terça-feira, 24 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6896: Tabanca Grande (238): Joaquim Sabido, ex-Alf Mil da 3.ª CART/BART 6520/73 e CCAÇ 4641/72 (Guiné, 1974)

1. Mensagem de Joaquim Sabido (ex-Alf Mil Art, 3.ª Cart/Bart 6520/73 e CCaç 4641/72, Jemberém, Mansoa e Bissau, 1974), com data de 11 de Agosto de 2010:

Meus Caros Camaradas:

Aproximando-se o decurso de 36 anos após o meu regresso da Guiné, que se completará no próximo dia 25 ou 26 de Setembro, senti como que uma necessidade em ver, ler e saber mais alguma coisa relativamente aos ex-combatentes, designadamente, no que respeita a camaradas que comigo estiveram no CTIG, entre os dias 3 de Abril e 25 ou 26 de Setembro de 1974 e foi quando tomei conhecimento da existência e posterior contacto com este belo sítio, que em boa hora tiveram a ideia de fazer nascer e criar, com muito muito trabalho, estou certo. "Salta,,  Periquito" já estarão a dizer alguns Camaradas que tenham a paciência para ler esta minha mensagem.

Na verdade, assim aconteceu, contava então 21 anos de idade, pois completei os 22 anos lá na Guiné, concretamente no dia 3 de Agosto de 1974, quando me encontrava estacionado em Ilondé, suponho ser esta a grafia correcta, pois só agora, no decurso da leitura de quanto se relaciona com Jemberém, tive a oportunidade de constatar que, presentemente, se denominará Iemberém (?), para aqueles de nós que tivemos a (in)felicidade de por lá passar, será sempre, seguramente, Jemberém, sendo este o tema que, por ora, me impeliu - para além da imensa saudade desses tempos, a vir à presença dos distintos Camaradas desta Tabanca Grande.

Já agora, entendo ser de bom tom e minimamente exigível proceder à minha apresentação:

Sou o Camarada Joaquim Sabido, que já em 74 residia em Évora e assim ainda acontece, completei há poucos dias os 58 anos de idade. Contra a minha vontade e seguramente que contra a vontade da maioria, fizeram-nos embarcar e levaram-nos (no meu caso) num avião dos TAM [, Transportes Aéreos Militares, ] no dia 3 de Abril de 1974, com destino ao então administrativamente denominado Território Ultramarino da Guiné, tendo chegado ao aeroporto de Bissau cerca das 12 horas desse mesmo dia e aí, ao sair pela porta do avião, tendo sido logo acometido de um enorme sufoco, até me faltou a respiração ainda agora me recordo dessa sensação (no regresso foi pior, pois mandaram-me de barco, no Uíge, o que demorou muito mais tempo) e, de imediato, embarcámos para o quartel do Cumeré, como ocorreu com quase todos os que integraram o Exército, ou seja, os da "tropa macaca".

Do Cumeré, com o BART 6520/73, que formou em Penafiel, partimos para Bolama numa ou em duas Lanchas de Desembarque Grandes (LDG), não me recordo, sendo certo que, até há bem pouco tempo, sempre me recusei a pensar nisso, isto é, nesse período de tempo. Todavia, agora, vejam para o que me está a dar, isto só pode ser da idade.

Após completarmos a tal IAO, em Bolama, cidade de segui em directo a noite de 24 para 25 de Abril, pela radiotelefonia, naturalmente, as notícias que nos iam chegando através da BBC, já que, quando partimos, tínhamos perfeito conhecimento do que iria ocorrer, só desconhecíamos quando e a que horas, em Penafiel, à época, estava o Sr. Capitão de Artilharia Dinis de Almeida e, por outro lado, havíamos estado uns 6 meses na Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas, onde tivemos oportunidade de contactar com muitos Srs. Capitães e Tenentes do Q.P., e, por isso, de algum modo fomos tendo conhecimento do estado da Nação, no que às Forças Armadas e também em matéria de Guerra Ultramarina dizia respeito.

