sábado, 14 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4032: Blogoterapia (97): Pois.. Juvenal Amado, Assim não falamos na primeira pessoa (José Brás)

1. Mensagem de José Brás(1), ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68, com data de 13 de Março de 2009:

Luís

Este texto, sai assim, a saber a barroco, porque me saiu quase inteiro imediatamente depois de ler o do Juvenal Amado(2).

Só publicarás se entenderes que vale a pena ou pode (podes?) “entregá-lo apenas e pessoalmente ao destinatário.

Um abraço
José Brás



Pois

Pois!

Quem me dera poder nesta palavra só, pequena, circular e cheia de som, quem me dera nela apenas, sem necessidade sequer de uma sílaba mais, de uma intenção, de um gesto, de um olhar, quem me dera poder nela dizer tudo o que me enche depois de te ler, Juvenal.

Mas não posso. Não posso, pronto, não sou capaz.

Não somos capazes.

Passámos séculos às voltas com a necessidade de justificar grandezas e misérias. De buscar razões e fins. De penetrar a essência.

Construímos a ideia de Deus, inventámos os caminhos para lhe chegar e gastámos os pés em vão.

Criámos espelhos e estilhaçámo-los na raiva da imagem reflectida.

Despedaçámo-nos em cada vez que descobrimos o quase como limite.

Mil vezes nos erguemos com a última esperança, mil vezes recuperámos o folgo no repicar dos sinos.

E agora?

Sim, e agora?

Agora, somos o quê?

Somos o quê, se nem conseguimos meter toda a alma numa palavra e nos perdemos em muitas para dizer o que nem uma, sequer, deveria ser necessária. Um olhar, um gesto da mão, sei lá, seriam suficientes para garantir a fraternidade.

Vês?

Para te dizer que as lágrimas me enchem os olhos lendo-te, as voltas que já dei à palavra.

E não é a palavra. Não são as palavras que usas, a música que me trazes nelas, a linear vontade de dizê-las, que me animam.

São as memórias que carregas, o testemunho do que viste e a certeza de que não poderia eu deixar de as sentir, se as sentiste tu e as trazes agora sem queixumes, como quem diz apenas, era assim, o que é que querem.

E o problema do eu, do tu, do nós, quem o resolve?

Eles não são eles, apenas, perdidos no redemoinho da confusão com que misturamos tempos, lugares, o verbo e os sujeitos.

Diremos, prestando contas…

Cego sou, e surdo, porque passas tão perto e não te vejo, nem oiço, fazendo o teu caminho no poema de Machado, prolongamento apenas de ti próprio.

Mas gente como tu, se não me enganas, devolve-me a esperança, a certeza que uma chispa qualquer, seja onde for, poderá trazer o fogo que há milénios perseguimos.

Gente como tu é que mantém querendo continuar.

Também tu, como eu, te sentes melhor pensando homem em vez de IN, te agrada mais falar de braço que de aço. Em Alcobaça, no Alentejo, na Guiné,

Um pequeno senão, apenas.

Assim… não falamos na primeira pessoa.


Obrigado e um abraço.
José Brás


2. Comentário de CV

Quem sou eu para, perante dois textos tão bonitos, tão tocantes, tecer qualquer comentário.

Quero só aproveitar este espaçozinho para agradecer a estes dois camaradas por escreverm tão bem e por saberem despertar em nós sentimentos tão bonitos que quase nos fazem roçar a lágrima. Sim porque não é mariqiquice um homem comover-se. E a nossa idade já nos permite deixar transparecer todas as manifestações da alma.

Obrigado Juvenal Amado pela tua homenagem à(s) mulher(es)

Obrigado José Brás. Este teu texto não podia ficar só no conhecimento do Juvenal Amado. Tivemos que o partilhar com toda a Tabanca e com os demais leitores do nosso Blogue.
__________

(1) Vd. poste de 3 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3972: Blogoterapia (93): O que é difícil é ficar calado (José Brás)

(2) Vd. poste de 13 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4027: As nossas mulheres (8): A uma mãe, a todas as mães, a todas as mulheres da nossa vida (Juvenal Amado)

Vd. último poste da série de 10 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4009: Blogoterapia (96): Não chorarei a morte do Nino (Zeca Macedo, ex - 2º Ten DFE 21, Cacine, 1973/74)

Guiné 63/74 - P4031: As abelhinhas, nossas amigas (4): Desculpem qualquer coisinha (Luís Faria)

1. Mensagem de Luís Faria(*), ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 11 de Março de 2009:

Caro Vinhal

Que estejas bem de saúde
Segue uma estoria, a 6.ª com escrita um tanto esquisita!
Espero que a aceites e publiques

Grande abraço
Luis Faria


As abelhinhas
(desculpem alguma coisinha)

Só uma vez vi um Caterpiller fazer um pião e foi na Guiné e foi entre Teixeira Pinto e Cacheu e que se chamava Capó e em que saí com o meu Grupo e ia a fazer segurança à dita máquina na abertura de um trilho na mata e às tantas viu-se uma colmeia e estava cheínha de abelhaços bravos e o condutor parou e meteu uma rede na cabeça e uma protecção no corpo e disse que o fumo do escape da máquina as ia enraivecer e arrancou e nós da segurança dividimo-nos em três partes e duas entraram na mata pelas laterais e uma ficou atrás da escavadora e paramos e a máquina avançou e o fumo enraiveceu as putas meigas que deram em cima do condutor e a máquina fez um pião e o condutor ficou que nem um Cristo e as cabronas das abelhinhas não satisfeitas deram em cima do pessoal que ia atrás da escavadora e onde eu estava e TODO esse pessoal deu às de vila-diogo e largaram as armas e a merda e o mijo e eu por já estar treinado do Puto fiquei quedo com dezenas delas a andarem-me na cabeça e em tudo menos nos tomates e eu só berrava ao povo para pararem e se manterem imóveis e não adiantou nada e flecharam até ao acampamento de Capó e lá fiquei sem uma beliscadura e sozinho na mata e acompanhado por um monte de G3 e até aparecer o pessoal das laterais estava acagaçado e a zona era bera e já não havia abelhinhas pois perseguiram o pessoal fujão e ferraram-lhes p'ra cara… e o condutor foi evacuado para Bissau e a cabeça dele era uma bola tipo nìvea (perdoem) pelo tamanho e julgo que acabou (espero que não) por falecer e eu fiquei todo Quilhado por toda a gente se pirar e deixarem-me abandonado na mata e isso não se fazia e passei-lhes um sermão dos antigos e responderam que a culpa era das abelhinhas e se fossem Turras não teria acontecido e eu percebi e já estou farto de escrever tantos eee que não prefazem uma centésima parte do avelhame desembestado e ainda por cima sem pontos nem vírgulas para que quem consegue ler e chegar ao fim sinta uma ínfima parte da dificuldade respiratória que senti nessa altura

A quem conseguiu ler e interpretar este episódio real, sem desfalecimentos, os meus PARABÉNS, pois prova que ainda tem muitos anos pela frente!

Um abraço à Tertúlia
Luis Faria
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4020: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (11): Bula, foguetões e confusões no abrigo

Vd. último poste da série de 12 de Março de 2009 >
Guiné 63/74 - P4018: As abelhinhas, nossas amigas (3): As lassas e os Lassas: a colmeia-armadilha, a morte do 2º Srgt Madeira... (Mário Fitas)

Guiné 63/74 - P4030: Convívios (101): III Encontro dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, dia 7 de Março de 2008 (Carlos Vinhal)

1. No passado dia 7 de Março de 2009, em Matosinhos, ocorreu o 3.º Encontro dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, o qual teve mais de 100 participantes.

A concentração ocorreu em frente do edifício da Câmara Municipal e a foto de família foi tirada na escadaria de acesso à Biblioteca Municipal Florbela Espanca, local único onde foi possível acomodar tanta gente.

O almoço servido no Salão de Festas do Restaurante Mauritânia e foi presidido pelo senhor Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Dr. Guilherme Pinto, e pelo senhor General Carlos Azeredo. Ambos aceitaram amavelmente o nosso convite para estarem presentes, o que muito nos honrou.

No início do almoço tomou a palavra o nosso camarada Ribeiro Agostinho, o principal impulsionador destes encontros, que agradeceu a presença dos ex-combatentes e em especial as presenças das duas individualidades convidadas.

Seguidamente o Presidente da Autarquia tomou a palavra para agradecer o convite, salientando a união e a capacidade de iniciativa dos ex-combatentes da Guiné, que se faz notar na organização e participação nestes eventos. Prometeu para muito breve um Memorial em honra dos 68 militares do Concelho, falecidos nos três teatros de operações da Guerra do Ultramar, a figurar junto ao Tanatório da Matosinhos já em fase de conclusão.

Por último e por imposição dos presentes, falou o senhor General Carlos Azeredo, que na qualidade de militar, dedicou aos presentes palavras sentidas, realçando o sacrifício a que todos fomos sujeitos, em nome da Bandeira de Portugal, defendendo o que na altura era considerado território nacional. Prometeu nunca mais deixar de estar presente nos nossos Encontros.

Seguiu-se o repasto e longos momentos de convívio.

