sábado, 30 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7192: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (30): Forgotten African Soldier / O Soldado Africano Esquecido (Jochen Steffen Arndt, Universidade de Illinois em Chicago)

Brasão da CCAÇ 3 (a que pertenceram entre outros os nossos camaradas A. Marques Lopes e João Manuel Félix Dias, em épocas diferentes): Amando e Defendendo Portugal / 3th Company Coat of Arms: Loving and  Defending Portugal... 
Cortesia de /Courtesy of  João Manuel Félix Dias (CCAV 2539, CCAÇ 3, 1969/71)


1.  Mensagem de um leitor do nosso blogue,  norte-americano (mas que conhece Portugal), Jochen S. Arndt, doutorando em História Africana, Universidade de Illinois, Chicado (*):

Date: 2010/10/21
Subject: Pedido de Ajuda para um Projecto de Investigação sobre Antigos Soldados Africanos

English version [Versão Portuguesa em baixo]

Dear Professor Luís Graça and Members of the Editorial Board,

My name is Jochen Arndt and I am a doctoral student at the University of Illinois,  Chicago,  in the USA. I have recently found your website and your blogue on the internet. Both your website and blogue are of great interest to me because I am engaged in a academic research project whose purpose is to draw attention to the African soldiers and militias who served with the Portuguese forces in Africa between 1961 and 1974.

I hope that you agree with me when I say that the historiography of the colonial wars has to some extent forgotten the numerous African soldiers who served with the Portuguese colonial forces in Africa. It is not so much that they have not been mentioned at all, but rather that their personal stories, motivations, and experiences have been largely neglected by historians. In other words, historians, if they have tried at all, have looked at these soldiers through the existing archival records such as official documents and reports. Since these archival records include little personal information about the soldiers, we know actually very little about why these African soldiers joined the Portuguese forces and fought for them. As a result, they remain "outside" of history. I believe that it is their interest as well as the interest of history to bring them back "into" history.

In order to achieve this, it is necessary to construct a new archive that includes as many personal accounts of African soldiers as possible. How many? This is difficult to say. However, to give you an example, a project is currently under way in Britain to create such an archive of personal accounts for African soldiers who served in Southern Rhodesia. The researchers there are trying to collect 120 personal accounts. Wouldn't it be fantastic if we could achieve a similar number for the African soldiers who served with the Portuguese forces in Guinea?

What is the best course of action to achieve this goal? I have created the website
http://www.forgottenafricansoldiers.org  (**) as a means of opening a channel of communication with as many African veterans and European veterans who served with African soldiers as possible. I hope that both European and African soldiers will provide me with personal accounts and, more importantly, will help me establish a database of contact information. The database of contact information will be crucial for the second phase of my research plan when I will travel to Portugal and Guinea-Bissau to conduct personal interviews with these veterans.

I believe that together these interviews and the written accounts will form the cornerstones of the new archive. Perhaps it will also include copies of pictures, copies of personal letters, etc. Researchers will then be able to use this new archive to write histories of these African veterans, the colonial wars in Portuguese Africa, and the period of decolonization.


I have recently been in contact with Paulo Santiago (Pel Caç Nat 53), Virginio Briote (Comandos), Amadú Bailo Djaló (Comandos), Ibrahimo Djaura (CCAÇ 19), and Joaquim Alves (Pel Caç Nat 52, CCAÇ 15). They have been very helpful. I hope that I can interest you and the broader community of your blogue in this project as well. I think your blogue would be an excellent way to get in touch with a larger number of European and African veterans.

I am looking forward to hearing from you. Please feel free to contact me with any questions that you may have.

Kind regards,

Jochen S. Arndt
PhD Student
Department of History (MC 198)
913 University Hall 601 South Morgan Street
University of Illinois at Chicago
Chicago, IL 60607-7109


[Versão portuguesa, corrigida por L.G.]


