domingo, 13 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5458: Estórias avulsas (20): Formigas vermelhas e formigas castanhas (Armandino Alves)



1. Em 13 de Dezembro de 2009, recebemos um texto do nosso Camarada Armandino Alves, que foi 1.º Cabo Auxilitar de Enfermagem na CCAÇ 1589 (Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, 1966/68) e que passamos a transcrever:


Formigas vermelhas e formigas castanhas

Camaradas,

Eu não sei o que aconteceu depois de eu ter regressado da Guiné. Mas há uma coisa a que eu acho muita graça. Já li muitos postes sobre operações realizadas após eu ter vindo de lá. Já li o que foi escrito sobre os ataques de abelhas (que eu também sofri), mas nunca ouvi falar em ataques de… formigas.

Rainha e obreiras (in Wikipédia, enciclopédia livre)


Entre os vários tipos de formigas, existiam, no meu tempo, dois tipos delas caracterizadas pelas suas cores, umas vermelhas que se encontravam no Pilão, em Bissau, e que, atacando em conjunto, matavam uma galinha em poucos minutos segundo diziam os naturais locais.


Outras eram de cor castanha e encontrávamo-las no mato, quando andávamos em operações ou patrulhas nocturnas, pois elas só apareciam de noite. Se tínhamos o azar de fazer uma paragem junto de um dos seus formigueiros, era um ver se te avias. Toca a despir o camuflado para as arrancar do corpo, pois elas possuíam umas garras em forma de tenaz que se enterravam na carne e, quando as tirávamos, a cabeça ficava lá presa. Cabeça essa, que depois caía, pois, como é óbvio, tinha sido decepada do corpo.

Para evitar que elas trepassem pelas nossas pernas acima, é que os intervenientes nestas operações, eram previamente avisados para apertarem bem os cordões existentes no fundo das pernas das calças do camuflado, por cima dos plainitos, ou por cima dos bordos das botas de lona.

Em Béli, elas atacavam os nossos abrigos aos milhares e a única maneira de nos defendermos, era fugir cá para fora e esperar o regresso delas aos seus ninhos, o que se dava mal nascia o dia.

Nós esperávamos por elas com um bidão de gasóleo, espalhávamo-lo por cima dos seus corposs e lançávamos-lhes o fogo.

Só assim é que as conseguíamos matá-las.

Mas pelos vistos devemos tê-las matado todas, pois, até hoje, não ouvi mais ninguém falar nelas.

Como me parece que de 1966/68, sou o único sobrevivente em acção, não devo ter mais nenhum Camarada que me ajude a comprovar esta "formigada".

Um Abraço,
Armandino Alves
1º Cabo Aux Enf CCAÇ 1589
____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

13 de Dezembro de 2009 >

Guiné 63/74 - P5457: Estórias avulsas (63): O regresso (José Marques Ferreira)

8 comentários:

Fernando Gouveia disse...

Caro Armandino.

Um dia ainda vou escrever sobre toda a bicharada da Guiné. de momento o que te posso acrescentar é que os soldados nativos quando emboscavam de noite costumavam sentar-se em cima de uns ramos de determinada planta, que afugentava as formigas.

Um abraço

Fernando Gouveia

mario gualter rodrigues pinto disse...

Caro Armandino

Está descansado que não conseguiste
exterminar todas, porque no meu tempo mais tarde 69/71, ainda por lá andavam a emboscar a malta á noite.

Porra aquela m...mordia á brava e quando chegava aos UI.UI. era um Strip danado.

É como contas as P... morriam mas as cabeças lá ficavam no corpo a provocar uma coçeira danada.

Um abraço

E já agora BOM NATAL

Mário Pinto

Zé Teixeira disse...

VÊ-se bem que não tiveste tempo de ler todo o "livro" do blogue. No meu diário conto três episódios sobre essas pretas malvadas.
zé teixeira

Antonio Graça de Abreu disse...

A 15 de Novembro de 1973, em Cufar, também falo de formigas.Está no meu Diário da Guiné pag.159.
Leiam, se tiverem paciência:

