quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7529: Blogpoesia (99): Formigas bagabaga; mosquitos; caranguejos; porcos formigueiros... (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de 25 de Dezembro de 2010:

Carlos,
Aqui vai mais um grupo de sextilhas(oito) subordinadas ao tema acima referenciado.
Se as entenderes como editáveis, força.

abraço
manuelmaia


Formigas bagabaga; mosquitos; caranguejos; porcos formigueiros...

Formiga branca, térmite, salalé,
chamada bagabaga na Guiné,
de nome igual, "produz" monte de terra...
Solidifica o dito com saliva,
que ajuda o tropa em hora aflitiva
escudo protector naquela guerra...

Maldito era o mosquito sugador
de sangue e de doença transmissor
mau grado a bem cuidada protecção...
Com cachecol e luvas malha/lã,
um gorro de Balanta/Bissorã
pensando estar seguro, vi que não...

Inchaço/vermelhão foi resultado
após perfuração no emalhado
que a fêmea mosquiteira produziu...
Enorme era a coceira então sentida,
espalhado foi "veneno" que à partida,
vacina protectora lá impediu...

As pinças caranguejo/azulado,
denominadas bocas são achado,
p`ras petisqueiras Dugal e Fatim...
Ao preço de mijona uva de cor,
a que uns chamam jaqué, outros primor,
com geladinha loira são festim...

Ao fim da tarde, já com menos sol,
a congregar interesses, futebol,
a malta vai mantendo o bom moral...
São jogos intergrupos que acicatam,
as picardias sãs mas que não matam
a união Terrível em geral...

Em noite escura/breu, eu dei por mim,
saindo lá do Dugal p`ra Fatim,
por Dias e mais quatro acompanhado...
A meio do trajecto, eis que atravessa,
na frente de Unimog enorme peça,
deixando o condutor atarantado...

Francisco disparou, em movimento,
de seis acertou cinquenta por cento,
no peito, na barriga e no traseiro...
Refeitos da surpresa, procuramos
o animal ferido e encontramos,
agonizante porco formigueiro...

Dois dias durou dito em patuscada,
com carne, uma cozida outra grelhada,
de qualidade ao nível das melhores...
"Barriga de misérias" foi tirada,
com febra de manhã e p`la noitada,
rojões às refeições ditas maiores...
__________

Nota do editor:

Vd. último poste da série de Guiné 63/74 - P7523: Blogpoesia (98): Cafal-Balanta antes de aramar (Manuel Maia)

5 comentários:

Anónimo disse...

Dizer o quê deste "paleio" a um tempo tão rasteiro que qualquer um lhe pode por a mão, e ao mesmo tempo, elevado porque nos põe altos no desejo de o sermos.
Aqui em casa é leitura colectiva e teatral no dizer e no prazer que dá ouvir.
Obrigado Manuel (inesgotável)Maia
José Brás

Anónimo disse...

Manuel homem do Cafal!

Como sabes "rimando" contar tão bem a triste vida de "No Gente" em terras do Cantanhez.

Canta Manuel a sorte de ter um bagabaga, a inflicidade do mosquito e o saboroso molho de carangueijo onde se mergulhava a bola de arroz acompanhando a galinha pilada com mancarra. Não metas os formigueiros, mete antes o javali.

Como tu sabes e te lembras de todo esse mítico Cantanhez.

Conta porque há muita gente que não acredita, e sorriem dizendo que estamos regando.

A tua poesia é a verdade que por vivência semelhante, pode ser confirmada.

Do tamanho do nosso velho Cumbijã, aquele abraço.

Mário Fitas

Hélder Valério disse...

Caro camarigo MMaia

Quando se pensa que já não nos podes surpreender, aí está este poema a desmenti-lo.

A métrica é conhecida, a musicalidade da leitura também (aliás como refere o ZBrás), as palavras estão bem escolhidas para atingir os objectivos.

Então o que tem de diferente, se é disso que se trata? É, como refere o MFitas, o facto de através delas, em rima, em verso, com a tal musicalidade, conseguires descrever situações e ambientes que dificilmente são 'acreditáveis' pelas actuais gerações e que podem, se quiserem, colher aí as imagens mais reais, já que a poesia tem essa virtude.

Abraço
Hélder S.

Juvenal Amado disse...

Caro Manuel Maia

Com o teu engenho e arte vais contando a história dos nossos vinte anos.
Não conheci pessoalmente a tua zona, mas conheço-a em grande parte hoje, devido aos teus poemas crónicas daqueles dias.
Sabe bem e dispõe bem ler-te.

Um grande abraço e um Bom Ano.


Juvenal Amado

Luis Faria disse...

Manuel Maia

Como por algumas vezes já expressei,não sou um amante de poesia e muito menos um seu "apreciador técnico".
Salvo raras excepções, quando me pré-disponho a entrar nessa leitura...não a consigo levar ao fim e na maior parte das vezes acabo por me cansar de a tentar entender!?

A tua,Manuel,é para mim uma das excepçoes. Legível,musicada,direccionada,tangível .

Gosto

Luis Faria