De Bolama, seguiu o Batalhão 6520/73, para Cadique e, a 3.ª CArt desse Bart, à qual eu pertencia, comandando o 2.º pelotão, enquanto Alferes Miliciano de Artilharia, foi colocada em Jemberém, local onde, assim que lá chegámos, o PAIGC nos recebeu, dando-nos as boas vindas com um bombardeamento. Não sei nem queria saber de que armamento se tratou, sei que apenas queria era sair dali, durante os 2 meses em que lá permanecemos, ainda embrulhámos mais umas 7 ou 8 vezes, sendo que, nos ataques posteriores, já conseguíamos ir para a vala e responder com os 3 obuses 10,5 que lá se encontravam. Valeu-nos, aquando dos festejos de boas-vindas, a disponibilidade e o conhecimento do pessoal de uma CCaç (não sei quantos) composta por Camaradas Madeirenses que lá se encontravam há cerca de 6 meses (*).

Chegamos então à partida de Jemberém, que como já acima referi, é o motivo pelo qual venho à vossa presença.

Foi superiormente determinado que Jemberém seria o primeiro "buraco", digo, aquartelamento, a ser evacuado, então, aqui este vosso Camarada, que se encontrava a comandá-lo, com a concordância de outros Camaradas, resolvemos, com as cerca de 150 granadas de obus 10,5 que restavam, dispô-las pelo perímetro junto ao arame farpado, bem como os restantes explosivos que restavam e fizemos, então, a nossa despedida, rebentando com aquilo tudo, certamente que lá terá ficado uma cratera bem visível através dos satélites.

Nesta parte, não posso deixar de referir que tivemos a ajuda do Sr. (então 1.º Tenente Fuzileiro Naval) Benjamim [ Lopes de Abreu], um Senhor que teve a gentileza de me "adoptar" como seu amigo, mas que, infelizmente, devido a acidente de viação ocorrido há alguns anos, quando era o Comandante dos Fuzileiros, já não está entre nós, já que prematuramente nos deixou. (**)

Fomos os dois últimos militares das Forças Armadas Portuguesas a pisar o local onde se encontrava instalado o aquartelamento de Jemberém, e fomos ambos a carregar no detonador ao mesmo tempo, cada um de seu lado na caixa do "interruptor" que era em "tê". Em Gadamael Porto estremeceu tudo, e em Cacine parece que tinha ocorrido um sismo de grau bastante elevado, conforme me foi relatado por Camaradas que ali se encontravam. Em Cadique então, parece que foi uma coisa tremenda.

Por isso que, os Camaradas que por lá têm ido estranham ou não reconhecem o local e outros que têm vindo dizer que aquilo não era assim, etc..., estou certo de que não têm sido levados ao local onde se encontrava o aquartelamento e as seis ou sete habitações dos nativos que por lá estavam. Reparem, o memorial dos Galos do Cantanhez que por lá haviam estado, teve que ser reconstruído e colocado num outro local, vê-se nitidamente pelas fotografias publicadas que ali não se encontra há muito tempo. Tivemos o cuidado em não dispor explosivos junto aos memoriais, isso é certo, aquilo que pretendemos foi, no essencial, não deixar lá nada que se aproveitasse, não andámos a trocar galhardetes com o pessoal do PAIGC.

Isto não é uma crítica a ninguém, apenas refiro isto porque na minha perspectiva e no meu modo de ser e de estar, à época não dava para tal, pelo menos em razão da memória de quantos por lá tombaram, era impensável constituir qualquer relação de amizade com o pessoal do PAIGC. Se assim for entendido pelos Camaradas editores, dando-me luz verde para escrever mais alguma coisa, explanarei, quanto a esta matéria, como foi a minha relação que se pautou apenas sob o ponto de vista institucional, com o pessoal do PAIGC, com quem passei a contactar dia sim, dia não, em Bissau, isto porque era quando me encontrava a comandar a guarda ao Palácio do também já falecido Sr. Brigadeiro Carlos Fabião (igualmente, um grande Homem, na minha modesta opinião), e que por inerência de funções, quando o PAIGC, se instalou em Bissau, numa vivenda numa rua lateral ao Palácio com eles tinha uma reunião matinal, agora parece que é um briefing.

