domingo, 6 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6545: O Nosso Livro de Visitas (90): Notícias do Lobo Mau, ex-Alf Mil Pil R. (BA 12, Bissalanca, Dez 1970/ Nov 1972)



Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Heli.evacuação na região do Xime > 9 de Fevereiro de 1970 > Op Boga Destemida, envolvendo forças da CCA>Ç 12, CART 2520 e Pel Caç Nat 63 > Helievacuação de feridos, entre os quais o 1º Cabo Galvão, do 3º Gr Comb, e o Sold Samba Camará, do 2º Gr Comnb, da CCAÇ 12 (*)

Foto: © Arlindo T. Roda  (2010). Direitos reservados.


O Lobo Mau… Lembram-se dele ? Ele diz que sim, que há muita malta das companhias do mato que se lembram dele… E têm bons e maus motivos para isso… Era piloto, alferes miliciano, do Heli Al III, mas também andava com a DO 27. Evacuações Ypsilon, apoio de fogo, helicanhão, transporte do Cardeal (o Spínola, de quem me conta algumas histórias, bem humoradas), transporte de víveres… Os pilotos do T6 e do Fiat G-91 não tinham a mesma relação com a malta do exército… Era uma relação mais distante,  por força da missão de cada aeronave...  A dele era mais próxima. A dele e dos demais pilotos de heli e DO.  Não é uma crítica, é apenas uma constatação.

Conhece a Guiné vista do ar, de pernas para o ar, de ponta a ponta, não há aeródromo ou heliporto onde não tenha aterrado, de Bambadinca a Canquelifá, de Guileje a Guidaje… Fez muitas missões com a Giselda ("uma grande senhora!!"), a Rosinha e tantas outras camaradas enfermeiras pára-quedistas, de quem guarda as melhores recordações… Lembra-se da infortunada Cristina... Trabalhou com os páras. Bateu recordes:  na véspera do ano novo de 1971, num só dia levou o Cardeal a três dezenas de buracos no mato…

O Velho gostava de viajar com o Alferes Piloto R., gostava do seu profissionalismo, da sua atenção para com os detalhes, da sua preocupação com a segurança…   Ainda estivemos na Guiné três meses, eu e ele, entre Dezembro de 1970 e Março de 1971 (altura em que regressei a casa). Mas nunca estivemos juntos, em Bissau, em Bissalanca ou em Bambadinca.

O R. esteve na BA 12, em Bissalanca, até Novembro de 1972… Apanhou lá o comandante Brito, que haveria de morrer abatido por um Strela... Era um homem que sabia como poucos dar o elogio ou a repreensão na hora certa, no local certo.  Esteve lá também com dois tenentes da Academia, o Marques e o Matos (este, membro da nossa Tabanca Grande).

Desta, da guerra,  gosta de recordar as coisas boas, positivas, e só essas,  tanto da FAP como da sua comissão na Guiné.  Por pudor e sigilo, não falámos com detalhe dessas missões... Visita, com regularidade o nosso blogue (que elogia) mas não gosta de se meter em polémicas (é o que menos aprecia no blogue)… Diz-me, com a autoridade de quem sabe e viu muita coisa, que ainda agora a missa vai no adro… Há muitos documentos que ainda estão classificados. Visita sites americanos onde é mais fácil, do que em Portugal, saber coisas sobre a guerra colonial em África…

Ele já não estava lá na altura dos Strela mas lança-me um repto, a mim, editor do blogue, e aos camaradas da Força Aérea desse tempo: ainda se sabe muito pouco ou nada do ambiente, vivido na BA 12 entre os os pilotos (e mecânicos), nesse período crítico em que as nossas aeronaves estiveram no chão…

Tudo isto, é o que sobra da conversa, pessoal (e possível), que tive com ele, o meu amigo R.  De tempos a tempos encontramo-nos, por mero acaso. O  R.  vive em Lisboa, fez entretanto o curso de direito.

