segunda-feira, 12 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6145: (Ex)citações (67): A tragédia de Fajonquito: o Almeida estava mesmo disposto a acabar com a vida, a dele e a do capitão (Cherno Baldé)

1. Comentário ao poste P5938 (*), com data de hoje, assinado pelo nosso amigo, Cherno Baldé, natural da Guiné-Bissau e membro da nossa Tabanca Grande:

Os comentários à volta da tragédia de Fajonquito e as informações neles contidas reavivaram a minha memória trazendo de volta alguns elementos interessantes. Lembro-me de ter comido (ao jantar?),  no refeitório nesse dia de Páscoa (2 de Abril 1972) ou na véspera, um prato de arroz doce. Era atípico e inabitual entre nós, parecia mesmo uma provocação dos cozinheiros. Eu e os demais colegas, todos rafeiros experimentados, não tinhamos apreciado aquele mescla de arroz branco com açúcar, puààh...E mais, tinham-nos dito que era um dia de festa.Agora sei que foi num dia de Páscoa.

Depois do "acidente",  ou melhor, do homicidio, a versão que circulou e ficou até hoje entre a população nativa é bem diferente daquela que estou a ler agora na maior parte dos comentários. Pela versão que prevaleceu entre nós, alegadamente, o Soldado Almeida estava revoltado por não poder voltar à sua terra após várias comissões de serviço, em virtude de um castigo a que estava sujeito. Tinha decidido acabar com a sua vida e, com ele, também, a do comandante da companhia. Claro que isto faz parte dos rumores que circularam, na ausência de informacoes oficiais, na altura.

Quero dizer a quem me quiser ouvir,e isto por minha conta, que o Almeida era um soldado "profissional",  muito aguerrido,  que dificilmente poderia levar uma vida civil pacata no meio indígena ou gerindo uma lojeca ou um restaurante para servir a malta europeia numa cidade qualquer da Guiné. O Almeida não era um soldado vulgar e via-se claramante que não se tinha integrado na companhia dos restantes soldados milicianos  (sic) pelos  quais ele nutria muita pouca consideração e/ou respeito.Tão pouco se podia integrar no meio dos pretos embora se identificasse com eles. 

Penso que, antes de mais, o nosso amigo Ameida (ele era de facto um amigo e defensor das crianças que frequentavam o aquartelamento: ai de quem se atrevesse a fazer mal a uma crianca na sua presença!) deve ter sido mais uma das inúmeras vitimas daquela guerra terrivel.
Cherno AB (Chico de Fajonquito) 

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]

_____________

Nota de L.G.:


6 comentários:

Juvenal Amado disse...

Meu caro Cherno e demais camaradas que já escreveram sobre essa tragédia.

A versão do Cherno é a que se aproxima do que eu ouvi na altura, pois estava no Xime, quando a coluna chegou com os quatro caixões.
De facto o que circulou sobre o caracter intempestivo do Almeida, bem como as várias comissões que ele já tinha feito. Situação agravada após castigo que prolongaria a actual ,teria sido a causa da sua atitude nessa tragédia.

A avaliação psicológica dos militares em campanha era coisa que se existia era pontual.

Depois resolvia-se a situação com um "morreram pela Pátria"

Um abraço

Juvenal Amado

Anónimo disse...

Caros camaradas,
O número mecanográfico do Almeida termina em 68 e foi mobilizado pelo RI5. Foi, portanto, incorporado em 68 (com os furriéis e alferes nem sempre isto acontecia - o meu número mecanográfico acaba em 66 - inspecção militar - e só fui para o CISMI em 68). Estaria, quando muito, numa segunda comissão. Mas não me parece que em Abril de 72 pudesse estar no fim da comissão. Mesmo que tenha feito a recruta logo no primeiro turno de 68, só em Junho estaria "pronto". Considerando mesmo que imediatamente fora mobilizado, em ou Julho de 70 teria acabado a 1.ª comissão. E começava imediatamente a 2.ª comissão, de tal modo que,logo no início de Abril já brigava com o capitão porque queria ficar na Guiné ou, na outra versão, se queria vir embora?
Um abraço,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Não sei nada de justiça militar, mas não me parece crível, à luz do RDM, que alguém pudesse apanhar uma "porrada" desse tipo: fazer outra comissão, "por castigo"... Quando muito, apanhava prisão e ia parar unma presídio militar...

O José Bebiano, que sei que vive em Moura (onde foi professor de educação física, se não me engano), poderá vir a esclarecer-nos este mistério. O Almeida, natural de Portel, era da sua companhia.

Luis Graça

Anónimo disse...

Não sei nada de justiça militar, mas não me parece crível, à luz do RDM, que alguém pudesse apanhar uma "porrada" desse tipo: fazer outra comissão, "por castigo"... Quando muito, apanhava prisão e ia parar unma presídio militar...

O José Bebiano, que sei que vive em Moura (onde foi professor de educação física, se não me engano), poderá vir a esclarecer-nos este mistério. O Almeida, natural de Portel, era da sua companhia.

Luis Graça

Anónimo disse...

Nenhuma das versões me parece convincente.As "porradas" não
tinham esse efeito.O que podia
acontecer era não regressar nem
passar à Disponibilidade enquanto
houvesse um Processo pendente.
Ficavam por Bissau.Tal aconteceu
ao Alf.Correia meu antecessor em
Missirá.Também não existia nenhuma
proibição de permanecer na Guiné,
como civil.Por exemplo o Furriel
Tavares,que esteve comigo em Fá,
ficou.

Jorge Cabral

+

Anónimo disse...

Nenhuma das versões me parece convincente.As "porradas" não
tinham esse efeito.O que podia
acontecer era não regressar nem
passar à Disponibilidade enquanto
houvesse um Processo pendente.
Ficavam por Bissau.Tal aconteceu
ao Alf.Correia meu antecessor em
Missirá.Também não existia nenhuma
proibição de permanecer na Guiné,
como civil.Por exemplo o Furriel
Tavares,que esteve comigo em Fá,
ficou.

Jorge Cabral

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