quarta-feira, 14 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6738: Da Suécia com saudade (26): A difícil procura da unidade dos antigos combatentes (José Belo)


1. Mensagem do José Belo (*), o tuga mais lapão do mundo:

Data: 13 de Julho de 2010 20:32
Assunto: A procura de organizar os ex-combatentes

Caro Camarada e Amigo:

A propósito do post "É tempo de dizer Basta!" de António Martins de Matos, creio ser interessante para os Camaradas algumas "ajudas de memória" quanto a interessantes documentos relacionados com a anterior procura de organizar os Combatentes em Junho de 1973 na cidade do Porto, aquando do Primeiro Congresso dos Combatentes do Ultramar (1/2/3 de Junho). 

Logo no início, no próprio dia 1, após a declaração  de abertura do Congresso, foi pelo presidente da comissão executiva proferido um discurso inaugural, indicando os objectivos do Congresso,que se podiam resumir a dois pontos principais: 

(1) Reatar e manter os laços de camaradagem criados ao serviço da Nação no ultramar;

 (2) Celebrar os serviÇos prestados pelos que responderam à chamada da Pátria e exaltar a honra da missÃo cumprida, bem como o seu valor e significado na História Nacional. 

Num outro manifesto assinado por "Os Combatentes Participantes no Congresso " e dirigido aos "Nossos Camaradas e ao País" se declarava que os combatentes só tinham um partido: Portugal. A única política que conheciam era a da defesa da Pátria, acima dos partidos, das divisões e das manobras dos grupos e dos interesses. Nestes termos e porque só havia uma Política nacional, a política da Pátria, não estavam os combatentes dispostos a deixarem-se enredar em jogos político-eleitorais. Não o permitia o patriotismo,não o toleraria a unidade nacional, não o consentiria a dignidade. 

Telegrama enviado ao Congresso dos Combatentes.

Cerca de quatro centenas de militares dos quadro permanentes e combatentes do ultramar com várias comissões de serviço, certos que interpretam o sentir de outras centenas de camaradas que, por motivos de circunstâncias múltiplas, ignoram verdadeiramente o Congresso, desejam informar V.Exas, e esclarecer a Nacao do seguinte: 

(1) Nao aceitam outros valores nem defendem outros interesses que não sejam os da Nação; 

(2) Não reconhecem aos organizadores do Primeiro Congresso dos Combatentes do Ultramar e, portanto, ao próprio Congresso, a necessária representatividade; 

(3) Não participando nos trabalhos do Congresso, não admitem que pela sua não participação sejam definidas posições ou atitudes que possam ser imputadas à generalidade dos combatentes;

 (4) Por todas as razões formuladas se consideram e declaram totalmente alheios às conclusões do Congresso, independentemente do seu conteúdo ou da sua expressão. Subscrevem o presente telegrama, em representação simbólica das quatro centenas de militares referidos, dois militares que publicamente e por diversas vezes a Nação Portuguesa consagrou: Capitão-Tenente Alberto Rebordão de Brito (oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, de Valor Lealdade e Mérito; Medalha de Prata de Valor Militar com palma; Cruz de Guerra de 1 classe); e 1º Sargento graduado em Alferes Marcelino da Mata (cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, de Valor, Lealdade e Mérito; Cruz de Guerra de 1ª classe; Cruz de Guerra de 2ª classe). 

(Observ.: embora não conste do texto, o telegrama também tem a representatividade de um oficial da Força Aérea, igualmente galardoado com a Torre e Espada.) 

Então, como hoje, a organização de Combatentes não é, nem será fácil. 

Um abraço amigo do J. Belo. 

Estocolmo, 13 de Julho de 2010 

_________________

Nota de L.G.:



15 comentários:

Anónimo disse...

José Belo,
Tenho um pequeno manual (16 pág)assinado pelo Capitão João Villalobos, datado de 31 de Agosto de 1973,"Comunicado Nº1 Conclussões 1º Congresso dos Combatentes do Ultramar e os itens do Congresso no Porto que decorreu de 1 a 3 de Junho de 1973".
Cumprimentos
Filomena

Anónimo disse...

Caríssima Amiga. É um documento com interesse para o assunto debatido. Nao posso,nem devo,falar "pelo" blog de Luís Graca e camaradas,mas talvez ele nao tenha nada em contra se "receber" uma cópia do mesmo para arquivo documental. Sinceros Cumprimentos.

António Martins de Matos disse...

