segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7782: Lições de artilharia para os infantes (1): Como era feito o tiro de obus 14 (C. Martins, ex-Alf Mil, Pel Art, Gamadael)












Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 2617, Magriços do Guileje, Março de 1970 / Fevereiro de 1971...  Três fotos (em mau estado...) do Fur Mil Abílio Pimentel, de seu nome completo Abílio Alberto Pimentel Assunção, junto à peça de artilharia 11.4. (Fotos do acervo da AD - Acção para o Desenvolvimento).


Fotos : © Abílio Pimentel / AD - Acção para o Desenvolvimento (2006). Direitos reservados. (Editadas por L.G. Reprodução com a devida vénia...)




1. Do nosso leitor (e camarada, ex-Alf Mil, Pel Art, Gadamael) C. Martins (actualmente médico), em comentário ao poste P7768 (*):
 
Caro Luis Graça


Em primeiro lugar a fotografia que apresentas com dois camarigos junto a uma peça 11.4,  nenhum deles sou eu


Aproveito para mais uma lição de artilharia para os infantes.A diferença entre peça e obus tem a ver com a relação calibre/comprimento do tubo, isto quer dizer que a peça tem o tubo mais comprido.


A orgânica de uma bateria de campanha (=companhia de infantaria)  era constituída por PCT (posto de comando e transmissões), IOL(informação,observação e ligação) que no caso da Guiné era feito normalmente pelos infantes e pilavs,sim porque nós artilheiros não eramos burros, em caso de engano não levávamos com os supostórios na mona que para isso estavam os infantes, e CAMPANHA (obuses ou peças).


O tiro de obus 14 era feito da seguinte forma:  (i) introduzia-se a granada no tubo, claro que com a respectiva espoleta;  (ii) depois soquetava-se a granada com um soquete (pau comprido e mais grosso na ponta)..(eh!,  nada de segundas intensões... este também podia servir para outras funções.. que deixo a vossa imaginação),  de forma a que a granada ficasse bem acoplada ao tubo;  (iii) depois introduzia-se a carga ou cargas consoante o critério do "inteligente" que comandava, fechava-se a culatra principal, introduzia-se a escorva (cartucho) na culatra auxiliar que era fechada e, (iv)  à voz de fogo,  o servente à culatra puxava o famoso cordel que accionava um percutor na escorva que ao rebentar transmtia uma chama, através do cogumelo, à culatra principal onde estava a carga que explodia fazendo sair a granada do tubo. 


E pronto,  a partir daqui era ter fé que a granada impactasse onde se pretendia e que explodisse...


Oh infantes,  vocês depois de dispararem a G3 iam fazer coreccção da trajectória da bala ?!.. Ah... como o tubo era estriado,  imprimia um movimento de rotação à granada que servia para dar uma trajectória mais correcta e também armava a espoleta.


Perceberam ou querem que vos faça um desenho ?
Um alfa bravo


C.Martins


[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
____________


Nota de L.G.:


Vd. postes do C. Martins (que não integra formalmente a nossa Tabanca Grande):






23 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7662: (Ex)citações (127): Um lição de artilharia... A propósito do obus 14, de Bedanda, bem como dos artilheiros e infantes... (C. Martins)

(...) Quero rectificar os dados referidos do obus 14: o alcance máximo era de 16.600 metros com carga 4 e num ângulo de 45º, o peso da granada era de 45kg.

Quero ainda dizer que os cálculos de tiro eram feitos em jardas porque o obus era de origem inglesa e o peso da granada era em libras. Os dados referidos em cima são a conversão para o sistema métrico e decimal.

Os cálculos tinham ainda em linha de conta a densidade do ar, que variava com a temperatura e humidade e ainda o chamado ângulo de sítio para a crista se houvesse um obstáculo à frente do obus, por isso, meus caros infantes, era muito difícil aos artilheiros calcularem com exactidão o local exacto do impacto da granada, mesmo hoje com GPS é difícil.

Aquela velha anedota de "Deus no livre da nossa artilharia, que da do IN nos livramos nós", só por ignorância, mas nós, artilheiros, aceitamos com bonomia.