Exmo. Professor Luís Graça e Co-editores,

Meu nome é Jochen Steffen Arndt. Sou estudante do programa de doutoramento da Universidade de Illinois em Chicago, EUA. Encontrei recentemente o seu site e também o seu blogue na internet. O seu site e o seu blogue são de grande interese para mim porque estou a realizar um projecto de investigação,  académica, sobre os soldados e os milícias  africanos que serviram com as forças portuguesas em Africa entre 1961 e 1974.

Talvez concorde comigo quando digo que a historiografia das guerras coloniais tem em certa medida esquecido os numerosos soldados africanos que integraram as forças portuguesas em África. Não quero dizer que eles tenham sido completamente ignorados, mas sim que a suas histórias pessoais, motivações e experiências têm sido largamente ignoradas pelos historiadores. No entanto, este problema tem em grande medida a ver com a estrutura dos arquivos históricos existentes: os documentos e os relatórios oficiais incluem poucas informações sobre os soldados, as suas vidas, e as suas experiências.


As questões que norteiam o meu projecto são os seguintes: Porque é que esses soldados e alistaram nas forças de segurança das colónias portuguesas? Quais foram as suas experiências antes, durante e após o período de conflito? Quais são as suas memórias do tempo de vida militar ? Como é que eles sobreviveram no período pós-colonial? O objectivo deste projeto de pesquisa é encontrar respostas para estas e outras perguntas e usá-las como fonte de material para estudos sobre estes assuntos.

A fim de realizar este objectivo, precisamos de recolher o maior número possível de relatos pessoais de soldados africanos. Quantos? Isto é difícil de dizer. No entanto, para dar-lhe um exemplo, há um projecto em curso na  Grã-Bretanha para criar um tal arquivo, com referência aos soldados africanos que serviram na Rodésia. Os investigadores  vão lá tentar  recolher 120 relatos pessoais. Não seria fantástico se pudéssemos atingir um número semelhante de relatos pessoais de soldados africanos que lutaram com as forças portuguesas na Guiné?

Qual é o melhor curso de ação para atingir este objectivo? Eu criei o site
http://www.forgottenafricansoldiers.org  (**) com vista a abrir uma via de communicação com veteranos de guerra,  europeus e africanos. Na primeira fase do meu projecto, eu gostaria  recolher relatos pessoais de veteranos africanos e também de veteranos europeus que comandaram ou enquadraram soldados africanos. Nesta fase, eu também gostaria de poder criar uma base de dados que incluisse nomes e contactos de veteranos africanos. Numa segunda fase, penso viajar até Portugal e África para realizar entrevistas orais com os ex-comnbatentes africanos e também com alguns antigos combatentes europeus.

Dado este contexto, gostava de perguntar se o Senhor Luís Graça os co-editores estariam dispostos a participar neste projecto, utilizando o seu blogue com um meio de chamar atenção para este estudo e a sua finalidade.

Por enquanto eu estabeleci contactos através do site
ultramar.terraweb com alguns veteranos europeus e africanos. Entre eles encontram-se  Paulo Santiago (Pel Caç Nat 53), Virgínio Briote (Comandos), Amadú Bailo Djaló (Comandos), Ibrahimo Djaura (CCAÇ 19), e Joaquim Mexia Alves (Pel Caç Nat 52, CCAÇ 15). Seria de grande interese se outras pessoas puderem dar apoio a este projecto com seus relatos e contactos.

Agradeço-lhe sinceramente a atenção dispensada. Por favor, não hesite em contactar-me e fazer as perguntas que entender.



Atentamente,
Jochen S. Arndt (...)
 