Caro amigo
Claro que este congresso tinha de estar condenado à partida, apenas interessava a alguns milicianos devidamente politizados e que tinham regressado da guerra, outros novos milicianos e os do quadro permanente continuavam a ser mobilizados.
Estávamos em 1973, a palavra ex-combatente ainda não existia, a guerra continuava nas 3 frentes.
E não seria antes uma tentativa política de conseguir um “25 Abril”?
De qualquer modo seria interessante recordar quem organizou, quem participou e quais as “conclusões”.
Até para evitar futuros erros.

Anónimo disse...

Pois.... Eu fui convidado a participar nesse 1.º Congresso, mas recusei.
No entanto, hoje, por hoje, tenho curiosidade em saber os nomes dos organizadores e das entidades apoiantes.
Se alguém tiver nomes prestará um bom serviço à comunidade se os divulgar.

Um Abraço

Manuel Amaro

jteix disse...

Camaradas
Eu, em 1973, como a maior parte dos ex-combatentes ainda vivos, tínhamos regressado da "Guerra do Ultramar" (assim se chamava e chama) há três anos e o que queríamos era não ouvir falar de GUERRA's, quanto mais de congressos e outros que tais, com o receio de para lá voltar, a maior parte estava-se marimbando para isso, o que queria era paz e sossego.
Só passados 40 anos e já em democracia,(dizem!!!), é que ficamos a saber a consideração e pior ainda, o desprezo, que esta CORJA, (como diz o MANUEL MAIA), de governantes politiqueiros que nos têm governado, tem por nós.
Por isto e por muito mais é tempo de dizer BASTA
VAMOS A ELES

Um abraço
cumprim/jteix

Anónimo disse...

Camaradas,
No último post do António M. Matos fiz um comentério perdido, que não sou capaz de reproduzir. Ainda assim, a matéria é interessante.
Ele militar; eu civil. O homem e a sua circunstância - Ortega y Gasset.
Declaro que nunca me associei a qualquer organização de ex-combatentes, por duvidar da sua eficácia em benefício dos combatentes. O António já se referiu a isso com muita propriedade.
Também vi o video que ele pôs ao dispor. Que diferença: nele apreciamos o sentido de comunidade, a dignidade dos presentes e das instituições. Fico com a certeza de que na Old England não há casos parecidos com o do Baptista, e que os serviços públicos estarão imediatamente prontos para intervir, se necessário. E vi uma rainha, de provecta idade, em demorada posição de sentido, com toda a carga de respaito pelos ex-combatentes, congregadora do orgulho nacional e respeito cívico.
E aqui meus Caros?
Eu quero lá saber que uma cantante vá interpretar o Hino Nacional. Quero lá saber dos discursos balofos e medalhagem oportunista.
Eu quero lá saber das sandes, que são a pagar, pois claro, nada como no Eduardo VII.
E a malta aceita, congratula-se com isso. Como diz a Clara F. Alves, os portugueses são burros, marrecos e coxos, porque se não o fossem, já não dobravam a cerviz à espera da esmola, e tinham corrido com a choldra a pontapé. Seriam exigentes. O problema é que para se ser exigente, é preciso aliar o conhecimento à dignidade e honradez.
No entanto, parece-me uma ocasião de ouro haver um General disposto a dinamizar um movimento desta índole.
Parece-me que no blogue, através de um inquérito, com as questões bem estudadas e formuladas, poderíamos ter uma noção do empenhamento dos ex-combatentes. Nada de partido, como refere o Maia, um movimento objectivo, com ulgumas bases de acção programadas.
Abraços fraternos
JD

Anónimo disse...

Caros Camaradas. "Por decisao do general Sá Viana Rebelo,entao Ministro da Defesa e do Exército,os oficiais do Quadro Permanente foram PROIBIDOS de participar no chamado Congresso dos Combatentes.Tal decisao baseava-se na certeza,de que amplos sectores do Q.P. poderiam lá levantar numerosos problemas...Porque na Guiné se observam resistências inoportunas ao envio de representantes ao dito Congresso,o major Cassiano Dias,acompanhado de Nuno Cardoso da Silva(ex-alferes-miliciano que havia cumprido a sua comissao em Angola),da comissao executiva,decidiu indagar no próprio local quais os motivos por que nao haviam reagido bem na Guiné ao Congresso dos Combatentes. Teve lugar uma reuniao para discutir este assunto.Presentes,entre outros,Matos Gomes,Dias Lima,António Ramos,José Manuel Barroso,Almeida Bruno,e Monge. Salientando-se na na contra-argumentacao,Dias de Lima,foi,sem dúvida,um dos elementos que mais atacaram a pequena organizacao pró-fascista....."Sao fascistas",assim resumiu Monge,a explicacao da negativa que os elementos da comissao executiva do Congresso haviam levado da Guiné".(Mov.deCap.) Claro que hoje as situacoes sao diferentes;a guerra terminou (?),e os combatentes de entao serao...ex-combatentes.Mas as clivagens profundas,mesmo que (talvez) diluidas,creio que ainda hoje se mantêm. Tristemente,ao contrário do exemplo citado (Reino Unido)onde os ex-combatentes se organizaram à volta das Primeira e Segunda Guerras Mundiais consideradas Nacionais....nós continuamos a nem sequer conseguir concordar com a designacao da guerra em que participámos.Colonial?Do Ultramar?De África?etc.etc.etc. Um abraco amigo.

