... Sumária. Na Guiné, os juízos sumários levaram ao fuzilamento de homens que foram nossos amigos e camaradas... Juízos sumários também podem ser assassínios de carácter... Etc.

Fora de contexto, percebo que a frase "talento para matar (e para morrer", é preciso completar a frase) choque o meu camarada e amigo Amílcar Mendes, e com ele todos ou quase todos aqueles que fizeram a guerra colonial, independentemente do teatro operacional (Angola, Guiné, Moçambique)...

Descontextualizada, a frase também me choca, nos choca a todos... Mas faço um apelo ao bom senso e ao bom gosto... Não caiamos no ridículo de desafiar o Lobo Antunes para um duelo na praça pública... Em contraponto ao seu enorme ego, e ao seu grande prestígio a nível nacional e internacional, podíamos cair na tentação de ter o nosso momento de glória, pondo-nos a morder-lhe as canelas... Mas é de lembrar aquilo que alguém disse a propósito do mediatismo na televisão, na blogosefra ou nas novas redes sociais... A frase é mais ou menos esta:

"O BigBrother faz pequenas (e falsas) celebridades; os blogues fazem microcelebridades; o Twitter e o Facebook fazem nanocelebridades"...

Nanocelebridades, leia-se: celebridades infinitamenente pequenas...

Make humor, not war... (Façam humor, não façam guerra)

António Matos disse...

Até agora, não li ainda comentários desfavoráveis ( nem favoráveis ) ao meu anterior sendo que não entendi o do José Belo mas aqui fica o pedido de esclarecimento.
Porém, quando o António Graça Abreu manifesta a sua opinião, aí tenho que usar o meu direito de resposta / esclarecimento pois essa opinião poderá fazer explodir, como que por simpatia, algumas outras que se mantiveram silenciosas à espera de quem as suportasse.
António Graça Abreu, nem sempre concordei com as tuas ideias expostas aqui no blog muitas das vezes por manifesta incapacidade de me embrenhar nos teus raciocínios mas ultimamente, tal tem vindo a melhorar dando azo aos esclarecimentos adequados.
Posto isto, deixa que tente, então, esclarecer que eu não faço, como dizes, qualquer pensamento sobre como era a vida de qualquer outra companhia na Guiné, Cª de Comandos incluída, daí que a crítica que me fazes não seja justa.
O que eu digo é que não podemos, à pala duma expressão meramente literária, escrita 40 anos após o conflito, mesmo que num contexto ficcional ( se foi, não sei )puxarmos pelos "galões" duma comissão acidentada e com isso validarmos a nossa repulsa a essa expressão.
No mínimo seria buçal.
Ora, eu quero reconhecer que o Amílcar foi honesto no que escreveu ( já o disse ) mas não foi correcto no conteúdo aplicado.
É a minha opinião e tenho tanto direito a exprimi-la como qualquer outro a exprimir a antagónica.
Até ao momento ( e julgo que nada mais haverá a dizer ) regozijo-me com a elevação que estamos a pôr na discussão e faço votos que a mesma não seja posta em causa por ninguém d'ora avante.
Com um abraço,
António Matos

António Matos disse...

Bolas ! Um gajo acaba de escrever um comentário e de imediato se torna ultrapassado porque já entrou outro !
Foi o que sucedeu com o do Luís Graça.
Esclareço, portanto que escrevi o meu antes de ter conhecimento do do Luís e agora, perante ele, o felicito pelo seu texto que considero a cereja no topo do bolo.
Abraços,
António Matos

Anónimo disse...

Amigo Torcato
não preciso de ler as cartas em que o L.Antunes descreveu Ninda. Eu fazia operações -com resultados!- na região de Ninda-Chiume no tempo em que ele escrevia cartas. Provavelmente conheço melhor a região e a situação operacional que o então médico aquartelado terá tentado descrever e a que hoje se referecom grande agilidade.

S.Nogueira

Luís Graça disse...

Amílcar Mendes, isto não é nenhuma directa ou indirecta para... Sempre tive e tenho muito apreço por ti, pelos teus escritos, pelo teu testemunho, pelo teu passado operacional, pela tua camaradagem, mesmo que a gente só se veja ou fale de tempos a tempos...Fiz questão de ser eu a editar a tua mensagem com a tua interpelação (sincera, espontânea, indignada) ao Lobo Antunes, veterano da guerra colonial, como tu ou eu... As considerações que eu e outros aqui fazem, destinam-se apenas a prevenir conflitos mais graves e a conter eventuais leituras e interpretações discordantes dentro de limites razoáveis, os do bom senso e bom gosto...

