terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7594: Falando do Capitão Rui da CCAÇ 18 que eu conheci no Saltinho em 1971 (Mário Migueis da Silva)

1. Mensagem de Mário Migueis da Silva* (ex-Fur Mil Rec Inf Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), com data de 10 de Janeiro de 2011:

Caro Carlos:

Neste início de 2011, aproveito para te desejar tudo de bom no mesmo e nos muitíssimos que se hão-de seguir.

Nada ou pouco mais que nada sei do "capitão Rui" para além do que faço constar no textozinho que anexo. Mas sei que não faltam medalhados de mérito duvidoso, o que, aparentemente, não será o caso da personalidade em apreço.
 
Se tiveres espaço e achares bem, agradeço a publicação.

Um abraço muito amigo,
Mário Migueis


O Capitão Rui

Em 1971 - em que dia ou mês já não sei -, estava eu ainda combalido, a recuperar de mais um ataque de paludismo, vieram chamar-me, a mando do Capitão Carlos Clemente, Comandante da CCAÇ 2701, onde me encontrava em diligência: tinha um amigo de visita ao Saltinho, que fazia questão de me rever.

Um amigo?!... Cheio de curiosidade, fiz das tripas coração, saltei da cama, passei água pelos olhos, vesti-me e desloquei-me à messe de oficiais e sargentos, onde o tal amigo estaria à minha espera.

Estavam os três à porta, voltados para a parada ensolarada do lado nascente, aparentemente muito bem dispostos: ele - o Capitão Clemente -, um outro capitão, seu amigo, ao qual eu seria apresentado momentos depois, e o Quartim, meu homólogo dos Serviços de Informação Militar em Aldeia Formosa, o qual já não via desde a última formação na Amura, meia dúzia de meses atrás.

Já no bar, após breve conversa, deixámos os senhores capitães entretidos com uns aperitivos, e fomos – eu e o Quartim - até à Sala de Comando, onde o Serviço de Informações tinha cantinho reservado. Falámos de tudo e mais alguma coisa, mas especialmente do nosso grupo do S.I.M. espalhado pelo território e do capitão miliciano que ele acompanhava naquela visita de cortesia à tropa do Saltinho.

Após o almoço, quando se aproximava já a hora do regresso a Aldeia Formosa dos nossos visitantes, trocámos lembranças, tendo eu oferecido ao Quartim uma peça de artesanato local e recebido em troca uma farda completa (camisa, calça e quico) do PAIGC, três ou quatro lápis, outros tantos cadernos e um livro escolar, fabricados, respectivamente, na antiga URSS, Cuba e Suécia. Conservo ainda todas essas lembranças, com excepção da “fardeleta”, que, anos mais tarde, viria a ser atacada pela traça. Estas pequenas recordações de guerra que o Quartim, simpaticamente, trouxera no bornal para me oferecer, faziam parte de um grande lote de armamento e material diverso, capturado ao IN durante a última emboscada montada pela CCAÇ 18 na área de influência das NT instaladas em Aldeia Formosa. - “O capitão Rui é do melhor que temos na Guiné. É um tipo de coragem e de iniciativa, tendo imprimido à Companhia uma atitude de grande agressividade a defender e a atacar. Tem feito muita mossa nas hostes do PAIGC!” – contava-me o Quartim, com ares de respeito e admiração.

Posteriormente, estive algumas vezes em Aldeia Formosa, onde pude rever o meu amigo Quartim. Sempre que lhe perguntei pelo capitão Rui, respondeu da mesma maneira: - “Está para o mato com a Companhia!...” E, na verdade, ao capitão Rui, a esse, nunca mais o vi. A menos,…

…a menos que se trate do nosso camarada de tertúlia Rui Alexandrino Ferreira, que acabou de passar um Natal de preocupações, com ”o coração aos pulos”. Nesse caso - no caso de se tratar do mesmo Rui -, poderei e deverei antes dizer: ao capitão Rui, a esse, só voltei a vê-lo no blogue do Luís Graça, quarenta anos mais tarde!

Esposende, 07 de Janeiro de 2011
Mário Migueis da Silva
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7464: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (7): (Joaquim Mexia Alves / José Martins / Mário Migueis da Silva / José Manuel Matos Dinis)

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Migueis:
É mesmo esse - o Capitão Rui.
Conheci-o em 1972, em Mampatá- Foreá, era ele comandante da C.Caç.18 e considerado um combatente de grande categoria e um comandante na verdadeira acepção do termo, muito respeitado (não temido) pelos seus homens.

Um abraço
António Carvalho (Mampatá 1972/74)