A meio da tarde, o jornalista senhor Joaquim Queirós, fundador e Director do Jornal Matosinhos Hoje, que gentilmente colabora na organização dos nossos Encontros, dando a indispensável publicidade aos mesmos no seu prestigiado Jornal, compareceu no Salão especialmente para trocar impressões com o senhor General Carlos Azeredo. A conversa foi longa e animada com recordações dos bons velhos tempos.

Para terminar o dia, houve o habitual momento de fado.

A Câmara mandou executar uma medalha comemorativa deste 3.º Encontro e ofertou um exemplar a cada um dos participantes.

Do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné e/ou da Tabanca de Matosinhos estiveram presentes, se a memória não me falha neste momento, Albano Costa, Eduardo Magalhães Ribeiro, Álvaro Basto, Joaquim Almeida (Custóias), Silva e esposa, e este vosso camarada.

Tive ainda o grato prazer de conhecer o camarada Fernando Santos que escreve com o nome de Fernando Cartola, autor do romance a que deu o título "Metro Quadrado", do qual falaremos noutro poste. Convidei-o a visitar o nosso Blogue e a aderir à nossa Tabanca Grande. Embora disponha de pouco tempo livre, prometeu aparecer.

Ficam algumas fotos do Encontro.

Foto de família com todos os participantes no 3.º Encontro dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, tirada na escadaria de acesso à Biblioteca Municipal Florbela Espanca

Mesa da presidência. Ribeiro Agostinho, fala aos presentes, agradecendo a presença de todos.

O senhor General Carlos Azeredo no uso da palavra, ouvido atentamente pelo Dr. Guilherme Pinto.

O senhor General Carlos Azeredo e o Combatente Ribeiro Agostinho

Exemplar da medalha comemorativa deste 3.º Encontro, oferecida pela Câmara Municipal de Matosinhos a todos os participantes

Maqueta do aquartelamento de Bula de autoria do nosso camarada José Oliveira (Mestre Zé Cartaxo), exposta na Sala, alvo de alguma curiosidade por parte dos que por lá passaram

José Oliveira (Mestre Zé Cartaxo), Fernando Silva (que tem sempre uma lembrança para os camaradas participantes nos Encontros) e Carlos Vinhal que tem a função de secretariar os Encontros

Camaradas Albano Costa, Álvaro Basto e Silva (Tabanca de Matosinhos) acompanhado de sua esposa, única senhora presente no Salão

Tradicional e habitual momento de Fado

Bolo comemorativo deste 3.º Encontro onde se viam, a Bandeira de Portugal, o Brasão do Concelho de Matosinhos e o mapa da Guiné-Bissau, país africano que jamais esqueceremos

Fotos: © Ribeiro Agostinho, Albano Costa e Carlos Vinhal (2009). Direitos reservados

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Notas de CV:

Vd. postes do I e II Encontros de:

7 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1570: Almoço-convívio de camaradas de Matosinhos (Albano Costa / Carlos Vinhal)
e
18 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2772: Convívios (54): II Encontro de ex-Combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, 12 de Abril de 2008 (Carlos Vinhal)

Vd. último poste da série de 13 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4026: Convívios (99): CCS, CCAÇ 2366 e 2367/BCAÇ 2845, a realizar em Maio de 2009 (Albino Silva)

Guiné 63/74 - P4029: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (6): O anjo da guarda do Zé de Guidaje (Giselda Pessoa)

Guiné > Região do Cacheu > Mapa de Guidaje > Em 6 de Abril de 1973, o DO 27 em que seguia a enfermeira pára-quedista Giselda Antunes, com um ferido grave, de Guidaje para o Hospital Militar de Bissau, foi ele próprio vítima do disparo de um míssil terra-ar Strela, tendo sido obrigado a aterrar de emergência em Bigene... Foi um dia trágico, esse, para a FAP e o resto das nossas tropas.

Foto: © Miguel Pessoa (2009). Direitos reservados


1. Mensagem do Miguel Pessoa, em nome de Giselda Pessoa, Srgt Enf Pára-quedista

Caro Luís

Como já tens um texto meu por publicar (o da ejecção no Guileje), mando-te agora um da Giselda, acerca de uma evacuação no Guidaje. Não é má vontade nossa... Acontece que, pelos vistos, estes sítios davam-nos bastante trabalho... Espero que o nosso companheiro António Matos (Poste 4007) não fique desagradado com esta nossa insistência, mas não é por mal... Para compensar, de aqui a uns dias mando um sobre o Cacine - sempre é um bocadinho ao lado do Guileje...
Abraço. Miguel


2. As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (*) >

O ZÉ DO GUIDAJE


Há quase dois anos tive a oportunidade de ser contactada pelo Zé, um velho conhecido da Guiné.

Tudo começou com um artigo publicado num jornal sobre um ex-piloto da Força Aérea na Guiné, o então Ten Miguel Pessoa, artigo esse em que era referido o facto de ele ter casado com uma ex-enfermeira pára-quedista, Giselda - eu. Contava-se também a minha ida atribulada ao Guidaje no dia em que outros aviões foram abatidos pelos mísseis Strela. Com esses dados em mão, o Zé iniciou a busca de um contacto telefónico e, tendo-o conseguido, foi-lhe fácil chegar à fala comigo.

Soube assim que o Zé era um ex-militar que tinha cumprido uma comissão de serviço na Guiné, mais concretamente no Guidaje, de onde tinha sido evacuado em 6 de Abril de 1973, e que procurava confirmar se tinha sido eu a enfermeira que tinha feito essa evacuação.

6 de Abril é uma data que está fortemente marcada na minha memória e não preciso de vasculhar papéis para saber o que sucedeu nesse dia. Dois aviões foram abatidos, um terceiro desapareceu, perderam-se três pilotos e um enfermeiro da Força Aérea, dois oficiais e um sargento do Exército, um milícia local do Guidaje. E o avião em que eu seguia para uma evacuação no Guidage quase foi abatido. Tudo isto já tem sido referido em vários sítios, até neste blogue (**).

O que não se sabe, e este telefonema veio relembrá-lo, é que o dia 6 de Abril começou para mim com uma deslocação ao aquartelamento de Guidaje, logo às primeiras horas da manhã, a fim de evacuar um militar do Exército gravemente ferido. E o mais curioso - e tocante - é que esse militar, descobria-o agora, era o Zé, o homem que estava ao telefone.

Naturalmente, tivemos uma interessante conversa, embora limitada pelo próprio meio utilizado. Mas ficou-me a ideia de poder vir a falar pessoalmente com ele, no futuro. Essa oportunidade surgiu há cerca de um ano, quando fui contactada por um responsável por uma produtora de trabalhos para o Canal História (***). Pretendia essa produtora fazer uma reportagem sobre as enfermeiras pára-quedistas em Portugal, pedindo o contributo das ex-enfermeiras para prestarem depoimentos sobre as suas experiências pessoais.

Para além de me disponibilizar para essa entrevista, lembrei-me de propor igualmente que o Zé fosse convidado a participar nessas gravações, pois certamente o seu testemunho seria interessante. Dado que concordaram, acabei por ter a oportunidade de me encontrar com o Zé em Lisboa, no decorrer dessas gravações.

O que eu me lembro, o que ele me disse e o que ficou gravado podem resumir-se, de uma forma simples, no seguinte:

O Zé encontrava-se a trabalhar na construção de um telhado de um edifício, no exterior, quando repentinamente o quartel é alvejado pelo PAIGC. Estando a descoberto naquele momento, tenta procurar um abrigo, mas quando ali chega verifica que o abrigo está cheio, principalmente com gente da população. Não tendo possibilidade de se proteger completamente, fica à entrada, meio a descoberto. Ouve de repente uma explosão muito próxima, de uma granada ou morteiro, e nesse instante sente um impacto no corpo. Leva as mãos ao corpo e retira-as cheias de sangue.

Após um período de semi-inconsciência, lembra-se de ter aberto os olhos e ver uma senhora com uma T-shirt branca e calças de camuflado, não sabendo se tinha morrido e se era o seu anjo da guarda que ali estava. Recorda ainda a evacuação no DO-27 para a BA 12 e o transporte para o Hospital. Refere-me ainda ter a plena consciência de que hoje não estaria aqui se não tivesse sido evacuado naquele momento.

Afastando a hipótese do anjo da guarda, devo concordar com ele no restante. O Zé teve a oportunidade de utilizar o único avião que nesse dia conseguiu ter êxito na evacuação de feridos do Guidaje. A gravidade do seu estado não aconselhava de modo nenhum a sua permanência no aquartelamento. O avião, em que pouco tempo depois regressei ao local, acabou por ter de aterrar de emergência em Bigene, depois de alvejado por um Strela, e não poderia tê-lo evacuado. O avião que substituiu este na missão, embora tendo aterrado no Guidaje e descolado com um ferido a bordo, desapareceu após a descolagem, nunca mais se sabendo nada do avião e das pessoas que lá seguiam. Se o Zé tivesse seguido também nesse avião, seria hoje mais uma baixa a lamentar.

O Zé deve a sua vida em grande parte à sorte, embora possa ter tido uma pequena ajuda de alguém que, não sendo anjo da guarda, estava ali precisamente para o apoiar.

