segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7206: Operação Saudade 2010 (Mário Beja Santos) (2): Os meus anfitriões em Santa Helena - Bambadinca

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Outubro de 2010:

Operação saudade 2010 (2)

Os meus anfitriões na Guiné-Bissau, em Santa Helena, perto de Bambadinca

Para percorrer o Cuor a palmo, rever todos os locais onde vivi, abraçar pela última vez os amigos e as populações que ali viviam entre 1968 e 1969, ir a Mato de Cão, santuários do PAIGC, Enxalé, sentir aqueles meandros do Geba, e esperar o macaréu.

Para visitar as tabancas beafadas de Amedalai, Taibatá, Demba Taco e Moricanhe, por onde andei entre 1969 e 1970, chegar ao Xime e daí vaguear sem pressas até Ponta Varela, depois o Poidom, Ponta do Inglês e acabar no Burontoni e Baio, precisava de dois apoios logísticos fundamentais: comida, pernoita e banho; e viatura e condutor experiente, a dominar fluentemente o crioulo-português.

Aqui vai a fotografia dos meus anfitriões, vou ficar em Santa Helena, muito perto de Bambadinca. Lá fui, em tempos de guerra, eu e o Jorge Cabral, na altura em Fá.

Estou à espera do contacto do Jorge Cabral, ele quer passar os últimos anos (últimos? Mais 40,50 anos, insuportável, a chatear as bajudas...) em Finete, penso que ele quer que eu saiba preços de moranças T0, T1 e T2.

O maravilhoso disto tudo é que os anfitriões estão impacientes em conhecer-me.


Quanto à viatura, o meu Querido Fodé Dahaba cede-me um 4x4 adaptado ao local, Kalil, um dos seus filhos, será o comandante do bólide. Eu também.

já recebi encomendas do camarada Torcato, levo mensagens de paz e muita saudade. Vejam lá em que é que vos posso ser útil.

Um abraço do
Mário
__________

Notas de CV:

(*) Vd. último poste de 31 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7199: Notas de leitura (163): Guerra na Guiné, por Hélio Felgas (4) (Mário Beja Santos)

Vd. primeiro poste da série de 29 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7188: Operação Saudade 2010 (Mário Beja Santos) (1): Carta ao meu querido amigo Fodé Dahaba

7 comentários:

Joaquim Mexia Alves disse...

Boa viagem Mário

Que te encontres e reencontres por aquelas terras da Guiné.

Se encontrares alguém do nosso 52 do meu tempo, (Tomango Baldé, Braima Candé, José Orabé, alguns nomes de que me lembro, e outros), dá-lhes um grande, grande abraço meu.

E um para ti forte e camarigo

Luís Graça disse...

Mário:

Só o "Tigre de Missirá" seria capaz de uma aventura destas, que exige um grão de loucura e um golpe de asa de génio...

Duas palavras me ocorrem (três, mas a inveja, esse pecado tão português, não me fica bem): admiração (pelo teu gesto, carácter, vontade indómita, estoicismo, coerência, talento) e... pena (de não te poder acompanhar, com máquina de vídeo e de fotografia, para registar as emoções de um lado e do outro)...

Quero arranjar tempo para estar contigo antes de partires. E quero garantir-te todo o apoio do nosso blogue.

Luís

PS - A a propósito, como se chama o teu primeiro neto (ou neta?)

Anónimo disse...

Camarigo Mário
Boa viagem e saboreia todos os momentos como se estivesses na esplanada do "PELICANO", a deliciares-te com um Ninho de Camarão.
Regista tudo em fotos ou filmes para compartilhares com a "rapaziada".
Abraço do Tamanho do Corubal
Luís Borrega

Hélder Valério disse...

Caro camarada Beja Santos

Ainda não tinha tido oportunidade para te desejar umas boas viajens, uns reencontros frutuosos e uma estadia plena de sucesso.

Tenho a certeza que a emoção vai explodir fortemente mas acho que depois do primeiro impacto estarás mais forte, mais em condições para conseguires atingir os objectivos a que te propões.