Anexo uma fotografia tirada no Jardim do Palácio, em dia de folga, pois estava o Camarada Alf Mil Brás, da 4641, de serviço nesse dia.

Assisti e vivi por dentro o complicado processo para desarmamento do Batalhão de Comandos Africanos, um grande abraço para o (então) Sr. Capitão da Força Aérea Faria Paulino, Ajudante de Campo do Sr. Brigadeiro, se ele ler este sítio. Ao que sei, encontra-se a residir e a trabalhar na Ilha da Madeira. Porque no sítio não consigo encontrar qualquer referência a outros Senhores que então lá conheci, aproveitava para, daqui enviar as minhas saudações e respeitosos cumprimentos aos seguintes Grandes Militares e Homens que, fizeram o favor de ser meus amigos, pelo menos nesse período de tempo e tanto quanto vou sabendo, pois vou sempre perguntando, encontram-se com saúde e recomendam-se:

(Com as patentes de então)

Sr. Comodoro Almeida Brandão, Comandante Naval da Guiné, Senhor que sempre que eu tinha fome e ia à messe da Marinha, tinha a gentileza de me convidar para a sua mesa, já que eu era uma visita, e me perguntou na primeira vez que lá me viu o porquê da minha presença naquela Messe, tendo desde logo compreendido que a fominha era mais que muita e desde então passámos a ter conversas interessantíssimas versando diversos temas, que ora eram da ordem do dia, ora eram de ordem cultural, pois atendento aos vastos conhecimentos do Sr. Comodoro, actualmente Almirante, com ele muito aprendi; (***)

Sr. Comandante Patrício (capitão-tenente FZ), à época comandante do COP 5, sediado em Gadamel Porto, onde me levou a passar 5 dias com ele e com os seus acompanhantes, que eram os cabos FZ:

Srs. Edgar, Pedras, Guiné, que ao que sei se reformaram no posto de sargentos e, ainda, o já falecido Moscavide, que afinal era alentejano de Mértola;

Sr. Capitão Pára-quedista, Valente dos Santos, ou deverei dizer Astérix, que era o seu nome de código quando se encontrava em operações, na mata, por intermédio de quem tive o gosto de conhecer o Sr. Capitão Marcelino da Mata, bem como outros elementos que pertenciam ao seu grupo de combate e que, por lá abandonámos...;

Sr. Capitão Miliciano de Infantaria Amândio Fernandes, que reside na bela cidade da Guarda, local onde, em Setembro de 2009, me recebeu e a outros Camaradas da 4641 (que esteve em Mansoa), para um bom almoço de cumbíbio; a outros Camaradas da 4641, espero vir a reencontrá-los no segundo fim-de-semana de Setembro, para mais um almocinho e então abraçá-los-ei; não posso deixar de referir e agradecer a forma como todos quantos integravam a CCaç 4641 me receberam e trataram em Mansoa, por tudo isso, o grande Bem-Hajam, do periquito;

Sr. Capitão Imaginário, que tive o grato prazer de conhecer em Gadamael Porto, aquando da minnha visita ao local;

Sr. Capitão de Cavalaria Bicho, também alentejano, que eu já conhecia de Estremoz e que, talvez por isso, não acatou a ordem do então Sr. Coronel Afonso Henriques, chefe do Estado Maior, que para ele telefonara directamente no sentido de que me prendesse no COMBIS, numa noite em que ali fui detido por sua ordem para esse efeito;

A todos os Camaradas do Bart 6520/73, que apareçam e digam alguma coisa, designadamente:

(i) Os Alf Mil Brito, de Lisboa, Av.ª de Roma; o Celestino, o Frade, de Lavacolhos; o Milheiro, do Alto do Pina, o Ramos, o Pereira,

(ii) os Fur Mil Marcelino, de Coimbra, o Ferraz e o Pereira, do Porto, e não me recordo de mais nomes, nem do nome do Capitão Mil da minha Cart já me recordo.

