quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7130: (Ex)citações (101): Sensatez e rigor no Nosso Blogue (Vasco da Gama / José Brás)

1. Continuação da publicação dos comentário do Grupo do Cadaval, a propósito do Poste 7117 do nosso camarada José Manuel Matos Dinis

Chegou a vez dos camaradas Vasco da Gama e José Brás


2. Vasco da Gama

Quando recebi o comentário do Hélder ao teu texto, de pronto lhe disse desconhecer do que se tratava pois não havia recebido nada vindo da tua parte.
Estava errado e peço desculpa pois descobri, perdido não sei onde, o teu escrito sobre "A Formação do Conhecimento".

Recebi também os comentários do Zé Brás e do Belarmino, trazendo este último apenso o teu texto, o que facilita imenso a análise.

Eu li o texto apenas e só sob o ponto de vista teórico, como ponto de partida para uma troca de impressões sobre um assunto altamente interessante e de grande complexidade para o qual gostaria de contribuir, mas repito, como forma de aprendizagem no âmbito do que a Ciência Cognitiva pretende explicar, já que na prática a linguagem ou o raciocínio ou a inteligência ou a Lógica ou a Epistemologia ou mesmo a inteligência artificial e a cibernética terão de ser tidas em conta para a abordagem da "questão".

Vejo agora, caro JD, que pretendias que o eco do teu escrito bem como os comentários dos camaradas chegassem à Tabanca Grande. Não me parece que aproveite à esmagadora maioria dos nossos camaradas que, tal como temes, vão achar na "coisa" intelectualidade a mais e Guiné a menos, para além de não teres o direito, no sentido de obrigação, de impor o "caminho aos que não querem aprender", obviamente neste contexto.

Sei bem que para crescer como pessoa e como cidadão do mundo tenho de ter acesso ao conhecimento, tenho de ter essa consciência, esse querer, essa vontade, como sei que o conhecimento não dá poder a ninguém, mas sim a utilização do que dele fazemos.

Que sorte eu tive em ter sempre quem me transmitisse informação paralela à que a escola me fornecia, mesmo na universidade onde a aprendizagem e a consequente aprovação em qualquer que fosse o curso era tão só o "decorar" o que se ouvia, sem necessidade de qualquer interpretação ou raciocínio, duas palavras perigosas para a altura; também quase todos os universitários do meu/nosso tempo não passávamos de netos do Zé Dinis.

Querer entrar no Blogue por esta porta, parece-me perigoso e de duvidosos resultados.

Não vou passar os olhos pelo que escrevi.
Fi-lo com o coração de vosso amigo.
Vasco da Gama


3. José Brás

Meus amigos
Já dizia o outro… “penso, logo existo”, tentando acabar com a velha discussão do ovo e da galinha, perdão, do corpo antes da alma; da existência antes da consciência, está visto que em tentativa frustrada para além da profundidade eloquente da afirmação.

E se não pensar? Quer dizer, se eu não tiver uma réstia de consciência que existo porque penso?

E se não fosse mais do que uma célula que, sem cérebro nem consciência, contém em si o sinal claro da organização da vida?

Nem sei, juro, nesta semi-insanidade que já me vai ocupando, nem sei se o papagaio do Belarmino pensa ou não pensa sobre o que diz e o que faz.

Se o compararmos a uma criança quase bebé, começamos a meter os pés pelas mãos e acabamos às voltas com as nossas próprias contradições.

Pensar por si próprio, pela sua cabeça, sem manipulações nem interferências do dito saber acumulado, isso o que é?

Será que é verdade mesmo que homem alfabetizado é homem livre, como em tempos se quis (honestamente) convencer o povo?

Voltando à criança, sei que a maior parte, na casa dos dois, três anos, tem crises de existência tremendas, parecendo horrorizados com qualquer coisa que nos escapa e não conseguimos, nem controlar nelas, nem entender.

Dizem que são restos de memórias que carrega quem nasce no centro da natureza que é o ventre de mulher; do encontro dos fluidos de homem e de mulher, sem compromissos, ainda, com a informação organizada pela sociedade; instinto puro de ser novo de nascença e velho de milénios não-mortos.

A partir daí, começa a aprendizagem, a moldagem dos sentidos e da memória. Memória sensorial, base de dados, memória curta, memória longa, centro de decisões e feed back

Seremos pela vida fora o que a sociedade organizou para sermos, quer dizer, seremos o que pensarmos… e pensamos o que somos uns sacanas, uns santos, e uns nem sim nem sopas, dependendo, está visto, das capacidades diferentes de ser para ser, e mesmo isso, mesmo isso… não sei, não.

