terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7515: Blogpoesia (97): Guiné... diferenças (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de  25 de Dezembro de 2010:

Carlos,
Para quando puderes, e se assim o entenderes, aqui vão sete fresquinhas.

abraço
manuelmaia


Guiné... diferenças

Se por Fatim, no forro do telhado,
por estreita rede já bem isolado,
as osgas são melhor que mosquiteiro...

No Cantanhez, a insectos se juntavam,
por vezes, cobras que até se enroscavam,
na gaita do Paulino corneteiro...

Se por Fatim, tainada é rotineira,
com nhec, porco ou cabra na fogueira,
regada a vinho tinto do maduro...
No Cantanhez, é dado arroz/cimento,
servido na marmita/desalento,
com peixe da bolanha, aqui vos juro...

De fraca qualidade, já se vê,
o dito era carvalho, mas sem vê...
a desfazer-se mal garfo o tocava...
Esparguete com chouriço ou estilhaços,
gazela, às vezes dura como o aço,
a dita massa então acompanhava...

Por Maia e Moura o chá é introduzido,
em terras de Fatim, sem alarido,
com leite, whisky, simples, vira moda...
Bebida social bate o café,
depois das refeições, que bom que é,
o chá melhora whisky, em vez da soda...,

Fiambre frito, à faca antes cortado,
servido com esparguete avermelhado,
estrelado ovo ao prato dava cor...
Quarenta dias tive de esparguete,
record desse menú, quarenta e sete,
perdi-o ao vir de férias, em rigor...

Um mês de vaguemestre improvisado,
comprei a vaca dois desse "reinado",
trazida d`outra banda, via nado...
Seiscentos, Mamadú que mais cá pude,
é velha, nem sequer tem atitude...
com ar de boi  "maricas escanzelado"...

Estou certo ser visita a panaceia
p`rá cura destes males, "cá na ideia"
que todos nós sentimos, muito ou pouco...
De "vacas magras", tempo não ajuda,
prioritária a vida cá não muda,
a infindável espera põe-me louco...
__________

Nota do editor

(*) Vd. último poste de 16 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7447: Blogpoesia (96): Contrato com o Exército (Manuel Maia)

7 comentários:

Joaquim Mexia Alves disse...

"Possara" Manel, fiquei cheio de fome!!!

Então grandes férias cheias de "nouvele cuisine"???

Mais uma de mestre! Parabéns, meu camarigo!

Um grande abraço

Torcato Mendonca disse...

Os putos de Candamã apanhavam uns peixes pequenitos e eram fritos e comidos com piri-piri. Delicia...binho e cola quente ou na falta desta fanta.

Até baldorega (ou não era e passou a ser)se transformou em terrinas de apetitosa salada. Coitados dos cabritos que perderam a pastagem...tirando um que passou pelo caldeirão, os outros desapareceram. Fomes...

Um abração Manuel Maia e vai cantado poemas...AB do T

Anónimo disse...

Caro Torcato

Não fazia a mínima ideia que houvesse beldroega ou (baldroega que é a mesma coisa) na Guiné. A beldroega é uma planta rastejante muito rica em ferro, vitaminas A, B1, C, ácidos gordos ómega-3. Em culinária serve para fazer óptimas sopas, saladas e açordas. Atendendo à composição da beldroega, quando comida, desencadeia no organismo diversos efeitos benéficos, tais como: Alivia infecções urinárias (cistite), infecções gastrointestinais, é purgativa, antiescorbútica, diurética, ajuda a regular o colesterol no sangue (efeito dos ácidos gordos ómega-3), assim como fortalece o sistema imunitário e cardiovascular, melhorando a circulação sanguínea e prevenindo a formação de coágulos (efeito do ácido salicílico), pois também a beldroega é rica em ácido salicílico. O componente activo da vulgar aspirina é o ácido-acetil-salicílico.
Na minha terra, Vale de Espinho, abunda muito a beldroega e faziam-se muitas “viandas” com ela, para alimentar os animais. Eu na minha mocidade comi muita salada feita de beldroega e de morugem de água (esta última comia-se no mês de Fevereiro), que também é uma delícia. É pena, que determinados alimentos com nutrientes com efeitos saudáveis no organismo, não sejam aproveitados…

Um abraço

José Corceiro

Torcato Mendonca disse...

José Corceiro

No Alentejo há muita belbroega ou baldroega. Na Guiné, a arte aguça o engenho,no meu grupo haviam só dois alentejanos e eu meio de um lado e de outro,todos os outros eram homens do Norte. Talvez por fome de verdes ou inveja de cabritos, disseram, esses dois, que a erva assim se chamava. Trazida a dita á minha presença, quem seria eu para contestar dois lavradores e, perante a erva rastejante ficou, a partir dese momento a ser BAL ou BELDROEGA.Se era comestível para cabritos veneno não teria. Foi assim comida em saladas e finou-se um dia para tristeza de muitos.Tempos difíceis de muito feijão frade. Quantas vezes era para as três refeições e só variava a já racionada cavala. Atum,sardinha e...tudo o vento...e a má sorte levou.Estávamos em Candamã, Tabanca em auto defesa
O que tu sabes dessa matéria...botânico e farmacêutico...e a ser assim ou a dita ser efectivamente bal ou beldroega só veio fortificar o tão depauperado e esfomeado grupo.

Torcato Mendonca disse...

Finou-se a erva e o espaço.

Um abraço e vou querer comer bel ou baldroegas.

Mais com tanta maleita que por aí anda talvez ajude

Abraços do T

Anónimo disse...

Manuel Maia,

Muito Bom!

Só quem conheceu o Cantanhez pode falar assim.

Porque sendo em poesia ainda o arroz cimenta mais e a gazela parecia só ter cornos. Não a comi com o tal arroz mas com ciclistas.

Um grande abraço é claro como o nosso Cumbijã.

Mário Fitas

Hélder Valério disse...

Caro camarigo MMaia

Este poema soa-me a premonição. Acaso estás a preparar psicologicamente o pessoal para os duros tempos que se avizinham? Em certa medida pode-se dizer que nós já não estranahremos tanto, já adquirimos experiência, mas e as novas gerações que tão mal habituadas estão? Como se irão aguentar?

Por outro lado gostei também de saber as imensas qualidades das 'baldroegas', 'beldroegas' ou também 'baldregas'. Ainda antes de ir para a tropa comi bastante, principalmente em salada e em sopa, mas não me informei das suas propriedades que, a avaliar pela informação do Corceiro, não são nada desprezáveis, antes pelo contrário.

As coisas que se aprendem nesta Blogue!

Abraços
Hélder S.