Aceitem todos os Camaradas as cordiais saudações do Camarada

Joaquim Sabido


2. Comentário de CV:

Caro Sabido, as nossas desculpas por só agora a tua mensagem, de 11 de Agosto, estar a receber o tratamento devido. De todo o modo estás já apresentado à Tabanca Grande (****), logo poderás começar a trabalhar quando quiseres.

O período, que viveste, logo a seguir ao 25 de Abril,  até à independência da Guiné, foi um tanto conturbado e complicado para os militares portugueses. Pelo que tenho lido, aqui e ali procedeu-se a cerimónias mais ou menos oficiais de entrega de quartéis ao PAIGC, enquanto os políticos assobiavam para o ar, esquecendo-se do que o que estava em causa era a solução política da guerra, há muito desejada por ambos os contendores.

Como muito bem fizeste, os militares portugueses não tinham que entregar nada a ninguém, apenas retirar em segurança, deixando aos políticos a sua missão de assinar os papéis e conceder aos novos países a soberania por que há muito lutavam.

Esperamos que nos contes como viste e sentiste essa época e o modo como agimos em relação ao PAIGC.

Tens já alguns temas para desenvolver, mas antes que me esqueça, se algum dia resolveres deixar-nos, por favor não te enerves nem armadilhes o Blogue. Calma, homem que temos arquivos muito, mas muito valiosos. É que não gostámos da tua despedida de Jemberém, só violência...

Caro Joaquim, com esta brincadeira passo às despedidas, endereçando-te o habitual abraço de boas-vindas da tertúlia. Instala-te e fica à vontade.
__________

Notas de CV / LG:

(*) Até Fevereiro de 1974, esteve em Jemberém a CCAÇ 4942/72, madeirense, os Galos do Cantanhez. Foi substituída, no subsector de Jemberém,  pela CCAÇ 4946/73, tamnbém madeirense.

(**) "O Comandante Benjamim Lopes de Abreu, natural da Freguesia de Chãos, Ferreira do Zêzere, Santarém, nasceu em 11 de Março de 1945, tendo sido incorporado a 24 de Fevereiro de 1967 na Reserva Naval na Classe de Fuzileiros.

"Frequentou os Cursos de Formação de Oficiais de Reserva Naval (CFORN), obtendo a classificação final de 'Cota de Mérito', Curso de Fuzileiro Especial da Escola de Fuzileiros em 1967. Fez parte do Destacamento de Fuzileiros Especiais Nº 12 na Guiné de 1967 a 1969, como 4º Oficial. Fez também parte do Destacamento de Fuzileiros Especiais Nº 22 de Novembro de 1970 a Dezembro de 1971 tendo participado na Operação Mar Verde, de resgate de prisioneiros na República da Guiné - Conacri e tendo sido colocado posteriormente no Centro de Operações Especiais de Bolama.


"Da sua Folha de Serviços constam numerosos Louvores e Condecorações atribuídas pelas mais altas entidades do Estado, nomeadamente, a Cruz de Guerra de 2ª Classe, a Cruz de Guerra de 3ª Classe, a Militar de Serviços Distintos com Palma e as Medalhas Militares Comemorativas das Campanhas das Forças Armadas Portuguesas com as Legendas 'Guiné 1967-71' e 'Guiné 1972-73'.


"O Capitão-de-mar-e-guerra FZE Benjamim Lopes de Abreu foi casado Com a Sr.ª D. Maria Odete Spencer Salomão de Abreu.