"Durante a flagelação de ontem, o meu tenente-coronel B.(Bacelar Pires) passou por outra cena caricata a incluir também no “Charlot nas Trincheiras da Guiné”. Não assisti, mas alguns dos meus soldados, testemunhas presenciais, contaram-me tudo imensamente divertidos.
Aos primeiros rebentamentos, o tenente-coronel atirou-se para a vala mais próxima do seu quarto. Vinha em tronco nú, só tivera tempo de vestir as calças. Já lá havia soldados abrigados e chegaram mais uns tantos que se atiraram de cabeça para dentro da vala caindo aos molhos em cima do tenente-coronel. A vala, além de enlameada, albergava um formigueiro de formigas baga-baga, uns bichos quase do tamanho de um dedo que trepam pelo corpo e mordem, têm umas pinças tipo caranguejo que espetam na carne e fazem sangue. Ora no fim do ataque, o pessoal começou a sair da vala, o tenente-coronel foi um dos últimos e guinchava de dor. Caíra e permanecera mais de um quarto de hora em cima do formigueiro das baga-baga. As formigas haviam-lhe entrado pelas calças, subido até aos testículos e mordiam-no todo. Tinha ainda formigas espetadas nas costas. O nosso Chefe do Estado-Maior metia pena. Tirara as calças em frente dos soldados e em cuecas, com gritos de dor, uma a uma ia arrancando as formigas que estavam cravadas no seu corpo. Tratou-se de uma cena nunca vista nos areópagos da guerra.
De modo algum estou a criticar o tenente-coronel, se eu tivesse caído naquela vala em cima do formigueiro, comportar-me-ia de certeza de modo muito semelhante. Em situações extremas, com foguetões a zunir por cima das nossas cabeças, tudo pode acontecer. Mas estas coisas desmoralizam um oficial superior. Há dias, muito pouco satisfeito, contava-me o também tenente-coronel comandante do batalhão estacionado em Cadique que na última flagelação que sofreram, à uma da manhã, saltou da cama em cuecas, não teve tempo para se vestir, e foi em cuecas que dirigiu os seus homens."

Um abraço,
António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Camarada Armandino

Tenho que fazer uma reclamação:

O pessoal do teu tempo, da tua companhia e de outras, falharam completamente como "Exterminadores Implacáveis de Formigas Vermelhas".
Como se comprova pelos comentários.

Aliás, eu posso garantir que, por alturas de 72/73, ainda havia e...muitas.

Estava eu na CCAÇ 6, em Bedanda.
O meu Grupo Combate saíu para uma operação nocturna.
Atravessamos uma bolanha cultivada, seguindo por cima dum muro de terra/lama que servia de divisória.
Noite sem luar, escuro de breu, mão nas costas do camarada da frente.
A divisória vai-se desfazendo e tornando escorregadia à medida que os primeiros homens passam. Dois ou três escorregam mesmo e caem dentro da bolanha com armas e bagagens. Puxam-se os homens e, tudo OK, siga.
De repente, o silêncio da progressão e da noite é quebrado.Grande alarido lá mais para a frente. Imprecações, barulho de cantis, cartucheiras, armas, sacudidelas...O que é que se passa? Ah! cá estão elas! As célebres formigas vermelhas. Muitas ferroadas depois (eu safei-me), o pessoal "descomposto", compôs-se e seguimos em frente.
Felizmente o IN não apareceu. Ou então "acagaçou-se" com o nosso "cagaçal".

Lembro-me de pensar na altura: Eh pá! O Armandino Alves e os outros que se lhe seguiram não têm jeito nenhum para "exterminadores" de formigas. Olha tantas que deixaram escapar!!!

Ah não!!! Isto foi só agora depois de ler o teu texto.

Um abraço para o Armandino
Extensivo a todos os camaradas da Tabanca.

José Vermelho
Ex-Fur Mil
CCAÇ 3520 - Cacine
CCAÇ 6 - Onças Negras - Bedanda
CIM - Bolama

Anónimo disse...

Amigo Armandino

Ataques à dentada dessas guerrilheiras só tive um,de uma que perdeu a cabeça.

Noite escura,em progressão no meio do capim nas matas de Ponta Matar(Bula),parei uns segundos para
pôr o "pirilau" a verter.Uma guerreira de emboscada numa haste, não resistiu às tentações da "carne" e e abocanhou aquele falo vertente, perdendo a cabeça

Confirmo pois,que não as conseguiste aniquilar todas e deixaste, pelo menos esta,sexualmente activa.

Um abraço
Luis Faria

alma disse...

Desculpa Armandino,mas
de formigas já muitos
falaram.Até eu,precisamente
há dois anos(Post-2350,Estória
Cabraliana nº28-O Hipopótamo,
as Formigas e Prisioneiro)

Um Abraço

Jorge Cabral

Unknown disse...

Caros amigos Comentaristas

Dou graças a Deus por não ser eu o único a ser atacado pelas formigas,
porque senão viria alguém a dizer que isso não podia ser por não se encontrar escrito em nenhum dos anais do Exército. Todos os combatentes que
sofreram ataques destes bichinhos e das abelhas sabem que era pior que enfrentar o IN. Esses pelo menos avisavam-nos do ataque com uns tiritos
Armandino Alves