Giselda Pessoa (****)

______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 8 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3999: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (5): Justamente recordadas no Dia Internacional da Mulher

(**) Vd. poste de 9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3859: FAP (6): A introdução do míssil russo SAM-7 Strela no CTIG ( J. Pinto Ferreira / Miguel Pessoa)

(...) 5. Em 6 de Abril de 1973, agora no Norte do território da Guiné, a fortuna foi ainda mais madrasta para o Grupo Operacional 1201 da Guiné. Nesse dia, muito cedo, um DO-27 pilotado pelo Furriel Baltazar da Silva partiu de Bissalanca para uma missão de apoio a um sector de Batalhão, a norte do rio Cacheu. Numa das movimentações, transportando um médico e um sargento de Bigene para Guidaje, o avião não chegou ao destino.

Tendo-se perdido o contacto com aquele avião, de Bissalanca descolaram meios aéreos para tentar localizá-lo e, quase em simultâneo, descolou outro DO-27 incumbido de proceder a uma evacuação sanitária pedida pelo aquartelamento do Guidaje. O avião era pilotado pelo Fur Carvalho e levava a bordo a enfermeira pára-quedista Giselda Antunes.

Também este avião não chegaria ao seu destino: alvejado por
um míssil Strela, que o não alcançou por muito pouco, os comandos
do DO-27 ficaram tão danificados pela acção da onda de choque, que teve de regressar à base de origem. [Giselda Antunes e Miguel Pessoa vieram a casar mais tarde, tornando-se, com toda a probabilidade, num casal único em todo o mundo: ambos foram alvejados por mísseis terra-ar Strela, e escaparam os dois à morte.]

Entretanto, para substituir o avião danificado partiu de Bissalanca outro DO-27, pilotado pelo Fur António Carvalho Ferreira.

Tendo embarcado em Bigene o Major Mariz, comandante do Batalhão ali estacionado, este avião aterrou por fim em Guidaje, donde descolou mais tarde com quatro pessoas a bordo: o piloto, o major, um militar ferido e um enfermeiro para o assistir durante a viagem para Bissau. Apenas se sabe que, dadas as características da pista, descolou para norte, entrando por território do Senegal. Nunca mais foi visto!

O primeiro DO-27 desaparecido acabou por ser localizado algures no mato, entre Bigene e Guidaje. Transportado de imediato para o local em helicópteros, um pelotão de pára-quedistas limitou-se a constatar a morte dos quatro ocupantes. Nessa altura, voando na área em protecção da acção terrestre, o T-6 do major Mantovani foi abatido por outro míssil Strela, tendo o piloto morrido na queda do aparelho.

Manuel dos Santos, o homem que chefiara o grupo do PAIGC enviado à União Soviética para aprender a operar os mísseis, e que então acumulava as funções de comissário político da Frente Norte com as de comandante dos mísseis em todo o território, podia dar-se por satisfeito: naquelas poucas semanas do primeiro semestre de 1973, os seus homens desferiram um duro golpe na capacidade operacional do inimigo. (...)


(***) Em Agosto de 2007, o The History Channel [ O Canal História, ] exibiu um documentário dedicado à história destas mulheres intitulado "Entre o Céu e o Inferno - As Enfermeiras Pára-quedistas"... No You Tube > Terraweb podem ser visionados os 6 seis vídeos correspondentes a esta reportagem.

Enfermeiras Pára-quedistas - Parte 1/6 (9' 18'')

Enfermeiras Pára-quedistas - Parte 2/6 (9' 18'')

Enfermeiras Pára-quedistas -Parte 3/6 (8' 57'')

Enfermeiras Pára-quedistas Parte 4/6 (8' 56'')

Enfermeiras Pára-quedistas - Parte 5/6 (6' 39'')

Enfermeiras Pára-quedistas - Parte 6/6 (3' 41'')

Vd. também Wikipédia > Enfermeiras Pára-Quedistas


(****) Sobre a grafia Guidaje/Guidage (a Giselda escreve, como toda a gente... Guidage):

Vd. poste de 29 de Abril de 2008 >Guiné 63/74 - P2800: Em bom português nos entendemos (1): Guidaje e não Guidage (Luís Graça / Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa)

sexta-feira, 13 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4028: FAP (17): Do Colégio Militar a Canjadude: O meu amigo Tartaruga, o João Arantes e Oliveira (Pacífico dos Reis)

Guiné > Zona Leste > Gabu > Canjadude > CCAÇ 5 (1973/74), Os Gatos Pretos > Pista de aviação de Canjadude, iluminada durante a noite > "Fotografia tirada de uma das tais grandes rochas (grandes para a Guiné), ou seja, de uma das rochas em que estava colocado um posto de sentinela. Consegue-se ver ainda o heliporto, que não sei se já existia quando o José Martins passou por estas bandas[, em 1968/70]" (JC).

Foto: © João Carvalho (2006). Direitos reservados


1. Mensagem do nosso amigo, camarada e dedicado colaborador José Martins, ex- Fur Mil Trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70:

Boa tarde, aqui vai mais uma de aviadores.

Talvez, o que é mais que provável, o António Martins de Matos tenha conhecido o João Arantes e Oliveira, e queira dar algumas notas biográficas.

Um abraço, José Martins


2. MEMÓRIAS DA GUINÉ

Texto publicado na revista nº 173 - Outubro/Dezembro, 2008,
Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar:

Publicação Trimestral, 43º Ano. Fundador – Carlos Vieira da Rocha (189/1929); Director – Mário M. Silva Falcão (314/1936); Chefe de Redacção - Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949)

Da autoria de
José Manuel Marques Pacíficos dos Reis
Coronel de Cavalaria Reformado
Ex-aluno nº 363/1952 do Colégio Militar
Ex-Comandante da Companhia de Caçadores nº 5 – CTIG (Junho de 1968/ Septembro de 1969)(*)

[Com a devida vénia e autorização do autor. Fixação do texto e subtítulos, da responsabilidade do editor, L.G.]

Ao ter conhecimento do falecimento do meu amigo Tartaruga (137/1952), João Arantes e Oliveira, muito tempo depois do mesmo, vieram-me à lembrança os tempos que passámos no Gabú. A vida dos mortos está na memória dos vivos (Cícero). Para manter bem viva essa memória aqui a faço perdurar através de duas pequenas estórias que definem o carácter do nosso amigo Tartaruga.

(i) Um saco de sementes

Ao tempo estava a comandar a Companhia de Caçadores nº 5, aquartelada em Canjadude. A companhia era formada por soldados nativos todos desarranchados e por um pequeno número de militares da Metrópole. Os nativos comiam na tabanca. Os metropolitanos comiam do rancho com as limitações resultantes da logística (bacalhau e ovos liofilizados, falta de frescos, etc.).

Numa das muitas colunas ao Gabú (Nova Lamego) encontrei o Arantes e foi uma festa.
Entre cervejas confidenciei-lhe as minhas dificuldades logísticas. Não me pareceu que ele, na altura “pilotaço” na Base do Gabú, estivesse a ligar aos meus problemas. Os dias foram passando, operações e mais operações (tempo do General Spínola), quando no pequeno intervalo das mesmas aterra uma DO na nossa pista e sai lá de dentro o Tartaruga com um grande saco na mão e me diz:
- Olha, aqui tens a resolução dos teus problemas de frescos.

Entrega-me o saco.

Curioso, espreitei e estupefacto deparo com dezenas de saquetas com as mais variadas sementes: tomates, alfaces, couves, feijão, etc. Posteriormente confidenciou-me, com toda a simplicidade, que tinha ido à Metrópole e não se tinha esquecido da nossa conversa no Gabú. Claro que aquelas sementes foram ouro para todos nós.


(ii) O sistema americano no Vietname: sacos de serapilheira e... palha

O cenário é o mesmo. A reunião no Gabú é com os mesmos intervenientes. As minhas queixas eram diferentes.

Nesta altura um piloto mais “inteligente” ou mais “medroso” que os outros, que já vinham aterrando na nossa pista centenas de vezes, resolveu interditá-la até serem aumentados mais uns metros. Só quem esteve no ultramar é que pode aquilatar o problema de não ter uma pista operacional.

Enquanto não compactávamos os metros que faltavam com baga-baga, não recebíamos correio nem frescos (peixe, fruta, etc.). O Arantes compreendeu imediatamente o problema.
- Não há problema, pá. - E passou a explicar o sistema utilizado pela aviação americana no Vietname. - É tudo uma questão de sacos de serapilheira e palha! Deixa que eu levo-te os frescos.

E assim foi. No dia marcado vimos aparecer um DO a baixa altitude a rasar a pista. Ao passar por ela começaram a cair sacos de serapilheira do avião. Alguma coisa, no entanto, não estava correcta nos manuais americanos. Digo isto porque andámos a apanhar carapaus, sardinhas e pescada, conjuntamente com maçãs, em todas as árvores das redondezas.

