sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7307: (Ex)citações (110): Se não discutir com os meus amigos que são diferentes, mas meus amigos, discutirei com quem? (José Brás)

1. Mensagem de José Brás* (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 19 de Novembro de 2010:

Pensei, pensei... e acabei escrevendo isto que te envio com um abraço
José Brás


Se não discutir com os meus amigos que são diferentes, mas meus amigos, discutirei com quem?

Meus amigos

Se querem que lhes diga, não acredito que uma cópia seja alguma vez... uma cópia, quer dizer, a reprodução exacta da coisa copiada, seja ele um texto, uma foto, um objecto qualquer que se possa tentar imitar, colocar sobre o vidro de uma fotocopiadora ou impressora, a jacto de tinta, laser, analógica ou digital, e que saia o retrato chapado da pretensa irmã.

Nem do outro lado do espelho se poderá dizer que está a mesma coisa que exibimos deste lado, reflexo apenas ponto a ponto reproduzido virtualmente porque sem tempo nem espaço. Reparem que estou a falar apenas em coisas sem vida, folhas de papel garatujadas com boa ou má caligrafia, ortografia apurada ou descuidada, careta de tio que se pôs a jeito para a foto no dia dos anos, coisa até com volume que caiba sobre o vidro da maquineta, ou até, voltando ao espelho, as fuças de um gajo que se põe sério afagando a face depois da barba cortada.

Imaginemos agora um ser vivo, seja gato de estimação, dizem que sem alma nem inteligência, o que, se calhar, não são a mesma coisa, seja cidadão em aldeia ou cidade nascido, moirejando o pão desde criança na escola até ao lar da terceira idade, crescendo por aí, por fora e por dentro, debaixo de calores e chuvas desiguais, apanhando nas ventas ou afagado por mães diferentes, comendo pão escuro ou carcaça afrancesada.

Mudando o ritmo a isto, torcendo um pouco direcção da fala e do pensamento, perguntemos agora a nós próprios primeiro, e a outros, depois: -que raio de condição humana que nos leva tantas vezes a fingir que queremos amigos quando afinal queremos apenas cópias, gente que nos diga sim a cada ai que soltamos, que nos sorria amistoso e falso, ou que nos grite ainda mais falso "és o maior!"?

Que raio de sina nos ata a este desejo de sermos uma espécie de deus rodeado de seus santos e anjos?
Bem sei que na teoria dos bio-sociólogos (é assim que se diz?), tudo isto se passa no íntimo da tremenda guerra no mundo dos genes pelo poder da preservação da espécie, guerra não menos feroz do que a dos arianos que no século passado destruíram meia Europa por duas vezes.

E se é assim, que poder tem essa guerra sobre a inteligência do homem, capaz de o utilizar sem mais nem ontem, de o separar do vizinho, e pior ainda, de lhe utilizar o espírito, a sensibilidade, a capacidade criadora e o próprio amor, ao ponto de se digladiarem, não para tornar mais claras e aceitáveis as diferenças, mas para romper ainda mais, como se cada um fosse um planeta afastado sem remissão.

Acabamos sempre por ir perdendo amigos, reduzindo o grupo dos que se sentem bem connosco, até ao epílogo do beijo de Judas.

E isto vem aqui a que propósito, já que algum propósito hei-de ter com este...despropósito.
Vamos lá ver!

Estive a ler vinte e cinco (que afinal eram 22) comentários a um trabalho de Beja Santos no poste, creio que 7297, sobretudo na parte que explodiu com a pergunta deste "Não há ninguém que queira escrever sobre o recuo estratégico que estava em marcha na Guiné, naquele segundo trimestre de 1974?".

Li, e a bem dizer, nem devia meter o bedelho nesta disputa porque, tratando-se de disputa, vem mesmo a calhar para a chapar aqui com a minha cagança de cima. E a disputa encarniça-se sempre, à volta da ideia "ganhámos ou perdemos a guerra?" como se fosse possível chegar a uma verdade inegável, absoluta e última, apenas porque uns acham que sim e esgrimem opiniões mas também documentos, actas de reuniões, cópias de planos, relatos de batalhas, e outros dizem que não, igualmente escudados na mistura de convicções, outros documentos, outros relatos de situações localizadas ou gerais.

Vendo bem...

