domingo, 13 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7936: Os açorianos também migraram para o Ultramar (José da Câmara)

1. Mensagem de José da Câmara* (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73), com data de 12 de Março de 2011:

Meu bom e caro amigo Carlos Vinhal,

Não desapareci e estou arrepiando caminho, como se dizia nas terrinhas açorianas. Espero que estejas bem na companhia de teus entes queridos.
Em seguida vou mandar-te uma pequena história, talvez um comentário muito alargado ao que o A. Rosinha escreveu sobre as Cartas de Chamada para o Ultramar. O artigo que escrevo precisa da tua ajuda e que é o seguinte:
Faz o search a este blogue

http://kabiaka.blogspot.com/2007_08_13_archive.html

e retira a história (São Jorge do Katofe ou a Décima Ilha) para completar o meu artigo. Julgo que este artigo tem muito interesse histórico pois apresenta factos, dados, nomes, pareceres, documentação fotográfica etc.

Reconheço duas coisas: o que escrevo é pesado e alguém pode tentar chamar a si alguma provocação da minha parte. Longe de mim tal pensamento, pois a minha intenção única é mostrar que outras pessoas tinham outra forma de viver e sentir o Ultramar, neste caso Angola.
[...]
Também reconheço que o artigo, bastante inclinado para Angola, tem pouco a ver com a Guiné mas poderia muito bem ter-se passado ali.

Se entenderes que não tem interesse para o blogue eu aceitarei como sempre a tua decisão.

Um abraço muito amigo do
José


Os açorianos também migraram para o Ultramar

Caros amigos,

O António Rosinha no P7917: Emigração para as Colónias, só com Carta de Chamada**, fez algumas considerações que atraíram a minha atenção. Porque sou emigrante e porque sei o que é uma carta de chamada. Porque ainda sei que cada caso é uma vida e cada vida é uma história. E cada história depende dos protagonistas que a viveram.

No meu caso a carta de chamada passou por documentos de petição, contracto de trabalho e termo de responsabilidade originados no país de acolhimento, os Estados Unidos da América.

Em Portugal, mais concretamente na ilha do Faial, Açores, para obter o passaporte português tive que fazer inspecção médica à qual não faltou o Raio X, vacinação e análises sanguíneas, e ainda o registo criminal e licença militar. Esta, a título de informação, custou-me a módica quantia de 1.060$00, uma exorbitância para o tempo, e depois de ter cumprido o meu dever para com a Nação. Não me queixo pois era igual para todos.

Com o passaporte português no bolso, lá fui para São Miguel para mais um Raio X, análises sanguíneas e inspecção médica feita em clínica reconhecida pelo consulado dos EUA, requisito essencial para obter o visto daquela nação.

Já nos Estados Unidos da América, o meu primeiro acto oficial foi adquirir o cartão da segurança social para poder trabalhar. O segundo, sorte endiabrada a minha, foi ir à Câmara Municipal de Stoughton inscrever-me no Departamento de Recrutamento Militar.

Francamente, eu que tinha aprendi na minha escola da Fazenda das Lajes das Flores, Açores, que o meu país, Portugal, ia do Minho ao Algarve e dos Açores a Timor, confrontava-me agora com a possibilidade de ter que marcar passo num exército que, na altura, nada me dizia.

Mas não é da minha experiência humana, da minha carta de chamada, que vos quero falar.

O nosso camarada Carlos Cordeiro, em dois comentários ao Post do nosso amigo “Mais Velho”, apontou algumas das barreiras que, constantemente, nos eram impostas nos Açores pelo governo da nação. E, em termos militares, acrescento mais uma: os Sargentos do QP vindos do continente para os Açores tinham direito a subsídio de guarnição, mas já o inverso não acontecia.

Estas e muitas outras barreiras eram impostas a todos os recantos do país, desde que não fizessem parte do rectângulo português europeu. Certamente que as províncias ultramarinas, tal como os Açores e a Madeira, sofreram com esses constrangimentos. Não duvido que em recantos do Portugal Continental houvesse outro tipo de barreiras. Mas nem por isso nos sentíamos menos portugueses, certamente muito mais pobres.

A nossa força, enquanto Nação, está na procura intransigente da verdade, nua e crua. Ela será tanto mais forte quanto mais límpida for a sua história. Todos nós somos peças fundamentais desse puzzle.

Aqui, em Stoughton, conheço aqueles que foram para as províncias por carta de chamada, aqueles que foram a convite do governo, aqueles que ficaram por lá após o serviço militar e aqueles que lá nasceram. Todos eles com histórias contadas e por contar. Refizeram as suas vidas. Não se queixam nem recriminam. A vida continua.

Tudo razões para me ter interessado de sobremaneira por aquilo que o nosso amigo Mais Velho, o Rosinha, escreveu. Ele, tal como nós, serviu o exército em Angola e para além disso teve experiências riquíssimas de conhecimento e circunstâncias, que lhe foram proporcionadas pelos seus afazeres profissionais em Angola e na Guiné.

Hoje, com o devido respeito por ele e por todos vós, permitam-me que vos apresente uma história vivida por alguém que um dia sonhou com uma Angola diferente, possivelmente com uma Angola independente. O seu autor, Vicente de Matos, natural de São Jorge, foi um dos açorianos que migrou para aquela ex-provincia ultramarina portuguesa.

O artigo é uma lufada de ar fresco, apaixonante, extraordinário na sua beleza sentimental e histórica. Não se vislumbra uma palavra ofensiva a quem quer que seja ou a qualquer situação ou instituição. Quando muito a mágoa pela visão de uma terra vivida e amada reduzida a escombros. Isso é evidente nas fotografias que ilustram o artigo.

