domingo, 23 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6458: Meu pai, meu velho. meu camarada (21): Expedicionário no Mindelo, S. Vicente, 1941/43, 1º Cabo Inf Luís Henriques (4): O Hino do 5º de Infantaria (Luís Graça)



Luís Henriques (nascido a 19 de Agosto de 1920, na Lourinhã) é mobilizado para Cabo Verde durante a II Guerra Mundial (*). 1º Cabo Inf, nº 188/41, 1º Pelotão, 3ª Companhia, 1º Batalhão, Regimento de Infantaria nº 5 (Caldas da Rainha). À partida para Cabo Verde, no Mouzinho ou no Serpa Pinto (ele já não se lembra bem), no Cais da Rocha Conde de Óbidos, os expedicionários do RI 5 desfilaram perante Salazar e o Ministro das Colónias, Francisco Machado  (Francisco José Vieira Machado, 1898-1972,  que, por sinal, era natural da Lourinhã, ou, pelo menos, era um grande proprietário agrícola no concellho, em Ribeira dos Palheiros, foi Ministro das Colónias, entre 1936 e 19)... E a marchar, perante a tribuna de honra,  perdeu o salto de uma das botas, preso na calha do caminho de ferro ou do elétrico...


Sobre o Historial do RI 5, vd sítio da Escola de Sargentos do Exército (por também passei eue e muitos outros camaradas deste blogue).


O meu pai esteve no Mindelo, S. Vicente, entre Julho de 1941 e Setembro de 1943 (**). Neste episódio, canta o "Hino do 5º de Infantaria"... Cerca de 5 mil estiveram em S. Vicente e em Santiago, na iminência de um ataque às Ilhas de Cabo Verde, por parte quer dos Aliados quer Alemães ou dos Italianos... Seis vezes mais estiverama estaccionados nos Açores, nesta época.  Ainda há dias encontrei um amiga dos meus filhos, cujo avô, Mário Arsénio Nunes (também tio do meu professor de História do Movimento Operário e do Sindicalismo, João Arsénio Nunes, no Curso de Sociologia do ISCTE, que terminei no ano lectivo de 1979/80), foi Alferes Médico em S. Vicente, na mesma altura em que lá esteve o meu pai (e, curiosamente, o Amílcar Cabral, enquanto estudante do Liceu do Mindelo). Mario Moura Bras Arsénio Nunes (1919-1977) foi um notável especialista de medicina legal e professor da FM/UL.


O meu pai  fala de um médico, anti-salazarista, que lhe deu alta, ao fim de quatro  meses de internamento (por problemas pulmonares),  no hospital militar local, já no final da comissão, com o seguinte argumento: "Com 26 meses de Cabo Verde, já estás farto de engolir pó!"... Fala-me também, com emoção, dos camaradas que lá morreram, por doença. Bem como das vítimas da fome de 1942, que se fez sentir em todo o arquipélago...  O Dr. Mário Arsénio Nunes foi logo mobilizado, mal acabou o curso de medicina...


Vídeo: 4' 47'' © Luís Graça (2010). Alojado em You Tube > Nhabijoes






Caldas da Rainha > "15/7/41. A despedida das tropas expedicionárias de Cabo Verde. R.I. 5, Caldas da Rainha. Luís Henriques"


Foto: © Luís Graça (2010). Direitos reservados




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Notas de L.G.:


(*) Vd.poste de 29 de Setembro de 2009 >  Guiné 63/74 - P5029: Meu pai, meu velho, meu camarada (16): Expedicionário no Mindelo, S. Vicente,1941/43,1º Cabo Inf Luís Henriques (3) (Luís Graça)



6 comentários:

José Marcelino Martins disse...

É extraordinária a forma como os portugueses encaram as adversidades.

No curto espaço de 60 anos, Porugal envia os seus militares, em maior número, para as colónias.

I Grande Guerra 1914-1918
II Guerra Mundial 1941-1943 (a)
Guerra Colonial 1961-1974
(a)datas da nossa intervenção.

No mínimo 3 gerações estiveram relacionadas com a defesa do que era convencionado chamar "multi-"muita coisa"".

É realmente extraordinária a presença, firme e estoica, de alguem que, depois de ter participado numa operação que envolveu grande risco, depois de ter visto partir o filho para a guerra, recorda factos passados há 60 anos.

Não há dúvida: Soldado uma vez, Soldado sempre.

Com grande respeito pela figura retratada, o meu abraço filial

José Martins

Luís Graça disse...

