sábado, 9 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8071: A minha CCAÇ 12 (16): O 1º Cabo Galvão, ferido duas vezes em 9 de Fevereiro de 1970, segunda feira de Carnaval...Uma violenta emboscada em L em Gundagué Beafada, Xime (Op Boga Destemida)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > A solidariedade dos combatentes... Dois soldados, guineenses, do 3º Grupo de Combate, do Alf Mil At Inf Abel Rodrigues, aparam o 1º Cabo Carlos Alberto Alves Galvão, metropolitano (vive hoje na Covilhã, estando reformado da Direcção Geral dos Impostos, se não me engano), comandante da 1ª secção, o homem que cometeu a proeza de ter sido ferido duas vezes no decurso da mesma operação (Op Boga Destemida, 9 de Fevereiro de 1970), aqui relatada.~

Estes dois camaradas guineenses podem ser alguns dos seguintes que compunham a 1ª secção do 3º Gr Comb: Soldado Arvorado 82108769 Totala Baldé (Fula); Sold 82108569 Sambel Baldé (Fula); Sold 82108969 Mauro Baldé (Ap LGFog 8,9) (Fula); Sold 82110369 Jamalu Baldé (Mun LGFog 8,9) (Fula); Sold 82109169 Malan Baldé (Fula); Sold 82109569 Iéro Jau (Ap Dilagrama) (Fula); Sold 82110969 Samba Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (Fula); Sold 82109969 Malan Nanqui (Mandinga).

Slide do Fur Mil at Inf Arlindo T. Roda, comandante da 2ª secção, que nesses dias (8 e 9 de Fevereiro de 1970) levou a sua máquina fotográfica... (Não era vulgar levar-se uma máquina de fotografia, para o mato, em operações, numa região como esta em que a probabilidade de contacto com o IN era muito alta. Estou muito grato ao Roda, que já não vejo desde 1994, por generosamente nos disponibilizar a sua fabulosa colecção de slides, convertidos para o digital...)

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados













Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Sequência dramática dos acontecimentos do dia 9 de Fevereiro de 1970, desde o ferimento do 1º Cabo Galvão, na travessia da cambança do Rio Buruntoni, por volta das 5 e tal da manhã, até à violenta emboscada em Gundagé Beafada, às 13h, de que resultariam uma série de baixas entre as NT (CART 2520, Pel CAç Nat 63 e CCAÇ 12), incluindo o 1º Cabo que ia nesse momento em padiola improvisada e foi alvejado a tiro... A helievacuação dos feridos deu-se já em Madina Colhido...

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados


A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (**), por Luís Graça



(8) Fevereiro de 1970:

(8.1) Uma emboscada em L às NT (Op Boga Destemida)


As declarações dos prisioneiros Jomel Nanquitande (capturado em Satecuta, durante a Op Navalha Polida) (*) e Festa Na Lona (capturado em Ponta do Inglês durante a Op Safira Única) trouxeram os seguintes elementos sobre o acampamento IN do Baio/Buruntoni:

(i) Localização: Xime 2D-81;

(ii) A vegetação à volta do acampamento e nas imediações do Rio Buruntoni é do tipo floresta tropical (ou floresta galeria), composta por árvores de grande porte;

(iii) Efectivos: 30 elementos;

(iv) A população sob o controlo IN é numerosa na área, havendo uma tabanca a cerca de 150 metros, a SE do acampamento;

(v) Armamento: 1 morteiro 60, 5 bazucas (RPG), 4 metralhadoras ligeiras e armas automáticas;

(vi) Chefes: Ponhe, Xito Mané, Tchuda Ada;

(vii) Segurança: 1 sentinela para norte, a cerca de 100 metros do acampamento;

(viii) Diariamente, pela madrugada, sai uma patrulha de 15 elementos fortemente armados que reconhece a área para norte até ao Rio Buruntoni. Há aqui uma cambança sobre troncos de árvore;

(ix) Devido à intensa actividade das NT que levou à captura do vários elementos conhecedores da região, é de admitir que o IN se encontre alertado e até mesmo reforçado.

A fim de bater a área do Baio/Buruntoni foi planeada a Op Boga Destemida em que tomaram parte 6 grupos de combate: Destacamento A, constituído por 3 Gr Comb da CCAÇ 12 (Dest A); Destacamento B, formado por forças da CART 2520 (unidade de quadrícula do Xime), reforçadas com o Pel Caç Nat 63, aquartelada em Fá Mandinga (sob o comando do Alf Mil Art Jorge Cabral).