Quanto a responder positivamente ao meu reiterado convite para integrar a nossa Tabanca Grande, o R. é  muito cauteloso… Diz-me que ainda “não está preparado” (sic)… Quis fazer-lhe um pequeno vídeo com uma saudação dele aos camaradas da FAP que estão nosso blogue, mas ele recusou apesar da nossa amizade. Tem inúmeros slides da Guiné, andava sempre com a sua Pentax… Mas ainda nem sequer os mandou converter para DVD… Pode ser que um dia eu tenha acesso a uma boa selecção das suas “chapas”…

De facto, ainda não foi desta que o consegui demover. Nem muito menos que ele aceitasse o convite para aparecer no nosso V Encontro Nacional, a 26 de Junho, em Monte Real.  Mesmo assim, conseguiu sacar-lhe o endereço de e-mail (que também não vou divulgar).  Prometi mandar-lhe o estudo do Cor Art Morais da Silva, que ele conheceu, salvo erro em Gadamael, e por quem nutre admiração, pela sua "craveira intelectual".

Contou-me histórias que, naturalmente, não estou a autorizar a reproduzir aqui neste curto apontamento. Não resisto, porém, a contar a que ele, R., lembrou  há tempos ao Tomé, que foi capitão no Olossato, no tempo do Paulo Salgado (também membro do nosso blogue)… O então capitão Tomé costumava mandar um criado de libré com bandeja, um copo com a pedrinha de gelo, a água de Perrier, e a garrafa de uísque parta o piloto que chegava com o heli ou com a DO.
- O correio era o que havia de mais sagrado para a malta do Exército que estava no mato… O Tomé era um gentleman.

O R. também se lembra bem do Drácula, o Alf Mil Médico António Vilar, que passou por Mansabá, Olossato e Bambadinca... Notável a sua memória. Oxalá queira ele um dia "abrir o livro", juntando-se aos nossos "gloriosos malucos das máquinas voadoras"  (**)... L.G.

____________

Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 9 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXXVIII: Violenta emboscada em L (Op Boga Destemida, CCAÇ 12, CART 2520 e Pel Caç Nat 63, em Gundagué Beafada, Fevereiro de 1970) (Luís Graça)


(**) Respeito a vontade do meu amigo em não querer identificar-se. Como ele insiste em  dizer-mo, "por enquanto prefere o silêncio"... Espero que ele que perdoe, em nome da nossa amizade, a minha ousadia em publicar esta nota sumária da nossa conversa (privada)...

9 comentários:

Anónimo disse...

Tive o grato prazer de conhecer o
médico António Vilar a quando da
minha deslocação á Guiné.
Fomos companheiros de viagem durante dez dias e sem ele o passeio seria diferente,com as suas brincadeiras e boa disposição, não parando nunca de falar, sendo necessário por vezes mandar calar o homem.
Um companheirão de viagem.

Eduardo Campos

Manuel Reis disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Gil Moutinho disse...

Todos os pilotos de T6 estavam qualificados e pilotavam também os DO's e vice-versa,poucos dos pilotos de hélis voavam DO's e se voavam era esporadicamente.
Quanto à paralização da FA em Abr/mai73 se falará por quem esteve lá.
Gil Moutinho (furr.pil T6 e DO 72/73)

Anónimo disse...

Nota do editor, Luís Graça:

Republicação de comentário de José Corceiro (assinada por ele mas enviada como "anónimo"), com data de 6 de Junho, e que eu eliminei por que identificava o ex-Alf Mil Piloto, meu amigo, com quem tive uma conversa particular, e que resumi aqui, para a série "O Nosso Livro de Visitas"


Mensagem do J. C.:

É ousadia, mas desculpar-me-ão…
Caso o R., se disponha a digitalizar os diapositivos que tem da Guiné, para tos disponibilizar para editares no Blogue, eu atrevo-me a oferecer os meus préstimos para os converter e gravar em DVD, pois tenho equipamento única e exclusivamente dedicado a esse fim. Coloca-lhe a questão…

Um abraço

José Corceiro

Domingo, Junho 06, 2010 9:00:00 PM

Anónimo disse...

