quarta-feira, 14 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6731: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (25): O meu Irmão Álvaro

NOTAS SOLTAS DA CART 643 (25)

O MEU IRMÃO ÁLVARO

1. Mensagem de Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 11 de Julho de 2010:

Amigos da Tabanca Grande
Li com muita atenção o P6712 - Histórias do Jero: Na Guerra e na Paz... Até ao Fim...

Houve uma parte que me tocou bastante, quando ele chama de "irmão" ao ex-camarada Álvaro.

É que tenho um grande amigo, ex-camarada do BART 645 - Águias Negras, também de nome Álvaro, ex-Fur Mil da CCS, que nos chamava de "irmão" aos muitos amigos que tinha, o que me fazia alguma confusão, porquê esse tratamento?

Agora, passados 46 anos soube o motivo. Uma entrevista sua nas TARDES DA JÚLIA, o agora Dr. Álvaro (Psicologia Clínica) explica porque aplicava o "irmão" aos seus amigos e companheiros de armas.

O Álvaro é natural de Setúbal e foi de muito pequeno (5/6 anos) para um orfanato da cidade.

Contava com muita mágoa o seu infortúnio, no citado programa televisivo, com mais 50 rapazes, dos uniformes que usavam, da alimentação, etc.

Desde essa altura começou a tratar os pequenos amigos de "irmãos", de facto não o eram de sangue, mas como viviam 24 sobre 24 horas no mesmo Lar, achou por bem aplicar esse tratamento, porque afinal era a família mais próxima que tinha.

Saiu da instituição já perto da maioridade, tendo ao fim de pouco tempo ido para o serviço militar. Ao fim de 26 meses de tropa foi mobilizado para o CTIG, com a promessa de ficar só 5 a 6 meses, que seria rendido pelo curso seguinte.

Claro que tal não aconteceu e o nosso irmão Álvaro ficou até ao fim da comissão. Damos graças por esse seu contratempo, doutra forma não tínhamos privado com o GRANDE AMIGO E IRMÃO, acabando por ficar mais uns meses em Bissau, porque entretanto tinha conhecido a sua actual mulher, a amiga Estér, na altura filha de um militar residente.

Continua nosso irmão, não faltando aos convívios da nossa ASSOCIAÇÃO DE AMIZADE DO BART 645 - ÁGUIAS NEGRAS, que se realizam há 30 anos sem interrupção.

De Cascais para Alcobaça para o Jero, afinal somos da mesma altura. Estive em Bissorã de Junho de 1964 a 17 de Novembro de 65, data em que fui ferido em combate, regressando o restante pessoal do Cart 643 em príncipios de Fevereiro de 1966:

Um grande abraço,
Rogério Cardoso
Ex-Fur Mil
Cart 643 - Águias Negras
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6576: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (24):O miúdo Marciano Mamadú Sissé

2 comentários:

Anónimo disse...

O MEU E TEU IRMÃO ÁLVARO
Caro jovem do meu tempo
Agradeço as tuas palavras generosas e amigas sobre o que escrevi em relação ao meu “irmão” Álvaro da C.Caç.675. Também o teu texto me impressionou muito em relação ao teu “irmão” Álvaro da BART 645, embora a tua história tenha um final feliz.
Tenho muita pena de não ter assistido à sua entrevista nas TARDES DA JÚLIA.Conforme referes o agora Dr. Álvaro explicou muito bem o porquê de aplicar o termo "irmão" aos seus amigos e companheiros de armas. E graças a Deus que continua a marcar presença nos convívios da vossa ASSOCIAÇÃO DE AMIZADE DO BART 645 - ÁGUIAS NEGRAS.
Em relação aos “Águias Negras” ficou-me na memória a aura que o teu Batalhão gozava quando a minha Companhia chegou a Bissau em Maio de 1964.
Meses mais tarde graças a um “pintas” do teu Batalhão de nome Firmino Carola Padre Eterno, que tinha sido 1º.cabo condutor do Coronel Bramcamp Sobral ,soube mais coisas dos Águias Negras. O Padre Eterno “aterrou” na minha Companhia , despromovido e castigado depois de um levantamento de rancho numa das Companhias do teu Batalhão.Aliás o Padre Eterno é protagonista do P 4814 (12 de Agosto de 2009) do blog do nosso Luis Graça e Camaradas da Guiné.
Caro amigo Rogério Cardoso fico-me hoje por aqui.
Um abraço para Setúbal e Cascais de Alcobaça, terra dos Monges de Cister.
JERO

Rogerio Cardoso disse...

Hoje 21-8-2021, ao recordar estes pequenos apontamentos ,da nossa passagem por terras da Guiné, é com tristeza , que lamentamos o desaparecimento tanto do meu personagem Álvaro, como do Jero. Paz eterna.
Roger