Com a devida vénia ao blogue MUKANDAS DO KABIAKA


Artigo originalmente publicado em ATLÂNTIDA, VoI. XLVI, 2001, adaptado por Lúcio Flávio da Silveira Matos, filho do autor, engenheiro civil, a viver no Brasil, no Estado de Santa Catarina [Vicente Teixeira de Matos que, em 2007, à data da publicação do poste, tinha 87 e residia em Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores].
S. JORGE DO KATOFE
OU A DÉCIMA ILHA DOS AÇORES

VICENTE TEIXEIRA DE MATOS*

“Dos nossos olhos até à hora da nossa morte nada fará desaparecer aquele brilho húmido e doce que se acende, quando a recordamos.” (Vicente Matos)

"Quem lembra, prevalece..." (Lindolf Bell)

A Décima Ilha dos Açores, assim crismada pelo jornalista director da ANI, o terceirense Dutra Faria, é a pequena história de gente açoriana, rija e trabalhadora, espalhada "como quem não quer a coisa" pelos vales cir­cundantes do Rio Katofe e seus afluentes, atravessados pela estrada Luanda/Huambo, a 364 km da primeira e a 245 km da segunda destas cidades. No Sub Planalto de Benguela, a cerca de 1300 metros de altitude e à distância média do mar de 200km, no Concelho de Kibala, distrito de Kuanza Sul, Província de Angola.
Hesitei anos até reduzi-Ia a escrito: mas aquelas mulheres e aqueles homens, modestos e sofridos, e aquelas ruí­nas trágicas e dramáticas merecem que deles fique memória!... E assim, já tão longe daquela ardente mocidade, a minha consciência não ficaria tranquila sem lhes prestar este mais que modesto preito. Aos mortos e aos vivos, aço­rianos humildes, que lançados no meio do agreste mato angolano, rodeados de mil dificuldades, com parcos meios, edificaram aquela singela utopia!...

Antecedentes - As nove ilhas dos Açores, situadas em pleno Atlântico - O Grande Mar Poente - entre a Europa e a América, são, como sabemos, caracterizadas por um clima instável, varridas por ventos e brumas, ciclones e sismos; clima propício a diluir realidades, parir fantasmas e recriar sonhos de partir e de voltar!...
Nos fins dos anos vinte, do século que acaba de findar, quando começa esta memória, os destinos emigratórios dos ilhéus - Brasil e América do Norte - estavam saturados. Do Canadá, ainda, não se falava; havia de procurar-se outros destinos. As ilhas continuavam limitadas: "gente quanta queiram" em terra escassa, cortada pelo mar infindo e por velhas barreiras económicas e sociais. Por informações e histórias de quem lá servira ou trabalhava, começava a falar-se do Ultramar Português que, de terra de degredados e doenças mortais, se poderia transformar em "terra quanta queiram", apta a produzir riqueza desbravando o mato, sem prejudicar o legí­timo desenvolvimento dos povos nativos. Por exemplo, Angola teria sete habitantes por km2 contra mais de cem nas ilhas.

Início da Emigração - Em 1929, três jovens lavradores da Ilha de S. Jorge (Norte Grande), de nomes João Alves de Oliveira, Emílio Dias e André Alves de Olveira, irmão do primeiro, resolveram tentar a sua sorte em Angola. Foram recomendados a um jorgense - Tenente Bettencourt, deportado por razões políticas e na altura exercendo comércio na Vila da Kibala. Viriam a desembarcar em Porto Amboim (Benguela a Velha), o mais próximo do seu destino, para o qual se dirigiram numa camioneta de carga antiga, como mais uns fardos, através das terras vermelhas do Amboim, ubérrimas produtoras do café do mesmo nome, estrada barrenta de orografia muito acidentada, na qual os carros se atascavam, para desespero dos seus ocupantes. Por fim, lá chegaram a casa do seu conterrâneo. Seguidamente fizeram sociedade com o capitão Diogo Sandão, reformado e antigo pacificador daquela região, onde possuía uma fazenda, nos arre­dores da Vila. Aí, começaram nova fazenda, em terrenos contíguos, que iriam apelidar de Norte Grande. Efectuaram desbravamentos para sementeiras de milho e café e iniciaram a criação de gados bovino e porcino.

Família de Emílio Dias (Kimbaça para os nativos), 1 dos 3 pioneiros, com o primeiro tractor adquirido pela lavoura no Katofe.

Colonização - Passados cinco anos, adaptados à terra e ao clima, resolveram os três lançar-se, por sua conta e risco, estabele­cendo-se a 17 km da Kibala, junto à estrada de Luanda/Huambo, às margens do Rio Katofe; em vales de boas ter­ras para sementeiras de milho e arroz e boas pastagens para a criação de gado; fundando também um pequeno comércio, que servia de apoio e financiador da agricultura. "Boas terra para tudo, menos para os homens", opina­vam os entendidos! Na verdade o clima era duro e a terra infestada de mosquito e malária. No entanto, aqueles homens eram corajosos, não estavam dispostos a desertar! Contudo, em 1941, pelo Natal, pagaram o seu primeiro e doloroso tributo, falecendo o André Oliveira vitimado pela biliosa palúdica, que, naquela época, não perdoava...
Porém, dez anos passados - 1945 -, já possuíam lavouras de milho, de arroz, pomares e hortas e uma manada de cento e tal bovinos, dezenas de porcos e um pequeno rebanho de cabras e ovelhas; matéria prima para célebres caldeiradas de cabrito e borrego! Possuíam ainda dois moinhos hidráulicos, os únicos na área da Kibala, mercê de um açude construído no Rio Katofe, que ainda fornecia água para regar o arroz. Do rebanho de bovinos, exploravam as vacas leiteiras, cujo leite era aproveitado no fabrico de manteiga e queijo, vendidos nas vilas dos arredores.
Em 1945 admitiram um novo sócio, Vicente Teixeira de Matos, bem mais jovem, de uma família jorgense da Ribeira Seca, radicada nos arredo­res da cidade do Huambo.

O autor com 18 anos no final dos estudos no Liceu de Angra do Heroismo, quando desistiu de prosseguir estudos universitários no curso de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa e resolveu viajar para Angola.

O autor logo após a sua chegada a Angola.

O autor quando do serviço militar como furriel miliciano, em Nova Lisboa, Huambo, antes de ir para o Katofe.

O autor - Kilamba para os nativos - já na lavoura do Katofe com o trator Massey Harris da firma Oliveira & Dias.

O autor e a sua família extensa, em 1954. Da esquerda para a direita: José Teixeira de Matos (pai), Noémia da Silveira (madrasta), Vicente Matos, Zeca Matos (filho no colo), Maria Bernardete (esposa), Lúcio Matos (filho, no colo), Estêvão Silveira Coelho (sogro), Noémia de Fátima (irmã cassula), Laudelinda Cabral (sogra) e Arnaldo Silveira Coelho (cunhado).

