sexta-feira, 1 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8029: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (39): Florimundo Rocha, natural de Lagoa, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 3546, 1972/74 (Piche, 1972/74), outro "bravo da Ponte Caium", sobrevivente da emboscada de 14/6/1973



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da Ponte do Rio Caium > Quatro camaradas, quatro amigos: Da esquerda para a esquerda: (i) Santiago (1º cabo, atirador, que tomava conta da cantina);  (ii) Florimundo Rocha (soldado condutor auto, algarvio de Lagoa); (iii) Carlos Alexandre (operador de transmissões, carpinteiro naval, fadista, natural de Peniche); e (iv) Jacinto Cristina (padeiro e municiador do morteiro, natural de Ferreira do Alentejo)... Foto gentilmente cedida pelo meu amigo (e camarada) Jacinto Cristina.


Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

1. Mensagem de Susana Rocha, filha do nosso camarada, ex-Sold Cond auto Florimundo Rocha, um dos “bravos de Caium” (CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74, Piche e) [vd. foto acima].

Olá, chamo-me Susana e venho por este meio contactá-lo, sou filha de um camarada vosso, o Rocha, o condutor no fatídico dia da emboscada que falam aqui (*)

O meu pai foi um dos (ou até o único) sobrevientes dessa emboscada, emboscada essa aqui demonstrada no monumento em homenagem aos camaradas mortos.

O meu pai, ao encontrar estas fotos [no blogue], sentiu-se imensamente emocionado, vendo fotos suas. Falou-me durante anos de histórias aqui agora contadas. Falou me de tudo isto, a Ponte Caium e de tudo o resto. Ele quer mais que tudo entrar em contacto convosco, ele esteve lá 22 meses.

Espero em breve que o contactem, o número de contacto é o seguinte: 939336251 [ telemóvel da família] / 282353458 [ telefone fixo de casa].

Com os nelhores cumprimentos Susana Rocha, filha orgulhosa de Florimundo Rocha, condutor, Guiné 72\74.


2. Foi dado conhecimento teor desta mensagem, no dia seguinte, ao Carlos Alexandre (bem como ao Arménio Estorinho e ao Jacinto Cristina, através da sua filha e genro, já que ele não tem email):


Carlos (Alexandre), meu vizinho de Peniche, meu camarada:

Aqui tens finalmente o Rocha, ou melhor, a filha do Rocha, a Susana que nos descobriu, e mostrou as tuas fotos e a do Cristina ao pai... Tens aqui o telefone dele, eu também vou tentar ligar-lhe.... Mas acho que devem ser vocês a ter esse privilégio em primeira mão... Vou avisar o Cristina (que não tem mail), faço-o através do marido da filha, que vive na Madeira (o meu amigo Dr. Rui Silva.... A propósito, o Cristina reformou-se por invalidez... Vou também ligar-lhe este fim de semana, agora já é capaz de ser tarde)....

Vou publicar o apelo da Susana, mandar-lhe um beijinho e um grande abraço para o bravo de Caium que é o nosso condutor Rocha, mais um camarada que tem muito que contar, e fica desde já convidado para se sentar, aqui no meio de nós, sob o frondoso, acolhedor e fraterno poilão da nossa Tabanca Grande. Luís Graça.

PS - Arménio: Tinhas falado há tempos neste Flor, o Florimundo (Rocha), da tua terra, Lagoa... Como vês, o Mundo é Pequeno e a Nossa Tabanca é... Grande.

3. Nova mensagem para o Carlos (Alexandre):

Acabei de falar, ontem à noite, com o Rocha (mais conhecido por Flor, na sua terra)... Estava emocionadíssimo!... Reconstitui-me esse fatídico dia da emboscada, a 3 km de Piche, ia ele a conduzir um 411, a uns 70 à hora, que era o máximo que a viatura podia darem estrada alcatroada... De repente, começa a ver caras, dezenas e dezenas ("ram duzentos e tal"), a espreitar pela vegetação... E depois, o inferno... [Poupa-me os promenores da nossa conversa, ao telefone, deves imaginar quão doloroso ainda é para ele, ver a malta toda  morta em seu redor, e ter que fazer fogo com  a G3 dos mortos... Ele terá disparado com três G3 diferentes, e essa acção ter-lhe-á salvo a vida... Sem transmissões, valeu-lhes o socorro das chaimites, que vieram do lado de Piche, já depois depois de terminado...].

Ele está reformado, trabalhou em Silves numa fundição e foi também futebolista (2ª e 3ª divisão)... Já em Piche era um grande craque da bola, chegou a jogar pelos tipos da CCAÇ 11 (que tiraram a recruta, em Contuboel, com a minha CCAÇ 12, no 1º semestre de 1969, bem como a especialidade e a IAO; portanto, ainda conheci a primeira leva...).

Disse-me que há 20 e tal anos passou por Peniche e procurou-te. Dei-lhe o telefone do Cristina (o teu não tinha ali à mão). Também falei com a filha, a Susana, de 29 anos, que mora perto da casa dos pais. Foi o Arménio Estorninho que lhes mostrou as fotos no blogue. São conterrâneos. Tal como o Camilo. É uma terra onde todos se conhecem.

A filha, Susana, vai-me digitalizar fotos que ele tem, de Caium e de Piche, para publicarmos no blogue... E ele vai entrar pela porta grande do blogue como bravo de Caium que é, como tu e o Cristina... Agora falta apanhar o Sobral, o Teixeira, o Santiago...