JC Abreu dos Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
JC Abreu dos Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
JC Abreu dos Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
JC Abreu dos Santos disse...

(continuação 2/3)

E para que não reste a mais leve sombra de dúvida:
a) – de há muito é conhecido o método usado em Bissau, em 09Mai73, por um comité de controleiros – aceite por quase todo o 'staff spinolista' (mas não só) –, junto do CTn 'fze' Rebordão de Brito [falecido em Nov94] e do Alf grd 'cmd' Marcelino da Mata [vivíssimo da costa], para destes dois oficiais haver sacado uma assinatura, numa folha A4... totalmente em branco!!;
b) – tal como é absolutamente falso, que tenha sido um «telegrama enviado ao Congresso dos Combatentes», e sequer nele [telegrama] esteja implícita «a
representatividade de um oficial da Força Aérea, igualmente galardoado com a Torre e Espada» [muito embora o texto "daquilo" conste nos arquivos da A25A... ], sendo certo que nenhum (repito, nenhum) outro nome existe em tal documento, o qual foi acto contínuo remetido «a alguns jornais da Metrópole» – designadamente ao chefe-de-redacção do semanário 'Expresso' (sr. Augusto de Carvalho) –, e cujo integral conteúdo seguidamente se transcreve, 'ipsis verbis':
– «Cerca de 4 centenas de militares dos quadros permanentes e combatentes do ultramar com várias comissões de serviço, certos que interpretam o sentir de outras centenas de camaradas, que por motivos de circunstâncias múltiplas ignoram verdadeiramente o congresso, desejam informar V.Exas e esclarecer a Nação do seguinte: 1- Não aceitam outros valores, nem defendem outros interesses, que não sejam os da Nação; 2- Não reconhecem aos organizadores do 1º Congresso dos Combatentes do Ultramar, e portanto ao próprio Congresso, a necessária representatividade; 3- Não participando nos trabalhos do Congresso, não admitem que pela sua participação sejam definidas posições ou atitudes que possam ser imputadas à generalidade dos combatentes; 4- Por todas as razões formuladas se consideram e declaram totalmente alheios às conclusões do Congresso, independentemente do seu conteúdo ou da sua expressão. Subscrevem o presente telegrama, em representação simbólica das quatro centenas de militares referidos, dois militares que publicamente e por diversas vezes a Nação portuguesa consagrou. Capitão-tenente Alberto Rebordão de Brito
(oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito; medalha de prata de Valor Militar com Palma; Cruz de Guerra de 1ªClasse). Primeiro-sargento
graduado em alferes Marcelino da Mata (cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito; Cruz de Guerra de 1ªClasse; Cruz de Guerra de 2ª Classe). Solicita-se que ao presente telegrama seja dada publicidade igual à utilizada para todas as conclusões do congresso.»
...
parte 2/3
(continua)

JC Abreu dos Santos disse...

(3/3, conclusão do m/comentário a este p6738)

Quanto ao repto do sr. TGen 'pilav', resumido em se saber «quem organizou, quem participou e quais as "conclusões"» do Congresso do Palácio de Cristal [01-03Jun73],
acaso o ex-furriel miliciano enfermeiro (Guiné 69-71) – que recusou participar –, não recorde quem o convidou, sempre se poderá consultar o seguinte...
título: "Nós Nunca Seremos a Geração da Traição"
assunto: Congresso dos Combatentes
autor: Amadeu C. Vasconcelos
editor: Sociedade Gráfica do Restelo
1ªed. Lisboa, Março de 1974
197 páginas