Vicente Matos, em 1955, aos 35 anos, com dois dos seus sete filhos do Katofe.

Em 1946, chegou a Angola um Batalhão Expedicionário açoriano que, desmobilizado em 1948, deixou vários dos seus elementos em Angola, dos quais quatro vieram juntar-se ao embrião do povoamento açoriano no Katofe.
Por essa mesma altura, desembarcaram em Angola duas famílias com filhos que se dirigiram igualmente a Katofe, com a intenção de aí se radicarem. Estas chegadas vieram despoletar a ideia latente da criação de uma entidade patrocinadora do nascente povoamento.
Assim, os organizadores lembraram-se que a palavra cooperativa significava cooperar = trabalhar juntos - sem precisarem de se estender às origens dos "Pioneiros de Rochdale" - 1844, - bastando os exemplos da sua ilha natal - S. Jorge, para se organizarem de forma a apoiar os associados, em funções tão vastas como construir tudo a par­tir dos alicerces: casas, desbravamentos, compras de gado bovino, valas de enxugo e rega, fábrica de lacticínios, Igreja, Escola, Posto Sanitário, tudo o necessário para fazer funcionar uma urbe, espalhada num raio de quilómetros.
 Em 26 de Setembro de 1949, no Cartório Notarial da Comarca de Nova Lisboa (Huambo), foi assinada a escri­tura de fundação da Cooperativa de Colonização Agro-Pecuária "A Açoreana", com sede em Katofe, área do Posto Sede de Concelho de Kibala. Os Estatutos da Cooperativa foram publicados no Boletim Oficial da Província da Angola, III Série, no 48, de 1 de Dezembro de 1949. Foram dezanove os fundadores.
Os Estatutos possuíam um parágrafo (cap. I art. 2o e seu parágrafo sexto) muito sintomático e por isso o trans­crevo: "Difusão entre os nativos da região, dos benefícios conseguidos pela Cooperativa, na medida do possível e seja do interesse deles; como conhecimentos agro-pecuários, assistência sanitária, etc., atendendo ao espírito de colaboração que caracteriza a colonização potuguesa". Isto se cumpriu até ao fim!
Os povoadores que vinham chegando dos Açores, uns mais outros menos, eram portadores das poupanças e do produto da venda dos seus haveres, decididos a tudo investir na terra feiticeira da Angola... Em primeiro lugar, construíram as pequenas casas, que muitas vezes começavam por uma casa de côlmo em estilo nativo, e adquiriam algumas cabeças de gado bovino. Num caso, houve quem começasse com duas vacas leiteiras.
Sendo crescente o número de povoadores em S. Jorge do Katofe, a Cooperativa requereu ao Governo de Angola a concessão de um empréstimo de mil contos, com pagamento escalonado por quinze anos, para serem investidos na compra de gado bovino, a distribuir aos sócios fundadores. Em Dezembro de 1951 foi concedido o empréstimo pela Junta de Comércio Externo e iniciada a compra de gado bovino no sul de Angola.
O rebanho, de algumas centenas de cabeças, depressa atingiu mais de um milhar e a consequente subida da produção de lacticínios. Assim, na época, Angola viria a transformar-se de total importadora em exportadora.
Em 1950/1951, festejaram-se os primeiros nascimentos e baptizados de jorgenses de S. Jorge do Katofe, raízes lançadas em boa e generosa terra, penhores do futuro desta iniciativa de açorianos, que não parava de crescer.

Os primeiros filhos açórico-angolanos do Katofe, lamentavelmente, espalhados por Portugal, Brasil, EUA e Canadá.

O pioneiro Emílio Dias na eira de secar o milho com alguns rebentos açórico-angolanos, Lúcio Matos, São Dias, Idalina Dias, Zeca Matos, Maria Ângela Dias e Linita Dias (da esquerda para a direita).

A assistência religiosa foi desde o início prestada pela Missão Católica de Kibala, numa casa particular. Em 1 de Setembro de 1952, Sua Excelência Reverendíssima o Arcebispo de Luanda, benzeu a primeira pedra da pequena capela, que viria a ser dedicada ao padroeiro S. Jorge pelo mesmo Arcebispo, em 1954. Esta capela viria a ser reconstruída mais duas vezes, transformando-se numa bela igreja, que não envergonhou os seus construtores. Deve assinalar-se que alguns povoadores contribuíram para estas obras com quantias superiores às que dispende­ram nas suas próprias casas. Não negando a sua generosidade e a sua fé! Nela seriam baptizados e depois cris­mados os seus descendentes e continuadores. Nela acabariam por casar alguns dos novos jorgenses.


Igreja de S. Jorge do Katofe: primeira reconstrução, em Dia de Pentecostes, e segunda reconstrução, em 1970.

Alguns dos jovens do Katofe em dia de casamento, no início dos anos 1970.

A igreja depredada atesta a destruição e a desolação trazidas pela guerra insana (2003).

