quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7559: Tabanca Grande (258): Agradecimento à tertúlia (Dina Vinhal)

Caros amigos tertulianos

Como manda a boa educação, venho agradecer as manifestações de amizade que recebi por causa da minha admissão na tertúlia, por iniciativa de Luís Graça, honra que não merecia, nem queria.

Tenho o prazer de conhecer e manter as melhores relações de amizade com alguns tertulianos do blogue, assim como com as respectivas esposas que formam já um numeroso grupo nos Encontros da tertúlia. Reconheço que há uma empatia especial entre toda a gente que em cada ano renova uma saudável amizade.

Posto isto, é minha obrigação escrever algumas letras para que me fiquem a conhecer minimamente, por intermédio do meu secretário particular, já que o teclado tem as letras bastante apagadas e eu perderia demasiado tempo a tentar escrever algo.

Chamo-me Maria Leopoldina, Dina para os amigos, e estou casada com o Carlos há quase 39 anos. Há que somar a este tempo mais 4 de namoro, e nestes, uma “comissão de serviço” na Guiné. Coincidências da vida, andámos no Ciclo Preparatório na mesma Escola e nos mesmos anos lectivos, mas daí não veio nenhum conhecimento, porque se bem se lembram, naquele tempo as meninas eram separadas dos meninos. Por outro lado eu morava no extremo sul de Matosinhos e ele no extremo norte de Leça da Palmeira, logo bem afastados um do outro.

O que interessa aqui é o tempo que vós, ex-combatentes, passastes naquela violência gratuita da guerra, que nós, mulheres,  não compreendíamos. Só sabíamos que os nossos filhos, irmãos, maridos, namorados, primos, vizinhos, tudo o que era homens na força da vida ia bater com os costados em África. Anos tenebrosos que espero nunca mais voltem.

Lembro-me dos momentos de angústia, na hora da passagem do carteiro, abeirar-me da janela e receber aquelas palavras que não queria ouvir:
- Menina, hoje não trago nada do seu namorado.

No dia seguinte repetia-se a cena. Os pais do Carlos telefonavam-me a saber se eu tinha recebido correspondência, e eu mentia dizendo que sim e que estava tudo bem com ele.

Tragicamente aquele primeiro ano de comissão do Carlos, coincidiu com o aparecimento de uma doença cancerosa na minha mãe. Ela adoeceu em Janeiro de 1970, o Carlos veio da Madeira passar os 10 dias de férias de mobilização em Março, visitando já a minha mãe no hospital. Foi para a Guiné em Abril, e quando veio de férias em Fevereiro de 1971, já eu não tinha mãe. Faleceu no dia 24 de Dezembro de 1970.

A minha vida não foi fácil nesse ano de 1970, tendo a minha mãe internada e o meu noivo na Guiné, as minhas preocupações dividiam-se entre o Hospital de S. João, a Guiné e a minha casa onde havia um menino, o meu irmão de 12 anos, que não entendia porque não tinha direito a ter a mãe junto de si como os outros meninos.

Outra mágoa que guardo dessa maldita guerra é a transformação que operou naquele jovem que eu conheci, que partiu um e regressou outro totalmente diferente. Posso até afirmar com a convicção de quem ama, que aquele que eu conheci nunca mais voltou. Este mesmo sentimento foi corroborado pelos meus sogros.

Desculpai, mas isto tinha que ser dito.

Se, futuramente, em conversa convosco, não vos conseguir tratar por tu, como mandam as normas do Blogue, a mais não se deve do que ao imenso respeito e admiração que tenho por vós e pelo que passastes naquela guerra.

Mais teria para dizer, mas a ladaínha já vai longa.

Recebei um abraço da vossa amiga
Dina Vinhal
__________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7540: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (32): Carlos e Dina Vinhal

Vd. último poste da série de 3 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7549: Tabanca Grande (257): Ernesto Pacheco Duarte, ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857 (Mansabá, 1965/67)

14 comentários:

Anónimo disse...

Aqui ninguém me tira o primeiro lugar nos votos sinceros de boas vindas que quero expressar com toda a ternura à Dina e no grande abraço que quero dar ao nosso Carlos Vinhal.

A Tabanca cresceu!

Ainda bem!

Do meu Buarcos chuvoso, mas cada vez mais bonito,

Vasco A. R. da Gama

Anónimo disse...

Estimada Dina!

É-me difícil escrever ao ler este testemunho. Bonitas e sentidas palavras!

Não sei se é da idade (dizem que sim) mas a verdade é que ficamos mais sensíveis e as palavras também engasgam.

Obrigado Dina pela amizade e pelo apoio a esse grande amigo Carlos.

Beijinhos para vós Dina e Carlos.

Helena e Mário Fitas

Anónimo disse...

Querida Amiga Dina Vinhal
Que bonito e sentido texto o seu(também,para já, não vou a tratar por tu.Vamos dar tempo ao tempo).
Pelo que já passou em dois tempos - o da guerra e o da paz - merece todo o nosso respeito, todo o nosso carinho e também todo o nosso reconhecimento. Reconhecimento pela força que dá ao nosso Carlos como Editor, uma tarefa que não será fácil de conciliar no vosso dia a dia de casal.
Seja bem-vinda à nossa Tabanca.
JERO

Anónimo disse...

Caros, Dina e Carlos Vinhal

Parabéns pela forma singela e sintética, como a Dina expôs a sua história de vida, de amor e dedicação. É a prova mais que evidente, que o Luís Graça teve razão quando nomeou a Dina e o Carlos Vinhal, o casal do ano. Desejo-vos muita felicidade, longa vida e saúde, na companhia dos que vos são queridos.

Para vós, com admiração e respeito, um abraço.

José Corceiro

Anónimo disse...