Pequenas estórias que ilustram o camarada que infelizmente perdemos. Só espero que estas despretensiosas letras façam surgir o desejo de mais alguém cumprir a palavra de Cícero.
_______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes, da I Série, respeitantes a Canjadude e à CCAÇ 5:

23 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXIV: O nosso fotógrafo em Canjadude (CCAÇ 5, 1973/74)

5 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIX: O ataque de foguetões a Canjadude, em Abril de 1973 (João Carvalho)

28 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXCIII: Cancioneiro de Canjadude (CCAÇ 5, Gatos Pretos)

4 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIV: Os últimos dias de Canjadude (fotos de João Carvalho)

4 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCV: A última noite em Canjadude (CCAÇ 5) (João Carvalho)

5 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCVI: A dolce vita de Canjadude, até ao dia 27 de Abril de 1973 (João Carvalho)

6 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIX: Salazar Saliú Queta, degolado pelos homens do PAIGC em Canjadude (José Martins)

7 deAbril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXX: CCAÇ 5 - Os Gatos Pretos de Canjadude (José Martins)


(...) Com o fim da Operação Mabecos Bravios, realizada entre 2 e 7 de Fevereiro de 1969 e que procedeu à retirada da guarnição do aquartelamento de Madina do Boé e do destacamento do Cheche, junto ao Rio Corubal, a guarnição deste destacamento reuniu-se à sua unidade em Canjadude.

Quando em 20 de Abril de 1969, o grupo de combate destacado em Cabuca foi rendido por outra unidade, e a CART 2338 foi transferida para Nova Lamego, o aquartelamento de Canjadude passou a dispor da totalidade dos elementos da CCA5 5, passando a ser a unidade de fronteira com a zona do Boé, a partir de Nova Lamego.

(...) A Companhia de Caçadores nº 5 teve como comandantes:
- o Capitão Miliciano de Infantaria Barros e Silva (Abril de 1967 -Junho de 1968);
- o Capitão de Cavalaria Pacífico dos Reis (Junho de 1968- Setembro de 1969);
- o Capitão de Infantaria Ferreira de Oliveira (Setembro de 1969-Março de 1970);
- o Capitão de Infantaria Gaspar Guerra (Março de 1970- Maio de 1970);
- o Capitão de Infantaria Silveira Costeira (Maio de 1970-Abril de 1972);
- o Capitão de Cavalaria Figueiredo de Barros (Abrild e 1972-Maio de 1973);
- e o Capitão Miliciano de Infantaria Silva de Mendonça (Maio de 1973-Agosto de 1974).

Como comandantes interinos houve vários Alferes Milicianos que assumiam o comando na ausência e/ou impedimento dos titulares.

(...) De composição maioritariamente da etnia Fula instalada em chão Mandinga, registaram-se alguns atritos com a população civil, nomeadamente após o ataque ao aquartelamento de Canjadude efectuado em 3 de Agosto de 1970 e, quando na época seca, os civis fechavam os poços para que os militares não pudessem utilizar a água, mas que foram rapidamente sanados.

O número de militares que passaram por esta unidade deve rondar o milhar, correspondendo três quartos destes a efectivos do recrutamento local.

Quanto a baixas teve, no período da sua existência, 16 mortos em combate ou por doença, incluindo 5 metropolitanos, sofrendo ainda, no período de Janeiro de 1970 a Julho de 1973, pelos registos existentes, 23 feridos dos quais alguns tiverem de ser evacuados para o Hospital Militar de Bissau. (...)

12 de Maio de e 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLVI: Procissão em Canjadude ou devoção mariana em tempo de guerra (José Martins)

Guiné 63/74 - P4027: As Nossas Mães (2): A uma mãe, a todas as mães, a todas as mulheres da nossa vida (Juvenal Amado)

1. Mensagem de Juvenal Amado(*), ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74, em boa hora reaparecido com um belíssimo texto dedicado às mulheres da nossa vida, às mulheres de todos e de cada um de nós, com data de 10 de Março de 2009:

Assunto: As nossas mulheres

Caro Carlos, Luis, Briote e restante Tabanca Grande

Este pequeno texto, era para aí ter chegado antes do dia Internacional da Mulher.
Como não me foi possível vai agora. Nada acrescenta nem trás de novo ao que já se escreveu, mas é a minha forma de prestar homenagem a quem esteve sempre presente na minha vida.

Um abraço para todos os camaradas
Juvenal Amado



AS NOSSAS MULHERES

Conheci-a toda a vida.

Os seus olhos alternam entre a realidade e o olhar vazio do reino dos simples. Os cabelos ainda fortes, ainda indomáveis, completamente brancos, servem de moldura ao rosto cheio de rugas.

Aquela mulher viu os filhos irem para a guerra, coseu os botões e reforçou baínhas dos camuflados, num acto prenhe de fatalismo tão português.

Sofreu com a falta de notícias, passou noites acordada, em permanente sobressalto.

Cumpriu promessas em longas caminhadas, por fim arrastou os joelhos quase em sangue pelo o adro de uma qualquer igreja, em busca da dádiva da vida, que ela própria gerou.

Nas suas cartas tentava a todo custo não deixar transparecer o que lhe ia na alma.

Também enviou vinte escudos dentro de aerograma. Serviu para comprar tabaco, hábito que ela perseguiu nos anos seguintes, censurando os dedos amarelos.

Na cabeça, a última recomendação do pai - "não te esqueças de escrever à tua mãe".

A ânsia com que esperávamos qualquer correio.

Depois as outras. As amigas, as madrinhas de guerra, moradoras em qualquer sítio de Portugal.

Quase certos de nunca nos encontraríamos pessoalmente, trocámos as mais secretas inconfidências.

Em troca recebíamos fotos de jovens anónimas, que nos faziam sonhar e disparar o desejo, nas horas de maior solidão.

Fizemos planos de encontros, para quando regressássemos, que nunca se vieram a concretizar.

Também foram nossas mulheres, as que lutaram pelo fim da guerra. As que arriscaram a sua liberdade a coberto da noite, escreveram nas paredes e muros palavras de ordem, contra os nossos embarques e exigiram, o nosso regresso imediato.

Festejei com algumas delas o culminar da sua luta.

Hoje olho aqueles cabelos brancos, lembro a sua beleza e tento recordar a sua vitalidade passada.
Quantas daquelas rugas são de minha responsabilidade?

As nossas mulheres deram-nos sempre mais do que receberam em troca.

Esqueceram as suas dores e serviram de bálsamo às nossas.

Voltaram a embalar-nos nos seus braços, acordaram-nos suavemente, quando não nos conseguíamos libertar sozinhos dos nossos pesadelos.

Sofreram com as despedidas, festejaram os regressos e muitas ainda choram as ausências.

Os olhos com que elas que nos viram partir, não foram os mesmos que nos viram chegar.

Neste DIA INTERNACIONAL DA MULHER envio uma rosa branca a todas as que foram e são as nossas mulheres.

Juvenal Amado
08.03.2009


A MULHER

Ó mulher! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando o teu peito,
A tua alma, se esforce amargurada!

Quantas morreram saudosas duma imagem,
Adorada, que amam, que amaram doidamente!
Quantas almas endoidecem
Enquanto a boca ri alegremente.

Quanta paixão e amor às vezes têm,
Sem nunca o confessar a ninguém~,
Doces almas de amor e sofrimento!

Paixão que faria a felicidade
Dum rei: Amor de sonho e de saudade
Que se esvai e foge num lamento.

Florbela Espanca
__________

Notas de CV:

(*) Vd. último poste de Juvenal Amado de 4 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3564: História de Vida (20): Meninos Soldados (Juvenal Amado)
e
último poste da série Estórias de Juvenal Amado de 2 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3162: Estórias do Juvenal Amado (15): Adeus, até ao meu regresso

Vd. último poste da série As nossas mulheres de 6 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3848: As nossas mulheres (7): Eu, a NI e o Miguel em Biambe, para um almoço de batatas fritas (Henrique Cerqueira)

Guiné 63/74 - P4026: Convívios (100): CCS, CCAÇ 2366 e 2367/BCAÇ 2845, a realizar em Maio de 2009 (Albino Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Guiné, 1968/70, com data de 11 de Março de 2009:

Assunto: Convívios das Companhias do BCAÇ 2845

Caro Carlos Vinhal
Através da nossa Tabanca Grande gostaria que aqui fossem vistos os convívios que se irão realizar no mês de Maio com as Companhias do Batalhão de Caçadores 2845, e que junto envio os Emblemas referentes a cada companhia.

Assim:

A CCS é no dia 9 de Maio em Sintra, e os Camaradas interessados devem contactar com ALBINO SILVA pelo telemóvel 963 297 804 para que o pessoal da zona Norte se desloque em Autocarro, a sair de Braga.

Os interessados devem dar desde já o nome para o efeito.



A CCaç 2367 "VAMPIROS", terá lugar no dia 23 de Maio na Quinta dos Três Pinheiros na Mealhada, como no ano passado.

A Organização é de:
Albino Silva
Rua 25 de Abril, 17
Gandra 4740-472
Esposende
Telemóvel 963 297 804


A CCaç 2366 "PERIQUITO ATREVIDO", é no dia 30 de Maio no Restaurante, TAMARGUEIRA, Av. D. João ll - BUARCOS, Figueira da Foz.

A Organização é de:
Albino Silva e Jorge Costa
Telemóvel 963 297 804
Esposende

Dou Informações a quem as solicitar.

Carlos Vinhal, é tudo, agradeço o vosso empenho e aprecio todo o vosso trabalho nesta Tabanca Grande, a qual visito diariamente, fazendo dela o meu primeiro jornal diário.

Continuem com a mesma força, coragem e empenho, pois tudo isto contribui para que esteja sempre operacional e atento a tudo.