Em 1952, a pedido da Cooperativa, o Estado legislou a criação de uma Reserva do Estado, de 52.000 hecta­res, onde se implantariam as fazendas dos povoadores e se reservariam os terrenos para uso comunitário das aldeias nativas, como era norma do seu direito consuetudinário. No futuro viriam a ser, mais ou menos, 20.000 hec­tares para fazendas e 32.000 hectares para aldeias, os primeiros completamente aproveitados em 1975.
A fim de exemplificar o crescimento económico da Cooperativa e seus associados, à falta dos números que todos os anos eram publicados nas contas da Cooperativa (o único que conservamos, impresso, é o de 1961), socorro-me de escritos do "Diário Insular" de Angra, quase todos da pena do citado jornalista Dutra Faria, "padrinho" do crisma da Décima Ilha dos Açores. Estas crónicas, assim como conferências nas Casas dos Açores de Lisboa e Rio de Janeiro, eram produtos das suas visitas a S. Jorge do Katofe, em 1951 e 1954, e de informações epistolares.
Assim, no ano de 1949 - ano da fundação - assinala-se uma pequena produção de 1.804 kg de manteiga e queijo, no valor de 82 contos. O número de gado existente era de 400 cabeças.
Já em 1955, seis anos depois, a produção era de 6.000kg de manteiga e queijo, no valor de 311 contos, a que corresponde uma multipliçação quase por quatro vezes. Assinale-se a existência de mais de 2.000 bovinos.
Em 1958, a nove anos da existência da Cooperativa, assinale-se uma produção de 16.000 kg de lacticínios, no valor de 711 contos, a existência de 2.582 cabeças de gado, e a venda de 360 bovinos de corte, no valor apro­ximado de 500 contos.
No ano de 1961, há a registar uma produção de lacticínios de 28.000 kg, num valor de 1.313 contos; respectivamente, aumen­tos de 26 e 32% em relação a 1960, demonstrativos do progresso anual e da valorização dos produtos. Note-se que o leite foi pago aos associados a 2$60/litro, quando em 1974, treze anos depois, ainda era pago a 3$00.
O gado bovino sofreu novo aumento em 1961, arroladas que foram 4.133 cabeças (aumento anual de 33%) pela Missão de Inquéritos Agrícolas de Angola, sendo 3.978 cruzadas nativo/holandês/schwitz, 145 schwitz puras oriundas do sudoeste africano e 10 touros fornecidos pelos serviços oficiais. Pesados na balança da Cooperativa foram 404 bovinos, que deixaram 652 contos.
"Para mal dos nossos pecados", o Colonato Estadual da Cela tinha o centro a escassos 62km, e era forte demais a ambição de integrar o nosso povoamento livre - liberdade conquistada a duras penas e trabalhos - para ser absor­vido pelo "Golias Estadual", num singular socialismo de estado. Na Cela, o Estado investira mais de um milhão de contos, a ponto de transportarem para a Vila de Santa Comba uma igreja igual à de Santa Comba Dão. O Estado tudo fornecera aos colo­nos da Cela: casas, terras preparadas, gado, máquinas agrícolas; tudo apoiado por uma burocracia asfixiante. A comparação com o "pequeno David" era chocante, envergonhando Golias e seus mentores!
Os povoadores açorianos e a sua Cooperativa sempre primaram por colocar acima de tudo o seu trabalho, iniciativa e liberdade pessoais contra a mediocridade e burocracia.
Em 1958 foi inaugurada a Escola Primária e nomeada professora própria. Nessa inauguração, foi oferecido, pelo Senhor Governador Geral um instrumental para a filarmónica em formação, com "a prata da casa" abrilhan­tando as Festas do Divino Espírito Santo!
Estava programado e em breve veríamos a sua construção: o Posto Sanitário e a colocação de um enfermeiro, que iria prestar uma assistência diária a todos os habitantes da região, sem excepções.

Progresso - A década 1960/1970 foi um tempo de progresso assinalável. Passaram os tempos duros e difíceis, que Dutra Faria assinalou assim: "Em 1951 o velho Faustino possuía 2 vacas, 1 junta de bois, 1 carro de bois igual aos dos Açores; em 1954, possuía 80 cabeças de gado bovino e 1 moto nova, e podia matar 1 porco todos os meses."
"Estes descobriram também a sua Ilha! Sem uma palavra de retórica. Silenciosamente. Humildemente. Sem um gesto de propaganda, estes açorianos fizeram maior, no que lhe cabia, o mundo lusíada. Levando as vacas para o pasto, mungindo o leite, batendo a manteiga, fabricando o queijo. Podando as macieiras e os araçaleiros. Plantando as couves e os inhames, semeando o milho. E fazendo o sinal da cruz, ao sentarem-se à noite, exaustos, mas satis­feitos consigo próprios, diante de um grande prato de sopa de abóbora e batata doce, polvilhada de canela."
Em 1960, foi colocado em S. Jorge do Katofe, um ajudante de pecuária, que faria as vacinações do gado e todos os outros tratamentos que não exigiam a presença do médico veterinário, colocado na sede do Distrito, abran­gendo uma área tão grande como Portugal Continental.
Este apoio oficial foi imprescindível, ao mesmo tempo em que os povoadores desenvolviam e ensaiavam novos maneios dos rebanhos: tanques banheiros para banhos carracícidas semanais ou quinzenais, parqueamentos com arame farpado, de todo o perímetro das fazendas e sua divisão em parques, ensaios de forragens e desbravamen­tos totais ou parciais.
A Junta Provincial de Povoamento enviou para Katofe uma brigada, chefiada por um agrimensor, a qual tinha por missão medir e legalizar as fazendas, ao mesmo tempo tendo em conta os terrenos das aldeias nativas. Principiou pelas fazendas já estabelecidas no perímetro da já referida Reserva do Estado, abrangendo um raio de 20 km, englobando os vales do Rio Katofe e seus afluentes Mussoe, Kangombe, Kianza, Mussanza e outros, rodea­dos pelas cordilheiras de nomes de sabor africano, Iengo, Tongo, Midanda, Kassamba, Mussanguir, que, em dias friorentos de cacimbo (brumas nocturnas e matinais) ou em noites deslumbrantes de luar, pareciam deixar entrever a silhueta da sua ilha distante...
À medida que terminava o trabalho de campo, por despacho do Secretário Provincial do Fomento Rural, eram publicadas no Boletim Oficial de Angola as concessões provisórias, até que os concessionários comprovassem o total aproveitamento, prazo em que eram emitidos os alvarás definitivos, de plena posse. Já emitidos em 1975.
A requerimento da Cooperativa, os Serviços de Obras Públicas construíram o Internato Escolar, gerido por moni­tores educativos, destinado a receber alunos matriculados na Escola, cujos pais viviam em fazendas distantes da povoação, além de alguns de outras áreas com o mesmo problema.

A Escola e o Internato Escolar durante o interregno da guerra civil, em 1991.