Com mais tempo e vagar, falarei com ele outro dia... Lembra-se bem, do monumento, da sua construção, e sabe que fostes tu o responsável pela sua concepção...

A filha pareceu-me uma mulher de garnde sensibilidade. Prometeu trazer o pai para o blogue (ele, como muitos camaradas nossos, ainda não está familiarizado com a Internet). É uma história bonita, de amor filial. O Rocha tem ainda um filho que vai fazer 16 anos.

Por hoje chega de emoções... Publico amanhã uma notícia no blogue. Abraço. Luís

PS – Segundo percebi, o Rocha, ou melhor, o Flor, continua a trabalhar, mas agora em Lagoa, ou na região, em jardinagem (propriedade de uns holandeses, ou coisa assim assim do género). 
______________

Nota do editor

(*) Falta-nos ainda uma boa descrição,pormenorizada,  da emboscada, dada por alguém que tenha lá estado (como o Rocha)... Mas recapitulemos o que sabemos:

(i)  Ocorreu na estrada Bruntuma-Ponte Caium-Piche, a escassos 3 km de e Piche, a 14 de Junho de 1973,  quando uma pequena força do destacamento (duas ou três viaturas) se dirigiriam à sede da companhia para ir buscar mantimentos (que não recebiam há um mês);

(ii) Tinha havido uma grande operação junto à fronteira, com muitos meios (artilharia, força aérea, tropas especiais...), pelo que estrada Buruntuma-Piche era dada como "segura" nesses dias...

(iii) Uma força (desproporcinada do PAIG, fala-se em duzentos e tal guerrilheiros, 5 ou 6 bigrupos, o que nos parece exagerado…) fez fogo sobre as duas primeiras viaturas, entre elas o Unimog 411 (o “burrinho” conduzido pelo Rocha) , provocando a morte (imediata) dos seguintes militares destacados em Ponte Caium:

1º Cabo Ap. Metralhadora David Fernandes Torrão;
Sold At Carlos Alberto Graça Gonçalves (mais conhecido por Charlô, devido ao seu feitio brincalhão;
Sold At Hermínio Esteves Fernandes;
Sold At José Maria dos Santos.

(iv) Todos eles brutalmente mortos à roquetada e cortados depois em quatro com rajadas de Kalash, segundo a versão do Cristina... Os seus nomes constam do memorial, construído pelo Carlos Alexandre e seus camaradas, que ainda hoje existe (!) na velha ponte de Caium (velha de 50/60 anos)...

(v) Nem o Cristina nem o Carlos Alexandre iam nesta coluna: o primeiro ficou a tomar conta do morteiro; o segundo estava de férias... 

Último poste desta série > 26 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8002: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (38): Notícas de Xangai (António Graça de Abreu)

4 comentários:

Anónimo disse...

Camarigo Rocha
Folgo em ver mais um CAIUMENSE a entrar para a Tabanca Grande.
Longa Vida
Mantenhas

Luís Borrega (Caiumense Velhinho c.c.)
CCav.2749/BCav.2922- Pitche 1970/72

Anónimo disse...

Camarigo Rocha
Há pouco esqueci-me de acrescentar, que só quem viveu e padeceu no Destacamento de Ponte Caium, é que sabe dar o valor ao que nós lá sofremos.
Abraço
Luís Borrega

Anónimo disse...

Caros Camarigos da Ponte Caium, Saudações.

Como se aperceberam o meu amigo Florimundo Rocha "O Flor" tal como é conhecido em Lagoa, recebeu-me em sua casa a fim de dialogarmos sobre o assunto Guiné e tendo ficado imenssamente senssibilizado em se rever com os seus Camarigos no Blogue.

Contou-me resumidamente sobre a fatídica emboscada de 14/06/73, sobre a qual também soube honrar os Camaradas caidos.

Fiquei predisposto em dar o meu apoio aos seus filhos, a fim de facilitar a feitura dos trabalhos
para o Blogue.

Com um Abraço para todos os Caiumenses.

Arménio Estorninho
C.Caç.2381

Luís Graça disse...

Arménio:

Obrigado pelo teu gesto de grande generosidade e camaradagem... Já não é só a boa acção de escuteiro... Há milhares e camaradas como o teu conterrâneo e vizinho, o Rocha, que têm uma enorme vontade (e necessidade) de "verbalizar" a sua experiência de guerra na Guiné, oralmente e por escrito... Muitos não têm sequer quem os escute e os compreenda, sem juízos de valor ou expressões de enfado... No caso do Rocha, até tem uma filha amorosa que o soube ouvir, e um camarada como tu que lhe levou, a casa, o conhecimento das fotos e das histórias da Ponte Caium, publicadas no nosso blogue... São homens da nossa geração que têm dificuldades em comunicar por escrito e usar a Internet... O nosso blogue existe sobretudo para esses camaradas que precisam de partilhar memórias e emoções à volta da sua comissão de serviço militar na Guiné, e estão sós...

Para os "bravos da Ponte de Caium", era importante pôr o Rocha a falar, para al+ém da terrível emboscada de 14/6/73, sobre a construção do notável mas controverso monumento erigido à memória dos caídos... Há camaradas que não se lembram sequer de ter participado na construção desse memorial!!!... E eu não gostaria que isso fosse fonte de discórdia e até de zanga entre eles...