- que estávamos a perder a guerra dizem muitos militares portugueses, gente bem colocada para construir opinião credível, respeitados pela sua coragem e valentia exemplar na mata, ou estrategas de Bissau, incluindo o General Caco que se demitiu justamente por isso (também na certeza que Lisboa não podia dar-lhe mais nada); incluindo o seu substituto no posto que vem agora desdizer o que disse então; incluindo Lisboa que chegou a aceitar encontros em Londres mas preferia a derrota do seu exército à "desonra do abandono".

- que podíamos ganhar a guerra dizem também valentes e esclarecidos militares portugueses (e até alguns guineenses), seguros que seria possível aguentar posições e de que também o PAIGC estava com enormes e dificilmente solucionáveis problemas, não apenas para manter a ofensiva no nivela a que tinha chegado, mas mesmo para manter a coesão interna depois da morte de Amílcar e no meio do cansaço extremo dos seus combatentes.

E quem sou eu para me colocar num dos lados da discussão, se não passei de um Furriel colocado num sítio lixado, é certo, mas limitado na minha visão das coisas, não apenas pelo horizonte dos acontecimentos, mas também pelas minhas próprias convicções morais?

Acredito que perderíamos a guerra, não no significado que damos aqui à palavra perder, construído na ideia do poder das armas, na coragem dos combatentes, na sua capacidade de sacrifício e arte militar, nos meios à disposição, etc..

Acredito que acabaríamos por a perder, por um lado por carência absoluta de razão histórica e de capacidade de nos opormos à marcha da humanidade (não cabendo aqui apreciações se para o bem ou se para o mal), mas também por esgotamento de meios disponíveis neste pequeno e atrasado País a que orgulhosamente pertencemos mas não deixamos de analisar racionalmente.

Acredito que a poderíamos aguentar ainda muito tempo se estivéssemos dispostos a mais experiências de Guidage, como no-la descreve sem ficção (que alguns repudiam) o Daniel Matos no interior do quartel e outros nas colunas de apoio, ou mais invasões aos países vizinhos, como Guiledje e Gadamael, e como tantos outros locais daquele pequeníssimo território.

Falar de Mirages e de Migs é apenas um exercício verbal, provavelmente um e outro muito distantes de qualquer possibilidade, embora me pareça mais verosímil a dos Migs por acção de cubanos ou outros quaisquer pilotos disponíveis, e não para guerra aérea com a nossa FAP, embora fosse inevitável nesse caso, mas para largar algumas "ameixas" em sítios escolhidos e para dificultar evacuações e pouco mais.

E aqui acho melhor dar de novo outro rumo à minha conversa porque já estarei a tocar rabecão, não sendo mais que sapateiro.

E para dar a volta, escolho naturalmente o terreno onde me sinto mais à vontade, pese embora nele não exibir mais que convicções morais e ideológicas, fincadas num humanismo que assumo tendo como pontos fortes ideias -liberdade, solidariedade, fraternidade, (i)legitimidade colonial, sentido da história...
Agarrado a esse campo, não tenho qualquer dúvida de que perderíamos a guerra e nem merece argumentar que "afinal perderam a guerra porque estão piores do que estavam".

Ainda hoje penso que foi um erro a separação de Leão e Castela e que esse erro continuamos a pagar caro, sem que deixe de sentir orgulho no que sou, português, ou deixando de assumir essa qualidade, as vitórias e as derrotas, a cultura, o contributo que demos para a grandeza do mundo e também os crimes que aqui se praticaram contra outros povos e contra nós próprios.

Voltando à "vaca fria" dos amigos e das cópias.

Não acompanhar Graça Abreu na sua sanha contra Beja Santos, nem o acompanhar inteiramente na sua ideia de que não tínhamos perdido a guerra, não proíbe de ter gostado muito do seu Diário, não apenas um relato da sua experiência que deixa antever experiências de outros, mas, em minha opinião, um bom texto mesmo do ponto de vista da construção da escrita e da comunicação, e não me proíbe de me considerar seu amigo, ainda que disponível e liberto para criticar quando disso for caso. Mais acrescenta o apreço que por ele tenho, o lirismo da escrita sobre a sua experiência chinesa e o contributo que tem dado na tradução e na divulgação de poetas da China, desse modo contribuindo para alargar a visão sobre o mundo.

Apreciar muito o trabalho que Beja Santos vem desenvolvendo à sombra da Tabanca, diligente, metódico, competente, plural e amigo, precioso para uma melhor compreensão das coisas desta guerra e no registo amplo do que sobre ela tem sido produzido, não me obriga, não me obrigará nunca, nem me pareça que ele espere tal coisa, a discordar pontualmente de opiniões suas e mesmo de certas afirmações que tenha feito ou omitido.