"Faleceu a 08 de Janeiro de 1997, na estrada nacional do Algarve – Lisboa".

Fonte: Corpo de Fuzileiros > 10 de Julho de 2010 > Homenagem ao CMG FZE Benjamim Lopes de Abreu   (com a devida vénia...)

(***) Contra-almirante reformado, faleceu em 2009.

(*****) Vd. poste de 22 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6884: O Nosso Livro de Visitas (98): Joaquim Sabido, ex-Alf Mil da 3.ª CART/BART 6520 (Jemberem e Mansoa, 1973/74)

Vd. último poste da série de 23 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6890: Tabanca Grande (237): Jorge Silva, ex-Fur Mil At Art, CART 2716 (Xitole, 1971/72), e BENG 447 (Bissau, 1972/73)

17 comentários:

Anónimo disse...

Caro Joaquim Sabido
Como li que não te lembras do teu comandante de Companhia posso dizer-te que era o Cap.Mil.Inf. José João Mousinho Serrote. Já te recordas agora ?
Abraço
Luís Borrega
Ex-Fur.Mil.Cav.MA BCav. 2922/CCav.2749
Guiné - Pitche 1970/72

Anónimo disse...

E acabou. Agora que ia embalado.
Bem me pareceu...sabido...ou Sabido e vai sair escrito escorreito. Os tais nós da memória vão-se desatando e vais contando. É um período interessante. Eu sou um bocadito mais velho...digamos mais uns anitos. Estás a ver- 58 e vais andando para a frente até encontrares capicua...tantos??pois dentro de dias cá cantam. Por cantar, Jembemrem, é isso, é que cantou e bem. Pois! Um retardador para curiosos...bem ,talvez não.
Continua a prosa e relata esses tempos e a confusão. Em prosa ou em verso,aqui,neste blogue encontras excelentes poetas.

Camarada Joaquim Sabido um abraço do Torcato que em Jan/68 saiu do RAL 3-Évora a caminho da Guiné e lá regressou. Não vínhamos todos mas disso não falo agora.
Abraço, sê bem-vindo e continua
Jembemrém? vou procurar...

Hélder Valério disse...

Caro camarada Joaquim Sabido

É curioso como o teu relato sobre teres 'apagado' esses tempos durante vários anos e agora, assim de repente, desatares a recordar e a escrever é essencialmente igual ao que se passou com a larga maioria daqueles que chegaram aqui até esta Tabanca!

Portanto, já sabes, aqui há muito e bom material para leitura, esclarecimento, recordação.

Contribui com o teu.

Um abraço
Hélder S.

Luís Dias disse...

Caro Camarada Joaquim SAbido

Gostei das tuas lembranças. Tu a chegares à Guiné e eu mais a minha malta quase a chegar de barco à metrópole.
Essa do foguetório que vocês fizeram...olha que eu também era menino para ter feito o mesmo..., naquelas circunstâncias e em nome dos que ali morreram e padeceram!
Um abraço e sê muito bem vindo a esta imensa Tabanca.

Luís Dias

Anónimo disse...

Há aqui qualquer coisa que não bate certo, amigo Sabido. É possível haver 2 batalhões com o mesmo número? É que, nos últimos dias de Junho de 1972, partiu de Lisboa a caminho da Guiné, o B.ART.6520, oriundo de Penafiel.Este batalhão fez o IAO em Bolama e fez a comissão no sector de Tite.
António Carvalho
C.Art.6250 Guiné 72/74

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Grande Sabi(d)o:

Que sejas bem vindo a este ponto de (re)encontro que é a nossa Tabanca Grande. Gosto da tua linguagem, chã, directa, espontânea, frontal, livre, oral, despreconcebida...

Metes toda a gente no mesmo saco, o da camaradagem, sem olhares à esquerda nem à direita, sem concessões ao politicamente correcto, sem preocupações maniqueístas, inquisitoriais, de julgar os homens com quem lidaste no fim da guerra, em função de eventuais anteriores ou posteriores posições "político-ideológicas"...

