terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7744: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (12): Os guineenses apenas assumem o idioma português como lingua oficial

1. Mais um texto do nosso camarada e amigo António Rosinha, enviado em mensagem do dia 4 de Fevereiro de 2011


Caderno de notas de um Mais Velho -12

Os guineenses apenas assumem o idioma português como língua oficial


Caros editores, para publicação se houver espaço.

Sou a favor do acordo ortográfico, e que esse acordo ortográfico seja democraticamente aceite após discussão pública por estudiosos, ou seja, a maioria de estudiosos decide.

Tanto portugueses como angolanos emitem opinião sobre o acordo, tanto a favor como contra. No entanto é difícil ouvir opinião de guineenses ou mesmo de cabo-verdianos.

Os angolanos que viviam em maioria em regiões isoladas sem escolas nem contactos com missões religiosas nem islâmicas, existia apenas a tribo com sua língua e seus usos e costumes, ouviam a língua portuguesa apenas quando iam ao comerciante branco ou mestiço mais próximo, comprar o sal e os seus panos.

No entanto os estudantes citadinos angolanos antigos (1950/60), discutiam com qualquer beirão, minhoto ou algarvio que o português de Luanda era mais perfeito e correto que qualquer outro da metrópole.

Os brasileiros também se consideram mais bem falantes do português, que nós portugas.

Embora com várias explicações possíveis, os guineenses mais falantes de crioulo, francês e as próprias línguas maternas, tomam a língua portuguesa apenas como língua oficial.

Enquanto em Angola já se vê o uso do português com o mesmo àvontade com que fazem os brasileiros, já criam palavras, frases, termos e sotaques que mais não é que enriquecimento da língua portuguesa, na Guiné, e mesmo Cabo Verde, o uso do português é feito por uma minoria, e mesmo essa minoria o usa apenas "oficialmente".
Gostaria de estar enganado nesta opinião que estou a emitir, mas é um sentimento que não me sai da cabeça, que uma das muitas razões que explicam o fraco uso do idioma português tanto na Guiné como em Cabo Verde faz parte ainda de um já gasto mas necessário e oportuno sentimento anti-colonial.

Claro que a desorganização política da Guiné destes anos afastou para o exterior os cidadãos mais bem preparados e mais letrados, o que também explica o fraco uso da língua portuguesa.

Mas custa a compreender, como os políticos guineenses conseguiram matar tantas ajudas, portuguesas e suecas, para o ensino escolar, e outras áreas.

Talvez tenham aprendido connosco que, como dizem quase todos os nossos ex-colonizados, que os portugueses foram bons mestres, apenas no que é negativo.

Evidentemente que o acordo ortográfico pouco conta para a nossa geração, mas se houver de facto uma uniformização aprovada cientificamente por maioria, vai ajudar a manutenção e divulgação do português pelos quatro cantos do mundo lusófono, o que será para os mais novos uma herança para a qual a nossa geração contribuiu com alguns anos da nossa juventude e muitas famílias perderam parentes.

Sou daqueles que não concordava em 1961 com a solução do Kennedy como hoje dizem muitos historiadores, pois que os americanos já tinham feito as Coreias, já estava incendiado o Zaire e surgiu o Vietname. No caso das colónias portuguesas era para ficar tudo em pó sob os pés de Kennedy e Brejnev.

E aí, da língua e da presença portuguesa, nem com velas como as de Timor salvavam fosse o que fosse.

Um abraço para todos
Antº Rosinha
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7454: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (11): O PAIGC que nos saiu na rifa, a Portugal e à Guiné: Cumbe di Baguera / Ninho de abelhas

11 comentários:

Anónimo disse...

Boa, camarada Rosinha.
O teu conhecimento é feito da experiência do trabalho de campo e do mergulho fundo na vida e no entendimento das aspirações daquelas gentes com quem conviveste.
Mais uma vez, genericamente, estou de acordo contigo, incluindo nessa questão que tocas ao de leve, do complexo anti-colonial.
Amo o Brasil quase como a minha segunda pátria, no entanto todos os dias lhes oiço a alusão a Nova Iorque, À Florida, a Paris, como se pensassem que teria sido melhor com tais colonizadores.
Não me parece um sentimento que mereça crítica já que é quase inevitável durante muitos anos e na recuperação da situação antiga.
Na África, até nisto somos colonizadores fracos porque não temos meios ou vontade de apoiar os esforços da consolidação do português nos territórios das antigas colónias, como antes não os tivemos para colonizar, quer dizer, desenvolver e sacar com fizeram outros.
Vou enviar-te via mail um texto sobre o Acordo Ortográfico que me saiu numa "disputa" com Salvador Nogueira sobre a questão.
Enviarei também ao Carlos Vinhal, embora me pareça fora dos propósitos do blogue.
Um abraço
José Brás

Anónimo disse...

Cada um tem a sua opinião, eu fico com a minha, que acho que é a correcta, porque se disese que era o coreta ninguém saberia.
Rui G. dos Santos
ex-Alferes miliciano inc 1962
Ex-Provincia Ultamarina da Guiné

Anónimo disse...