Desenrolar da acção:

Em 8 de Fevereiro de 1970, pelas 9.00h, os 2 Dest saíram do Xime, seguindo por Madina Colhido e Gundagué Beafada até próximo de Darsalame Baio onde se emboscaram, repousaram e almoçaram.

Da parte da tarde, dois Gr Comb da CCAÇ 12 reconheceram com os prisioneiros o local de cambança do Rio Buruntoni, tendo encontrado,e m Xime 2g3-78, uma ponte de rachas de cibe, soltas, com uma extensão de 20 metros, que oferecia pouca segurança, obrigando a travessia a efectuar-se somente de dia e muito lentamente, contrariamente ao que estava previsto.

Os 2 Gr Comb regressaram ao local da emboscada tendo depois os 2 Dest seguido para perto do rio onde pernoitaram. O PCV, em face do reconhecimento da cambança, ordenou que a travessia se fizesse ao amanhecer.

Em 9 de Fevereiro [, segunda feira de Carnaval em Lisboa, e nesse dia embarcava para a Guiné o nosso camarigo Cap Mil Jorge Picado...], pelas 5.30h, iniciou-se a cambança que demorou cerca de uma hora.

Durante a travessia, o 1º Cabo Galvão ( 3º Gr Comb da CCAÇ 12) caiu, ficando lesionado na coxa direita, o que impossibilitava de prosseguir. De forma que teve de ficar o 3º Gr Comb do Dest A emboscado junto ao ponto de cambança.

Como fossem encontrados trilhos e o prisioneiro Festa informasse que o acampamento distava cerca de meia hora, os 2 Dest separam-se, tendo o Dest B seguindo ao longo do Rio Buruntoni e montado uma linha de emboscada a oeste da região indicada como sendo a do acampamento IN.

O Dest A progrediu com o prisioneiro Festa em direcção ao objectivo, tendo passado por um acampamento com vestígios de abandono recente. Depois de progredir mais de 2 horas na direcção sul, e como o prisioneiro continuasse a dizer que era longe, contradizendo-se, o Dest A que só dispunha de 2 Gr Comb, entrou em ligação com o Dest B a fim de tomar uma decisão face à situação.

É de referir que o PCV ainda não aparecera visto que a respectiva DO-27 tivera de ir cumprir uma missão de evacuação outro sector. De modo que foi decidido pelos comandantes dos Dest regressar ao Xime.

Quando ia ao encontro do Dest B, o 1º e 2º Gr Comb do Dest A foram flagelados à distância com metralhadora e lança-rockets. Era evidente que o IN tentava localizar as NT através do reconhecimento pelo fogo.

Cerca das 11.30h, o PCV sobrevoou a zona, quando o Dest B, já feita a cambança, armadilhava o local onde havia vestígios recentes do IN.

Em marcha lenta, devido ao transporte do ferido em maca, os 2 Dest seguiram o trilho de Darsalame/Baio-Gundagué Beafada, através do capim alto.

Próximo da antiga tabanca beafada (Xime 3F7-11), cerca das 13h, as NT sofreriam uma violenta emboscada montada em L e com grande poder de fogo, especialmente de lança-rockets e mort 60. A secção que ia na vanguarda do Dest B [CART 2520] ficou praticamente fora de combate, tendo sido gravemente feridos, entre outros, o respectivo comandante e a praça encarregada da segurança do prisioneiro Jomel Nanquitande que, aproveitando a confusão, conseguiu fugir, embora algemado e muito provavelmente ferido. (O 1º Cabo José António Oliveira Bagio era o encarregado da segurança do prisioneiro, ficou gravemente ferido, vindo a morrer no HM 241 em 20/3/1970).

Devido ao dispositivo da emboscada, quase todos os Gr Com foram atingidos pelo fogo de armas automáticas e lança-rockets (testa e meio da coluna) e mort 60 (retaguarda).

Devido à reacção das NT, o IN retirou na direcção de Poindon e Ponta Varela, tendo ateado o fogo ao capim para evitar a sua perseguição. O incêndio lançaria sobre as NT um enxame de abelhas, obrigando-as a fugir para uma mata próxima onde se trataram os feridos.