Irás (re)encontrar pessoas e lugares, quase de certeza que algumas coisas de afligirão, mas procura ser frio, objectivo, sempre fraterno e solidário. Os resultados surgirão.

Vai e volta bem!

Um abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Caro Mário!
Passaram quarenta anos! Como estará Missirá? E Finete? E a minha querida Tabanca de Fá Mandinga. Será difícil encontrares pessoas daquele tempo. Porém, se conheceres Modji Dahaba, lembra-lhe o seu namorado, o Alfero, a quem ela escreveu para Missirá, pedindo que a fosse raptar a Fá. Mário, olha também por mim todos os locais e na estrada Bambadinca – Bafatá, corta para Fá e dois quilómetros depois, encontrarás uma grande árvore.
Deves colher as bagas. Espero que as tragas… antes que eu me transforme em velho avinagrado (ou aviagrado).
Se chegares a ir à Fá, sobe ao antigo Depósito da Água, no qual eu assistia aos ataques a Missirá.
Lá dentro, encontrarás um caderno com poesia impublicável.
Repousa na Ponte do Rio Undunduma, pesca no Rio Gambiel e deita à água, uma garrafa no Mato Cão, porque o Geba desagua no Tejo, como na altura me convenci, obrigando a minha Amiga Flora, a deslocar-se todos os dias ao Cais das Colunas… Talvez desta vez, a garrafa chegue… quem sabe?!
Desejo-te uma empolgante Romagem.
Um Abraço
Jorge Cabral

Ps.: Espero acabar os meus dias em Finete. Os dias… porque para as noites, estou a preparar outro destino…

Mário Beja Santos disse...

Queridos amigos, se estão assim tão melancólicos, se há tanta nostalgia nestas encomendas para ver e captar, não seria melhor virmos pelo menos 4 até à região? Se fôssemos 4, alugávamos um táxi, havia passeios de manhã, de tarde e à noite. Logo de manhã, deixávamos o Jorge Cabral em Fá, à tarde íamos buscá-lo e depositá-lo em Finete, sempre entregue às melhores bajudas daqueles anos 60... O Luís seria largado em Bambadinca a fazer inquéritos sobre trabalho e saúde, sobretudo nos Nhabijões, onde há trabalhadores agrícolas e pescadores. O Joaquim Mexia Alves teria a oportunidade, diariamente, de ver o macaréu e visitar os aldeamentos balantas entre Chicri e Madina.
O que acima de tudo vos quero dizer é que me sensibiliza o que aqui escrevem. O Jorge Cabral esteja descansado, lançarei uma garrafa no Geba, tal como pede. E haverá uma operação para reaver a sua poesia, mesmo que o que esteja no tronco da árvore seja uma pasta indecifrável. O Luís Borrega esteja descansado, passar pelo Pelicano é obrigatório, foi ali que tive o meu jantar de casamento. Quanto ao resto, goss goss, pela bolanha fora!
Um abraço do Mário

Anónimo disse...

Meu Alfero J.C.
Meu Alferes M.B.S.

Que lindo texto alfero!

Como é possível dizer-se tanto com tão poucas e certeiras palavras.

A "palha" que ornamenta tantos e tantos textos para encher papel, é substituída por um discurso cheio de substância, "revisitador" e ao memo tempo "alegremente triste".

Outra coisa não seria de esperar do nosso Jorge Cabral que aprendi a admirar no nosso Blogue pela sua altíssima capacidade de contador de histórias e pela qualidade das suas posições de tolerância que tantas vezes vai assumindo.

Outra coisa não mereceria o destinatário do recado, o Mário Beja Santos, homem de obra feita, elemento de destaque na Tabanca Grande e que eu tive a sorte de conhecer em Mafra de 1970 e de quem me tornei admirador e depois amigo.

Obrigado aos dois, obrigado também ao nosso Blogue maravilhoso que me deu oportunidade de conhecer outros "gajos" maravilhosos que eu abraço a todos, desde o meu Buarcos lindo, simbolicamente, na pessoa do Comandante Luís Graça.

Vasco A.R. da Gama