terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7481: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (36): O 64º Aniversário cá do rapaz (Humberto Reis), seguido da história da misteriosa bajuda de Nhabijões (Luís Graça)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) CCAÇ 12 (1969/71) > Nhabijões, bajuda balanta



Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento da ponte do Rio Udunduma > Um bu...rako de muitas estrelas... Na foto, o Humberto Reis, a comandar o 2º Gr Comb da CCAÇ 12, na ausência do Alf Mil At Inf António Carlão, destacado para o reordenamento de Nhabijões,. "ali ai lado"...

Fotos: © Humberto Reis (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso cartógrafo-mor (e mecenas, além de camarigo e ranger) Humberto Reis:

 Data: 20 de Dezembro de 2010 14:10
Assunto: 64º Aniversário do rapaz


Meus Amigos

Como não sei fazer comentários no blogue, não é com 64 anos que me dá a vontade de ir aprender (se bem que para aprender não existem idades impróprias), envio esta mensagem para agradecer a v/ lembrança  e com 3 comentários em separado:

(i) Miguel: estás igual a ti próprio. Muito obrigado pelo teu mapa-cão. Nem ao diabo lembraria inventar um "boneco" destes. A partir do raio das cartas topográficas inventas uma coisa daquelas. Para ti e para a Giselda um FELIZ NATAL  e que o novo ano que se aproxima seja um BOM ANO de 2011.

(iii) Par ti, Carlos Vinhal, editor de serviço, os meus agradecimentos pelo recuerdo  em que a minha mãe o foi pela primeira vez. Ela também te agradece. Bom Natal e, porque não, um Bom Ano de 2011, em que os pessimistas não acreditam.

(iii) Para o meu querido amigo Luís Graça (nome por que é conhecido nos meios bloguistas, o Henriques que conheci em Março de 69, companheiro de quarto, mas não de cama, em Bambadinca, nos já longínquos anos de 69 a 71) aqui vai o meu agradecimento pela simpatia que teve ao acrescentar um comentário ao poste do Carlos Vinhal. À Alice, companheira de há dezenas de anos, o meu MUITO OBRIGADO pelo carinho e simpatia.

(iv) Permitam-me que acrescente 2 linhas ao já descrito:

Para os que conhecem esta zona dos arredores de Lisboa, refiro um episódio que aconteceu há cerca de 1 hora. Almocei com a família e uns amigos no Solplay em Linda a Velha. Quando estava a entrar no carro para me vir embora estacionou ao meu lado um Audi A4 e o condutor de imediato me disse: 
- Não eras da CCAÇ 12?

Calculem o tamanho da minha boca. Era o António Duarte, ex Fur Mil da CCAÇ 12 dos anos de 73/74. Dizia ele que já não era "meu filho" mas sim "neto" (substituto do substituto). 

Isto só é possível pela grandiosidade do que o Luís criou, o que permitiu que este nosso amigo me viesse a reconhecer.

Chaga de lamechices

UM GRANDE ABRAÇO A TODOS

Humberto Reis

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Humberto:

Isto de pertencer ao CLUBE DOS SEXAS também tem as suas penas e obrigações, como por exemplo ter de responder aos muitos cartanitos de parabéns pelo último aniversário, o que, meu menino, é uma estopada de todo do tamanho, como diria o Eça de Queirós... Resta-nos a consolação de, quando a gente se finar, essa trabalheira toda de agradecer os sentidos pêsames dos nossos amigos e inimigos, já não nos competirá a nós, mas sim aos gatos pingados da agência funerária que é para isso que eles nos levam o coiro e o cabelo...

Mas o que fazer, nmeu querido camarigo, quando no teu vasto, rico e cobiçado álbum fotográfico (para não falar das tuas cartas topográficas, em especial as dos Arquipélagos de Bijagós, que valem o seu peso em coca, quero eu dizer, em ouro...), o pobre do editor, alma sensível e apurado sentido estético,  encontra esta imagem de uma pobre bajuda, balanta, de Nhabijões, com um ar meio hippie (estava na moda o movimento hippie...),  que tu terás, ou tu e eu,  teremos conhecido numa daquelas operações de acção psicossocial que nos eram atribuídas regularmente à volta das tabancas balantas da periferia de Bambadinca, ditas sob duplo controlo (Nhabijões, Mero, Santa Helena, Bissaque...), a par da intensa actividade operacional contra os balantas do mato (seus pais, tios, primos, irmãozinhos)...

Nabijhões, o seu reordenamento e defesa,   deu-nos água pela barba e,  se bem te lembras,  o teu alfero, o nosso inefável Carlão - meu, ás vezes,conforme o que me calhava na rifa  - foi para Bissau receber um curso especial para chefe operacional dessa coisa a que chamávamos reordenammento... Na época, era a taluda, o euromilhões!... Uma vida de régulo!... Um descanso até ao fim da comissão! Mil vezes melhor do que ir à Ponta do Inglês levar nos cornos!

Fico sem saber exactamente o que fostetu, ou fomos os dois,  fazer a Nhabijões, se  é que foste ou fomos (ou o que é que, em alternativa,  a pobre da bajuda andava a fazer ali para os lados de Samba Silate, meia perdida, rondando a ponte do Rio Udunduma, sítio par além do mais perigoso,  infestado de tugas e de fulas, machos, cheios de testosterona, se bem que  próximo da sua aldeia)...

Até por que,  no teu caso concreto,  tu sempre preferiste mais o ar do que a água e o chão (fosse o chão fula ou balanta)... (Lá tinhas as tuas razões, e, a propósito, estou mesmo  em crer que darias um belo piloto de Heli Al III, o que quer não dizer que não tenhas sido um bom ranger; sempre achei, de resto,  que escolheste mal a arma, o teu lugar era mesmo na FAP, logo em Bissalanca, na BA 12 onde tinhas amigos entre os pilotos)...