Não é fácil evocar aqui, ao mesmo tempo, homens (alguns já falecidos) a quem envias as tuas minhas saudações e respeitosos cumprimentos, "Grandes Militares e Homens que fizeram o favor de ser meus amigos", como o Carlos Fabião, o Faria Paulino, o Almeida Brandão, o Benjamim Lopes de Abreu, o Asterix, o Marcelino da Mata e outros, sem "abrir a Caixa de Pandora", sem soltar os cães ou o coro de louvaminhas, sem a mesquinhez às vezes tão portuguesa de adjectivar, de rotular, de classificar, de julgra na praça pública...

E tu, que conheceste e trabalhaste com estes homens, consegues fazê-lo, consegues falar deles e homenageá-los, com naturalidade, com assertividade, até com afecto, dentro do melhor espírito deste blogue...

Que grande lição! Prestaste-nos já um grande serviço. Luís Graça

PS - Fico, em pulgas, à espera das tuas histórias do fim da guerra...

Anónimo disse...

Caro Joaquim Sabido,

Se o Luís me autoriza, assino por baixo o seu comentário. Esta tua atitude é, de facto, exemplar.
Quanto à questão do António Carvalho: é, de facto, verdade que, a partir de meados de 72, as unidades mobilizadas (batalhões ou companhias independentes) começaram a ter o mesmo número, mas com indicação do ano. Cada Unidade Mobilizadora passou a ser detentora daqueles números. Vejamos o caso do BII 17, por exemplo: a CCaç 4741/72 esteve em campanha em Angola de Setembro de 72 a Setembro de 74; do mesmo BII 17, a CCaç 4741/74 também lá esteve de Agosto de 74 a Setembro de 75. O mesmo aconteceu relativamente a outras companhias dos BII 17 e 18. Tratava-se, penso, de racionalizar o processo de mobilização, de modo que a Unidade mobilizadora ficasse responsável por substituir as unidades que tinhma mobilizado anteriormente. Daí esta opção pelo mesmo número com anos diferentes. No caso da CArt 6250, "Unidos", passou a ser a CArt 6250/72, como aparece em várias páginas internet, (Junho de 72 a Agosto(?) de 74). De Março a Setembro de 74, esteve na Guiné a CArt 6250/73, também do RAP2. Seria a natural substituta da anterior.
Abraço,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Bem explicado e bem compreendido. Obrigado Carlos Cordeiro

Unknown disse...

Meus Caros Camaradas, Companheiros e Amigos;

Procurei ontem responder aos comentários dos Camaradas que tiveram a disponibilidade e a amabilidade de responder, mas excedi-me na escrita e, não consegui enviar absolutamente nada, tendo perdido tudo quanto havia teclado. Isto porque, apesar de ter lido, supra, que o "limite máximo: é de cerca de 4 mil caracteres", supunha eu, na minha ignorância quanto a estas tecnologias, que seria avisado de ter atingido esse limite, assim não aconteceu e, certo é que, pela 1,30h de hoje, lá fiquei sem o texto, coisa que não sei ainda se dá ou não para guardar e se sim, como é que se deve proceder.

Questão prévia: Lamento ter, na minha mensagem, tomado como adquirido que o Sr. Alm. Almeida Brandão ainda se encontrava entre nós, quando afinal, o decesso deste Senhor, ocorreu já no ano de 2009, conforme agora me foi comunicado, isto por não ter tomado em consideração o facto de que o momento em que tive o gosto de o conhecer e de com ele ter conversado e privado, já ter ocorrido há 36 anos.
Por isso, se algum familiar do Sr. Alm. frequentar ou vier a esta Imensa Tabanca, aproveito o ensejo para, embora extemporaneamente, apresentar as minhas sentidas condolências pela enorme perda que tiveram.

