sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5536: O Meu Natal no Mato (29): Sorrisos de Natal há 40 anos em Canjadude (José Corceiro, CCAÇ 5 - Gatos Pretos, 1969/71)
















Guiné  Zona Leste > Região de Gabu > Canjude (vd. carta de Cabuca) > CCAÇ 5 (Gatos Pretos) (1969/71) > População local: filhos provavelmente de militares, guineenses,  da CCAÇ 5 (uma unidade de recrutamento local), enquadrada por militares metropolitanos, de rendição individual, como o José Martis (Fur Mil Trms, 1968/70), o José Corceiro (1º Cabo Trms, 1969/71), o João Carvalho (Fur Mil Enf, 1972/74)... Um dos capitães da companhia foi o Pacífico dos Reis, de  quem aqui já publicámos alguns textos, por mão do José Martins.

Fotos:  © José Corceiro (2009). Direitos reservados


1. Mensagem do José Corceiro, ex-1º Cabo, CCAÇ 5 - Gatos Pretos, Canjadude (1969/71) (*):


Natal, festa de excelência do mundo cristão. Festa da família, do amor, da paz, da união, das prendas e lembranças, da solidariedade, dos abraços, dos sorrisos, da confraternização, da luz e da esperança.

Façamos da vida um Natal permanente… Basta por vezes um olhar mais atento e carinhoso, um sorriso mais leal e consolador, um toque de conforto e tranquilidade, uma palavra de paz e esperança, uma doação do pouco que não nos faz falta, uma ajuda que para nós nada representa. Isto é Natal.

Quem não lembra os Natais da sua meninice?! Oh, que imensa saudade, eu tenho desses Natais, quando, na mais pura e cândida inocência, acreditava no Pai Natal, e ao acordar de manhã, corria para a chaminé, na esperança de que não se tivessem esquecido de mim. Oh! Quão feliz eu ficava ao ver as minhas botas cheias de prendas.

Coisas simples, uma moedinha dois ou cinco tostões, uma laranja, um chocolate, uns rebuçados, umas galhetas, um par de meias, umas luvas e camisola de lã, feitas pelas mãos mágicas da minha ditosa Mãe. Eu tentava esboçar uma desconfiança e dizia:
-Não foi a mãe que fez esta camisola?

Ela, no seu tom terno e doce, com um sorriso franco e acolhedor, respondia:
- Ai…! pois fui lá agora eu!

Eu fechava os olhos e continuava a sonhar e a acreditar. Como eu era feliz nesses tempos?! Não desejava o que não conhecia. Fui cresci e, sem que me apercebesse, a inocência foi-se desvanecendo e as desilusões e amarguras da vida, sem pedirem licença, foram-se instalando e manifestaram-se, deixando as suas marcas, mas eu continuo a sonhar, a crescer e aprender, tenho esperança.

Lembro com saudade e nostalgia os Natais da minha adolescência, Natais, simples, sem ostentação, onde não faltava o calor humano o conforto da família. Havia farturas de filhoses, rabanadas, arroz doce, aletria, bolos de abóbora, o bacalhau cozido com couves que, particularmente, nesta noite era uma delícia, era a ceia de consoada. Mimos feitos com tanto carinho e dedicação porque em casa o Natal era devoção, família, partilha e alegria.

Havia o calor da lareira envolvente e acolhedor, os sinos do campanário da minha aldeia tocavam ecoando os seus trinados por toda a povoação a convidar à união e oração. Lembro, as palavras amigas dos vizinhos e amigos a dizer "Natal Feliz", o frio, a neve, o presépio coberto de musgos serpenteado de veredas e carreiros, por onde se movimentavam as figurinhas de barro que iam adorar e levar prendas ao Deus Menino, o madeiro (cepo) a arder no adro para aquecer o Menino Jesus que toda a aldeia em fila ordenada ia beijar e adorar dentro da igreja da minha terra. Faltando o gesto de beijar o menino, o Natal perdia o encanto e magia. Havia harmonia, prendas, alegria, era NATAL, abraço de família.

Há três Natais que recordo com muita tristeza e melancolia:

(i) O Natal de 2007, difícil pelo sofrimento e abundância de saudades e dor, porque me faltou a prenda mais desejada, a minha Querida MÃE, que uns dias antes quis partir; faltaram todos os mimos e iguarias que minha mãe, diligentemente, com simplicidade e carinho, confeccionava; até os toques do sino da aldeia foram ruído para os meus ouvidos;

(ii) O Natal de 1969 e 1970 passados em Canjadude, Guiné, onde tive muitas saudades e tristeza: foi muito difícil...

Faltou-me a envolvência da minha família, faltaram-me as iguarias que a minha mãe tão terna fazia, faltou-me o calor da lareira acolhedor e consolador, faltou-me o som melodioso do repenicar dos sinos da minha aldeia, faltou o frio, a neve e o agasalho, o presépio, faltou o madeiro a arder no adro, faltaram-me os carinhos e afectos de mãos tão prendadas, assim para mim não era Natal.