Em resultado da acção fulminante do IN, as NT sofreriam 1 morto (Sold Manuel Maria do Rosário) e 7 feridos entre graves e ligeiros, sendo 2 da CCAÇ 12 (1º Cabo Galvão, do 3º Gr Comb, e Soldado Samba Camará, nº 8211816, do 2º Gr Comb, evacuados para o HM 241). Ficaram também feridos os Fur Pestana e os Sold Frade e Pinheiro [, pertencentes à CART 2520]. Ferido ligeiro da CCAÇ 12: Sold Arv At Inf Totala Baldé, nº 82108769. Não sei se o Pel Caç Nat 63 teve alguma baixa nesta operação (O Jorge Cabral pode confirmar).

Houve uma tentativa por parte do IN de capturar o 1º Cab Bagio. Devido á atenção do Sold Costa, que abriu fogo sobre eles, esse intento foi gorado. O Costa virá a ser ferido por estilhaços de LGFog.

Feito o reconhecimento, não foi encontrado o prisioneiro. Apesar do incêndio provocado pelo fogo pegado ao capim, ainda se conseguiu recuperar parte do material abandonado, na sequência da emboscada e do ataque de abelhas.

Levados os feridos para Gundagué Beafada (ou talvez Madina Colhido, já não posso precisar, por ser mais seguro...), donde foram heli-evacuados, as NT retiraram para o Xime, protegidas por heli-canhão e T-6, e ainda pela artilharia do Xime (que a pedido fez fogo para região a oeste do local da emboscada), tendo chegado ao aquartelamento por volta das 17h, desse dia, 4 horas depois da emboscada.

Após esta operação o IN manifestar-se-ia de novo em 12 de Fevereiro (atacando uma embarcação em Ponta Varela, do que resultaram baixas civis) e flagelando também, na região de Ponta Varela, forças da CART 2520 durante a Op Tango Variado). (LG)

Fontes consultadas:

História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Cap. II.

História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)

Diário de um Tuga




Esposende > Fão > 1994 > A primeira vez que me reencontrei com a malta de Bambadinca (1968/71), incluindo os meus camaradas da CCAÇ 12 (1969/71), e outras subunidades adidas ao comando do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70).

Na foto (parcial) do grupo, estão alguns dos meus camaradas da CCAÇ 12... Na primeira fila, da esquerda para a direita, (i) eu, Fur Mil At Armas Pesadas Inf Luís Manuel da Graça Henriques; (ii) Arménio Monteiro Fonseca (taxista, no Porto, da empresa Invictuas, táxi nº 69, mais conhecido no nosso tempo como o "vermelhinha"; era soldado com funções de cabo, tinha lebvado uma porrada antes do embarque); (iii) Fur Mil José Luís Vieira de Sousa [, natural do Funchal, onde vive, agente de seguros]...

Na segunda fila de pé, da esquerda para a direita: (iv) Abel Rodrigues (hoje bancário reformado, ex-Alf Mil, 3º Gr Comb, CCAÇ 12, membro da nossa Tabanca Grande); (v) Alf Mil Op Esp Francisco Magalhães Moreira [, vive em Fafe]; (vi) Fur Mil Joaquim Augusto Matos Fernandes [, de óculos escuros, engenheiro técnico, vive no Barreiro, e é membrto da nossa Tabanca Grande]; (vii) 1º Cabo Carlos Alberto Alves Galvão [, o homem que foi ferido duas vezes na Op Boga Destemida, vive na Covilhã]; Fernando Sousa (ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 12, vive na Trofa, e anda há um ano para entrar na nossa Tabanca Grande, já mandou as fotos da praxe...); e, por fim, (viii) 2º Sarg Inf Alberto Martins Videira [, vive ou vivia em Vila Real].

Na Op Boga Destemida, eu (que não tinha Gr Comb atribuído, mas alinhava em todas...) ia, mais uma vez, integrado no 3º Gr Comb da CCAÇ 12, comandado pelo Alf Mil Abel Rodrigues. (Na 5ª foto a contar de cima, apareço em segundo plano, de óculos, de pé, de perfil, virado para a mata, numa das paragens que fizemos, julgo que antes da emboscada, ainda no 1º dia...).

Fotos : © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7888: A minha CCAÇ 12 (13): Janeiro de 1970 (13): assalto ao acampamento IN de Seco Braima e captura de Jomel Nanquitande (Luís Graça)

(...) Na perseguição as NT fizeram um prisioneiro, de nome Jomel Nanquitande, ferido, deixado para trás pelos seus companheiros, que no entanto recuperaram a sua arma. O seu ferimento não era grave, aos olhos de um tuga. Após uma semana de recuperação e de interrogatórios, o Jomel seria obrigado pelas NT a participar como guia para um assalto de mão ao acampamento IN de Ponta Varela que conhecia bem [, a sudoeste do Xime, na direcção de Madina Colhido]: Op Borboleta Destemida (CCAÇ 12, a 4 GR Comb + CART 2520, a 2 Gr Comb, operação realizada a 13 de Janeiro de 1970, e que descreveremos no próximo poste desta série). (...)