1 - Ao Camarada Luís Borrega, com o meu sincero agradecimento pela pesquisa que efectuou, digo que o nome nada me diz e estou certo de que não era esse o nome do Capitão da 3ª Cart do Bart 6520/73. O nome que referes deve, provavelmente, ser o do Cap. da da Cª de Caç que já se encontrava em Jemberém e que era, quase que na sua totalidade, composta por Camaradas com origem na Ilha da Madeira.

2 - Ao Camarada Torcato, agradeço a gentileza por quanto disse na sua mensagem, sendo certo que já, em comentário por mim inserido quanto ao postado pelo Camarada Zeca Macedo, e que se prendia com as relações e com a interacção existente entre militares e Pide, havia correspondido de forma sincera, coerente, dando aí, pleno testemunho de que não embarcava em provocações, nada mais dizendo quanto à questão da Pide, não tendo, por isso, respondido à cassete, nem às frases feitas, que ali foram trazidas à colacção, mas que nunca referem questões essenciais, como sejam: quem? onde? quando? como? e porquê?.

(continua) - antes que ultrapasse o limte

Unknown disse...

Continuação

3 - Ao Camarada Hélder Valério, quero dizer-lhe que, na verdade, tem toda a razão naquilo que diz, pois "esta coisa", ou "este bicho", acometeu-me no ano passado, por esta mesma época de férias e por estes dia, daí que, então, tenha conseguido contactar com os meus Camaradas da C Caç 4641 e ainda fui a tempo de estar presente no 17º convívio da Cª que ocorreu no segundo fim-de-semana de Setembro, como sempre. Reencontrei-os então na Fria, Forte, Farta, Fiel e Formosa cidade da Guarda, em almoço organizado pelo inexcedível e sempre e ainda Amigo Cap. Mil. Amâncio Fernandes, que comandou a C. Caç. 4641, desde Évora ( Reg. Caç. 16), até ao CTIG, quando era suposto terem rumado à RM Angola, ficaram mais perto, ali em Mansoa.
Aproveito para comunicar que no dia 11 de Setembro (2º fim-de-semana do mês 9), nos reuniremos para o 18º convívio, este ano na cidade de Lixa-Felgueiras, com organização e sob a batuta do Camarada Manuel Macedo, que tem os telefones 255 482 513 e 935 783 399 e aceita marcações até dia 4/9. Se alguém da C Caç 4641 vier à Tabanca Grande e não tiver conhecimento do evento, aqui fica a informação.

4 - Parece que o Camarada Luís Dias, apreciou o foguetório, mas recordo-te que, precisamente hoje, dia 26 de Agosto é que se completa o decurso dos 36 anos sobre a assinatura do Tratado de Argel, outorgado pelo Dr. Mário Soares, em representação de Portugal e pelo então Major Pedro Pires, em representação do PAIGC, sei a data certinha porque a ouvi hoje de manhã na Antena 1.
Por isso, atentas as condicionantes e a situação por todos nós então vividas, sendo certo que em Jemberém, continuávamos a "embrulhar" todos os dias, não vislumbrei outra alternativa, até porque ninguém nos dava instruções, isto é, a hierarquia encontrava-se em perfeito colapso, reparem que o Sr. comandante do Bart 6520/73 já não estava, o Cap. da 3ª Cart, também não, e o então Sr. Comandante do COP 5 - Com. Fuz. Patrício, não colocou qualquer objecção à nossa intenção e posterior acção, em fazer explodir o aquartelamento de Jemberém que, recorde-se, havia sido instalado há apenas cerca de 2 anos e à custa do valor, da coragem e até mesmo da vida de alguns outros Camaradas de Armas. Por tudo isto, entendemos proceder nos termos que refiro.

(continua)

Anónimo disse...

Dá-me licença que sublinhe, com apreço pela clareza e pelo exemplo?