Parabéns
Albino Silva
011004/67
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4022: Convívios (98): Encontro dos ex-militares do BCAÇ 2885 em Arganil, dia 7 de Março de 2009 (Jorge Picado)

Guiné 63/74 - P4025: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (2): "Conta-me como foi" ou há mesmo coincidências

1. Mensagem de Helder Valério Sousa(*) (ex-Fur Mil de Transmissões TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de 10 de Março de 2009:

Caros camaradas Editor e co-Editores e restantes membros da Tabanca

Em anexo envio-vos um texto que, caso entendam ser merecedor de publicação, podem utilizá-lo quando acharem mais oportuno.

Trata-se de uma situação real, por mim vivida, e que quase vi decalcada num episódio que passou no último domingo na RTP1.

Ele há cada coisa!

Um abraço do tamanho do rio que escolherem, que mais gostarem.
Hélder Sousa


Hélder Sousa, Fur Mil Trms TSF, algures na Guiné no exercício das suas funções


SERÁ QUE HÁ DETERMINISMO? E COINCIDÊNCIAS?

APRENDER A SER TSF


Tem passado na RTP1, aos domingos à noite, uma série que salvo erro se chama “Conta-me como foi”, que em certa medida retrata a evolução histórica da sociedade portuguesa percorrendo os anos 60 e entrando agora nos anos 70 do século passado.

A história centra-se numa família lisboeta e aparenta ser narrada pelo filho mais novo dessa família, o qual à data frequenta a escola primária e está permanentemente, com dois colegas e vizinhos, arranjando sarilhos, problemas e situações caricatas devido à sua grande curiosidade, espírito inventivo e ansiedade de aprender mais.

A família tem um pai que é (era) funcionário público e ainda biscatava numa tipografia, estando agora a trabalhar no ramo imobiliário (está-se a assistir ao começo do desenvolvimento da construção desregrada), uma mãe que tem vindo a evoluir de dona-de-casa para empreendedora no ramo das modistas, uma avó (mãe da mãe) sempre presente e pronta a ajudar em tudo o que for necessário, um irmão que é estudante universitário, agora em vésperas de poder ingressar no serviço militar, que já se envolveu nos movimentos estudantis, uma irmã que também tem vindo a fazer um percurso no sentido da emancipação da mulher, tendo ido em viajem a Inglaterra contrariando as ordens do pai e experimentando agora a vida de teatro que também é alvo de muitas reacções familiares.

Mas vou ficar por aqui na narrativa e enquadramento da série porque isto, em si mesmo, pode exacerbar os ânimos dos bernardos e argumentarem que não tem nada a ver com o Blogue. Não será bem verdade porque a época retratada é a época vivida por nós, o que pode ser contestado é o percurso narrativo, que podia ser qualquer outro, mas ainda assim, para mim, está muito bem.

Sendo assim, a que propósito é que vem isto?

É que por acaso, no episódio de ontem, quando os três rapazes estavam conversando com um jovem do bairro, que vai embarcar para a Guiné, procuraram saber como depois eles se comunicavam e lá veio a indicação de que seria através dos rádios, através das transmissões. Perguntando daqui, pesquisando dali, o senhor do quiosque arranjou-lhes um livro com o alfabeto morse, falou-lhes do telégrafo e eles foram procurar a ajuda do professor para a melhor forma de tratar do assunto e depois, com a ajuda de alguém que lhes disponibilizou equipamento de telegrafia, inclusive uma chave de morse, lá foram montando umas comunicações para funcionar entre a casa de dois deles.

Pois não é que me revi quase totalmente na situação? E sabem porquê?

Porque quando frequentava o 1.º ano do então Curso de Montador Electricista na Escola Comercial e Industrial de Vila Franca de Xira eu e o meu vizinho do andar de baixo (João Cunha) fizemos quase exactamente o mesmo. Ele tinha um primo que trabalhava nos CTT e que nos arranjou uns equipamentos (chaves de morse e ponteiras de escrita em tambor) que nos permitiu fazer uma ligação entre as nossas casas, através de fios lançados exteriormente e passando pelas janelas. As bobinas foram feitas por mim na Oficina de Electricidade e lembro-me de como tínhamos um conjunto de pilhas que permitiam fornecer a energia necessária.

Foi muito engraçado, tínhamos o conhecimento do código morse e obviamente que o utilizávamos para comunicar coisas que só nós entendíamos, pelo menos nas redondezas isso era verdade. E esses pequenos segredos tornavam-nos importantes.

Não sei exactamente a importância que isso possa ter tido no meu enquadramento na vida militar, se foi alguma predestinação, se aquando dos testes psicotécnicos ter referido o conhecimento do código morse teve algum efeito decisivo, ou qualquer outra coisa, a verdade é que no final da recruta, no 1.º Ciclo do CSM, em Santarém, saiu a minha especialidade e lá estava indicado TSF, assim, simplesmente, e fui o único em todos os elementos que compuseram a 3.ª incorporação de 1969.

Acreditem ou não, na ocasião nada me ocorreu, até porque não estava a ver o que é que aquilo queria dizer, nem me souberam (ou quiseram) informar, apenas quando fiquei com a guia de marcha para o BT (Batalhão de Telegrafistas) é que percebi o que poderia significar e só nessa ocasião é que me veio à lembrança que já tinha sido telegrafista. Sempre é bom treinar!....

Portanto, a questão coloca-se. Há predestinação? Há coincidências?

Um abraço para toda a Tabanca!
Hélder Sousa
Fur Mil
Transmissões TSF
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3981: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (1): Aprender a ser solidário

Guiné 63/74 - P4024: FAP (16): O reencontro, 22 anos depois, de Kurika da Mata com o Marcelino da Mata (Miguel Pessoa)

Lisboa > AFAP - Associação da Força Aérea Portuguesa > 18 de Dezembro de 1995 > O reencontro de dois Mata: Marcelino da Mata (hoje, Ten Cor Ref) e Kurika da Mata (nome de guerra por que também era conhecido o Miguel Pessoa, na BA 12, Bissalanca, Guiné, 1972/74)

Foto: © Miguel Pessoa (2009). Direitos reservados


1. Mensagem do Miguel Pessoa (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/73, abatido por um Strela sob os céus de Guileje, a um domingo à tarde, dia 25 de Março de 1973, e salvo no dia seguinte por um comando que incluiu pára-quedistas do BCP 12 e o grupo do Marcelina da Mata) (*):

Luís

Estava a vasculhar o meu computador (tenho quase todas as minhas fotos digitalizadas) e descobri esta, interessante, tirada em 18 de Dezembro de 1995, na AFAP (Associação da Força Aérea Portuguesa) com um reencontro dos mesmos dois intervenientes de 26 de Março de 1973 - só que, desta vez, o Marcelino [da Mata] não tem catana, só se fosse à mesa sacar uma faca de peixe... (**)

Abraço. Miguel

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 29 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3816: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (5): Strellado nos céus de Guileje, em 25 de Março de 1973 (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav)

Vd. último poste desta série > 11 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4010: FAP (15): Correio com antenas... (António Martins de Matos, ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74)

(**) Há um segundo texto do Kurika da Mata / Miguel Pessoa, sobre este episódio, a publicar neste fim de semana.

Guiné 63/74 - P4023: Memória dos lugares (19): Porto Gole, 1966, muito antes das tristes valas comuns... (Henrique Matos, primeiro cmdt do Pel Caç Nat 52, 1966/68)

 

Guiné > Região do Oio > Mansoa > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68)> Foto nº 3 > "Posto Administrativo onde eu dormia. A porta de saída do meu quarto ficava do lado direito, vendo-se os sacos de areia que faziam protecção ao morteiro 60 que era a minha arma naquela posição. É visível no beiral os efeitos duma morteirada".

 

Guiné > Região do Oio > Mansoa > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68) > Foto nº 2 > Ao centro, o cavalo-de frisa são visível; à esqueda e à direita, os 4 edifícios do aquartelamento. À esquerda o Posto Administrativo que estava desactivado e ao fundo a cozinha, messe e dormitório de graduados. À direita a camarata dos soldados e ao fundo o edificio onde funcionava a enfermaria e o posto de rádio.


 

Guiné > Região do Oio > Mansoa > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68)> Foto nº 1 > Foi tirada na estrada que dá acesso a Porto Gole, podendo ver-se à direita a loja da Casa Gouveia.

 


Guiné > Região do Oio > Mansoa > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68)> Foto nº 4 > Estamos sentado em frente à messe, sendo eu de camisola branca, ao meio o Fur Mil Altino e à dta o FurMil Vaz.


Guiné > Região do Oio > Mansoa > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68)> Foto nº 5 > Temos uma vista da messe para o Geba com Posto de Sentinela e Padrão.

 

Guiné > Região do Oio > Mansoa > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68)> Foto nº 6 > O tal Padrão... Trata-se do um marco comemorativo do V Centenário da chegada do primeiro explorador à Guiné, em Porto Gole, fotografado em 1966. Dizeres, gravados na pedra: "Aqui chegou Diogo Gomes, primeiro explorador da Guiné, no ano de 1456".

 

Guiné > Região do Oio > Mansoa > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68)> Foto nº 7 > A foto mostra um desembarque de tropas já em plena maré vazia.

Fotos (e legendas): © Henrique Matos (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 

Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > O primeiro comandante do Pel Caç Nat 52 (Porto Gole e Enxalé, 1966/68), Henrique Matos, com o Queta Baldé.