Quero que voltes a retomar a tua série "A vida de um comando"... Boa saúde, bom trabalho. E cuidado com a noite, meu "taxi-driver". Eu sei que a tua divisa é (ou era) 'A sorte protege os audazes', mas na paz e na guerra..."safety, first" (a segurança, em primeiro lugar)...

Anónimo disse...

"[1]Eu tinha talento para matar e para morrer.
[2]No meu batalhão éramos seiscentos militares e tivemos cento e cinquenta baixas. (...)
[3]para mudar para uma região mais calma tinha de acumular pontos"

1- a muito pertinente pergunta-resposta acerca desta boutade foi feita pelo autor do post;
2- o numero de baixas, por morte, em Angola, durante os anos de 1971 e 1972,
quando lá permaneceram o BART 3835/CART 3313 (onde L. Antunes estava colocado) foram,
-combate, 53 em 71 - 78 em 72;
-acid arma de fogo, 33 em 71 - 16 em 72;
-acid. viação, 57 em 71 - 71 em 72;
-outras causas, 71 em 71 - 47 em 72;
num total
-de 214 em 1971
-de 212 em 1972.

(Não foi possível compilar o nº de feridos ou de baixas por acidente em serviço no mesmo período)
Acrescente-se que a segunda parte da Comissão daquele BART -de Jan72 a Mar73- foi passada na região de Malange onde, naquela data,
a actividade IN era nula.
3-estive em Angola em dois períodos diferentes (1967 e 1970-71)e nunca tive notícia de outra compensação pela captura de armas que não fosse pecuniária.
Para além disso e se bem me lembro (e que se me desculpe o à-vontade) por essa ordem de ideias, a CART 3313 teria ficado a aboborar em Ninda durante osdois anos de Comissão.

S.Nogueira

FONTE - www.guerracolonial.org

Unknown disse...

Porque é que uma frase tão simples levanta tanta controvérsia ? Não é que todos tivemos talento para matar e morrer ? Mas era só apertar o gatilho da G3, puxar o cordel do obus, ou deixar cair a granada no morteiro (ninguém o fêz ?)ou receber um bala, um estilhaço ou ir pelo ar sem saber o que aconteceu. Será que é dificíl entender esta frase ? Valha-me Deus valha...Mas quem sou eu...

Anónimo disse...

Caro António Matos.Vou tentar responder á tua pergunta.Li o teu comentário com a atencao com que sempre procuro ler as opinioes dos comentadores.A minha recordacao do atribuído ao A.Aleixo quando se refere ao "infindável humor,e incrível paciência de Deus,para com inteligentes e estúpidos,mais nao significou que,após ter lido o comentário cuidadosamente,encontrei alguns argumentos inteligentes(escritos por ti)e nao compreendi outros no contexto(lido por mim). Nao será que estamos a reagir com demasiadas sensibilidades quanto aos comentários...dos comentários? Tenho total consciência quanto aos evidentes limites da minha inteligëncia.Quem é que de outro modo se lembraria de escolher a profissao militar a meio de uma Comissao no Sul da Guiné de 1969? Como utilizei o A.Aleixo no meu comentário ao teu....comentário,tambem,se me permitem,o posso utilizar neste último contexto:-Senhor Alferes/Capitao mas que vida tao ruim!Nao fazem crescer o pao e pisam o alecrin! Um abraco do José Belo. (PS/)Já reparas-te a que hora da madrugada te estou a responder?compreenderao agora os que duvidaram quando garanti nao haver mais uma virgem Sueca desde que para aqui vim?.

Anónimo disse...

Chamo a atencao que ,para mais,na Suécia,nao sao 3 e 52 da madrugada mas sim 4e 52! José Belo.

Joaquim Mexia Alves disse...

Pois meu caro amigo e camarigo Luís Graça, não deixas de ter razão em algumas coisas que dizes, mas para mim, (como já escrevi e decerto já leste), a questão não está no talento do referido senhor para matar ou morrer, mas sim no que diz depois!