Nota do editor Luís Graça:

Republicação do poste do Manuel Reis (que, na sua versão original, fazia menção ao nome do meu amigo R.):

Era bom que o R. também quisesse partilhar connosco as suas
estórias de uma guerra, que diz conhecer muito bem. Todos enriquecíamos com isso, mas compreendo que não é fácil sustentar opiniões no Blogue, sem por vezes se entrar numa zona de conflitualidade.

Mas é na diversidade de opiniões e na sua discussão comedida que o Blogue cresce.

É aqui referido um camarada, António Vilar, conhecido por muitos estudantes de Coimbra, da década de 60, por Drácula. É uma figura carismática pelo terror que incutia nos caloiros. Hoje é médico psiquiatra em Aveiro.

Um abraço para toda a tertúlia.

Manuel Reis

Domingo, Junho 06, 2010 8:47:00 PM

Luís Graça disse...

Gil (Moutinho):

É imperdoável que o Melro-mor da Tabanca dos Melros ainda não figure na lista alfabética dos membros da Tabanca Grande... É um lapso que temos de corrigir...

Mas também é altura do Gil nos mandar uma foto do seu tempo de menino e moço, quero eu dizer, do seu tempo de glorioso maluco das máquinas voadoras...

Gil, porque não falares do ambiente que se vivia e respirava na BA 12, em Bissalanca, depois de 25 de Março de 1973 ? Julgo que estavas lá nessa altura. Podes, com toda a autoridade, falar desses tempos difíceis, rapidamente ultrapassados - dois meses depois - com a coragem e a competência dos nossos camaradas pilotos e mecânicos da FAP... Um Alfa Bravo. Luís

Luís Graça disse...

Obrigado, José Corceiro, por te disponibilizares a ajudar o nosso camarada R. a converter, para DVD, os seus diapositivos tirados na Guiné (1970/72)...

Como ele vive em Lisboa, será fácil estabelecer um contacto... (Isto, na hipótese de ele estar disposto a partilhar connosco o seu álbum fotográfico, mais cedo ou mais tarde).

Um Alfa Bravo. Luís

Anónimo disse...

Nota do editor Luís Graça: Republicação do comentário do Hélder Valério, em virtude de citar o nome do nosso amigo e camarada R., que por enquanto prefere aparecer como anónimo no nosso blogue, por sua vontade expressa)

Caro amigo Luís Graça:

Temos que compreender e aceitar as reservas desses nossos camaradas que, ainda hoje, não querem ou não gostam de falar das suas experiências militares...

É claro que temos vários casos, que podemos citar sem com isso ferir qualquer susceptibilidade, a quem 'estar' no blogue, participar, intervir, etc., fez muito bem, é só lembrar o que repetidas vezes o Torcato tem dito e, ainda hoje, em entrada mais acima, o que diz o Eduardo.

Por isso, podemos invocá-los para demonstrar ao amigo R. que poderá haver mais vantagens que desvantagens em 'soltar os fantasmas'.

Também é claro que sempre vão aparecendo aqueles para quem a guerra não acabou, não porque ainda 'andem apanhados' mas porque têm teorias próprias para conduzir os destinos das operações, as ordens de combate, as metodologias, as posturas, os comportamentos, e até se propõem em sancionar, castigar, punir, 'zurzir nas orelhas' todos aqueles que, em sua opinião, não se bateram como deviam em defesa da Pátria (entendida como entidade abstrata). O único problema é que, de facto, esse tempo passou!

É claro que esses acabam por condicionar participações, mas sempre se pode ter alguma condescendência. No fundo, estão doentes!

Um abraço
Hélder S.

Domingo, Junho 06, 2010 10:45:00 PM