Para terminar quero dizer que a velocidade de saída da granada do tubo dependia da carga mas era sempre superior à velocidade do som, por isso fazia aquele som tão característico e se estivesse cacimbo então era cá um "ronco". O custo de cada tiro era apenas a módica quantia de 2.500$00. (...)

3 comentários:

Torcato Mendonca disse...

EU ARTILHEIRO ME CONFESSO; LUÍS GRAÇA

Gosto da ironia com que este Artilheiro, que foi, e Médico que parece ser ( que tem uma coisa a ver com a outra?), do modo como tenta explicar a Arte da guerra ,com a Artilharia, a quem pouco dessa Arte sabe. Era preciso tê-los no sítio para, em pleno ataque a um aquartelamento, vir cá para fora...aparecem, depois, comentários aos comentários, que viraram postes, e os erros acompanham-nos...emendar foi preciso mas...que dirá, se for lido por um ou outro Coronel de Artilharia que eu conheço (lembrei-me de quatro)e tu, meu Caro Luís lembras-.te de dois pelo menos, de certos escritos...
EU ARTILHEIRO CONFESSO O RESPEITO QUE TENHO PELA ARTILHARIA, O QUE ELA ME AUXILIOU...ERA ATIRADOR EM ESPECIALIDADE DADA PELO CAPITÃO ARTILHEIRO COMANDO (HOJE GENERAL) Victor Oliveira...como a maioria dos graduados da minha CART e comandado primeiro (dois meses) pelo futuro (DEz68) CMDT da Artilharia da Guiné e depois, quase doze meses, por um Capitão de Artilharia e que sabia das artes, guerrilheiras e de obuses, peças, azimutes e cartografia...etc...
Acaba o papel e eu, Confesso que como ex-ARTILHEIRO sinto-me envaidecido com a propaganda á ARMA...há ainda outras razões mas...o espaço...

Anónimo disse...

Camarigo Torcato
Não é preciso exagerar--tê-los no sítio-- foi comum a todos das mais variadas especialidades e armas.
Aproveito para prestar uma sincera homenagem aos meus soldados(recrutamento da Gúiné) e até a um marado infante que eu apelidava de "sinaleiro" que em vez de se abrigar, quando eramos flagelados, punha-se em cima do abrigo e tentava observar de onde vinham os misseis,as morteiradas ou as granadas--- para ele vinham sempre dos lados de Sangonhá--tudo vinha daí-- que como calculam, como observador a utilidade era zero, e só punha a sua vida em risco--estava completamente "apanhado do clima"-- bem "apanhados"estavamos todos.
Um "gadamaelista"
C. Martins

Torcato Mendonca disse...

Em Mansambo, era Outubro e arribou o nosso terceiro Comandante de Companhia. Alto o capitão, Artilheiro, terceira comissão, saberes de outras paragens, conversa fácil. O local era inóspito e ele dois meses depois abalou. Ainda fez a transição com o outro Capitão, terceira comissão, Artilheiro, baixo, voz de reserva.Este , como era Dezembro, os estragos da invernia tinham passado ficou. Ficou até ao fim, onze meses.É Obra.
Como bom profissional recebeu um dia uma encomenda do anterior:2 obuses 10.5, um alferes, dois furriéis e a guarnição constituída por soldados da Guiné. Curiosamente um deles tinha, como nome de baptismo Doutor - Artilheiro Doutor. Eram bons e, com as dicas do Capitão Artilheiro conseguiu-se bom trabalho. O IN não gostava do "material". Nós usávamos e abusávamos. Caiamos numa emboscada e zás: Quebec e o número x,y ou z;...aí vem ameixa... vinham visitar-nos ao aquartelamento e toma lá "ameixa" de 10.5,...o alferes Quebec....gritava a Convenção...tão alto gritou que o IN ao arame não voltou...
Tinha o contra de partir os vidros que protegiam a chama do frigorífico...
Nem tudo é bom...Ali, em Mansambo, dava bem um 14 ou uma 11,4...é só ver a Carta...Candamã, Moricanhe,Galoiel e mais uns eteceteras....para um dia agora a febre voltou...chata...