Pelo Governo do Distrito foi executada a obra de abastecimento de água potável à povoação, com distribui­ção ao domicílio.
Igualmente o Secretário Provincial das Obras Públicas mandou aproveitar o antigo açude do Rio Katofe e res­pectiva vala de conduta de água, cedido graciosamente, a fim de mover uma turbina hidroeléctrica para fornecer electricidade à povoação. O Engenheiro Abecassis, antigo Governador do Distrito de Angra, tinha experiência aqui obtida. Os últimos dois melhoramentos raramente existiam em Angola em povoações de igual categoria, per­mitindo aos habitantes uma muito melhor qualidade de vida. À sombra destes nasceram vários outros: casas de habitação, como segunda casa de alguns fazendeiros; pensão-restaurante muito afamada, oficina de reparação de carros e tractores; dois cafés, três casas comerciais, além da Cantina de Cooperativa, três casas para funcio­nários do Estado. Além da Escola, Posto Sanitário e Posto Veterinário, já referidos. O pequeno mas actuante Colonato Açoriano de S. Jorge do Katofe continuava não só em frente em desenvolvimento económico, mas tam­bém em progresso sócio-cultural.
E, como pólo cultural, foi reconstituída e acrescentada a chamada Casa do Espírito Santo, no Largo da Igreja, onde desde os anos cinquenta se realizavam as grandes e seculares Festas do Divino Espírito Santo; das promessas, da alegria, da abundância, da solidariedade! Da Terceira Pessoa, que é o "Rei da Alegria"! Nela vi deslizarem as lágrimas de saudade, a um engenheiro natural da Praia, perante a Benção das Esmolas, iguais às da sua infância!...

Aspecto da última Casa do Espírito Santo em 2003, apresentando as marcas da destruição e abandono.

Na Casa do Espírito Santo, sentavam-se à primeira mesa cerca de mil pessoas! Como diziam os camionistas que percorriam as estradas de Angola, S. Jorge do Katofe era a única terra da Província onde se comia e bebia de graça durante o período das Festas, em boa e alegre companhia. Chegaram a abater-se uma dúzia de bois.
Destas Festas testemunhou o Bispo Angolano, de etnia bantu, que presidiu às Festas, D. Zacarias Kamuenho, hoje Arcebispo de Lubango, e no jantar festivo afirmou: "Li e estudei os Evangelhos, e a história dos ágapes tradicionais dos primeiros cristãos; mas nunca julguei que existisse em pleno Séc. XX, tal manifestação de fraternidade cristã."
Voltemos porém um pouco atrás no tempo. No fim da década de sessenta, esfumado o sonho de levantar uma fábrica de lacticínios em Katofe, com o apoio imprescindível do Estado, deliberou-se que o leite produzido pelos sócios da Cooperativa fosse incorporado na Fábrica da Cela, a 40 km, pertença do Estado; esta em breve seria transferida para uma sociedade privada, recém criada, a Empresa de Lacticínios de Angola - E.L.A., cujas acções pertenciam: 50% aos lavradores/produtores de leite, que livremente as adquiriam; 40% à firma do ramo Martins & Rebelo, muito conhe­cida nos Açores e no Continente; e 10% à Junta Provincial de Povoamento, como fiel de balança. Do Conselho de Administração da E.L.A. veio a fazer parte, como produtor e accionista, o presidente de "A Açoreana". No início dos anos setenta, a E.L.A. mandou construir, à ilharga do Rio Katofe e fronteiro à povoação, um moderno posto de recep­ção de leite, com todos os requisitos mais modernos de refrigeração e higienização, ímpar no espaço português, que em breve forneceria leite de primeira qualidade à Central Leiteira de Luanda, prestes a ser inaugurada.
A Cooperativa "A Açoreana", com a sua Cantina, continuava a fornecer aos seus associados rações para as vacas leiteiras e tudo o mais que necessitassem a preços módicos, além de todo o apoio logístico necessário.
Muito se havia progredido: dos primeiros pagamentos anuais de 49 contos, atingia-se uma média superior a 1.000 contos mensais, quantia muitas vezes superior. Na terra de Angola o horizonte do progresso não tinha limi­tes: quem produzia 10, 50 ou 100 seria capaz de atingir os 1.000! O mesmo espírito se conseguiu implantar em S. Jorge do Katofe! O apoio do Estado não servia como muleta, mas como alavanca ao espírito de iniciativa, traba­lho e boa administração dos escassos recursos da Cooperativa e dos seus associados. Obra de compreensão pluri­racial, de progresso técnico e desenvolvimento, se possível mais perfeito à medida que o tempo passava, e, por necessidade, muito mais barato que outras formas de socialismo de estado, nesse tempo existentes em Angola.
Será que o povoamento implantado em S. Jorge do Katofe não possuía defeitos e falhas? Como obra de homens, modestos ainda por cima, teria a sua cota parte de insuficiências; porém passou o tempo de as apontar, ultrapassadas por dolorosos acontecimentos.
O desenvolvimento não era só económico, mas igualmente sociocultural. Saídos da Escola de S. Jorge do Katofe, muitos dos seus filhos espalhavam-se já pelos liceus de Angola, e já oito deles frequentavam a novel Universidade de Luanda e o Seminário Arquiepiscopal, em variados cursos - Letras, Veterinária, Medicina, Engenharia Civil, Teologia e Filosofia - prontos a contribuírem para o progresso da sua pequena terra e da grande Angola! Mesmo hoje, com o desenvolvimento da educação, será difícil que uma freguesia açoriana de 600 habi­tantes possua o mesmo ratio de universitários!...

