domingo, 6 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7735: Tabanca Grande (264): António Cunha, ex-1.º Cabo da CCAÇ 763 “Os Lassas” – Cufar 1965/66 (Mário Fitas/António Cunha)


1. O nosso camarada Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763, “Os Lassas”, Cufar, 1965/66, reenviou-nos uma mensagem com a apresentação de mais um nosso Camarada, da sua CCAÇ 763, que se junta a nós nesta Tabanca Grande – o ex-1º Cabo António Cunha -, com data de 30 de Janeiro de 2011, que o Mário muito bem complementou com a informação que podemos ver no ponto 2:

Olá Mário, tudo bem?
Aqui esta o texto que disse que enviava.

Cufar, 24-2-1966 dia em que eu fiz 23 anos. Foi nesse dia que a CCAÇ 763 e outra (de que eu não recordo no número), saímos para montar segurança aos sapadores que iam limpar a estrada de Bedanda.
Parecia uma tarefa fácil, mas não foi, porque eram 04h00 da manhã quando fomos emboscados até as 08h00. O nosso camarada e grande amigo Fur. Mil. Humberto Gonçalves Vaz, natural de Viana do Castelo, tombou ali morto junto a nós.

Aqui vão as fotografia que combinamos (uma actual e outra militar), para colocar no blogue.

Se achares que o texto não está bem, compõe a tua maneira.
Um abraço, deste grande amigo,
António Cunha.
1º Cabo da CCAÇ 763

2. Camaradas, este foi um dos e-mails que estiveram aqui parados no meu correio, por causa do meu “gripanço” (ver poste anterior P7733).

Dada a minha amizade com o 1º. cabo António Cunha e ao meu grande companheiro Humberto Vaz, aliás como todos os soldados da C.CAÇ. 763, permitam-me que transcreva da história da CCAÇ 763 o relatório da referida operação:

"24 - A Companhia a 3 GCOMB tomou parte na operação TESTE que visava a abertura da estrada Catió - Cobumba. A Companhia tinha como missão instalar-se na estrada a fim de impedir o acesso do IN da região de Cabolol e garantir a segurança de uma coluna auto que se deslocaria de Catió para Cobumba.

A Companhia saiu do aquartelamento pelas 00H30 progredindo pela estrada com a CCAÇ 1500 à sua retaguarda.

Cerca das 04H00 a testa da Companhia atingiu o caminho para Cabolol Nalu, região onde as NT se deveriam instalar.

No momento em que a Companhia se preparava para proceder à sua instalação foi violentamente emboscada pelo IN que abriu fogo ao longo da estrada na direcção norte-sul batendo também o flanco direito da Companhia.

O IN enfiou ambos os lados da estrada com 2 MP 12,7 com balas tracejantes; atacou o flanco direito da Companhia com armas automáticas e MP; bateu o troço da estrada onde a Companhia se encontrava com LGF e Mort. 82 mm; atacou a testa da coluna com granadas de mão; colocou toda a Companhia na zona de morte.

A intensidade de fogo do IN manteve-se cerca de 50 minutos ao fim dos quais sofreu um decréscimo; nesta ocasião e após o lançamento de diversos verilaites de cor verde sobre a zona de acção foi avistado um helicóptero voando no sentido Cansala - Cabolol Nalu tendo aterrado nesta região não foi possível alveja-lo por se ter oculto por detrás do arvoredo.

Após o aparecimento do helicóptero cessou por alguns minutos o tiroteio, o qual cerca das 05H15 recrudesceu com grande intensidade de fogo de LGF e Mort. 82 mm.

As NT reagiram eficazmente tendo conseguido silenciar o IN pouco depois das 06H30.

Em virtude da intensidade de fogo desencadeado pelo IN as NT sofreram 2 mortos 1 desaparecido e 17 feridos, sendo um dos mortos Furriel Miliciano Humberto Gonçalves Vaz.