Caro Camarada Ex-Alferes da dita Ex. Näo será necessário respeitar o IDIOLECTO de cada um? Um sincero abraco.

Anónimo disse...

Rui G. dos Santos ex-alferes da ex-província ultramarina da Guiné.
Acho que ninguém quer tirar-te nada que achas correcto. Nem sequer o teu direito individual de continuares a escrever correcto.
Ainda assim, acho, que não quererás voltar a escrever pharmácia, embora assim é que seja coreto, quer dizer, correcto.
Sem fracturas (vês como é também assim que escrevo?), se quiseres envio-te via mail (que gaita de palavra) uma peça minha que já circulou por aí numa "contenda" sobre o assunto, entre mim e o visitante do blogue (e meu amigo) Salvador Nogueira.
Abraço
JB

Anónimo disse...

Pois de facto tendes razão, mas a invenção de palavras a fim de "atingir" alguém, é lamentável e não faz parte, deste blogue, como se EXplicita nas regras de comentar :- histórias vividas,e situações de combate ou de amizade! IDIOLECTO deriva de IDIoma ou de IDIota? Pressuponho que e com letra de "GRITAR" se pretende que derive de IDIOTA, assim sendo passa também ao lado , como e graças a DEUS muitas balas passaram. Dizem-me por vezes que sou como um espelho, deve ser por isso que quem me olha vê reflectida a sua própria imagem!
EX-combatentes, EX-militares, em analise de alguns comentários lembro de uma estória que me contaram de um EX-Soldado e de EX-Sargento,que estavam ambos num varandim a olhar para a parada e o EX-Soldado diz calorosamente:-MEU SARGENTO TENHO UMA IDEIA!
O EX-Sargento, olha-o com um ar muito calmo, e diz muito serenamente :- COITADA, COMO ELA SE DEVE SENTIR TÃO SÓZINHA....
Não pretendo ofender ninguém e se alguém assim o sentir, é porque foi "atingido".
No entanto, continuo a ser EX-Alf Mil, que pertenci á EX-4ª CCaç na zona de Bedanda,sudoeste da EX-Provincia Ultramarina da Guiné.
Espero ter EXplicado devidamente a minha opinião, e a partir deste momento passo a ser um EX-comentador .
Rui Santos

Anónimo disse...

Mais Velho Rosinha,permita-me que em tom daquelas nossas saudaveis discordancias ,a que fomos habituando os bloguistas deixe registado os meus comentarios a algumas passagens desta sua reflexao !

1-“Tanto portugueses como angolanos emitem opinião sobre o acordo, tanto a favor como contra. No entanto é difícil ouvir opinião de guineenses ou mesmo de cabo-verdianos.”

Saiba pois,que tanto os guineenses como os caboverdianos teem opiniao formada sobre o acordo ortografico da lingua portuguesa, lingua e comunidade de que sao parte de pleno direito.A nivel da imprensa local e dos proprios parlamentos desses dois paises e nao so, a tematica foi e tem sido alvo de debates. Pena que a imprensa portuguesa raras vezes reflicta nas suas paginas, esses sinais de uma Africa …tambem ela de nuances positivas!

Quica nao saiba,mas contrariamente a Angola ,pais onde a especificidade da cultura e das linguas locais, acabam por se reflectir na forma como a lingua portuguesa e escrita e falada, argumento de que Luanda tem servido para adiar a ratificacao do acordo,no caso de Cabo Verde, o documento submetido ao pronunciamento dos caboverdianos, foi de ha muito ratificado !

(continua)


Nelson Herbert

Anónimo disse...

2-“Embora com várias explicações possíveis, os guineenses mais falantes de crioulo, francês e as próprias línguas maternas, tomam a língua portuguesa apenas como língua oficial.”

A lingua portuguesa vai pelo menos, por muitos vindouros anos continuar a ser lingua oficial na Guine Bissau. A francesa nem por isso ! Embora haja uma tendencia ao empolamento desse falso problema … ou seja, o do ascendente da lingua francesa sob a portuguesa, na Guine…convenhamos corrente de opiniao que peca pela seu cronico paternalismo. Os guineenses , tal como os caboverdianos e mais recentemente os timorenses fizeram a opcao pela lingua portuguesa..e nada lhes foi imposto … E neste capitulo, e tempo de encararmos como soberana a opcao feita por esses povos e estados !

E mais ,vendo os factos deste prisma a problematica da lingua portuguesa na Guine, concretamente no que tange a educacao e seu ensino,deixou com a independencia e a consequente descolonizacao de ser um problema de Portugal. Cabe hoje pois ao estado guineense zelar, com o concurso de parceiros, nomeadamente de Portugal, pela massificacao do ensino da lingua portuguesa…sem exclusao das demais linguas,tambem elas na genese da historia e da cultura do pais !