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do Henrique Matos, o primeiro comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé e Porto Gole, 1966/68), açoriano de São Jorge, que vive hoje em Olhão (*):

Caro Luís e co-editores (espero que o Briote já esteja em forma)

Andava a pesquisar na blogosfera a biografia de Nino Vieira quando me deparei com várias coisas interessantes e entre elas uma que me chamou particularmente a atenção.

No jornal do PAIGC Nô Pintcha de 29/11/1980 escreve-se: "Em seis anos de independência total da nossa terra, 500 pessoas foram fuziladas sem julgamento e enterradas em valas comuns nas matas de Cumeré, Porto Gole e Mansabá". (**)

Neste jornal tenta-se imputar a responsabilidade pelos massacres a Luís Cabral, o ex-presidente que já estava preso na Fortaleza da Amura, e a António Alcântara Buscardini que tinha sido responsável pelos Serviços de Segurança e que fora assassinado uns dias antes, ou seja, a 14 do mesmo mês, dia em que Nino Vieira levou a cabo o golpe de Estado que fracturou definitivamente o PAIGC.

Omite-se porém que, quando ocorreram os massacres, Nino Vieira era o responsável pelas forças armadas na qualidade de Comissário de Estado.

Mas não venho aqui analisar a personalidade de Nino Vieira e o que me levou a escrever este apontamento foi que estava longe de imaginar que o Porto Gole que conheci, seria mais tarde o inferno para muita gente que andou ao meu lado. E a pergunta que fica é: porquê Porto Gole?

No meu tempo esta povoação era apenas constituída por 4 edifícios ocupados pela tropa, 2 casas comerciais (uma delas da Casa Gouveia) e uma tabanca maioritariamente habitada por elementos da polícia administrativa comandada pelo Cap de 2ª linha Abna Na Onça.

Em termos militares era um destacamento da companhia baseada no Enxalé, constituído pelo meu pelotão reforçado com uma esquadra de morteiro 81 e a referida polícia administrativa com cerca de 20 elementos.

Por outro lado pode-se dizer que estava estrategicamente bem localizado pois ficava à beira do Geba, com facilidades de embarque/desembarque, e tinha logo a norte a célebre mata do Oio(***). Por isso mesmo ali se concentravam as tropas para operações de maior envergadura naquela mata.

Anexo 7 fotografias de Porto Gole que existiu antes, muito antes, das valas comuns...

A 1ª foi tirada na estrada que lhe dá acesso podendo ver-se à direita a loja da Casa Gouveia;

Na 2ª do cavalo-de frisa são visíveis os 4 edifícios do aquartelamento. À esquerda o Posto Administrativo que estava desactivado e ao fundo a cozinha, messe e dormitório de graduados. À direita a camarata dos soldados e ao fundo o edificio onde funcionava a enfermaria e o posto de rádio;

A 3ª é do Posto Administrativo onde eu dormia. A porta de saída do meu quarto ficava do lado direito, vendo-se os sacos de areia que faziam protecção ao morteiro 60 que era a minha arma naquela posição. É visível no beiral os efeitos duma morteirada;

Na 4ª estamos sentado em frente à messe, sendo eu de camisola branca, ao meio o Fur Mil Altino e à dta o FurMil Vaz.

Na 5ª temos uma vista da messe para o Geba com Posto de Sentinela e Padrão.

Na 6ª o tal Padrão.

A 7ª mostra um desembarque de tropas já em plena maré vazia.

Nota: Poderá haver nesta descrição algum pequeno lapso. Passaram-se 42 anos e não tenho memória de elefante.

Aos nossos queridos editores fica como sempre a liberdade de fazerem disto o que bem entenderem.

Abraços a todo o pessoal da tabanca Henrique Matos
____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes do Henrique Matos:

14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2105: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (1): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte I)

14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2107: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (2): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte II)

6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2158: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (3): O famigerado granadero do Enxalé, da CCAÇ 1439 (1965/67)

11 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2173: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (4): O capitão de 2ª linha Abna Na Onça, régulo de Porto Gole

(...) Capitão de 2ª linha Abna Na Onça (...) era régulo de Porto Gole (não do Enxalé) e comandava a Polícia Administrativa, um grupo de pouco mais de 20 elementos que tinha uma farda esverdeada e estava armada com Mauser. Era um homem muito respeitado, não me esqueço que os soldados do [Pel Caç Nat ] 52 o tratavam por pai. Morreu em Bissá (ele e muitos outros), um chão balanta dominado pelo IN, onde alguém se lembrou de montar um destacamento sem o mínimo de condições (...).


Vd. post de 1 Maio de 2005 > Guiné 69/71 - X: Memórias de Fá, Xime, Enxalé, Porto Gole, Bissá, Mansoa (Abel Rei)

18 de Outubro de 2007 >Guiné 63/74 - P2191: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (5): O baptismo de um periquito no Enxalé

23 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2376: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (6): Insularidade e solidariedade no Natal dos açorianos

31 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2392: Memórias dos Lugares (3): Porto Gole (Henrique Matos, Pel Caç Nat 52, 1966/68)

Vd. também poste de 22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)(...)

Em 10 de Agosto de 1966 (recordo-me por ter sido 4 dias após a inauguração da Ponte sobre o Tejo, então Salazar) embarquei para a Guiné no Rita Maria, na chamada rendição individual. Depois Bolama, que foi o meu curto IAO, onde já me esperava o Pel Caç Nat 52, composto por pessoal metropolitano (Furriéis Milicianos Vaz, Altino e Monteiro e 1ºs Cabos Cunha, Castanheira e Pires) e o restante pessoal do recrutamento local englobando três 2ºs Cabos (um era caboverdiano, penso que se chamava Félix).Passados alguns dias, saímos numa LDM para o Enxalé, ficando em reforço à CCAÇ 1439, independente, de madeirenses, adstrita ao BCAÇ 1888, sediado em Bambadinca (...).

(**) Vd. poste de 13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2839: Ainda os Comandos fuzilados a seguir à independência (I): O Justo Nascimento e os outros (Carlos B. Silva / Virgínio Briote)

(***) Vd. também poste de 31 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2392: Memórias dos Lugares (3): Porto Gole (Henrique Matos, Pel Caç Nat 52, 1966/68)

quinta-feira, 12 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4022: Convívios (99): Encontro dos ex-militares do BCAÇ 2885 em Arganil, dia 7 de Março de 2009 (Jorge Picado)

1. Mensagem de Jorge Picado(*), ex-Cap Mil (Eng Agrónomo, na vida civil, reformado, Aveiro): CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, (1970/72), com data de 9 de Março de 2009:

Caros Luís, Vinhal e Briote

Neste passado sábado dia 7, realizou-se mais um almoço convívio dos ex-combatentes que pertenceram ao BCaç 2885, que esteve no Sector 04 com sede em Mansoa de 14MAI69 a 14FEV71.

Esta reunião de confraternização decorreu em Mont' Alto, no concelho de Arganil, tendo comparecido numerosos camaradas, muitos deles acompanhados dos seus familiares.
Do que se passou com os componenetes das outras Sub-Unidades, outros falarão e é muito possível que num novo Blogue, de que tive conhecimento nos últimos dias do mês passado ou inícios deste, a descrição seja mais completa.

Aproveito para dar a conhecer esse Blogue, que está numa fase inicial e foi criado pelo camarada de armas, António Manuel Mendes Rodrigues ex-1.º Cabo da CCaç 2587. Esta CCaç, aquando da minha chegada a Mansoa, deixou a missão de intervenção naquela área, por troca com a recem chegada CCaç 15 (Companhia Balanta) e foi para a área de Porto Gole render a CArt 2411. Por este motivo nunca tive qualquer contacto com esses camaradas de Batalhão.

O Blogue é batalhaocacadores2885.blogspot.com

Foi com enorme prazer que confraternizei com camaradas que já não via desde MAR05, único encontro de que tive conhecimento, mas outros só agora voltei a encontrar.

Da CCaç 2589, que comandei durante um ano, compareceram 33 resistentes e um "ex-faxina" nativo que era então uma criança. É muito provável que deste encontro resultem finalmente novos desenvolvimentos que espero se venham a reflectir na entrada de algum para a Tabanca.

Para já envio umas fotografias com algumas notas explicativas. Se forem de qualidade para serem publicadas aproveitem. Caso contrário já sabem que não fico aborrecido se o não fizerem.

Não vai a do grupo porque quero primeiro obter a identificação completa de todos os elementos.


Foto 1 - Com aquele que tantas vezes me conduziu no jeep, Carlos Costa ex-1.º Cb CAR à minha direita e o Francisco Assude ex-Alf Mil do 3.º GComb, que praticamente fez toda a comissão apenas com uma secção, à minha esquerda, rememorando factos passados há 39 anos.

O meu antigo condutor, um nortenho, como a grande maioria do pessoal da 2589, é agora um pequeno empresário de venda de peixe, com uma pequena frota de carrinhas frigoríficas de venda ao domicílio.

O Francisco Dias Corado Assude, alentejano de Campo Maior, que já tinha concluído o antigo Curso de Regente Agrícola quando foi para a Guiné e, que quando se me apresentou, eu lhe perguntei se era familiar dum colega meu (Corado), nessa época Inspector da 4.ª Zona Agrícola (Alentejo e Algarve), como de facto verifiquei, é aposentado como eu do Ministério da Agricultura e foi o único com quem contactei depois do regresso à Metrópole, fruto das múltiplas reuniões de serviço que nos levavam a Lisboa. Porém, nunca aí abordámos o nosso passado militar, de tal forma que só agora tomou conhecimento das minhas andanças posteriores ao seu regresso.