Entretanto, adiante-se aqui, desde já, o texto integral das «conclusões», tal como no domingo 03Jun73 foi lido perante os participantes:
– «1- Todo o combatente deve continuar vigilante, activo e dinâmico na Metrópole e no Ultramar ou em qualquer parte do Mundo, combatendo todo e qualquer inimigo de Portugal pluricontinental e multirracial, uno e indivisível; 2- O que foge ao cumprimento do serviço militar não é digno de ser português; 3- Portugal só pode realizar-se
integralmente num território pluricontinental; 4- A manutenção de valores como a Pátria, a Família, a Fé, o Trabalho, a Disciplina, a Ordem e a Justiça, garante-nos um Portugal ao nível da dimensão que desejamos; 5- Continuar a defender por todos os meios, e pelo tempo que fôr necessário, o Portugal multirracial e pluricontinental; 6-Combater a subversão onde quer que ela se encontre e qualquer que seja a forma pela qual se manifeste; 7- Esclarecer as pessoas no ambiente em que vivem (lar, amigos, locais de trabalhos, etc.) sobre as realidades do Ultramar Português e sobre a legitimidade da luta que se trava em todas as frentes; 8- Como primeira medida para garantir a continuidade dos propósitos deste Congresso, resolveu-se criar comissões que funcionem desde já nas cidades do Porto, Bissau, Luanda e Lourenço Marques; ficam
encarregados da organização das respectivas comissões os seguintes combatentes (no Porto o capitão Vilalobos, em Bissau a nomear, em Luanda João Cardoso, em Lourenço Marques o dr.Luís Silva Rocha); atribuir-se à comissão de Angola a realização do II Congresso dos Combatentes que terá lugar em Angola em 1974; 9- A integração ou reintegração social dos grupos minoritários é fenómeno que preocupa todas as sociedades. Pela dura experiência vivida, pelas emanações constantes dos traumatismos sofridos ou deficiências que transportam, os ex-combatentes, ex-expedicionários e ex-militares, têm, como é lógico, necessidade que sejam cumpridas as fórmulas expressas nas leis esquecidas ou não regulamentadas, bem como completada a legislação existente. Em resumo, estimular todas as iniciativas oficiais e privadas que conduzam à integração ou reintegração socio-profissional do grupo referido, da forma mais feliz e rápida. Por no grupo de ex-combatentes em causa, parte estar incluída no sector dito deficiente (físico ou moral), há que neste campo, para além das disposições legais recentemente publicadas [em 09Mai73], tomar mais algumas medidas. Urge finalmente que seja dito, redito e proclamado em todos os lados, templos ou lugares de convívio, que quem se bater em defesa do seu País por causa justa, nobre e digna, está e estará sempre mais orgulhoso que traumatizado, mais feliz que resignado e conquistou o respeito e admiração de todos os restantes
componentes da sociedade a que pertence, bem como a prioridade no direito ao trabalho, à educação, à saúde, à habitação, à vida portuguesa que ajudou com o seu
sacrifício a ser mais livre e mais justa.»

Tudo isto, como é mais que óbvio, nada tem a ver com as condicionantes do pós-GG que levaram uns quantos veteranos italianos a serem manipulados pelo
social-populista Benito, até à célebre "marcha sobre Roma" em Outubro de 1922... e da qual resultou a formação do Partido Fascista.

Marchas, são boas, mas na época dos Santos Populares.

Anónimo disse...

Caro amigo josé Belo,
Amanhã entrarei em contacto com o amigo Carlos Vinhal ou Luís Graça, se acharem importante, enviarei cópias para arquivo.
Melhores cumprimentos
Filomena

Anónimo disse...

Sr.Abreu dos Santos (senior).Tanta frustracao.Tanto ataque desnecessário.Como aparentemente nao está habituado ao diálogo,uma discussao poderia ,e deveria, ser mais própria.Mas,e como se diz na Lapónia:Nao sao os caës do trenó que escolhem os companheiros! Citando:"Em primeiro lugar está a pronunciar-se sobre o que nao conhece,ou acaso conheca,é de ouvido".Por exemplo o meu pseudo apadrinhamento por parte de Spínola.(que muito me orgulharia!). Em segundo lugar nada do que transcrevi é proveniente da Associacao 25 de Abril,mas encontra-se publicado,por fontes que nao serao as suas,mas que nao lhe reconheco qualquer direito de as julgar menos sérias.Em liberdade,os exclusivos da História acabam,por muito que custe a quem a isso nao estava habituado. Quanto a correios electrónicos,a morada está publicada,diariamente,e desde há muito,no topo do blog que edito.Portanto bem à vista de quem quer ver. Quanto a cotejar asneiras....creio ter acabado,agora mesmo,de o fazer com este comentário.

Anónimo disse...

"Arrogância e intolerância serão sempre antípodas do investigador credível". (autor desconhecido)

Carlos Cordeiro