Histórias - Como episódios significativos das vivências na Décima Ilha resumo alguns:
I - A tia Maria do Rosário, oitenta e tal anos ainda rebitesos, todos os dias, pela tarde, rezava o seu terço. E uma bela tarde tanto andou que se perdeu no mato, só sendo encontrada ao outro dia. Daí em diante, a tia Rosário sempre lembrava às visitas a noite em que as onças (leopardos) não conseguiram comer a velhinha, trepada numa árvore e protegida pelo rosário de Nossa Senhora.
II - Nos anos cinquenta, visitava S. Jorge do Katofe um jornalista suíço. A certa altura, disse para o seu acompa­nhante: «Uma autêntica paisagem do Minho!» Foi-lhe explicado que as mulheres e homens que remodelaram esta nova paisagem eram descendentes de várias origens, entre elas o Minho!...
III - De visita à Décima Ilha, um agrónomo, jorgense por sinal, depois de ver, observar e fotografar, desabafou: «Fora das nossas ilhas, nunca vi paisagem que tanto me lembrasse os Açores!»
IV - Bastante conhecido em Angola, o Eng.o Boaventura Gonçalves, terceirense, exímio construtor de estradas, hoje falecido, necessitou baixar ao Hospital de Luanda para tratar da saúde. Acabou por constatar que muitos dos empregados nativos eram da zona de Kibala/Katofe, os quais lhe falavam dos tchindeles (europeus), que começavam a desbravar e povoar a zona de onde eram naturais. Os "sulianos" eram boa gente, pagavam sem­pre os prejuízos do seu gado nas lavras e até, numa dificuldade, emprestavam dinheiro às suas famílias. O Eng.o Boaventura, conterrâneo dos "sulianos", passou a ser mimado, chegando a enciumar os outros doentes!
V - Uma bela noite de luar africano, feiticeiro, a povoação foi acordada por urros tremendos. Não sendo zona de leões, na manhã seguinte verificou-se ter sido atacado um curral perto e morta uma nema (novilha). Só podia ser leão... e alguns caçadores amadores resolveram fazer uma mutala em cima de uma árvore sobranceira ao curral, e ao cair da noite trataram de subir à árvore, o último de "bofes à boca", pois já sentiam uma restolhada!... Seguiu-se uma autêntica fuzilaria e os habitantes saíram à rua a espreitar os resultados da guerra... Em breve chegaria uma carrinha trazendo o leão, bicho imponente, motivo de fotos e falatório!... A fêmea viria a ser envenenada numa fazenda próxima, depois de matar outro bovino. Do episódio ficaram até hoje as tro­vas do poeta popular, mestre de viola e animador de tantas noites de chamarritas e bailhos, mestre João da Luz, há anos falecido na Terceira.

Fim do sonho - Estamos no ano decisivo de 1974: 25 de Abril, suposta alvorada de esperança, dado que em S. Jorge do Katofe todos estavam de acordo com a independência, para todo o povo angolano; de paz, ordem e progresso. Por coin­cidência, nesse mesmo dia deslocou-se à Administração do Concelho uma delegação de lavradores com as suas carrinhas carregadas de leite, a fim de pedir ao Governador do Distrito a sua interferência junto do Governo, com vista à subida do preço do leite dos 3$00/litro para um preço que compensasse o produtor. Aí tivemos conheci­mento do que se passava em Lisboa, nesse dia.
Em 26 de Setembro de 1974 comemoram-se as Bodas de Prata da Cooperativa “A Açoreana”; um tempo muito curto na vida de um povo, mas tempo de alegria, de reflexão e progresso imparável. Como corolário, a Junta de Povoamento acabava de ligar todas as fazendas com estradas rurais com pavimento de laterite, levando à estrada principal asfaltada, ao Posto de Lacticínios e à povoação.
Porém, a partir dos meados do ano de 1975, os açorianos do Katofe foram confrontados com a dura, amarga e triste realidade: a independência não seria calma e pacífica, como se antevira um ano antes. A gente de paz e de trabalho de S. Jorge do Katofe, como a maioria dos euro-angolanos, seria obrigada a abandonar tudo o que cons­tituía o seu mundo: os seus haveres, alguns trazidos dos Açores, os seus mortos, as suas próprias recordações, as suas vivências multiraciais. Com prejuízo de todo o povo angolano. No último dia da nossa estadia em Katofe, disse-nos um chefe de aldeia (soba) afro-angolano: “Vocês ainda têm uma terra para onde partirem, nós vamos ficar aqui a morrer de fome, de guerra e de doença!” Prova provada de que os euro-angolanos constituíam o cimento dessa Nação. Veja-se o que veio a acontecer até hoje com a trágica e irresponsável descolonização...
Em Agosto e Setembro inicia-se a partida: famílias inteiras através de Angola em direcção à África do Sul; de avião até Lisboa, para os Açores, Estados Unidos, Venezuela, Brasil e Canadá. Diáspora de gente lusíada em busca de oásis de Paz!...
Para trás ficava tudo, além do mais cerca de 20.000 cabeças de gado bovino; para dali a um ano serem ape­nas 600, até que nada mais sobrou!

Homenagem - Não posso encerrar esta memória sem lembrar os já falecidos, dos dezanove associados fundadores da “A Açoreana", em Angola: João Alves de Oliveira, o afamado João do Katofe, e também João Leal, coração maior que o corpo, sócio n.o 1, o primeiro a ser sepultado no cemitério do Katofe, quando até aí se fazia na Kibala a 15 km. Ainda, em Angola: José do Rosário, José Leal de Oliveira e Braúlio Teixeira de Matos. Nos Açores: João Faustino da Silveira, José Teixeira de Matos, José Lopes dos Santos e João Bettencourt. Na Califórnia: Emílio Dias, Manuel Herculano de Matos, António Alves de Sousa; e na Costa Leste norte-americana: João Rodrigues. Doze dos dezanove. Não seria possível mencionar mais nomes, dos que se inscreveram ao longo dos anos, mas aqui fica a minha homena­gem simples mas sincera a essas mulheres e homens - jorgenses de escol!
Em memória de todos, ouso transcrever os versos do poeta angolano Vieira da Cruz:


COLONO

A terra que lhe cobriu o rosto
e lhe beijou o último sorriso,
foi ele o primeiro homem que a pisou!

Ele venceu a terra que o venceu.
Ele construiu a casa onde viveu...
Ele desbravou a terra heroicamente,
sem um temor, sem uma hesitação
- terra fecunda que lhe deu pão
e lhe floriu a mesa de tacula...

Foi arquitecto e foi também pintor,
porque pintou de verde a sua esperança...

Esculpiu na própria alma um sonho enorme,
Por isso foi também grande escultor!

O que aprendeu foi Deus que o ensinou,
lá na floresta virgem, imensa catedral,
onde tanta vez ajoelhou!

E assim a Décima Ilha dos Açores se foi incrustando na bruma da memória, vivência que foi realização plena, saudade que perdurará...
Permitam-me terminar, pela pena do grande poeta Fernando Pessoa: “Valeu a pena? Tudo vale a pena, se a alma não é pequena!...”.