Não foram muitas nem agrestes as minhas discordâncias com o "nosso" tenente-general António Martins de Matos. Aconteceram e hão-de acontecer algumas vezes, mesmo sem necessidade de se expressarem, mas isso não obsta a que tenha por ela estima e respeito e que dele conte com os mesmos sentimentos.

Já expressei em mais do que uma vez a minha concordância, se não plena, pelo menos genérica, com a decisão do coronel Coutinho e Lima em Guiledje, e que por isso o considero uma boa pessoa. Tal postura, no entanto, não me proíbe de pensar (especulando, claro) que se estivesse no seu lugar, muito provavelmente teria feito coisa diferente, ainda que com a possibilidade de grandes prejuízos para toda aquela gente.

Confesso sem custo que já tive em tempos essa desgraçada tendência de considerar amigos apenas aqueles que comungavam da minha (i)religião, da minha ideologia, da minha interpretação do caminhar do mundo. Ou porque de velho me perdi... ou porque de velho me achei, hoje vou com mais calma ao pipo, gostando de vinho carrascão, ou aberto, ou verde, ou tinto, ou branco, tentando encontrar o que de bom cada um tem e não o deitando pelo cano, excepto quando é mesmo zurrapa.

E zurrapa para mim é o quê? Vinho de má qualidade, direi abreviando para não me perder ainda mais do que já estou.

E abusando da comparação entre gente e vinho, direi que gente que excluo mesmo das minhas amizades e da possibilidade de qualquer discussão, são aqueles com verdadeira saudade de um passado condenado; com desvelado amor à guerra pela guerra; capazes de proibir o pensamento, de massacrar, de torturar, de negar humanidade a outra gente só porque de outras crenças ou de outras cores, incapazes de reconhecer legitimidade no contrário.

E aqui no blogue já encontrei gente assim, que bate e foge, que vem sorrateira e pela calada, morde e baba; que se esconde no (ou quase) anonimato. Desses quero distância e escusaria sempre qualquer debate. Mas tais figuras não estão aqui em nenhum dos vinte e dois contendores do momento, nem naqueles que nomeei como exemplo das diferenças que mantemos entre nós.

Não estão, e por isso com eles estarei sempre disponível para o debate, com eles discordando ou concordando, mas irmanado nessa crença de que o melhor mesmo teria sido estudar a questão, ouvido vozes antigas, negociado saídas vantajosas para as duas partes e evitado o desperdício de meios e de gente, desviando-os de tarefas mais importantes para a riqueza e a felicidade dos povos.

E se não discutir com esses, diferentes mas meus amigos, discutirei com quem?
Com os amigos que são iguais?
Com os inimigos?

José Brás
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7250: (In)citações (22): Recordando Fatemá e Sambel Baldé, tenente de 2ª linha, régulo de Contabane (José Brás)

Vd. último poste da série de 16 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7295: (Ex)citações (109): Alguns considerandos muito intimistas (José Belo)

13 comentários:

Jorge Narciso disse...

Caros

Acabei agora mesmo de jantar e depois desta leitura, contrariando hábitos enraizados, que se lixe o digestivo.
E isto porque sempre ouvi dizer que o prazer aguça o apetite e... assim sendo, estou é pronto para jantar de novo.

Abraço

Jorge Narciso

Luís Graça disse...

Zé Brás, meu camarada, meu amigo:

Um dia que a gente publique o nosso "livro de estilo", o teu texto fará dele parte integral e integrante... Julgo que até agora ninguém conseguiu ser tão brilhantemente pedagógico, didáctico, esclarecedor, assertivo, persuasivo, como tu...

Fostes buscar exemplos públicos e notórios de camaradas nossos (A. Graça de Abreu, Beja Santos, A. Martins de Matos, Coutinho e Lima...) que, na apreciação da situação político-militar da Guiné de 1973/74, têm pontos de vista extremados ou até antagónicos...

Temos que ser todos "camarigos" ? Temos que fingir que estamos todos de acordo no essencial ?...Acho que não, afinal temos muitas diferenças entre nós, mas temos todos um denominador comum (a Guiné) e sentamo-nos juntos sob o frondoso e generoso poilão da nossa Tabanca Grande... E isso é o que importa.

Na realidade, o nosso blogue tem sido uma escola de tolerância e camarigagem... Às vezes, há uma pequena escalada de violência... Enfim, coisa própria de homens (sobretudo), que são animais (dizem os zoólogos), primatas, sociais, territoriais, predadores...