Dado encontrar-se em Braia, aquando da emboscada de 12OUT70 (como referi no P2807 de 03MAI08), comandou aqueles que primeiro responderam e chegaram em auxílio dos camaradas de Infandre. Entreguei-lhe a documentação retirada do Blogue sobre o assunto (bem como a outro camarada, “Avintes” um ex-1.º Cabo que manuseava o Morteirete) e pedi-lhes que fizessem uma leitura e se tivessem achegas ou correcções a fazer que as fizessem.


Foto 2 - Quessama Mante, alcunhado de “Bombardeiro” pelos militares que passaram pelo Destacamento de Infandre, era uma das muitas crianças (teria 10 anos?) daquele reordenamento que faziam faxinas por lá e iam usufruindo da comida, ao mesmo tempo que frequentavam a escola dada pelo Victor Vieira (ex-1.º Cabo) que ensinou muitos rapazes e meninas dali. Este pertencia à tabanca de Enchanque, um pouco a Sul da de Infandre, nas bolanhas do Rio Mansoa.

Vive agora na Amadora, vai para 5 anos e foi o António Ramos (ex-Fur Mil do 3.º GComb) que o trouxe. Naturalmente que não me reconhecia, mas àqueles que viveram neste Destacamento, recordava-se de muitos deles.

O Francisco Assude prestava-me estes esclarecimentos.


Foto 3 - O meu reencontro, 38 anos depois, com o ex-Alf Mil MA Alfredo Montezuma, do Pel de Sap da CCS a que pertenceu o camarada da Tabanca César Dias. Parece que vamos ter um novo membro nesta nossa Tabanca, já que este camarada garantiu-nos que ia tomar contacto com o Blogue e alinhavar algumas recordações.

Fiquei a saber que me tratavam, ele, o José Vieira (ex-Alf Mil Trms) e o Jorge Moisir Pires (ex-Alf Mil Mec), com quem mais convivi em Mansoa porque os da 2589 “paravam pouco na sede”, por Cap “Patinhas” por ser o mais velho do grupo.


Foto 4 - Neste grupo há um “intruso”. O da esquerda, César Dias,não era da 2589, os outros são respectivamente: Pereira da Silva ex-Fur Mil Op Esp (veio da 26.ª CCmd em JUN70 para substituir o ex-Fur Mil Carlos Gonçalves do 4.º GComb, evacuado para o HMP em 30JAN70); Luís Manso ex-Alf Mil e 1.º Cmdt do 4.º GComb (passou aos Serviços Auxiliares por motivos de saúde, ingressando na 4.ª Rep/QG/CTIG antes de ABR70); o já identificado Francisco Assude.


Foto 5 - Dois ex-1.ºs Cabos não pertencentes ao mesmo GComb, mas que muito foguearam em conjunto, com armas diferentes.

O Victor Vieira, de Trms, mas que praticamente só utilizou G3, chefiou uma Secção do 4.º GComb por ausência de Fur e, depois da estadia em Porto Gole, foi colocado no Infandre com a missão de “nas horas de folga da guerra” exercer a missão de professor do Posto Escolar Militar criado neste reordenamento para as crianças da zona. O Quessama Mante que compareceu (ver fotos 1 e 3) foi um dos seus instruendos.

Quando da emboscada de 12OUT70 encontrava-se de férias na Metrópole, mas participou na acção, entre Claquelala e Uanquelim junto do Rio Uenquem, em que o Régulo Iero, com quem se dava muito bem, foi raptado e, o ex-Alf Mil José Martinez do 1.º GComb se livrou dessa sorte, porque também estava incluído.

Segundo agora nos esclareceu o Quessama, perante a dúvida levantada pelo Assude (que sempre se convenceu que tinha sido o Iero, obrigado naturalmente a tal, quem tinha “orientado” a emboscada do Infandre), o Régulo foi morto logo depois do IN ter passado a bolanha de Uanquelim para os lados de Namedão, cortando-lhe a cabeça, que levaram como prova da sua morte, para apresentarem aos chefes no Morés. Isto foi transmitido pelos próprios guerrilheiros, após o regresso às tabancas, depois de terminada a guerra.

O José Santos, à direita, conhecido simplesmente por “Avintes” (assim chamado pela sua origem, mas cujo apelido já vinha da vida civil por assim ser conhecido como futebolista que foi), era do 1.º GComb do ex-Alf Martinez e um excelente executante do Morteirete (Mort 60). Colocava as granadas com uma precisão espantosa e confessou-me, que mais de uma vez teve de largar o tubo, por não o aguentar nas mãos, sempre que o número de disparos seguidos era grande em diversos encontros que tiveram.

Além desta sua habilidade era um dos pilares da equipa de futebol da CCaç que ganhava os torneios do BCaç e foram jogar a Bissau.

Eu lembrava-me muito bem de no meu tempo ser assim e recordo que, além deste, jogava o ex-Sold Pires (jogador do Salgueiros) e o ex-Cabo Esc Damas (Lisboeta). Pelo menos destes dois lembro-me, porque faziam parte da equipa do Clube de Futebol “Os Balantas”, o grupo de Mansoa equipado de camisola azul por ser a filial guineense do Belenenses e que disputava os Campeonatos Oficiais.

Um abraço
Jorge Picado
__________

Notas de CV:

(*) Vd. último poste de Jorge Picado de 3 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3976: (Ex)citações (18): Amílcar Cabral, todos os dias, todas as horas, estás sendo assassinado (Jorge Picado)

Vd. último poste da série de 4 de Março > Guiné 63/74 - P3980: Convívios (97): Pessoal da CCAÇ 816, Estalagem Zende, dia 9 de Maio de 2009 em Esposende (Rui Silva)

Guiné 63/74 - P4021: História do Grupo de Artilharia N.º 7 (Bissau) (TCor José Francisco Robalo Borrego)

Mensagem de José Francisco Borrego, Ten Cor na Reserva, que pertenceu ao Grupo de Artilharia n.º 7 de Bissau e ao 9.º Pel Art, Bajocunda (Guiné, 1970/72), com data de 8 de Março de 2009:

Assunto: HISTÓRIA DO GA N.º 7 - BISSAU (SANTA LUZIA)

Caríssimo Carlos Vinhal,
espero que te encontres bem na companhia da excelentíssima família. Eu fico bem, graças a Deus.

Venho novamente incomodar-te com mais uma edição, respeitante à nossa sempre Guiné!
Penso que muitos artilheiros vão ficar satisfeitos por saberem como foi a evolução do GA N.º 7!

À falta de melhor, junto também uma foto do brasão de armas da Bateria de Artilharia Campanha n.º 1 (BAC 1), antecessora do GA N.º 7.

Recebe um abraço amigo e de consideração do
JOSÉ BORREGO
TCOR (RES)


Brasão de Armas da Bateria de Artilharia de Campanha N.º 1 (BAC 1), antecessora do Grupo de Artilharia N.º 7 (GA 7)


1. O GA 7 estava aquartelado em Bissau (Santa Luzia), sendo uma Unidade de Guarnição Normal a que tive a honra de pertencer durante 27 meses (13JUL70 a 30OUT72) e teve como antecedentes as seguintes Unidades:

Bateria de Artilharia de Campanha (BAC);
Bateria de Artilharia de Campanha n.º 1 (BAC 1);
Grupo de Artilharia de Campanha n.º 7.


Comandantes de Bateria:

Cap Artª António Soares Fernandes;
Cap Artª Carlos Rodrigues Correia;
Cap Artª José Júlio Galamba de Castro;
Cap Artª João Carlos Vale de Brito e Faro;
Cap Artª Ernesto Chaves Alves de Sousa;
Cap Artª José Augusto Moura Soares.

Divisa: Os Olhos na Pátria e a Pátria no Coração


Criação da Bateria de Artilharia de Campanha (BAC)

A sua criação é anterior a 01JAN61. Era uma subunidade de guarnição normal e foi constituída por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local, estando enquadrada nas forças do CTIG então existentes.


Síntese da Actividade Operacional

Inicialmente, destacou efectivos para guarnecer algumas localidades até à chegada de forças de Caçadores, nomeadamente para Bissorã, de finais de ABR61 a meados de AGO61; para Mansabá, de finais de ABR61 a princípios de NOV61 e para Enxalé, de princípios de JUN61 a princípios de NOV61.

Após ter destacado Pelotões de Material 8,8cm para Mansabá, a partir de 01OUT63, para Bissorã, em 06NOV63, para Olossato, a partir de 24DEZ63 e para Catió, a partir de 04FEV64 – este destacamento, inicialmente, para apoio da Operação Tridente, nas ilhas de Como, Caiar e Catunco.


Formação de Pelotões

Continuou a formar Pelotões para atribuição em apoio de fogos a diversas guarnições. Assim, constituiu durante o ano de 1964 mais três Pelotões, em 1966 mais seis Pelotões, dos quais, três de material 11,4cm e em 1967 mais três Pelotões, estes de material 14cm.