Bibliografia
*Boletim Oficial de Angola - III Série, n.o 48 de 7/12/1949.
*Estatutos da Cooperativa "A Açoreana", S.C.L.R.L.
* Relatório Impresso e Contas de 1961.
*Apontamentos, exposições e escritos contemporâneos dos acontecimentos.
*Jornal "Diário Insular" de 25/11 /1954, 26/11/1954, 08/03/1958, 09/10/1958, 11/11/1958 e 28/06/1961.
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7750: Homenagem à minha mãe na hora da despedida. Mãe, até amanhã! (José da Câmara)

(**) Vd. poste de 9 de Março de 2011 Guiné 63/74 - P7917: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (13): Emigração para as Colónias, só com Carta de Chamada

17 comentários:

Jorge Fontinha disse...

Porque será que o teor da tua narração, me emocionou?Tu sabes de certeza.Obrigado pelo teu contributo e da tua sensibilidade e humanismo.
Aquele abraço, nesta altura ainda mais apertado.

Jorge Fontinha

Jorge Fontinha disse...

Porque será que me emocionei, com a tua narração?Tu sabes de cesteza.Obrigado pelo teu contributo e a tua humanidade.
Aquele abraço, desta vez mais apertado do que os anteriores!

Jorge Fontinha

Anónimo disse...

Caro José da Câmara!

Quero dizer-lhe, que é muito emocionada que pretendo fazer um comentário a esta bonita história.

Orgulhosa com os feitos dos nossos, em qualquer parte do mundo, não tinha no entanto nenhum conhecimento sobre o que, o artigo refere.

Corajosos os Açorianos, eu sabia que eram e trabalhadores, mas desconhecia que tivessem sido fundadores de lugares e muito menos que desenvolvessem dessa forma o território que foram desbravar.

Há sempre gente pronta a criticar quem sobe na vida, sem no entanto averiguar o trabalho a que se propôs e levou a cabo.
Acho a História desta gente: Maravilhosa!
Grande!
Emocionante!
Cheia de ternura, transbordante de ternura, nas imagens das primeiras crianças nascidas nesse lugar, criado pelos nossos Açorianos, que o desbravaram e desenvolveram, criando progressivamente valores monetários e sociais, e que a guerra viria posteriormente a destruir, causando nessa comunidade criadora, sentimentos de dor certamente irreparáveis.

Gostei que se tivesse debruçado sobre o tema, (dando-nos a conhecer) essa realidade, que certamente muitos de nós desconhecia-mos.

Obrigada José Câmara!
Espero que nenhuma guerra, o faça deixar o lugar... que escolheu para viver.

Um abraço fraterno

Felismina Costa

Anónimo disse...

Caro José Câmara,

O comentário de Felismina Costa diz já quase tudo.
Realmente é uma história emocionante. Não a conhecia em pormenor, sabia somente do êxito da nossa comunidade de S. Jorge do Catófe.
Andámos por tudo quanto era sítio. É uma história de fuga à miséria, que vem desde bem cedo - mesmo do século XVII. Em meados do século XVIII lá fomos para o Sul do Brasil - Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Depois, para todo o Brasil. É ver como ainda lá se continuam a fazer as festas do Espírito Santo, com as suas bandeiras, coroas e foliões. Mas ainda no século XIX (meados) "fugimos" para Demerara - Guiana (com os madeirenses, estes em maior número) e também já para os Estados Unidos. Há um livro belíssimo sobre açorianos na história dos Estados Unidos, que mete xerifes, Billy the Kid, etc. E a saga dos baleeiros. Da década de '80 do século XIX à primeira do XX fomos para as ilhas Sandwich (ou seja, Havai). Mas o século XX não parou a "sangria das gentes" dos Açores. Fechadas (ou quase) as portas de entrada nos Estados Unidos na primeira metade do século, os açorianos procuram outras paragens. Aqui, o caso de Angola com os pioneiros do Catófe e também a tentativa com o Batalhão 18. Mas foram também para outros lados. Para a Bermuda, pelo menos desde 1923. Depois, para a Argentina, quase quatro centenas, para a Venezuela, à volta de cem. Nos finais da década de '30, seguem cerca de 500 micaelenses para o Curaçao. Logo a seguir, quase duas centenas sofrem a fome e a doença na emigração para a República Dominicana. Regressaram um ano depois, com passagens pagas pelo Estado. Depois, o Canadá, logo no início da década de 50 e a continuação da ida para os Estados Unidos. É, por um lado, uma história trágica: saía-se em busca de novos horizontes de esperança, arredados do meio insular. Mas, por outro lado, os açorianos "souberam dar boa conta de si" para onde quer que tenham ido. E são tantos e tão importantes os sucessos das nossas comunidades.
Um abraço,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Só mais uma achega aos tais entraves: até 1931 circulou nos Açores a "moeda insulana", conhecida geralmente por "moeda fraca", pois valia menos 25% do que a que circulava no Continente. Era, evidentemente, um empecilho ao bom funcionamento do comércio e da indústria, trazendo somente um benefício: impostos, taxas, contribuições eram pagos em "moeda fraca", logo, pagava-se o mesmo, mas valendo menos. Salazar acabou com isto, se bem que, desde finais do século XIX tivesse havido tentativas neste sentido.
Falas, caro José Câmara, na licença militar.
Já bem dentro do regime democrático, ou seja, em 1986, ia ficando em terra, numa viagem de trabalho (?) a Boston "e arredores".Parti na SATA de Ponta Delgada para a Terceira, a fim de apanhar a TAP para Boston. Quando na parte dos passaportes,logo o Guarda Fiscal pediu-me o documento militar!!! Ia morrendo! Nem sabia onde me meter. Documento militar??? Mas eu estou na disponibilidade desde 1971, cumpri tudo o que havia a cumprir em termos militares. Nervosíssimo, lá fui ao chefe da Guarda que, muito a favor (mas sem qualquer oferta da minha parte, é bom que se diga) lá me fez um grande sermão e me deixou passar.
No fundo, a agência de viagens não me tinha informado dessa exigência.
Um abraço,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Camarigo José Câmara, apenas um grito que te chegue aos States:
Vivam os meus compatriotas Açorianos dos sete costados.

Um abraço amigo

Vasco A. R. da Gama

Anónimo disse...