Como o meu falar balanta era tão mau ou pior que o meu mandarim, e não falando a rapariga sequer o crioulo da tropa, recordo-me que, na altura, tentei ler nos seus lábios o que é que ela  te queria dizer...  a ti, em concreto, até porque foste tu que lhe tiraste a chapa... É um arte difícil, essa a da comunicação não-verbal... Mas, se a tua Teresa não ficar, desde já  com ranger de dentes, vou tentar traduzir, lip by lip,  o que é a inocente... bajuda tentava comunicar-te na ocasião...

Já não posso precisar, à distância de 40 anos, mas imagino até que esta cena tivesse acontecido  à porta do teu abrigo no Udunduma que,  visto assim, de fora, mais parecia a caverna do Ali Babá e os 40 ladrões (na época, não eram tantos, mal ultrapassariam uma vintena, dado que os Grupos de Combate da CCAÇ 12 começaram logo a ficar desfalcados, em Julho de 1969, em Madina Xaquili...).

Acredito que uma miúda balanta tivesse curiosidade em saber que objectos reluzentes eram aqueles que se anteviam na escuridão do abrigo... Mas, não... Vendo bem, ela estava literalmente grudada numa peça do teu vestuário, a qual, pensando bem, não estava de acordo com o figurino da tropa... Se reparares bem, o raio do teu boné (preto ou azul marinho em vez da cor do camuflado, como o meu) não era nada regulamentar!... Se bem desconfio, era de algum piloto de heli AL III, distraído ou apressado, que te deixou em Bambadinca e meteu prego a fundo para Bissalanca, depois de uma boleia até Bafatá ou até Bissau...

Pois, o que  a tímida da bajuda (tímida ou misteriosa ? ) está a tentar transmitir-te é apenas o mais inocente e ingénuo pedido que uma rapariga da idade dela (ainda púbere, com cabaço, que nunca vira mundo), seria capaz de balbuciar na presença do diabo de um tuga:
- Manga de ronco, chapéu de bó... Parte com bajuda...

Não sei se terás entendido o desejo da rapariga... Acho que não, nem tu nem eu. Como ainda estávamos longe do Natal,  e tu devias estar com cara de poucos amigos por teres perdido à lerpa, na semana anterior, no casino de Bambadinca, é muito provável que lhe tenhas respondido com voz de ranger, seco e duro, de mau humor:
- Gosse, gosse, minina, bora, bora. antes que venha o lobo mau...

Essa fala já não posso confirmar...  O que sei que é que nunca te desfizeste do boné (ou quico ?), que era uma espécie de talismã... E hoje tenho alguma curiosidade em saber se ainda o tens,  o boné da FAP ?! O boné ou os bonés, já que eu te conheci uma colecção completa no teu guarda roupa em Bambadinca... LG

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Nota de L.G.:

Último poste da série > 14 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7431: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (35): Maravilhas do blogue... 36 anos depois (Nelson Herbert/Magalhães Ribeiro)

4 comentários:

Humberto Reis disse...

A foto da bajuda terá sido obtida, quase de certeza, no destacamento dos Nhabijões. Em determinada altura lembro-me de estar lá com o meu 2º GC, julgo que por períodos de uma semana. Na 2ª foto, obtida no "cú de Judas" do Destacamento da Ponte do rio Udunduma, o objecto que se vê a brilhar é o púcaro de alumínio (já tínhamos partido os copos de cristal por isso deram-nos estes)que está pendurado aos pés da minha cama. Lembro-me que tínhamos 3 abrigos, 2 do lado esquerdo da estrada Bambadinca-Xime (neste sentido)e 1 do lado direito e esta foto foi obtida no abrigo do meio, portanto do lado esquerdo da estrada. Espero que o comentário fique bem postado, senão lá vão os editores ter de o fazer.
Bom dia a todos e um Abraço
Humberto Reis

José Marcelino Martins disse...

Suponho que a entrega de "púcaros" para substituir os "Copos de Cristal" foi de carácter provisório, até à chegada de nova remessa da Marinha Grande (ou das Caldas, ou será de Alcobaça? - Quem sabe de cristais é o Jero)

Luís Graça disse...

Parabéns, Humberto!... Quem disse que se recusava a aprender a "postar" comentários no blogue ?

Está impecável...

Como viste, isto era uma brincadeira (espero, que não seja de mau gosto...).

Pela pinta a rapariguinha só podia ser balanta do Nhabjão... (Como sabes, as tuas fotos não trazem legenda).

Quanto à disposição dos abrigos, invejo a tua memória...

Por mim, que lá dormi, como tu, algumas vezes (tal como em Nhabijões...) só sei que lá dentro era um sufoco...

Porra, a malta aguentou coisas do arco da velha! Tínhamos uma vantagem: os verdes anos, o treino... e a enorme vontade de sair dali o mais depressa possível... Então, de que é que temos saudades hoje ? Dos nossos 20 anos e da nossa enorme vontade de viver...

Luís Graça disse...

Humberto: Vamos lá a saber, afinal, quem é que vê quem ou quem é visto por quem; se és tu, Humberto, ou a bajuda balanta de Nhabijões...

O teu poste é um dos cinco mais "populares" desta semana...Será que a malta (que vem aqui, de todo o mundo...) só se interessa por armas e mamas ? Ora cá está um tema para o sociólogo estudar... ou ua boa razão fechar a tasca... O coitado do Tangomau, que tem uma uma fotorreportagem fabulosa sobre o Sector L1 onde há 40 anos andámos e penámos, nicles!... Nem um mísero comentário!