Mas repara meu amigo, que já aqui por variadas razões se “terçaram armas”, por vezes bem mais “violentamente”, por outros ditos de militares, jornalistas, etc, e considero que não podemos invocar os talentos de Lobo Antunes para a escrita, ou as suas capacidades intelectuais, ou pela sua bela definição de camarada de armas, para nos eximirmos de o criticar quando diz coisas que atentam contra a dignidade de todos os excombatentes, sobretudo os que estiveram em Angola, e isso toca-me como excombatente e toca-me na família.

Um homem grande, de honestidade intelectual, que eu apesar de tudo acredito que ele é, já devia ter “vindo a terreiro” explicar as suas palavras e se exagerou, (e quem de nós não o fez já em determinadas circunstâncias?), devia retratar-se e explicar que tudo não passou de “figuras de estilo”.

Que raio caro Luís, não estamos, não estou, a fazer juízo nenhum sobre ninguém quando critico as indecentes palavras do Lobo Antunes sobre as baixas, sobre a barbárie que descreve, sobre os pontos acumulados, estou simplesmente a usar de um direito de indignação perante as enormidades proferidas por quem, (dotado de talentos que outros não têm), devia ter a obrigação de ter cuidado com as coisas que diz.

Repito que a frase citada, não me incomoda grandemente, mas o resto sim, e muito!

Abraço camarigo para ti Luís e para todos

Já agora S. Nogueira, apenas para melhor informação, as baixas do Batalhão que referes em combate só mortos ou são mortos e feridos?
É que eu quando falo em baixas na guerra, falo em mortos, e a maior parte das pessoas que lêem as declarações terão a mesma interpretação.

António Matos disse...

Caro José Belo, acabadas as virgens suecas, os papagaios ainda andam seguros ?
Obrigadíssimo pelo teu comentário / esclarecimento mas, por favor, não te menosprezes !
Deixa-me só, já agora, recordar que eu não reagi, inicialmente, a qualquer comentário, reagi sim ao post.
Quanto aos comentários em cadeia que os comentários originam, sou de opinião que são salutares pelo confronto ( enquanto civilizados ) que proporcionam e não lhes atribuo mais importância do que a importância que realmente têm.
Um abraço e ... cuidado com aqueles miúdos que se fazem passar por virgens ... na Suécia ...
António Matos

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...

Caros Amigos

Diga-se o que houver para ser dito acerca do ex-combatente médico ALA. Por favor, não toquem na sua qualidade de escritor, sob pena de cairem no ridículo. Quem esteve lá sabe muito bem os excessos que a nossa tropa( de todos os ramos...e classes) cometeu. Não pode dar lições a ninguém. Fomos como qualquer outra.
Um abraço
Jmendes Gomes

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...

Caros Amigos

Diga-se o que houver para ser dito acerca do ex-combatente médico ALA. Por favor, não toquem na sua qualidade de escritor, sob pena de cairem no ridículo. Quem esteve lá sabe muito bem os excessos que a nossa tropa( de todos os ramos...e classes) cometeu. Não pode dar lições a ninguém. Fomos como qualquer outra.
Um abraço
Jmendes Gomes

Anónimo disse...

Camarada Mexia Alves,
os dados que compilei destinam-se a confrontar afirmações que aparecem acima, no post e em comentários, acerca do número de baixas (não especificadas) que o autor L.Antunes refere; assim, informo:
2- o numero de baixas, por morte, em Angola, durante os anos de 1971 e 1972, (anos em que lá estava sediado o BART 3835 e a CART 3313, onde L. Antunes estava colocado) foram,
-combate, 53 em 71 - 78 em 72;
-acid arma de fogo, 33 em 71 - 16 em 72;
-acid. viação, 57 em 71 - 71 em 72;
-outras causas, 71 em 71 - 47 em 72;
num total
-de 214 em 1971
-de 212 em 1972.

O problema em apreciação, na escrita do L.Antunes, é tipicamente um caso de ambiguidade diegética... uma ambiguidade que permite ao autor refugiar-se numa heterodiegese se for acusado de autodiegético. Isto é, pode sempre declarar-se personagem de uma narrativa ficcional.
(um golpe de rins já evocado por alguem, algures 'ali pra cima')

S.Nogueira

JD disse...