3-“ Gostaria de estar enganado nesta opinião que estou a emitir, mas é um sentimento que não me sai da cabeça, que uma das muitas razões que explicam o fraco uso do idioma português tanto na Guiné como em Cabo Verde faz parte ainda de um já gasto mas necessário e oportuno sentimento anti-colonial.”

Repare que apesar de inicialmente,colonial, quanto mais nao seja, pela sua imposicao em detrimento das demais linguas etnicas locais, a lingua portuguesa tornou-se,por razoes historicas obvias, num patrimonio e numa inquestionavel heranca dos guineenses e caboverdianos.

O bilinguismo nesses dois paises decorre de um fenomeno historico,a que nao esteve alheio o proprio Portugal…pelo que reside unicamente na historia comum a explicacao para a natureza hoje oficial da lingua portuguesa na Guine e em Cabo Verde… nacional em Angola e Mocambique e materna no Brasil e em Portugal !


Por conseguinte no caso de Cabo Verde, o conhecido e invejavel grau de literacia entre os locais atesta o quanto o bilinguismo local, em nada afectou nem a expansao nem a consolidacao da lingua portuguesa naquele arquipelago…

Fenomeno identico esta tambem ao alcance dos guineenses !


“ Sou daqueles que não concordava em 1961 com a solução do Kennedy como hoje dizem muitos historiadores, pois que os americanos já tinham feito as Coreias, já estava incendiado o Zaire e surgiu o Vietname. No caso das colónias portuguesas era para ficar tudo em pó sob os pés de Kennedy e Brejnev.”

Mais Velho nao creio que exista povo algum que seja indiferente a ocupacao,opressao ou colonizacao por mais bem “intencionada” que seja… Povo que se deixe reduzir a insignificancia sob os pes de um Salazar, Kennedy , Brejenev , George Bush…ou Mubarak !!!

Foi pois o que Portugal provou no seculo 17, perante a ocupacao dos espanhois ! E os africanos garanto-lhe, nao sao a excepcao a regra !

mantenhas cordiais !

Nelson Herbert

Anónimo disse...

Caro Rui Santos.Camarada. Espero sinceramente que reconsideres quanto ao Ex-Comentador. Se te deres ao trabalho de procurar na "Net" a Wikipedia,aí poderás ler:IDIOLECTO=Forma de falar característica de cada pessoa.Quando efectuado por escrito denomina-se "estilo".No idiolecto devem levar-se em conta as diferentes entoacöes e pronuncias. Quanto a mim..... será dificil de se encontrar algo de ofensivo neste termo.Pelo mal entendido te poderei pedir desculpas,mas,francamente näo vejo razäo para tal. Um abraco.

Anónimo disse...

Agradeço a resposta, mas como percorri quer as duas enciclopédias
quer o diccionário Porto Editora, bem como o da Lello e nada encontrei, e quanto á Wikipedia, não me merece confiança, pois um dia tentei um esclarecimento de uma qualquer coisa de lana caprina, que eu até sabia, e fui dar com uma resposta totalmente desfazada.
No entanto se assim o diz...
Quanto aos comentários, quando leio alguma história de guerra que eu SEI QUE É FALSA, ou falha por precisão do local, os tampos saltam-me da cabeça, e tenho que refrear sempre os animos e não ir chocar com gente mais nova, que era pressuposto ter mais memória do que eu.
Faço brevemente 70 anos, mas lembro os locais onde estive, como se lá estivesse, analizo o google, e reconheço todos os pontos que pisei e o que fiz, no espaço vejo o quão falsas são algumas estórias
embora os locais tenham sido alterados, está lá a base dos meus conhecimentos, a localização dos cavalos de friza, as sebes de arame farpado, o local onde estive aboletado, o local onde se morreu e viveu, tenho pena de estar no fim da recta final, mas se deixo de ler estes espaços ainda corro mais depressa.
Rui Santos

Anónimo disse...

(Por limitacao dos caracteres exigidos aos comentarios..este bocado acabou por ficar de fora...)

Em jeito de rodape,Mais Velho Rosinha..convem nao perder de vista que eh no criolo...que esteve assente o embriao da formacao da nacao caboverdiana..por sinal a unica ex colonia, onde a nacao antecede a formacao do estado (quica dai essa paz de espirito vivida pelos ilheus)...e esta tambem alicercado a base da nacao guineense, esta em construcao !

Quica nesta realidade socio-linguistica (nada a haver com os tais odios coloniais de que suspeita) encontre a explicacao para o porque da lingua portuguesa ser oficial nesses dois paises,paralelamente a um criolo, lingua materna e nacional...

Mantenhas Cordiais

Nelson Herbert

Anónimo disse...

Amigo Nelson, gostei que tenhas aparecido pois à muito tempo que não davas sinal de ti.

Desculpa não leres a minha contestação ao que escreveste, que apoio tudo o que comentas, mas mandei-te um comentário que desapareceu mas espero que ainda seja encontrado pelos incansáveis editores.

Um abraço,

Antº Rosinha