Anónimo disse...

Estou plenamente de acordo contigo camarada Zé Brás e acrescento que nunca aprendi nada a falar ou a escrever as minhas idéias mas sim quando escuto ou leio as idéias dos outros mesmo quando discordo das mesmas.

Anónimo disse...

Caro José Brás

Excelente!...

Se a receita é beber vinho carrascão? Eu também quero provar! Invejo quem tem este rasgo de lucidez, para escrever com esta monumental habilidade e articulado estilo, tão transparente…

Um abraço

José Corceiro

Anónimo disse...

CARO ZÉ,

"E sempre que o Homem sonha, o Mundo pula e avança."

Considerando-me um pouco, poucochinho... pequenino apenas diferente, estou orgulhoso de te considerar amigo e de te manteres aqui da forma "COMO TU SABES".

Obrigado por este teu escrito.

Gostei!

Em outros tempos, quando apresentavas "Vindimas no Capim" no Clube Desportivo da TAP, também falámos muito disto. Eram outros os Tempos, mas a Luta é a mesma, com formas diferentes de a fazer.

Permite-me, de me sentir orgulhoso por de aqui permaneceres até à consumação da vida deste projecto.

Zé Brás, aquele rio Cumbijã, longo e sinuoso não me larga assim como a Planície. Do tamanho deles o abraço fraterno.

Mário Fitas

Joaquim Mexia Alves disse...

Meu camarigo José Brás

Dizia um grande amigo meu, poeta e fadista já desaparecido, nos idos dos nossos 18 anos:
Não vale a pena andar à porrada com gajos que não conhecemos. À porrada anda-se com os amigos, porque se conhecem e ainda ficamos mais amigos!

Quem é dono da verdade?

Eu não seguramente, mas defendo a minha com todos os dentes até que me provem o contrário e então, muito contrariado, dou o meu braço a torcer, pois faz parte do meu
feitio, que hei-de eu fazer.

Costuma dizer-se que "quem fala assim não é gago", pois eu direi que "quem escreve assim não é maneta, nem das mãos, nem da cabeça"!

Um grande e camarigo abraço para ti, que te darei pessoalmente no dia 24 em Monte Real no 7º Encontro da Tabanca do Centro

Anónimo disse...

José Brás,

Estás condenado, não podes deixar de escrever desta forma, e se o problema se centrou agora na escrita não deixa de fora o pensamento que a estrutura.

Mesmo não sendo esta a data do teu aniversário, desejo-te muitos e longos anos de vida para nos dares textos com esta qualidade.

Por vezes não é o estarmos de acordo ou desacordo é a forma como se demonstra e se diz em escrita visceral.

Um abraço,
BS

Manuel Joaquim disse...

Meu caro José Brás

Lido este teu texto, saiu-me logo um sonoro " assino por baixo ".Mas ...
Fiquei a pensar:não, não assino, não tenho o direito de pedir tal coisa, tenho é a obrigação de agradecer dizendo ao Zé Brás que fiquei muito contente, e até perplexo,por ser possível ele ter falado por mim, traduzindo o meu pensamento quase a 100%.

Um abraço

Anónimo disse...

Camaradas (todos)
às vezes dá-me na tola a mania que o mundo está perdido num hedonismo individual individual e já incapaz para grandes abraços no colectivo.
Deve ser da idade que não me dá cabo apenas das pernas mas também do espírito roubando-me a visão sobre a realidade. Lembro-me bem que era assim que pensava sobre o pessimismo do meu avô, primeiro, e o do meu pai, depois.
Outras vezes, parece remoçar, volto ao branquinho dos tonéis do meu avô naquelas manhãs geladas de Janeiro no Oeste (não é companheiro Luís?), e aqueço todo por dentro e por fora, vendo o mundo como ele é realmente e o ser humano resistente aos ataques das feras.
E aqui está, afinal, não tão inesperada como possam pensar descrentes, esta reacção que meteu já apetites por segundos jantares (barriga que não é capaz de dois jantares, não é barriga), carrascão ou branco, leitão de Monte Real e outras iguarias do espírito (que não são menos espirituais as tidas como para o estômago), provando-se desta forma que a minha segunda versão é que está certa, porque muitas voltas dão o mundo e a vida das gentes, para que sigam em frente e ainda que não lhes conheçamos destino.
Aliás, acho que o mundo é bom é assim mesmo, nas chamadas virtudes e nos chamados defeitos de cada um, que afinal não passam de diferenças, apenas, quando conservam o mais fundo do que deve habitar o ser humano, isto é, o humano em si próprio e no caminho para a imagem de Deus que, dizem, somos.
Obrigado e um abraço a todos
José Brás

Anónimo disse...

