sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7863: Memória dos lugares (144): Bedanda 1972/73 - Filhos da Terra / Filhos da Guerra (1) (António Teixeira)

1. Mensagem de António Teixeira* (ex-Alf Mil da CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 - Teixeira Pinto, e CCAÇ 6 - Bedanda; 1971/73), com data de 23 de Fevereiro de 2011:

Carlos
Cá vão mais algumas fotos para a história de Bedanda

É ainda com imensa saudade e ternura que revejo estas fotos.
Estávamos habituados a ver aquelas crianças sempre por ali, sempre simpáticas, com um sorriso aberto e leal. Outras, com um olhar mais triste, talvez já adivinhando um futuro sem grandes promessas.

Que será feito delas? Terão sobrevivido? Terão vingado? Nunca o saberemos, como também não sei os seus nomes, nem as suas famílias, nem as suas moranças.
Eram crianças apenas.
Que até para brincar tinham que construir os seus próprios brinquedos.
Tentei captar alguns desses rostos, desses olhares.

Um grande alfa bravo
António Teixeira


BEDANDA 1972/73

FILHOS DA TERRA / FILHOS DA GUERRA (1)










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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7831: Memória dos lugares (141): Bedanda vista por António Teixeira, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (1971/73) (3)

Vd. último poste da série de 25 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7859: Memória dos lugares (143): Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, 1971/72 (Paulo Santiago, instrutor de mílícias, ex-Alf Mil At Inf, Pel Caç Nat 53)

10 comentários:

Luís Graça disse...

Estes meninos e meninos terão hoje 40/50 anos... os que tiveram a sorte de não morrer antes dos cinco anos e de escapar a outras "minas e armadilhas" da vida na Guiné-Bissau... António, dou-te os meus parabéns pelas tuas magníficas fotos dos meninos e meninas da Guiné do nosso tempo... LG

Anónimo disse...

Caro Teixeira
As fotos são inmpecáveis, a vida dessas crianças é que se calhar não!
A miúda mais clarita é parecida com alguém que me recordo, lá no fundo da neblina das memórias, parece-me o cabo dos barcos( o sorna), ai o malandro...
No entanto as fotos recordam-me os olhos lindos que as miúdas(até graudas) tinham ! Os putos também, havia uma mascote no meu pelotão que me "adoptou" e não me largava, quando fui para Bolama, ele apareceu lá e adorava a minha mulher e a minha filha ( o primeiro trejeito de sorriso da bébé, foi para ele).
Obrigado,
Rui Antos

Anónimo disse...

Não sou Antos sou Santos
RS

Anónimo disse...

Caro António Teixeira

Excelentes fotos.
Ajuda a memória a 'ver' o passado, a recordar melhor e também a reflectir sobre qual teria sido o percurso das crianças retratadas.

Lá, como cá, afinal em todo o lado, o desenvolvimento da vida encarrega-se de condicionar as esperanças da infância.

Abraço
Hélder S.

Carlos Silva disse...

Amigos & Camaradas

Estes meninos e meninas como diz o Luís, se sobreviveram, têm cerca de 50 anos.
Mas as fotos são actuais...
De facto só quem não vai à Guiné.... E quem não tem olhos para ver...
Um abraço amigo
Carlos Silva

Anónimo disse...

Amigo Teixeira,estes meninos são os mesmos que eu conheci e corriam atrás do jipe,para apanharem um rebuçado.Era uma brincadeira para elas e nós ficávamos felizes por as ver felizes.
E os nossos soldados?Que lhes aconteceu?Eu não sei,mas desconfio...
Um abraço. José Figueiral.

Anónimo disse...

Caros camarigos

Volto, porque a foto do rapazinho com o umbigo deformado, para além de me recordar o que também vi, fez-me lembrar uma passagem do livro do Zé Brás "Vindimas no capim", pág 95, onde isso já era referido e que reza assim:

"...por não saber muito bem o que seria a Guiné é que o Lixa trouxe um saco com amendoins no meio de outras inutilidades. E quando os putos negros e barrigudos, quase todos de umbigos disformes e espetados para fora como sexos em erecção permanente e deslocados, vinham, de cabaça cheia de amendoim descascado, fazer o seu comércio de miséria: - compra mancarra, nosso cabo? o Lixa respondia-lhes, azedo: - mete a mancarra no cu, pá!" ...

Essas disformidades tinham-nos impressionado, de tal modo que ficaram registadas na literatura e agora a foto documenta.

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Caro Helder:
Esses umbigos deformados, o que aliás era muito vulgar, eram resultados dos partos em precárias condições, em que muitas vezes o cordão umbilical era cortado à dentada pela própria mãe. Crianças que não nasciam em maternidadesm nem em hospitais, e muitas vezes nem sequer numa cama. As crianças muitas vezes eram paridas na própria bolanha, mas lá andavam, descomplexadas e muitas vezes felizes nas suas brincadeiras de garotos. Essas proeminencias umbilicais, segundo um médico que na altura me explicou, eram designadas como hérnias umbilicais (espero não estar a dizer nenhuma asneira).
Um abraço

Anónimo disse...

Caro Teixeira

Lembro-me de alguns rostos destas crianças de Bedanda.

Mas de quem me lembro melhor é da menina de pele clara. Teria na altura entre 6/7 anos.

Também me lembro bem da mãe.
Lembro-me até, que algum do pessoal da tabanca, não via com bons olhos o facto de ela ter tido uma filha de um branco.

No entanto, valia-lhes o facto de uma das "autoridades" civis da tabanca ter feito da mãe uma das suas mulheres.
E o respeitinho é/era muito bonito.


Um grande abraço

José Vermelho

Anónimo disse...

São hérnias umbilicais,provocadas por infecções (onfalite). Como calculam as condições de higiene (assepsia) não eram as melhores,assim como hoje, infelizmente, ainda não são.Continuam a ver-se ainda hoje muitas situações destas na Guiné,talvez mais do que naquela altura, para não falar na mortalidade infantil.
Eu em 98 em Gabu vi muitos mulatos com idades prováveis entre 40 e 50 anos, que me olhavam com um misto de curiosidade e provável desprezo e que se esquivavam à minha tentativa de contacto.

médico..ex-voluntário da AMI em 98 na Guiné e ex-artilheiro em Gadamael.
C.Martins