Com isto, ainda me apanharão a defender a ideia de que melhor mesmo, seria não ter recebido qualquer informação da cidade e ter atravessado a vida apenas com a soma das experiências milenares dos antecessores, como os pássaros ou como os elefantes.

E aí, bem sei, sugerindo isso, constituo-me de imediato o objecto privilegiado da vossa chacota e riso.

Pensar pela minha cabeça, a sério, não acredito que pense porque, nascido em aldeia atrasada, num sítio onde os paisanos batiam no burros e nos filhos, ainda assim, nela saquei sintomas de pensamento, de conceitos sobre burros e filhos; sobre galinhas e canja; sobre cerejas e melros.

Há uma coisa que sempre me intrigou e para a qual não tenho qualquer explicação. Desde que me conheço (lá estou eu a dar na burra), sem ter tido alguma vez, dos que me rodeavam, qualquer indução sobre a arte das aves, sempre me fascinou a possibilidade de voar; sempre me prenderam as luzinhas a acender e a apagar que via no horizonte cruzando o lusco-fusco do fim de tarde, evoluindo num sentido qualquer que me escapava e me encantava.

Agora, quanto à corrente anti-pensamento que, de quando em quando, perpassa com maior ou menor vigor na Tabanca… é chão que para mim já deu uvas, sobretudo depois da edição daquele trabalho que mandei ao Carlos e foi editado (Colonização Portuguesa – Particularidades), porque concordando ou discordando, não abandono na picada quem comigo a suporta, embora continue a rejeitar convictamente os ecos, conscientes ou não, do General Mola.

Nunca conseguiria afirmar que aquela gente não pensa pela sua cabeça. Acho, isso sim, que cresceu no pensamento que o é, com uma cabeça que talvez nem seja (que grande embrulhada), de resto, como a minha que o é e não é.

Naturalmente que aceito a ideia de que anda por aí muita gente que discorda de mim radicalmente, a uns, reconhecendo-lhes cabeças brilhantes (e não perigosas apenas porque sem tempo), e a outros apenas… o não porque não.

A uns e a outros desejo o melhor da vida e aos que, mesmo discordando, me respeitam, o meu abraço sempre disponível.

Desculpem qualquer coisinha pelo imediatismo desta, e recebam abraços
José Brás
__________

Notas de CV:

Vd. postes de:

12 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7117: (Ex)citações (97): Sensatez e rigor no Nosso Blogue (José Manuel Matos Dinis)

13 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7123: (Ex)citações (98): Sensatez e rigor no Nosso Blogue (Hélder Sousa / Belarmino Sardinha)
e
14 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7126: (Ex)citações (99): Sensatez e rigor no Nosso Blogue (Carlos Cordeiro)

Vd. último poste da série de 14 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7129: (Ex)citações (100): Do alto dos poilões da Amura, séculos de história nos contemplam... (Nelson Herbert)

1 comentário:

Anónimo disse...

Caros camaradas

Este meu comentário engloba todos os textos dos camaradas sobre este assunto.

No mínimo o tema não acrescenta nada ao comum dos ex-combatentes, é a minha modesta e sincera opinião.

O caso concreto destas opiniões que começa por um grupo de camaradas intitulados “Grupo do Cadaval”, camaradas esses que muito respeito pelos excelentes textos com que enriquecem este blogue.

Mas uma coisa é eu respeitar e enaltecer as vossas qualidades intelectuais e outra bem diferente é não tecer comentário acerca do que me preocupa neles, que pretensamente são para analisar e comentar o referido texto, a pedido do camarada que o escreveu.

Dou um exemplo simples.

Se eu estiver organizado num grupo de 10 camaradas, escrevo um texto peço-lhes de seguida para apreciarem o referido texto, eles concedem-me esse pedido e a seguir são publicados os 10 textos de apreciação no blogue.

Tenho algumas reservas nesta questão de “grupos” porque quer se queira ou não, acabam por arredar da discussão do tema a esmagadora maioria dos camaradas, que são membros colaboradores do blogue, até pela simples formulação.

Este assunto é lá com eles “Grupo do Cadaval”!

O tema e a forma como está escrito é no mínimo arriscado fazer considerações porque são um exercício de teorias, que pretendem levar-nos a ter na devida conta e medida o que é o rigor dos nossos escritos e a sensatez nas apreciações que fazemos das escritas e leituras.

Mas da forma como é exposto, parece-me que se pretende dar aulas de comportamento e isso na minha modesta opinião não fica bem.

Faço desde já um apelo, escolham outro assunto mais abrangente e até mais polémico e vamos formar mais saber e conhecimento, com o maior rigor possível e já agora com muita sensatez.

Um grande abraço para todos vós

Manuel Marinho