Camaradas,
A sucessão de desafinações provocadas por uma frase deslocada do contexto, para mais a levitar sobre o desconhecimento do conjunto, demonstra a nossa pressa em nos manifestarmos e corrermos alguns riscos. De todos, o maior risco, será o da tontice.
Porque, ou o ALA ensandeceu, deu em patarata, ou não ia cair do pedestal em que vive com a enormidade de um disparate.
Não são necessárias estatísticas, nem recordações dos feitos, cobardes ou heróicos, para anuirmos sobre os exageros ostensivos de uma única frase. Nem vale a pena o testemunho insistente de quem percorreu as mesmas picadas, com referência a datas e lugares.
O autor não é burro, e não há notícia de que sofra perturbações. O autor simplesmente exagerou. Mas exagerou com mestria, criatividade e alguma intenção, quando se refere ao "talento para matar", e um comentário do Portojo dá-lhe interpretação adequada.
Noutro comentário, o Luís destaca outra dimensão do autor: a dimensão humana, caracterizada, sobretudo, com a definição de "CAMARADA" e a estupefacção perante a morte de um amigo comum, o alf.mil. José Francisco. Alguém crê que esses sentimentos são compagináveis com a frase monstruosa?
Não. Com certeza que não. E eu também não.
Então, só me resta aguardar por um esclarecimento, que pode decorrer ou não da leitura da entrevista. Ou da manifestação ao autor da preocupação pela dificuldade em percebê-lo.
Fazermos este julgamento, transformando o Blogue em praça pública, sobre propósitos desconhecidos e, seguramente, mal avaliados, não nos engrandece nem dignifica, pelo que apelo ao bom senso geral, e à contenção da paixão correctiva.
Abraços fraternos
José Dinis

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...

Gostava que as águas serenassem. Lobo Antunes, penso que ainda não é tertuliano. Muito do que se disse tem sido unilateral. Estou convencido de que a estatura de Lobo Antunes não lhe permite deixar de vir aqui esclarescer o alcance do que disse.
Convidemo-lo a beber um copo...Não queiramos perder esta fraternidade, um dos muitos bons frutos, que brotou duma guerra inglória.

ana duarte disse...

Camarigos
Mais uma vez digo não estive lá.
Mas talvez por isso mesmo tento sempre ler,ouvir....o q cada um diz e depois formar a minha opinião.
Li algumas coisas de Lobo Antunes mas não as actuais . Ao ler o "OS cus de Judas" achei e até comentei com o Humberto mais um com stres de guerra.Não foi o caso do Humberto mas alguns nem se quer estiveram em zonas muito operacionais mas o simples facto de sair do seu canto se ir para longe, saber o q sucedia naquele teatro, fez com q ficassem traumatizados´.
Muitas vezes esses é q dizem q aconteceu, q fizeram...aliás quando oiço um ex-combatente gabar-se q "matou, esfolou..."digo logo esteve lá mas esteve no ar condicionado ou em zona de pouco risco. Quem fez pouco ou nada fala e quando o faz raramente diz matei, só em conversas muito restritas. Olhem o Marcelino da Mata q já me contou algumas coisas,nunca diz matei ou morreram, eles só tropeçavam e caíam.
Há uns anos fomos ver um filme português pela propaganda q faziam do filme pois falavam q era a vida actual dos ex-combatentes. Chegámos a casa e o Humberto estava pior q chateado com ph de farmácia porq estavam a chamar ordinários,bebados e até havia um drogado e ainda por cima exibiam o crachá dos OEs.Naquele dia nem abri a boca . No outro dia disse-lhe o mesmo q vos digo : são pessoas q até admiram os ex-combatentes,mas q ao tentarem reproduzir as dificuldades q passaram,os traumas q ficaram, os repentes q álguns de vez enquanto têm não conseguem e acabam por passar uma imagem exagerada, mal conseguida q a quem não esteve lá ou não conhece minimamente o q se lá passou fica com uma má impressão pelos ex-combatentes e por tudo o q passaram.Ele percebeu o q eu queria dizer e concordou, dias mais tarde encontrámos na marina de cascais um dos actores. Dirigimo-nos a ele e quando percebeu q o Humberto era ex-combatente e ia falar do filme ficou todo contente. O Humberto começa e o desgraçado começa a ficar um pouco branco, foi então q dei um toque no ombro do Humberto e pedi licença para falar e o actor ganhou alguma cor.No fim ele a gaguejar disse q realmente a ideia do realizador era enaltecer o vossa a coragem e o poder de resolução mas ao mesmo tempo mostrar as mossas q a guerra vos deixou, até porq po realizador tinha um irmão q era ex-combatente e se não me engano O.E.Não sei se o realizador era o Joaquim Leitão e o nome do filme também não me lembro mas tinha ou a palavra Selva ou Inferno, foram dois filmes mais ou menos na mesma epoca.
Por este motivo penso q uma figura pública seja escritor, realizador, politico tem de ter muito cuidado quando deita as coisas cá para fora e percebo a indignação a respeito do Lobo Antunes. Não li o livro vou comprá-lo porq para não comcordar e criticar uma coisa tenho de a conhecer e fiquei com o bichinho da curiosidade.
Por isso é q vocês gostam tanto de conversar uns com os outros porq se entendem, q acho muito bem .Mas também acho q está na altura insisto, insisto...de serem vocês a passarem a mensagem cá para fora principalmente a uma geração mais nova.Tudo isso faz parte da História de Portugal e um país q não conhece a sua História passada ou q a deturpa não pode andar em frente ou anda mas mal.