"Tivemos o cuidado em não dispor explosivos junto aos memoriais, isso é certo, aquilo que pretendemos foi, no essencial, não deixar lá nada que se aproveitasse, não andámos a trocar galhardetes com o pessoal do PAIGC
(...) à época não dava para tal, pelo menos em razão da memória de quantos por lá tombaram, era impensável constituir qualquer relação de amizade com o pessoal do PAIGC."



SNogueira

Anónimo disse...

Joaquim Sabido,
Leio na parte final do teu comentário, que "a hierarquia encontrava-se em perfeito colapso", e adiante, que o Com. de Bart., bem como o Cap. da 3ª. Cart. ter-se-iam ausentado.
A que título é que se foram embora? Afinal a guerra continuava ou não, na medida em referes que o Aquartelamento continuava a ser atacado? Que instruções foram dadas quando se ausentaram?
Antecipadamente grato pelas respostas que venhas a dar.
Um abraço
J.Dinis

José Marcelino Martins disse...

Bem vindo, Sabido!
Todos seremos poucos para contar a história.

Quanto aos BART 6520, houve dois, oriundos do RAL 5 - Penafiel.

3ª Comp/Bart 6520/72 - Comandante - Cap. Mil. Inf. JOÃO JOSÉ MOUSINHO SERROTE

3ª Comp/Bart 6520/73 - Comandante - Cap. Mil. Inf. JOSÉ MANUEL NUNES MARQUES.


Um abraço

Anónimo disse...

pois é o ex. alf. mil.sabido uma ilustre pessoa a quem eu não me lembro muito bem ter chegado á grande ccac 4641 mas sei que não tive o prazer de lhe fazer uns famosos cortes de cabelo. Quem ler este comentário e que seja um ex militar da ccac4641 já sabe quem o está a fazer um tal puto inocente de 18 anitos um jovem que agora recorda velhos tempos de grandes amizades que todos os anos prevalecemnos encontros do nosso almoça me setembro

Anónimo disse...

Sou o Carlos Rocha da 1ª Comp. do BART 6520/73, Ex. Furr. Milº e lembro-me bem de ti. Nós e a CCS ficámos em Cadique. O teu com. foi exactamente o Cap. Mil.º José Manuel Nunes Marques. Fui apanhado de surpresa com este sítio, mas assim que puder vou-me apresentar e contar também algumas histórias, entra elas um esclarecimento sobre o nosso levantamento militar em Bolama, que culminou com a fuga do Com. Bat. lembras-te??
Abraço a todos e até breve

Unknown disse...

Relativamente a Jemberém e em especial o seu abandono, refiro que à época eu era o Comandante da Companhia. A retirada não correu bem, fundamentalmente por não ter havido directivas e também porque o seu tempo de preparação foi muito curto, talvez umas escassas 12 horas.
Por parte dos Fuzileiros, houve um autêntico saque ao depósito de géneros e cantina.
Como resultado, fui "castigado exemplarmente", tentaram mover-me um processo disciplinar e entretanto desfizeram-me a Companhia. Por acaso, a partir daí a minha comissão melhorou dentro do possível, no inferno da Guiné. Regressei em meados de Outubro de 1974, voltei ao convívio da Família e retomei a minha actividade como Engenheiro. Os danos causados foram enormes e nunca fui nem serei ressarcido dos prejuizos pessoais, familiares, profissionais, económicos, etc, que a tropaa me causou. No dia em que passei à disponibilidade resumi em 3 palavras o meu sentimento: "tropa nunca mais". Prometi a mim próprio que nem a troco dumas óptimas condições, voltaria a trabalhar ou colaborar com tropas, o que sucedeu até hoje e espero que assim seja até ao fim.
José Manuel Nunes Marques
Ex Capitão Miliciano de Infantaria

Norberto G.Pereira disse...

Não se faça confusão. O Cmdt. da 3ªcart, do Bart.6520/73, que comandou Jemberém de 09Mai74/04Jun74, data da desactivação daquela Subunidade, foi o ex.cap. José Manuel Nunes Marques.