Considerando o grande número de feridos e a necessidade de de remuniciamento da Companhia cerca das 07H00 acompanhada da CCAÇ 1500 deslocou-se na direcção Camaiupa a fim de procurar um local propício para as evacuações.

Cerca das 07H35 a Companhia contactou na estrada com a CCAÇ 728 que se deslocava para o norte escoltando a coluna auto.

As NT instalaram-se junto à mata de Camaiupa onde se procedeu à evacuação dos mortos e feridos e remuniciamento.

Pelas 08H20 e considerando o grande número de baixas sofridas e o grande esgotamento do pessoal a operação foi dada por terminada.

Estiveram no aquartelamento no decorrer da operação TESTE o Comandante do Agrupamento 17, o Com. do BCAÇ 1858, acompanhados dos oficiais de operações, do oficial de transmissões do médico e capelão.

O médico do B.CAÇ. 1858 manteve-se em Cufar."

Eu e o Humberto Vaz (de óculos escuros)
Mário Fitas
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
5 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7723: Tabanca Grande (263): João Pinho dos Santos, ex-Alf Mil da CCAÇ 618/BCAÇ 619 (Susana e Binar, 1964/66)

4 comentários:

Luís Graça disse...

Sê bem vindo, António... Como já temos um outro António Cunha (ou António Gomes Cunha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 1613/BART 1896, Guileje, 1966/68),
vamos chamar-te António Cunha ('Lassa')... Para evitar confusões...

Põe-te à vontade, e senta-te debaixo do frondoso e generoso poilão da nossa Tabanca Grande... Um abraço para ti e para o teu "padrinho", o Mário...

Luís Graça

João Miguel Vaz disse...

Sou sobrinho do malogrado Humberto Gonçalves Vaz.
Obrigado pelas informações aqui colocadas.
O meu pai, irmão do Humberto, contou.me há dias que os camaradas do Humberto pagaram do seu bolso as despesas de transporte do caixão para Viana do Castelo. Um gesto nobre.

Anónimo disse...

Caro João Miguel Gonçalves Vaz, é verdade foram os camaradas sem distinção que pagaram a transladação do corpo do seu tio para Viana do Castelo. Ainda agora, várias vezes por ano, o Veterano de guerra soldado Silva Pereira, visita a campa do seu tio em seu nome e de toda a C.CAÇ. 763.
Fui irmão de guerra de seu tio. Homem muito estimado por todos os soldados da 763.
Em escritos meus estão narrados episódios da sua vivência no Sul da Guiné.
Teria e terei muito gosto se o desejar, de falar sobre o seu tio e da vivência que tivemos como soldados de Portugal em terras da Guiné.
Um grande abraço,

Mário Fitas.

Unknown disse...

CARO JOÃO MIGUEL EU TAMBÉM FUI CAMARADA DE SEU TIO, ELE ERA FURRIEL E EU ERA 1º CABO, POIS FOI COM GRANDE CONSTERNAÇÃO, QUE ASSISTIMOS À DESPEDIDA DESTA VIDA DE SEU TIO, ELE CAÍU A CERCA DE 5 METROS DE MIM, SÓ QUE NÓS NÃO SE VÍAMOS ERAM CERCA DE 4 DA MADRUGADA ESTAVA ESCURO COMO BREU, FOI UM GRANDE AMIGO DO SEU AMIGO, POIS O NOSSO COMANDANTE, DEPOIS JÁ NO QUARTEL NOS INFORMOU QUE O GOVERNO NÃO FAZIA A TRANSLADAÇÃO DE NINGUÉM, ENTÃO ELE LOGO RESOLVEU, TODOS PAGAREM EM RELAÇÃO AO PRÉ DE CADA UM. POIS PARA MIM QUE ERA PARA SER UM DIA DE ALEGRIA, POIS FAZIA OS MEUS 23 ANOS NESSE DIA FATIDICO DE 24 DE FEVEREIRO, DE 1966. GOSTEI DE DESABAFAR UM POUCO COM O SOBRINHO DO NOSSO GRANDE COMPANHEIRO. UM ABRAÇO!