quinta-feira, 3 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7890: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (75): Na Kontra Ka Kontra: 39.º episódio




1. Trigésimo nono episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 2 de Março de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


39º EPISÓDIO

Atravessam Matosinhos. Chegam junto da zona portuária, sempre agradável de se observar pela azáfama de todo aquele pessoal na transferência de mercadorias de e para os navios. Atravessam a ponte móvel para Leça e dirigem-se para a praia, descansam um pouco e continuam até à Capela da Boa Nova, local ermo mas cheio de beleza. Além da capela, só por ali existe o Farol da Boa Nova e um restaurante, magnífica obra do jovem arquitecto Siza Vieira.

A capela da Boa Nova em Leça.

Sentados num muro, têm uma longa conversa sobre o que poderá ser o futuro de ambos.

- Lembras-te do tostão que aquele miúdo nos deu naquele dia no largo da Sé?

- Sim lembro, responde. E beijam-se.

- Então já nos podemos casar.

A conversa continuou e acabaram por chegar aos pormenores do casamento: Casariam na Capelinha da Boa Nova. Almoçariam com os poucos convidados, só a família directa, no restaurante ali ao lado, edifício projectado pelo que foi seu professor, Siza Vieira. Fariam a tradicional viagem no carro dos pais, percorrendo toda a costa de Portugal até ao Algarve. As férias do próximo ano, a que ele ainda tinha direito, seriam uma boa altura para o casamento.

O restaurante projectado pelo Arq. Sisa Vieira junto à
capela da Boa Nova.

Com a sua vida sentimental estabilizada, poucos dias depois o Alferes Magalhães regressa à Guiné.

Desta vez o trajecto é feito de noite. Se a viagem para a metrópole era duplamente agradável além do mais por se efectuar de dia, agora, por razões contrárias é duplamente desinteressante. Na ilha do Sal, onde o avião faz escala, o nosso Alferes ainda pôde ver, ao lusco-fusco, os contornos dos morros vulcânicos que caracterizam a ilha.

Chegado a Bissau resolve não se instalar no Quartel de Santa Luzia, no tal quarto de oito camas onde a qualquer hora da noite pode ser acordado pelos camaradas que chegam e partem para o mato. Tenta o “Grande Hotel”, perto do Hospital, que diga-se, em tempos já tivera ar condicionado. Está cheio. Só consegue um quarto no “Hotel Internacional”, não longe daquele. Uma autêntica espelunca. Fica porém com um quarto só para si onde pode descansar à vontade.

Logo que pode vai aos Adidos marcar a passagem no Dakota para Bafata e aí fica a saber que o avião já está lotado. Dão-lhe Guias de Marcha para seguir pelo Rio Geba até ao Xime numa lancha de desembarque, uma LDG, depois para Bambadinca numa coluna de viaturas e finalmente noutra coluna para Bafata, já à vontade, sem problemas de guerra.


O Alferes Magalhães a bordo da LDG com destino ao Xime.

Em princípio fica um pouco preocupado por não ir de avião, mas pensando melhor: Na LDG não havia grande perigo pois a maior parte do rio tinha quilómetros de largura não podendo haver qualquer ataque. No chamado Geba Estreito, ao chegar ao Xime, aí sim já se estava ao alcance de uma qualquer arma inimiga, mas ali contava com a grossa blindagem da embarcação, o seu poder de fogo que incluía dois canhões “Bosfors” de 40mm e mais que tudo sabia que era sempre feita a segurança na margem direita do rio, na zona de Mato de Cão, por um pelotão de tropas nativas comandadas pelo seu camarada Évora Santos. Sabia que em tempos costumavam implantar minas na picada do Xime até à Ponte do Rio Udunduma, mas já há alguns meses que isso não acontecia pelo que também não ficou preocupado, tanto mais que à frente da coluna seguiria um grupo de picadores.

A LDG, onde vai o Alferes Magalhães, a chegar ao Xime.

Chegado a Bambadinca, respirou fundo e foi logo saber da possibilidade de o levarem para Bafata. Foi-lhe dito que estava ali um civil, com uma carrinha de caixa aberta, que ia para Bafata e com certeza o levaria.

Enquanto esperava foi conversando com camaradas já seus conhecidos. Querendo saber pormenores da morte do seu amigo Dionildo é-lhe dada uma nova versão do que se passou no segundo ataque a Madina Xaquili, quando ele Alferes Magalhães já estava em Bafata. Foi-lhe dito que não havia a certeza do que aconteceu, em relação ao Dionildo naquela fatídica noite. Quando o ataque se deu havia, fora do “arame”, um grupo que incluía o Dionildo.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7885: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (74): Na Kontra Ka Kontra: 38.º episódio

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