2. Comentário de L.G.:

Caro Jochen:

O nosso blogue pretende ser também uma ponte com os guineenses, os que lutaram contra nós e os que lutaram ao nosso lado. Tentamos há anos recolher e divulgar as suas histórias de vida. A tarefa não é fácil, apesar dos nossos contactos, nomeadamente com os nossos antigos soldados africanos, em Portugal e na Guiné. Uma parte deles foi morta ou já morreu. Outros emigraram ou voltaram às suas aldeias. Estão dispersos, estão doentes, são pobres, falam mal o português, expressam-se em crioulo. Conseguir 120 entrevistas é um objectivo muito ambicioso. Precisas de apoio logístico e de recursos financeiros e humanos, incluindo uma boa equipa no terreno. Sugiro que contactes a ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, como parceiro local credível e com trabalho feito na preservação da memória da guerra colonial / luta de libertação. Da nossa parte, tens as portas abertas da nossa Tabanca Grande. Boa sorte para o teu projecto. Luís Graça & Camaradas da Guiné.


Dear Jochen:

Our blog also aims to be a bridge with the Guineans, for those who have fight both with us and againts us. We are also trying to collect and disseminate their life stories. The task is not so easy, despite of our contacts, including with our former African soldiers living in Portugal and in Guinea-Bissau. Some them have been executed after independence; other have died due to poverty and disease. Others have emigrated or are returning to their villages. They are scattered, ill, and poor, barely speaking Portuguese.  Getting 120 interviews is a very ambitious goal. You need a lot of  logistical support, and financial and human resources, including a good research team  to carry out the field work. I suggest that you will also contact the NGO AD - Action para o Desenvolvimento [, Action for Development,], as a credible local partner, with work done in preserving the memory of colonial war / national liberation struggle. 

On our side, we are ready and pleased to open to you and to your research team the doors of our Tabanca Grande [, Large African Village]. Good luck to you as a project leader. Luís Graça & Comrades of Guinea-Bissau.

_____________

Notas de L.G.:

(*) 16 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7135: O Mundo é Pequeno e o Nosso Blogue... é Grande (29): Atenção, Tony Grilo, Canadá, notícias da malta da CCAÇ 1427 (Cabedu, 1965/67)


(**) ForgottenAfricanSoldier.org é um projecto de pesquisa académica. O coordenador do projecto é Jochen Steffen Arndt, o qual completou a sua licenciatura em Administração de Empresas e Marketing Internacional, em 1995. Depois de ter vivido e trabalhado na Alemanha, Portugal e Estados Unidos entre 1996 e 2005, entrou para o programa de mestrado em história,  na Stephen F. Austin State University, programa que acabou com sucesso em 2007. Está actualmente no terceiro ano do programa de doutoramento em História Africana,  na Universidade de Illinois em Chicago,  onde a sua investigação se centra na relação entre o colonialismo, a violência e a formação da identidade. Arndt publicou artigos em revistas científicas como A Revista de História do Mississipi O Jornal de História Militar.  Colabora também frequentemente na publicação online Do olho de Clio.

10 comentários:

Anónimo disse...

Caro Luis

Atencao a correcao necessaria ao titulo do poste... Illinois..e nao California !

Nelson Herbert

Carlos Silva disse...

Caro Amigo Luís

Já expliquei ao nosso amigo Jochen todas essas dificuldades que apontas e mais algumas.
Espero que ele compreenda agora.
Mesmo a tua sugestão de reencaminhar para a AD tenho dúvidas que resulte, pois só se for que o Pepito consiga alguns contactos com antigos combatentes do PAIGC.
Dos nossos presumo que seja muito difícil, mesmo aqui no nosso País.
Quantas entrevistas consegues ou conseguiste dos soldados da tua CCaç 12. Já conseguiste alguma?
Para mim, já expliquei ao nosso amigo Jochen que o projecto é excelente mas muito arrojado para o levar por diante.
Espero que tenha bom êxito
Um abraço amigo
Carlos Silva

Luís Graça disse...

Carlos: Tens razão... os obstáculos são muitos. Tu conheces, e melhor do que eu, o terreno, a actual Guiné-Bissau, a realidade da diáspara, o processo de diabolização dos guineenses (fulas, manjacos, e outtros) que foram "colaboracionistas"... Não conheço o Jochen, mas nem seis e é americano de origem... Não me parece em todo o caso um daqueles americanos com uma visão etnocêntrico do mundo, e que nada sabe de georgarfia... Pelo menos, viveu em Portugal, conhece Portugal...

paulo santiago disse...