Caro Zé Brás

Só tenho que agradecer-te todos estes conceitos HUMANISTAS, aqui expostos numa escrita maravilhosa, pois o acordo e desacordo, aqui entre nós, terá sempre de existir, visto que já somos muitos e forçosamente diferentes.
Mas o problema está na forma desabrida e muitas vezes "indelicada" ou como aliás o Belarmino Sardinha escreveu "se demonstra e se diz em escrita visceral" com que se pretende refutar quem escreveu.
Saibamos expressar as nossas opiniões, respeitando os anos de vida que já percorremos, pois já somos "bem grandinhos".


Abraço

Jorge Picado

Manuel Reis disse...

Camarada e amigo Zé:

A passagem por este Blogue trouxe-nos uma riqueza acrescida, no que à tolerância e compreensão das múltiplas verdades diz respeito.

Através do Blogue vemos uma outra dimensão do ser humano sair reforçada, por imperativo da guerra. A solidariedade,muitas vezes selada com o próprio sangue.

Deparei, no ínicio da minha participação no Blogue, com alguma dificuldade em segurar as pontas e ao excesso de outros respondia no mesmo tom, em defesa daquilo que considerava ser uma realidade inquestionável.

Rápidamente constatei que, concordando ou discordando, os camaradas que comigo mantinham diferentes interpretações e/ou opiniões sobre factos ocorridos, eram meus amigos e isso sentia-se, presencialmente, nos convívios.

Não posso estar mais de acordo com o comentário do Jorge Picado. Porém a troca de ideias, aqui e além, roçará a polémica e é inevitável o aparecimento de alguma violência verbal.

O importante aqui é saber ultrapassar a forma desabrida de manifestar as diferenças, mas aprendemos com a participação e/ou acompanhamento do Blogue, que o sentimento de UNIÂO é mais forte e, instintivamente, desvalorizamos o sucedido.

Não adianta remar contra a maré!

Um abraço.

Manuel Reis

Anónimo disse...

Caros camaradas:

Sobre o que escreve e como escreve o José Brás, da forma e do(s) modo(s) como o faz, da leveza e quase doçura das palavras, da preocupação estética e ética... e sobretudo pelo respeito que manifesta em relação aos seus camaradas, está tudo dito.
Mesmo assim, apetece-me perguntar:
É preciso que morra o último soldado para se dar como perdida uma guerra? E se fosse possível matar todos os oponentes, mesmo assim, tínhamos ganho uma guerra ou antes uma batalha à qual se sucederia(m) outra(s)? Na verdade o que norteava muitos de nós era a busca da paz na tentativa impossível (naquele momento histórico) da integração daquele território no estado português. Na verdade, em 1822, já tinhamos "dado" a indedependência ao Brasil, pedaço bem maior.
Depois sejamos sinceros...sabe-se bem que, depois do 25 de Abril, ninguém mais queria embarcar para lá e os que tinham como eu e outros, 24 meses, queríamos vir embora. Que interessa agora perguntar quem tinha ganho a guerra? Certo é que ambos a perdemos e ninguém a ganhou. Veja-se como está a Guiné hoje e como estaria se logo depois da 2ª Guerra, já que não foi antes, lhe tivéssemos dado autonomia e cooperado no sentido do desenvolvimento dos seus povos. Eles e nós estaríamos bem melhor e sem derramamento inútil do sangue dos de cá e dos de lá.
UM GRANDE ABRAÇO
António Carvalho - o de Mampatá

Anónimo disse...

Bem camaradas...
Vamos fechar isto, senão, chegamos ao dia 24 e, paro por estar em greve, ou falto ao leitão da Tabanca do Centro, babado de tanta concordância.
Mas antes de acabar, gostaria de recomendar algum cuidado na expressão das diferenças, mas não o seu fim.
Paz podre não!
Como sabem, até eu que apareço aqui na figura do santinho, o que sou de facto é "santinho de pau oco", pelando-me por uma boa discussão e às vezes exagerando-a um pouco apenas por pose de provocador até de mim próprio, vestindo a pele de "Isaura patroa e Isaura costureira".
Como imaginam, coisa que não gostaria era de me ofender a mim próprio nesse exercício.
Portanto(s)...viva a diferença, viva a cortesia e a amizade.
Abraços
José Brás