Não vou aprofundar o campo sentimental, gostei do que li.

Desculpem, prefiro outra visão, se estão juntos à tantos anos e o que voltou não é o mesmo é porque este é melhor...

Obrigado e um abraço,
BSardinha

Torcato Mendonca disse...

Amiga Dina e Carlos

Emocionei-me um pouco ao ler estas palavras. Dizem tanto, dizem tanto a tantos. Dizem também tanto de vós. Eu falo ás meias ou ás horas com o Carlos e raramente ouço a sua voz. Tinha que estar uma mulher assim por detrás desse meu amigo.
Um grande abraço aos dois e o melhor para Vós. Torcato

Luis Faria disse...

(Sra.D.) Dina Vinhal

Leopoldina,era tambem o nome de minha Mãe.

Bem aparecida cá por estas bandas,onde a paz e calmaria por vezes intervalam com umas guerrilhazitas,talvez resquicios das alterações de vária ordem que sofremos e que referencia ao dizer "...aquele jovem que partiu e regressou outro..."

As mulheres que nos apoiaram,sofreram,aturaram e acompanharam na vida devem ser idolatradas.

Luis Faria

Anónimo disse...

Sra. Dina Vinhal,

“Outra mágoa que guardo dessa maldita guerra é a transformação que operou naquele jovem que eu conheci, que partiu um e regressou outro totalmente diferente. Posso até afirmar com a convicção de quem ama, que aquele que eu conheci nunca mais voltou.”

Talvez sim !… Mas houve mais, porventura muito mais importante.

A jovem que perdeu a mãe para uma doença terrível e que a substituiu junto do irmão de 12 anos, que soube esperar pelo noivo, é que mudou, tornando-se mulher.

Tornou-se numa grande mulher, numa grande senhora, companheira cúmplice de uma vida: esposa!

Curvo-me respeitosamente perante a jovem sofredora de então, da mulher que soube ser, da esposa que soube acompanhar e compreender.

José Câmara

Anónimo disse...

Cara Dina!

AO ler as suas palavras, recordo todo esse tempo, que nunca consegui esquecer.
Não tive lá namorado, nem marido, nem irmãos, mas tive amigos, filhos de amigos, fui madrinha de guerra de um moço que nunca conheci entre os 15 aos 17 anos e dos 16 aos dezoito, fui novamente madrinha de guerra do meu maior amigo. Vivi com eles aquele tempo, terrível para quem cá ficou esperando que eles voltassem bem ,e ouvindo as histórias más que se contavam. sei que a muitos foi difícil tornarem-se a encontrar, e é fácil compreender a dificuldade: Sabemos como sofreram e ainda sofrem eles e as famílias, por isso os admiro, os admiro a todos.
Dina (permita-me que a trate assim), a conversa não teria fim, sobre este tema, mas vou terminá-la dizendo-lhe da minha gratidão por ter ajudado um dos nossos moços a encontrar o caminho e a segurança, de ter caminhado ao lado dele estes trinta e nove anos.

Seja bem-vinda ao nosso convívio e obrigada pela sua força.

Considero o Carlos um amigo, e quero ser também sua amiga se achar que mereço.

Um beijinho da

Felismina costa

Joaquim Mexia Alves disse...

Querida amiga Dina ... com licença do Carlos

Claro que o que salta logo à vista é a célebre frase: «Por detrás de um grande homem há sempre uma grande mulher»

Tu, Dina e Carlos, foram talvez o primeiro casal que conheci desta Tabanca Grande, quando organizámos o primeiro encontro em Monte Real.
E digo organizámos, porque também tu Dina, fizeste e fazes parte imprescindivel das nossas organizações.

A empatia foi imediata e desde logo senti que tinha ali uns grandes amigos, discretos e sinceros, mas de uma grande entrega de si próprios aos outros.

E, claro, a tua escrita confirma-o sem dúvidas.

Pois, ele pode ter mudado na guerra, mas a essência do amor verdadeiro, (não o ocasional), entre vós, superou a mudança nele operada e em ti também, visto que também tinhas passado a tua guerra.

Olha, chega de escrita!

Um grande e camarigo beijo para ti Dina e um grande e camarigo abraço para o Carlos, deste vosso amigo, sincero.

Anónimo disse...

Um Abraço para a Dina!


Um Abraço para o Carlos!


Que dizer mais?

Jorge Cabral

Anónimo disse...

Cara Amiga Dina

Depois de tantos terem expressado por belas palavras, o seu sentimento pela leitura desta terna apresentação, só me resta dizer que a sua leitura me emocionou bastante.

Para a alegre e sempre risonha Dina que me habituei a ver nos vários encontros um grande e sincero abraço de amizade, que torno extensível ao "novo" Carlos.

Jorge Picado

Silva da Cart 1689 disse...

Parabéns D.Dina pela imagem que nos transmitiu e que nos fez recordar as mais variadas situações amorosas, brutalmente condicionadas pela guerra na Guiné.

Parabéns também pela sua coragem, para enfrentar certamente a pior fase da sua vida. Seguramente que se fez mais mulher e boa esposa.

Parabéns ainda pelo marido que conquistou. É evidente que só o conhecemos através deste blogue mas não é preciso olhá-lo, olhos nos olhos, para sentirmos que, pelo seu incansável apoio e ponderada colaboração, se trata de um bom Homem. Bjis

Anónimo disse...

Carlos Marques Santos, Mansambo (aquela terra QUE NÃO VINHA no MAPA)- 68/ 69

Amiga DINA e Carlos:

Todos sabem concerteza no Blogue,que sou pouco palavroso, mas emociunei-me com este texto.

UM ENORME BEIJO para um casal fora de série.

Até breve.

CMS e TERESA