Carlos e Luís, não queiram já pôr o Jochen perante um imenso mar de dificuldades. A tarefa a que se propõe é complicada,mas é exequível,penso eu. Claro que só posso falar de ex-militares do Pel Caç Nat 53 com quem contactei em 2005 e 2008 e sabendo onde moram na actualidade,e são apenas meia dúzia.Já troquei vários mail's com o Jochen, e no último, disse-me andar a tentar contactar a AMFAP(Assoc.Mil. Forças Arm.Port.)em Bissau, da qual não tenho contacto,
se tiverem esse contacto ele agradece.Ele não quer entrevistar
ex-guerrilheiros do PAIGC,apenas
ex-militares das NT,mas está muito
interessado em falar com um dos meus mais fiéis guarda-costas que
em 98/99 andou com o Ansumane Mané.
O Jochen já me pôs o problema dos
cuidados a ter quando chegar à fala
com esses ex-militares,como isso
poderá ser encarado pelas autoridades da Guiné-Bissau, dei-lhe a minha perpectiva.
Fora do contexto,o Jochen tem grandes saudades das"francesinhas"
que comeu durante a sua estadia no
Porto
Abraço

Santiago

Carlos Silva disse...

Força Paulo Santiago

Avança com o teu Pelotão
Aqui em Bissau 2 eu contacto com muita malta e já assisti pessoalmente a negas dadas por eles a pedidos de entrevistas.
Eu estava ao lado deles.
Com isto não quero dizer que não haja Alguém que alinhe.
Eu não tenho problemas, como tu não tens, mas é falar normalmente e não a fazer entrevistas e falo com dezenas e trabalhei/trabalho para dezenas.
Sou muito conhecido em Bissau 2 e na Guiné.
Eu e Jochen trocamos muitos mails e fiz-lhe ver as dificuldades, ninguém quer criar dificuldades, apenas quis fazer ver-lhe a realidade que conheço e nada mais.
Ele falou-me em ti, e 2º dizes já arranjaste alguns. òptimo e bom êxito.
Falou-me também no Birginio Briote e no Luís Graça, mas até agora ainda ninguém me disse quantos potenciais entrevistados arranjaram.
Um grande abraço
Carlos Silva

Anónimo disse...

Há alguma informação relativamente ao número de militares guineenses das FA portuguesas que vieram para Portugal no fim da guerra ou posteriormente? Há alguma ideia de quantos viverão em Portugal actualmente?
Um abraço,
Carlos Cordeiro

Lopes de Sousa disse...

Olá meus Caros amigos e Camaradas...Fui membro da 35ª Companhia de Comandos-Guiné-71-73.
Como devem perceber tenho imensas aventuras para contar sobre a Guiné...umas boas!...outras muito más!...Por exemplo Caboiana churo,mata do bulangrês,olossato,farim...etc!...etc!...
Abraços

Lopes de Sousa disse...

Olá pelo que noto...Não encontro nada sobre a 35º companhia de Comandos-Guiné-71-73.
ABRAÇOS CAMARADAS.

manuel fernandes disse...

Amigos, não servi na Guinémas talvez vos interesse saber e talvez contactar com um ex combatente, cujo batalhão recebeu a Cruz de Guerra de 2ª classe,de raça negra, que presta serviço como Vigilante no Shoping Mouraria, no Largo Martim Moniz em Lisboa. Chama-se Carlos Barbosa. Terá por certo muitas coisas para contar sobre os combates em que participou. Talvez tenha interessa, até porque continua inserido no maio das gentes guineenses e seria porventura uma boa fonte de contacto. Cumprimentos

Unknown disse...

Amigos e Camaradas da Guine.
Eu estive na Guine nos anos de 65/67, pertencia a C. Cac. 1423, Bat.1858. Gostaria de aderir ao grupo de Camaradas da Tabanca Grande. Agradeço-vos contacta:
E-mail: luisbras3@sapo.pt