(**) 30 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8014: A minha CCAÇ 12 (15): Op Safira Única, 21 de Janeiro de 1970: Ir à Ponta do Inglês e, sem dar um tiro, recuperar 15 elementos da população, destruir dois acampamentos e aprisionar um guerrilheiro "em férias" (Luís Graça)

(...) (iv) Seguindo um dos trilhos, avistou-se um homem desarmado que seguia em direcção contrárias às NT. Capturado, informou: (a) que ia recolher vinho de palma, (b) que a tabanca ficava próxima, (c) que não havia elementos armados e (d) que a maior parte da população estava àquela hora a trabalhar na bolanha do Poindom.

(v) Feita a aproximação com envolvimento, capturaram-se mais 2 homens, 5 mulheres e 6 crianças, andrajosos e aterrorizados. Um dos homens capturados disse chamar-se Festa Na Lona, de etnia balanta, estar alí a passar férias (sic) e pertencer a uma unidade combatente do Gabu (Nova Lamego). Foi-lhe apreendido uma pistola Tokarev (7,62, m/ 1933) e vários documentos. (...)

Estes dois camaradas guineenses podem ser alguns dos seguintes que compunham a 1ª secção: Soldado Arvorado 82108769 Totala Baldé (Fula); Sold 82108569 Sambel Baldé (Fula); Sold 82108969 Mauro Baldé (Ap LGFog 8,9) (Fula); Sold 82110369 Jamalu Baldé (Mun LGFog 8,9) (Fula); Sold 82109169 Malan Baldé (Fula); Sold 82109569 Iéro Jau (Ap Dilagrama) (Fula); Sold 82110969 Samba Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (Fula); Sold 82109969 Malan Nanqui (Mandinga).

4 comentários:

Anónimo disse...

Eu participei nessa operação,imtegrado no Pelotão de Caçadores Nativos n.º 63. O carlos Galvão vive na Covilhã e é aposentado das Finanças.Se bem me recordo fomos emboscados já muito perto do Xime e tivemos diversas baixas,nomedamente,mortos.A emboscada verificou-se muito perto do almoço,pelo que as evacuações,quanto a mim,foram tardias.A emboscada foi cerca 13 horas e os helis apareceram no terreno cerca das 15 horas.Penso que a memória não me atraiçoa.
António Branquinho- ex furriel Mil-

Luís Graça disse...

Obrigado, Branquinho. Esivemos lá os dois. As tuas memórias batem certo com as minhas. Ñão era normal (nem desejável) uma emboscada àquela hora, com o sol a pique!...

Quando vires o Galvão, dá-lhe um abraço meu! Gostava que ele aparecesse... Ou me telefonasse... Tens os meus contactos.

Torcato Mendonca disse...

Porreiro pá...porreiro.

Gostei muito das fotos e da descrição. Zona boa...essa!

O V/ Historial Ccaç 2590 ou CCaç12 é bestial. Assim está bem.
As fotos deviam ser tiradas com uma Olympus. Era uma máquina pequena que cabia bem no bolso das calças. Havia um modelo que de um rolo de 36, por ex.,tirava o dobro.
Tive uma, não dessas que duplicavam, e levei-a muitas vezes. Mas em operações é difícil fazer fotos. É o fazes...só num alto.
A emboscada em L ...lá está o treino cubano ou um "internacionalista" desses a comandar. Nessa zona, depois da Lança Afiada, ainda havia um. Fugiu numa operação ao Poidom e deixou o boné com fotos de família.
Parece que tenho algo contra cubanos. Nada disso. Só que um deles comandou a emboscada da Fonte. Não esquecer e nunca perdoar.
Foi mau demais, mau demais!
AB a todos do T

Anónimo disse...

Como informação complementar informo que nesta operação foi ferido,( com um estilhaço)penso que,no sobrolho esqyerdo o 1º cabo Rocha do Pel Caç Nat 63-atirador de morteiro 60.O Jorge Cabral não tomou parte na Operação,penso que estava de férias.
Luis Graça,quando estiver com o Galvão lhe transmitirei o teu recado. Um abraço.
António Branquinho ex furriel miliciano