Havia muito calor, muita insegurança, muita distância do lugar onde eu tinha nascido e onde tinha aprendido a gostar do Natal. Recusava-me a aceitar assim o Natal. Faltava a paz e os meus braços, não eram suficientemente grandes, para poder abraçar família militar tão numerosa:

Caps: Pacífico dos Reis, Ferreira Oliveira, Gaspar Guerra, Silveira Costeira;

Alfs: Gomes, Martins, Melo, Neves, Luís, Afonso de Sousa, Varela, Gago, Sousa, Silva;

Sargs: Paulino, Santos Rodrigues, Farinha, Cipriano (enfermeiro, a luta ceifou-lhe a vida);

Fur: José Martins, Antunes, Caldeira, Borges, Sá, Germano, Albino, Alves, Ramos, Moreira, Cardoso, Mário, Oliveira, Felizardo, Agostinho, Pena, João Purrinhas (perdeu a vida mina anti-carro entre Canjadude e Nova Lamego), Silva, Caetano, Laminhas, Costa, Carvalho, Gil, Gonçalves, Rito;

Cabos : Dionísio, (que eu substitui), Alex, Loupa, Carvalho, Rogério, Silva Trans., Silva, José Carlos Freitas(jogador do V. Guimarães), Graça, Cóias, Pinto, Faria Trans., Faria, Lúcio, Gaspar, Esteireiro, Nora, Viriato, Costa (cripto), Dinis (perdeu a vida mina nati-carro entre Canjadude e Nova Lamego) António Manuel, Ferro, Alves, Dias, Ramos, Vieira, Fernandes, Sado, Leitão, Monteiro, Marques, Pedro, Domingos, Gomes, Anjos, Mendes, Luís, Malhada, (foi no mesmo dia que eu fui para a companhia), Morais, Gonçalves, Almeida, Costa, Santos, Seabra, Montóia(jogador do Leixões), Lima, Mendes, Moura, Azevedo, Oliveira, Verissimo, Carmo, Fernandes, Rodrigues, Augusto, Romano, Pimenta, Zé (condutor), Magalhães, Sebastião, Morais, Leite, Leitão, Zé Batachão, Vergílio (condutor), Jorge (condutor), Fidalgo, Saldanha, Salazar;

Solds: Mané, Sanjo, Baba, Cholé (alfaiate);

1º Pelotão: Saliu, 70, Mama, Bojel, Pira, Malan, Lidi, Jamanca, Banamo, Mamadu Baldé;

2º Pelotão: Fali Baldé, Milício, Mamasaliu;

3º Pelotão: Samba, Felupe, Ussamané, Braíma, Sájo, Carpala, Mussá, Lourenço, Ossamané Bupiro, Ossamané Buaró, Carfala;

4º Pelotão: Paté Imbaló, Meta, Totala, Sajuma, Mamadú, Braíma, Canta, Canja, Mamadú Baldé, Malan;

Comandos: João Ceide (extremamente dedicado e seguro), Lunta, Gibril, Mamadú;

Outros militares que não sei em que pelotão estavam: Saju (padeiro), Opa, Baba (limpeza de armas), Samba Sisé (mecânico), Baba Gali (cozinheiro), Alin Combaco, Baba (cozinheiro), 615 (morteiro), Primo (morteiro), 416, Mamada Jamanca, Malan Jamanca, Ada Macundé, Banamu Ceide, Tijane, Manga, 819, Sucaro Nhoqué, Fali, Mama Salu Dambu, 348/63, Bané, Costa Pereira, Tripa (quem não se lembra dele), Benfica, Samba, Paté, Sané Mané, Bacar Baldé, Demba Baldé, Mamadu Alain Sané, Aruna, Mili, Mamadu Fati, Mili Braima Sané, Mili Braima Mané, Mili Candy, Adulo Baldé, Diaja.

E quem pode esquecer os miúdos da Companhia, acho que nem família tinham, eram como que mascotes, o Júlio que aprendia mecânica o Binta, o Mamassal(Marchal) que era o moço dos recados.

De Certeza que muitos foram esquecidos, sobretudo nativos, não foi por menos consideração ou estima, a outros poderei ter trocado o posto, mas o mesmo respeito, é natural que em nomes haja erros ortográficos, pois foram registos que eu fiz na época, sem recurso a documentação, só por audição.

Nos 25 meses que estive em Canjadude, fizeram parte da CCaç 5, todos estes militares, era de rendição individual, ainda que os militares nativos fossem, praticamente, sempre os mesmos. Esta foi a grande família GATOS PRETOS, do meu tempo, porque há mais, (eu estive entre Junho 1969 a Julho 1971) estivemos todos no mesmo palco, irmanados pela mesma causa.

Para todos um ABRAÇO de NATAL. Feliz Natal a todos.

José Corceiro

P.S. - Caso publiquem as fotos o titulo pode ser: SORRISOS DE NATAL HÁ QUARENTA ANOS EM CANJADUDE, GUINÉ

_______

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior, 25 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5535: Tabanca Grande (196): José Corceiro, ex-1º Cabo Trms, CCAÇ 5 (Gatos Pretos) (Canjadude, 1969/71)

2 comentários:

Luís Graça disse...

José Corceiro: Quem era o pai da criancinha ? Refiro-me à foto de cima, em formato extra-largo ... Ou era futa-fula ou tuga... LG

José Marcelino Martins disse...

Caro Corceiro

Já tive o prazsr de te falar contigo, por telefone. e desejar-te um Bom Natal pela segunda vez (a primeira foi há 40 anos, em Canjadude).

Bem vindo à Tabanca. Temos de trazer mais Gatos Pretos para cá.