70 anos, meu velho... amigo e camarada. Também falas do que sabes...LG

Luís Graça disse...

Sobre Vieira Machado e a história do BNU, vd.


http://www.cgd.pt/Site/Patrimonio-Historico/Noticias/Estudos/Documents/Estudo-Historia-BNU.pdf

O Ministro das Colónias entre 1936 e 1944 (sucedeu-lhe depois Marcelo Caetano) era natural de Lisboa, e não da Lourinhã... Filho de um general...

A ideia que eu tenho é que nunca fez "grande coisa" pelo concelho onde tinha casa e terras agrícolas, entregues a um capataz... Era um dos grandes agrários do concelho... Uma espécie de "padrinho" a quem se metia cunhas, na época...

Em 1966, se não me engano, foi aberto a primeira agência bancária no concelho... Do BNU, claro... As forças vivas da terra terão ficado gratas ao banqueiro, antigo presidente do Conselho de Administração entre 1949 e 1951.

Visitou Cabo Verde quando o meu pai lá esteve. Natal de 1941 ou 1942. Acho que apanhou um susto na viagem (de barco): era o que se comentava no Mindelo...

Luís Graça disse...

Confirmo, atravs da legendas das fotos que tenho em meu poder, e que vou publicar um dia destes:

(i) O 1º Batalhão Expedicionário do RI chegou ao Mindelo em 23/7/1941, no T/T Mouzinho...

(ii) O Ministro das Colónias visitou S. Vicente em Dezembro de 1941... Há duas fotos, uma a bordo do contratorpedeiro Tejo (que ficou largos meses afecto à defesa da ilha), e uma outra, da missa do Galo, a que o Ministro assistiu, e que terá tido a presença de "milhares de pessoas" (escreve o meu pai)...

Anónimo disse...

Portugal que ficou neutro nesta guerra, à cautela mobilizou-se com os meios que tinha.

Mas foi-me proporcionado ver um mapa há muitos anos, em que os paises da europa eram representados por bichos, em que:

A Alemanha era um POLVO, com os tentáculos em vários paises;

A França, era um GALO, com a crista caída e todo lixado:

A Inglaterra era um TIGRE, a mostrar os dentes e as unhas de fora;

Portugal era um CARACOL com um pouco da cabeça a espreitar fora da casca, pelo canto do olho. Tinha um cajado e a casca era uma manta de pastor.

Não me lembro da Espanha e outros.

Mas na realidade, o Salazar ficou à espreita, mas o país estava mobilizado como se estivesse em guerra.

Foi um tempo complicado. Fome não faltou, com racionamento.

Há muitos políticos (anti-salazaristas, ex. Mario Soares)que chegaram a afirmar que foi má política não ter entrado na guerra como se fez na 1ª guerra.

Eu acho que como na guerra do ultramar, fizemos o que nos foi possível.

Oxalá em paz, hoje, conseguissemos fazer o que está ao nosso alcance.

Mas, segundo as sondagens, já há uma grande percentagem a favor da integração na Espanha; talvez em troca com os Bascos, digo eu!

Em memória do que se passou, com nossa geração, com a do pai do Luis. com a de Norton de Matos, esperemos por dias mais optimistas.

Antº Rosinha

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há que séculos, se calhar desde o princípio, que olhamos para os nossos vizinhos, dos mais próximos aos mais poderosos, como temos mesmo que olhar: com realismo,com esperteza saloia,com manha, com cinismo, com imaginação, com fantasia, com fanfarronice, com medo, com altivez, com humor, com repto, com coragem, com frontalidade...


Pelo menos desde a Conferência de Berlim, 1890, que estamoos "entalados" entre dois "B ig Brothers", dois grandes irmãos, a Inglaterra, por um lado, a Alemanha, por outro...

As coisas não mudaram muito... Há dias um polémico e conceituado historiador, Rui Ramos, veio decretar, no Expresso, que em 10 de Maio de 2010 houve um golpe de Estado, uma mudança de regime, de que ninguém deu conta (a não ser, claro, meia dúzia de iluminados...): Portugal passou a ser um "protectorado de Bruxelas", que é como quem diz, uma colónia dos alemães...

Em 1940, as divisões Panzer pararam nos Pirinéus... O que teria acontecido se tivessem avançado até Gibraltar, pass(e)ando por Lisboa ?...

Hoje falaríamos alemão e provavelmente não teríamos conhecido a nossa querida Guiné e os nossos queridos "nharros"...

Nada como os jogos de estratégia, meu caro!