Criação da Bateria de Campanha n.º 1 (BAC 1)

Em 01ABR67 a subunidade BAC passa a designar-se Bateria de Campanha n.º 1. A partir de 1968 os Pelotões de 8,8cm passaram a ser equipados com material de 10,5cm, tendo ainda sido formados mais sete Pelotões de 10,5cm e mais quatro pelotões de 14cm, um dos quais, por extinção de um pelotão de 11,4cm.


Localização dos Pelotões

A localização dos Pelotões foi caracterizada fundamentalmente pela capacidade de actuação sobre as linhas de infiltração do IN e de reacção aos ataques sobre os aquartelamentos fronteiriços, como S. Domingos, Guidage, Cuntima, Buruntuma, Cabuca, Aldeia Formosa, Guilege e Cameconde, entre outras e para prolongar as acções de fogo sobre as áreas de refúgio tradicionais do Morés, Tiligi, Caboiana, Quínara, Tombali e Cubucaré, entre outras. Em 01JUL70, a subunidade foi extinta e os seus meios e tradições históricas foram transferidos para o GAC 7, então criado.


Criação do Grupo de Artilharia n.º 7 (GAC 7)

Comandantes:

TCOR ARTª António Luís Alves Dias Ferreira da Silva;
TCOR ARTª António Cirne Correia Pacheco;
TCOR ARTª Martinho de Carvalho Leal;
MAJ ARTª José Faia Pires Correia.

2.ºs Comandantes:

MAJ ARTª João Manuel Melo Mexia Leitão;
MAJ ARTª José Joaquim Vilares Gaspar;
MAJ ARTª José Faia Pires Correia;
CAP ARTª Jaime Simões da Silva.


Síntese da Actividade Operacional

O GAC n.º 7 foi criado em 01JUL70, a partir dos meios de artilharia da BAC 1, os quais já englobavam, na altura, 114 bocas-de-fogo constituídas em 27 Pelotões, dos quais 16 pelotões eram de material 10,5, 2 Pelotões de 11,4cm e 9 pelotões de 14cm.

Posteriormente, foram ainda organizados mais um Pelotão de 10,5cm, em 1972, e em 1973, mais um Pelotão de 8,8cm, outro de 10,5cm e dois Pelotões de 14cm.

Na sequência da missão da BAC 1, continuou a exercer o comando e controlo técnico dos diferentes Pelotões colocados em apoio de fogos das diversas guarnições do interior, tendo comandado e coordenado diversas acções de fogo sobre bases inimigas situadas junto da fronteira. Comandou e coordenou ainda a actividade das subunidades de Artilharia Antiaérea.


Criação e Extinção do Grupo de Artilharia n.º 7

Em 14NOV70, passou a designar-se Grupo de Artilharia n.º 7, a fim de harmonizar a sua designação com o comando e controlo das baterias de Artilharia Antiaérea, entretanto colocadas no CTIG, de acordo com despacho ministerial de 11AGO70.

Após a recolha dos Pelotões existentes, de acordo com o plano de retracção do dispositivo, a Unidade foi desactivada a partir de 02SET74, tendo sido posteriormente extinta.


2. Dedico esta pesquisa a todos os Artilheiros de Campanha, que pertenceram às Unidades acima identificadas e que em Bissau ou no mato cumpriram as missões superiormente definidas.

Linda-a-Velha, 08 de Março 2009

Saudações Artilheiras e um abraço fraterno,
JOSÉ BORREGO
TCOR (RES)

(Fonte: 7.º Volume. Tomo II Guiné)
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Nota de CV

Vd. último poste de José Borrego de 14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3893: Tributo aos nossos Sargentos do QP que mantinham as contas em dia (José Francisco Borrego)

Guiné 63/74 - P4020: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (11): Bula, foguetões e confusões no abrigo

1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 8 de Março de 2009:

Carlos Vinhal
Para desanuviar um pouco dos Jornalistas e do Ninos, segue uma estória que talvez o consiga

Um abraço a todos
Luis Faria



Bula - Foguetões

A 28 de Janeiro de 1971 o IN resolveu agradecer e retribuir as nossas visitas a Ponta Matar ofertando-nos simpaticamente com uma espécie de fogo de artifício, festa a que o pessoal da Artilharia se juntou e respondeu educadamente com os seus obuses, conseguindo-se uma chinfrineira das antigas com cantares à desgarrada!!

O quartel de Bula situava-se num dos extremos da Vila, mais propriamente no extremo Oeste, início da estrada Bula - Teixeira Pinto. Daí que, julgo por não quererem que a população que lhes seria próxima entrasse nos festejos, o IN não facilitou e os foguetões 122 ultrapassaram em pouco o quartel e caíram próximo! Valeu o susto.

Como referi no Post anterior, nesse dia o Urbano, Fur Enf concedeu-me o tal único dia de balda prometido pelo que, desenfiado aos patrulhamentos e emboscadas, fiquei pelo quartel e Vila procurando fugir da vista do Cap Mamede e do Ten Cor Andrade, Comandante do Batalhão.

Estava no bar a tomar uma bebida, fazendo horas para a janta, quando um rebentamento estranho me faz correr para o quarto, apanhar a G3 e cinturão com os carregadores e arrancar sem objectivo, já que o meu GComb assim como os outros dois estavam fora do quartel. A rapaziada do Batalhão parecia coelhos a correrem para posições de defesa e abrigo.

Saído do bloco dos quartos e ao entrar na parte cimentada por detrás do palco de espectáculos, parece-me ouvir uma espécie de assobio forte, vejo o Cap Mamede a correr em direcção ao abrigo dos oficias e a olhar para o ar empunhando a sua pequena pistola Walter civil, como que tentando avistar o projéctil para calcular a trajectória e o ponto de impacto. Achei curiosa esta cena.

Ao ouvir aquele som, penso que o projéctil que julguei ser de morteiro 120 ia cair perto e... atiro-me em voo para a frente procurando a protecção de uma árvore existente e de um murete, local onde o barbeiro por vezes exercia a profissão.

O estrondo do rebentamento dá-se e então reparo que aterrei exactamente no meio da cabelagem que o barbeiro, sem tempo para a apanhar, tinha deixado em monte.

Cuspidos e sacudidos os cabelos, há que levantar e dirigir-me para o abrigo. Chegado lá constato que está superlotado e coisa estranha, um magote de militares aglomera-se em jeito de formação raguebiana parecendo forçar a entrada. Coisa esquisita!!! Até porque de pouca ou nenhuma protecção usufruíam. Procuro outro poiso.

Acabada a flagelação vejo que da entrada do abrigo saem também... duas mulheres brancas! Afinal, aquele magote estaria altruisticamente a tentar protegê-las, digo eu!

Bula > Luís Faria no seu quarto

Bula > Mercado

Fotos e legendas: © Luís Faria (2009). Direitos reservados

Um abraço a todos
Luís Faria
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Nota de CV

Vd. último poste da série de 20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3918: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (10): Bula-Janeiro de 1971

Guiné 63/74 - P4019: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (6): Estrada nova Buba - Aldeia Formosa



A Estrada Nova
Manuel Traquina(*)

Havia pouco tempo que o General António Spínola, tinha sido nomeado Governador e Comandante Chefe das Forças Armadas da Guiné. Tinha chegado àquela colónia meses antes, acompanhado de alguns militares de sua confiança, entre eles o Major Carlos Fabião, que logo foi nomeado Comandante Operacional da Zona de Buba, designada por COP 4.

Foi nesta época que se começou a idealizar uma nova estrada entre Buba e Aldeia Formosa. A estrada antiga era bastante sinuosa, atravessava uma zona pantanosa e dois cursos de agua, que na época das chuvas se tornavam bastante difíceis de transpor. À partida o traçado da nova estrada trazia algumas vantagens, fugia de zonas pantanosas e era mais em linha recta, no entanto era necessário penetrar na floresta virgem.

No início do ano de 1969 começaram a desembarcar em Buba as Buldozers da Engenharia e muitos trabalhadores. Pouco depois, debaixo de fortes medidas de segurança, dava-se início aos trabalhos. Todos os dias máquinas e trabalhadores regressavam a Buba, para no dia seguinte voltarem ao local de trabalho. Os trabalhadores em número de 1500, cuja missão era capinar uma extensão de 50 metros dos dois lados ao longo da estrada, tinham sido “recrutados à força” na zona de Bissau, não estavam habituados à guerra e tinham que ser vigiados, caso contrario evadiam-se. Ao mais pequeno sinal de perigo, num todo, desatavam a correr e só paravam em Buba…

Certo dia, ao proceder à habitual pesquisa do terreno, os nossos soldados depararam com o desenho de um cemitério no meio da estrada, tinha campas, cruzes, e até flores, uma inscrição em letras grandes dizia “ Este é o vosso destino cães brancos”.

Depois de muito trabalho, muitos sacrifícios, alguns mortos e feridos, a estrada de terra batida foi concluída, porém revelou-se mais insegura que a antiga e, as poucas colunas que por ali se efectuaram, tiveram um resultado desastroso em termos de segurança. As terras movimentadas constituíam bons abrigos para o inimigo montar emboscadas, e também no novo piso era mais fácil montar e disfarçar minas. Assim esta estrada foi considerada inoperacional, voltando-se à antiga estrada (na Foto) que sendo um trajecto mais difícil oferecia mais segurança.

(*) Ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3855: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (5): As colunas Buba-Aldeia Formosa