sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7534: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (29): Não falarei de mal-entendidos (Juvenal Amado)

1. Mensagem de Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 31 de Dezembro de 2010:
Caros Luís, Carlos, Magalhães, Briote e restante camarigagem da tabanca
Estamos no último dia do ano. O novo ano que se aproxima, só saberemos se foi bom ou mau, para o ano por esta altura.

Direi como certa gente, que não gosta de ver bons principios aos filhos e ele não traz boa cara. No entanto, desejar coisas boas ainda não paga imposto, por isso desejo um bom ANO NOVO a todos.

Juvenal Amado



Ponte do Saltinho


Não falarei de mal-entendidos

Não falarei dos amigos
Não falarei dos inimigos
Não falarei de mim

Falarei de ti

Falarei do teu cheiro
Falarei da tua pele doce
Falarei da tua juventude
Recordarei o teu doce e amargo abraço
Recordarei o Sol e a chuva
Os amanhecer e os fins de tarde
A ansiedade com que te procurei
A nostalgia com que te recordo
Não sei se o que pesa mais
Será a idade ou as recordações?
Não falarei de mim
Falarei de ti
Falarei da espera e do encontro tão desejado
Falarei do teu corpo que ainda espero contra o meu
Falarei da espera que me mantém
Nasceste do ódio e da paixão
Representas o incompreensível
Como é que a dor gera amor?
Não falarei das lágrimas
Se voltar um dia
Descansarei a cabeça no teu regaço
Deixarei de falar para viver em ti
Até lá só falarei de ti
Falarei de ti até que a morte nos separe.

A todos os camaradas e famílias Um Bom Ano de 2011
Juvenal Amado

Galomaro
__________

Notas do Editor

(*) Vd. poste de 11 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7265: Estórias do Juvenal Amado (32): Carne para o quartel

Vd. último poste da série de 31 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7533: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (28): De repente... Continuaremos a luta para que haja um mundo melhor (José Teixeira)

6 comentários:

Anónimo disse...

Mas para quê falar de mal entendidos?

Melhor falar do feminino mulher incandescente nas nossas vidas.
Aí vai, nos poemas do meu último livrinho:

Os pés voam
na poeira das meias de seda.
Dançam na palma da minha mão.

Nua, quente,
um vestido de nuvens coloridas.
Parece saída do sol.

Dois montes de carne,
Fruta, mel
e alabastro.

Os meus olhos presos.
Ouro e prata
nos teus seios.

Os meus olhos são chuva
humedecendo os teus seios,
ao de leve.

Mãos maduras no teu seio,
maçãs da Primavera,
o pecado perfeito.

Sorrir-te.
Transformar-te
em sol e mel.

Beber a tua ternura.
Festa serena
antes do desvairo e da loucura.

A menina nua
na coberta de brocado.
Ai, flores do verde pino!...

A menina nos meus braços,
deitada no leito lacado.
Mais flores do verde pino!...

Abres-te.
A névoa do dia
entre as tuas coxas.

Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Mas para quê falar de snipers?
Um tiro de pontaria, bem dado, faz parte da guerra, faz parte da vida.

Mais mulheres formosas,da nossa Guiné, da minha China, do meu querido Portugal, mulheres, melhores do que nós, o outro lado de nós, no meu último livrinho:

Nos corpos a fremir,
pernas ágeis, perfumadas
e línguas sedentas, desvairadas.

Ternura rubra,
beijos rosa na tua pele de seda.
A festa.
Depois a cabeça pousa no teu seio,
adormece no teu sangue.

Ainda tépidas as cobertas de seda.
Que perfumes,
que prazeres!...

Entrei no teu corpo.
Tudo tão breve
e todo o tempo.

Depois do teu corpo,
adormecer em almofadas
de pétalas de lótus.

Depois do amor,
adormecer,
ouvindo gotas de chuva.

O teu corpo no aconchego da noite.
Seara de seda
onde o meu trigo cresce.

A lua
na túnica de seda.
Uma deusa flutua.

Entre nuvens,
bonita a lua.
Como tu,
toda nua
entre cetins e sedas.

Vestida ou nua,
sempre tão formosa!
Com ou sem lua.

Lua cheia,
abro a janela.
A tua pele brilha,
seda na noite.

Caminhas ao luar,
Leda, graciosa.
Anjos passeiam nos teus ombros.

Partiste de regresso ao lar.
No ar, fragrâncias de almíscar
e o teu perfume.

Ausente. Mas o teu perfume,
a tua virtude,
ainda no quarto vazio.

Mais um abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Caro Amigo Juvenal!

Gostei da sua poesia!

Quando imprimimos ao que fazemos aquilo que sentimos, é muito mais fácil... e soa sempre bem.

Continue a presentear-nos com os seus sentimentos.

Obrigada.

Um Abraço e um Fantástico ano de 2011.


Felismina Costa

Luís Graça disse...

Ah poetas do meu país! Ah, país de poetas!... Obrigado, Juvenal, obrigado, António, obrigado Felismina...

Cantemos a todos os nossos amores, de todas as cores... E já que estamos numa tertúlia mais íntima, deixam-me também "recitar" aqui uns versitos meus de há três ou quatro anos atrás... Para espantar a neura do início do ano... LG

_______________

(...) Apetece-me dizer-te que te amo
todos os dias do ano,
mesmo naqueles dias de opacidade
mortal
em que a neblina matinal
esconde as Ilhas da Felicidade,
ali mesmo,
ao alcance da tua mão,
frente ao mar.

Apetece-me dizer-te que te amo,
nas manhãs de baixa-mar,
com a maresia,
com as algas,
com a brisa,
com a volúpia,
com o sol,
com o cio,
com a espuma,
com a alegria dos cinco sentidos.

Mesmo quando não quero amar-te,
quero dizer-te que te amo.
Sempre.
Hoje como antes,
Como daquela vez que andámos num barco a remos.
Na tua Ilha dos Amores,
Em Amarante.
Mesmo no inferno
dos amantes.
Mesmo quando parecemos
dois pássaros feridos,
o cão e o gato,
o tecto e o fundo,
o alfa e o omega,
e lá fora faz frio
e é inverno
e eu compro-te a contra-gosto
um bilhete barato
para o espectáculo irrisível
do mundo.

Apetece-me dizer-te que te amo,
em voz alta,
no mês de Agosto,
numa tarde calma,
quando as gaivotas recolhem a casa
e o sol se põe
na Praia da Peralta.(...)

Luís Graça (inédito, 2007)

manuelmaia disse...

CARO JUVENAL,


poeta escondido,capaz de fazer este hino ao amor,tem de deixar de o ser.
sacia-nos com a tua escrita feita sentimento.
presenteia-nos com a beleza das palavras que debitas,e fá-lo,fá-lo vezes sem conta,sempre.
abraço
manuelmaia

Anónimo disse...

Boa-noite Grande Chefe!

Gostei imenso Prof. Luís Graça!

Como diz o Manuel Maia, isso é para continuar.

O que é bonito é para mostrar.
De que servem os sentimentos escondidos?
Há sempre forma de os mostrar sem ferir susceptibilidades, antes pelo contrário, elevando quem os possui.

O amor é o sentimento maior.
Torna fácil o que é difícil.
Torna maravilhoso o menos belo.
Torna doce o que é amargo.
Com ele, podíamos tornar o mundo muito mais belo.
Precisa ser cultivado em maior escala.
Ser ensinado, valorizado.

E, por aqui me fico.

Muito grata por ir conhecendo os meus novos poetas.

Um abraço a todos

Felismina Costa