sexta-feira, 9 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6703: V Convívio da Tabanca Grande (16): A Guiné em Monte Real ou um Encontro de camarigos (Joaquim Mexia Alves)

1. Depois de uma arreliadora avaria nesta máquina infernal (PC), que não sendo muito importante, dele acabamos por depender, dava uma vista de olhos pelo monte do correio acumulado, e eis que encontro esta pérola cintilante, entre as mensagens à espera de tratamento:

Meu caros camarigos editores
Estava para aqui sentado, à distância de quase uma semana do nosso encontro e, de repente surge o anexo!

Eu gostava de vos agradecer a todos, editores, camarigos que connosco estiveram, aos que não puderam estar, e às camarigas que deram a graça a um encontro que corria o risco de ser um "almoço de velhos" nas suas recordações.

Agradecer também a generosidade de todos os que contribuíram para amenizar a falta dos que não puderam estar e que tanta falta fizeram, porque «todos não somos demais»!

Aqui fica a pobreza dum escrito em fraca rima, mas que sai do coração.

Um grande, forte e camarigo abraço, desta vez primeiro para elas, as vossas mulheres que tão bem vos acompanham, e depois para todos os camarigos, mais apertado e com batimento de mãos nas costas!!!
Joaquim

Foi assim que saiu e é assim que vai... se tiver erros, paciência!!!
Monte Real, 2 de Julho de 2010



2. Joaquim Mexia Alves foi o responsável máximo pelo organização dos três últimos Encontros da Tertúlia, que tiveram um êxito assinalado. Este ano não fugiu à regra, apesar das anormais ausências de pessoas inscritas, quase todas devidamente justificadas. Cremos, não voltará a acontecer.
CV

Aspecto do exterior do Palace Hotel de Monte Real, quando se atacavam já as Entradas e se trocavam as primeiras palavras entre camaradas e acompanhantes.


Aqui fica o poema do incansável Mexia Alves*:


A GUINÉ EM MONTE REAL OU UM ENCONTRO DE CAMARIGOS

A manhã nascera auspiciosa!
O Sol já brilhava
mesmo antes de eu abrir os olhos,
que afinal estavam abertos
há longas horas na noite.
“Quem tem responsabilidades
não dorme”,
diz o ditado,
que eu levei à letra
nessa ansiosa e longa noite.
Chego a Monte Real,
discretamente,
não quero ainda ver ninguém,
pois preciso de ultimar listas,
pensar nas palavras,
que hei-de dizer,
mas que depois de pensadas,
não sairão,
ficaram caladas,
porque nessas alturas
apenas manda o coração.
Chego-me então a eles,
aos primeiros,
que já chegaram,
e a conversa começa,
pelo meio dos abraços.
Um aperto de mão aqui,
um beijo dado ali,
nas mulheres que acompanham,
os homens da guerra ida,
e é tal a confusão,
que quase dou beijos também,
aos homens que vão chegando,
pelo meio de embaraços.
Lembras-te de mim?
Eu lembro-me de ti!
Terás estado em Farim?
Ou Mansoa, ou Bafatá?
Eu estive no Pidjiquiti,
Gadamael, Canquelifá.
Surgem os nomes de tanta terra,
estranhos nomes,
de longínquos lugares,
feitos presença agora,
numa nova vivência
de uma já antiga guerra.
Oh pá, e o coiso?
Que é feito dele?
E aquela emboscada,
aquele ataque,
aquela picada,
aquela operação,
aquela noite mal passada,
à espera da evacuação?
Estás mais gordo!
Estás mais magro!
Olha o que estamos todos,
é cada vez mais velhos!
Eh pá,
Aquele nosso amigo,
lá se foi!
Que queres, pá,
todos temos de partir!
Mas sabes do que ele gostava?
Era assim de nos sentir,
de nos acompanhar a falar,
a contar histórias sem fim,
era de nos ouvir a rir.
E o Sol aperta,
o calor traz recordações,
de manhãs que nasciam quentes,
como se não houvesse frio,
ali naquelas paragens.
Fala-se daqueles que lá ficaram,
dos filhos daquelas gentes,
que ao nosso lado lutaram.
Toldam-se os olhos,
aperta-se o coração,
e quase num grito mudo,
dizemos uns para os outros:
hoje não, pá, hoje não!
Finalmente já sentados,
(posso descansar um pouco),
uns conversam,
outros estão calados,
e outros há ainda,
que de tanto falarem,
tem de beber um copo,
atrás de outro copo,
o que parecendo que não,
lhes solta ainda mais a língua!
Ai pecado meu, pecado meu!
E há discursos,
E discursatas,
e homenagens,
e histórias,
e bravatas!
E há quem cante,
e também toque,
quem encante,
e quem também vá…
a reboque!
Serenamente,
elas estão ali,
orgulhosas dos seus homens,
pensando bem no seu intimo:
nem sabes o que eu passei…
apenas e só por ti!
Cai a noite,
o dia chegou ao fim.
Cala-se lentamente o vozear,
há promessas de encontros,
torna-se difícil partir.
Há abraços repetidos,
uma vez e outra vez,
“está no ir, está no ir”,
mas só apetece ficar,
a falar, a recordar,
a contar mais uma história
para a qual já não há tempo,
para o ano,
para o ano, talvez!
Depõe-se as armas,
despem-se os camuflados,
tiram-se as pinturas de guerra,
e apresenta-se um ar “normal”!
É que durante umas horas,
quase sem ninguém se dar conta,
esteve a Guiné toda inteira,
um dia em Monte Real!


Monte Real, 2 de Julho de 2010
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6697: 20 Anos depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (7): Eu sei quem sou

Vd. último poste da série de 2 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6669: V Convívio da Tabanca Grande (11): Caras novas (Parte II): Jorge Araújo, Acácio Correia, Manuel Carmelita, Eduardo Campos, João Malhão Gonçalves, Júlia Neto, Arménio Santos.. (Luís Graça)

3 comentários:

Jorge Narciso disse...

Caro Joaquim

Tendo, também, andado uns dias fora destas lides bloguistas, resolvi agora mesmo por aqui passar e dou com este teu texto.
Em verso ou em prosa eu chamar-lhe-ia (de qual Fernão Lopes) crónica, porque reproduzes fiel e integralmente o belo dia que ali nos organizaste.
E bem mereces (sei que vais dizer que todos merecemos) que tenha corrido como correu.
Recebe um "Monte de Reais" Abraços

Jorge Narciso

Anónimo disse...

Boa-noite amigo Mexia Alves.

Ainda não dispus de tempo para ver com atenção as notícias do encontro da Tabanca Grande, mas hoje passei por aqui e li o seu registo do encontro em forma de poema.
São as emoções que nos fazem poetas!
e não há melhor incentivo que um encontro de amigos.
Espero que seja para continuar estes encontros e talvez um dia eu esteja também convosco a festejar, porque a vossa festa é também a minha festa, pois esse tempo que vos une, também o vivi e me marcou.
Parabéns pelo seu trabalho a nível de organização do evento e pelo seu emocionado registo.

um abraço da amiga

Felismina Costa

MANUELMAIA disse...

CARO MEXIA,


COMO DE COSTUME,ESTÁ DELICIOSO.
ABRAÇO
MANUELMAIA