Caro camarigo JCâmara

Li e reli o texto.
Muito obrigado por o teres facultado.
São grandes os ensinamentos que dali se podem tirar, quer em termos se entender melhor os antecedentes da epopeia, como em termos da determinação e capacidade de fazer coisas, quer ainda no relacionamento com a envolvente, mas fico por aqui, pois não é esse agora o importante.

Ficam, de facto, as lições.

Abraço
Hélder S.

Antº Rosinha disse...

José da Câmara, quando na Carta de Chamada referi os colonos no planalto central de Angola, era o Katofe e a Cela em que eu pensava.

Quando tiver o meu almoço da Escola de Aplicação Militar de Nova Lisboa (Huambo) vou levar os nomes que veem neste post, pois tenho muitos colegas desses tempos e desse planalto.

Como conheci aquele mundo maravilhoso, e sou "retornado", não me é possível mais qualquer comentário.

Aos editores, estou convencido que coisas destas, tambem ajudam a compreender a guerra que se desenvolveu no Boé, em Guilege, Tite, etc., pois eu já mais que uma vez disse que foi passada procuração a Amilcar Cabral para fazer a guerra...que aqui não se fez.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Rosinha:

Há alguma vantagem nesta "especialização" na Guiné... O blogue seria ingovernável se abríssemos as portas aos nossos camaradas que foram parar com os quatro costados a Angola e Moçambique...

Não temos que ser um blogue "generalista", mas também nada nos impede de falar aqui da "historiografia da presença portuguesa em África", como temo-lo feito amiudadas vezes...

A Guiné (e a guerra de 1961/74...) não pode ser isolada do seu contexto, mais macro (história, economia, geopolítica...). A guerra colonial travou-se em três frentes (ou mais...).

Em contrapartida, a Guiné não era (nem nunca foi, contrariamente a Angola e Moçambique) uma "colónia de povoamento"...

Em todo o caso, não podemos de perder de vista o nosso "core business" que é contar histórias da nossa vivência, como combatentes na Guiné, e partilhar afectos...

Anónimo disse...

Caro Carlos Cordeiro

Obrigada igualmente pelo seu comentário, que é igualmente uma lição de História, não de Portugal, mas dos Portugueses, que sempre demandaram outras paragens na procura de melhores condições de vida. Das poucas centenas que foram para a Argentina nessa época, alguns eram familiares de meu pai que saíram do Algarve de onde eram naturais. Criaram uma empresa de transportes e por lá ficaram.

É bom circular por aqui, aprende-se
a saber quem somos.

Obrigada a todos os que colaboram e nos dão a oportunidade de saber sempre mais.

Felismina Costa

Anónimo disse...

Caros camarigos
Conheço esta história do meu amigo Vicente (vai a caminho dos 91 anos) desde a publicação na revista Atlântida. Como já devem saber , nasci e fui criado na ilha de São Jorge. Na minha ida para Angola pós Guiné, vivi três anos no Catofe. Tinha lá o meu avô materno e uns tios. Convivi com toda aquela gente e sei como era a sua vida. Só me resta pois roubar as palavras do nosso A. Rosinha: “ Como conheci aquele mundo maravilhoso e sou “retornado”, não me é possível mais qualquer comentário”.
Abraço grande, em especial ao José Câmara por trazer esta prosa ao Blog, coisa que não me passava pela cabeça, e ao Carlos Cordeiro pelas dicas sobre a diáspora açoriana. Henrique Matos

Anónimo disse...

Da história aos nossos dias.
Em jeito de Epílogo.

Os "catofianos" ou "catofenses" espalhados por esse Mundo fora não descansaram enquanto não viram a "sua" Igreja do Catofe reconstruída.
Vai daí, funcionou a solidariedade e lá está ela lampejante. A inauguração das obras teve lugar em Dezembro de 2010. http://kabiaka.blogspot.com/


Um abraço,
Carlos Cordeiro

Jorge Fontinha disse...

Caro José.

Porque será que me emocionei com o teu texto?
Tu sabes.
Obrigado pelo que me fizeste lembrar, dos meus avós maternos que foram de Tras-os-Montes para a Cela, nos anos 30 e do meu pai que foi voluntário para a Guarda Fiscal,em Angola em 1930.Faz este ano 50 anos em Maio,eu que lá nasci,vim pela primeira vez e em 1975, com um filho de menos de um mês de idade retornado em 1975.

Aquele abraço, desta ves mais apertado do que nunca.

Jorge Fontinha

Joaquim Mexia Alves disse...

Camarigo José Câmara

Para além de ter gostado, emocionou-me esta história.

Temos, nós Portugueses, o defeito de vermos sempre em nós as piores coisas, e no fundo a nossa história faz-se de histórias destas, que em África se tornaram "habituais".

Vivi em Angola, (depois da Guiné), cerca de quase dois anos e encontrei gente com esta, de trabalho e dedicação, que não olhava a dificuldades, nem a raças, mas iam construindo um futuro conjunto, que os erros de outros homens, os do passado e os dos presentes se encarregaram de destruir.

Curiosamnete de edpois de àfrica vivi também cerca de 7 meses em Ponta Delgada, para onde fui para ficar, mas a vida assim não quis.

Foi dificil ao principio romper a barreira da desconfiança daquela gente Açoreana, mas depois foi um criar de amizades que transformaram a minha partida das Ilhas em algo muito dificil.

Fazia-me impressão a ânsia que se sentia nos jovens adolescentes de emigrarem para o Canadá, ou então casarem, como um uma vez me disse: Ou emigro ou caso!

Os Açores ficaram-me de tal modo apegados que a minha viagem de núpcias foi à minha adorada ilha de São Miguel que considero uma das belezas maiores que alguma vez conheci.

Por aqui me fico, com um abraço forte e camarigo para ti e para todos

José Marcelino Martins disse...

E esta história, da nossa História, não é/era conhecida?

Como somos pobres. Pobres de espírito, mas ricos de iniciativa!

Valeu a pena ..............

Obrigado Zé da Câmara pela tua lembrança para ser divulgada e trazida ao nosso conhecimento.

JC Abreu dos Santos disse...

... ao meu amigo José da Silveira Câmara,

Só há momentos recebi este seu postal.
Muito grato, por esta sua lição de História Pátria.
Um abraço transatlântico,
do
Abreu dos Santos (senior)

Anónimo disse...

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