ana duarte disse...

Camarigos
Mais uma vez digo não estive lá.
Mas talvez por isso mesmo tento sempre ler,ouvir....o q cada um diz e depois formar a minha opinião.
Li algumas coisas de Lobo Antunes mas não as actuais . Ao ler o "OS cus de Judas" achei e até comentei com o Humberto mais um com stres de guerra.Não foi o caso do Humberto mas alguns nem se quer estiveram em zonas muito operacionais mas o simples facto de sair do seu canto se ir para longe, saber o q sucedia naquele teatro, fez com q ficassem traumatizados´.
Muitas vezes esses é q dizem q aconteceu, q fizeram...aliás quando oiço um ex-combatente gabar-se q "matou, esfolou..."digo logo esteve lá mas esteve no ar condicionado ou em zona de pouco risco. Quem fez pouco ou nada fala e quando o faz raramente diz matei, só em conversas muito restritas. Olhem o Marcelino da Mata q já me contou algumas coisas,nunca diz matei ou morreram, eles só tropeçavam e caíam.
Há uns anos fomos ver um filme português pela propaganda q faziam do filme pois falavam q era a vida actual dos ex-combatentes. Chegámos a casa e o Humberto estava pior q chateado com ph de farmácia porq estavam a chamar ordinários,bebados e até havia um drogado e ainda por cima exibiam o crachá dos OEs.Naquele dia nem abri a boca . No outro dia disse-lhe o mesmo q vos digo : são pessoas q até admiram os ex-combatentes,mas q ao tentarem reproduzir as dificuldades q passaram,os traumas q ficaram, os repentes q álguns de vez enquanto têm não conseguem e acabam por passar uma imagem exagerada, mal conseguida q a quem não esteve lá ou não conhece minimamente o q se lá passou fica com uma má impressão pelos ex-combatentes e por tudo o q passaram.Ele percebeu o q eu queria dizer e concordou, dias mais tarde encontrámos na marina de cascais um dos actores. Dirigimo-nos a ele e quando percebeu q o Humberto era ex-combatente e ia falar do filme ficou todo contente. O Humberto começa e o desgraçado começa a ficar um pouco branco, foi então q dei um toque no ombro do Humberto e pedi licença para falar e o actor ganhou alguma cor.No fim ele a gaguejar disse q realmente a ideia do realizador era enaltecer o vossa a coragem e o poder de resolução mas ao mesmo tempo mostrar as mossas q a guerra vos deixou, até porq po realizador tinha um irmão q era ex-combatente e se não me engano O.E.Não sei se o realizador era o Joaquim Leitão e o nome do filme também não me lembro mas tinha ou a palavra Selva ou Inferno, foram dois filmes mais ou menos na mesma epoca.
Por este motivo penso q uma figura pública seja escritor, realizador, politico tem de ter muito cuidado quando deita as coisas cá para fora e percebo a indignação a respeito do Lobo Antunes. Não li o livro vou comprá-lo porq para não comcordar e criticar uma coisa tenho de a conhecer e fiquei com o bichinho da curiosidade.
Por isso é q vocês gostam tanto de conversar uns com os outros porq se entendem, q acho muito bem .Mas também acho q está na altura insisto, insisto...de serem vocês a passarem a mensagem cá para fora principalmente a uma geração mais nova.Tudo isso faz parte da História de Portugal e um país q não conhece a sua História passada ou q a deturpa não pode andar em frente ou anda mas mal.