terça-feira, 3 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8212: Os nossos camaradas guineenses (29): Uma carta pungente de um ex-militar, de etnia fula, da CCAÇ 12 (Contuboel, Bambadinca, Xime, 1969/74)





Cópia de carta manuscrita (redigida a esferográfica azul) que nos chegou em mão, em Dezembro de 2010, da autoria de um ex-militar guineense da CCAÇ 12, que serviu Portugal entre Maio de 1969 e Agosto de 1974, altura em que foi extinta esta subunidade, composta por soldados do recrutamento local e graduados e especialistas metropolitanos, de rendição individual. O autor, de etnia fula,  pertencia ao 4º Gr Comb (comandado pelo Alf Mil Cav José António G. Rodrigues, natural de Lisboa, e  infelizmente já falecido).


Por razões de segurança, omitimos todos os elementos que possam levar à  identificação e localização do autor da missiva.  Achamos oportuna e pertinente a sua divulgação, a menos de 3 semanas de dois encontros, em Coimbra, em locais separados, mas no mesmo dia ( 21 do corrente), de antigos militares da CCAÇ 12, de origem metropolitana, de rendição individual (os do período inicial de 1969/71, e os do período seguinte, de 1970/72). 


De resto, nem sequer interessa saber quem é especificamente o autor da carta (que está devidamente  identificado perante os editores). A carta é pungente, e recorda-nos, mais uma vez, o drama dos nossos camaradas guineenses que combateram o PAIGC sob a bandeira portuguesa (e muitos verteram por nós o seu sangue...). Abandonados por nós, ostracizados pelo seu Governo, vão desaparecendo rapidamente, vítimas da perseguição, da doença, da miséria, da discriminação, do abandono, do esquecimento... Recordá-los, recordar os seus nomes, publicar as poucas fotos que temos deles, é o mínimo dos mínimos que podemos fazer no nosso blogue!...


De um total de 100 homens que eu conheci, em Contuboel e em Bambadinca, restará apenas um punhado de sobreviventes...  O camarada que escreve esta missiva (e que eu conheci de muito perto) contabiliza, com ele, onze nomes, de camaradas sobrevivos !... É possível que haja mais uns tantos espalhados pela zona leste... 


O nosso camarada diz que já não se lembra dos seus números mecanográficos!!!... Eu preencho, por ele, esse desculpável lapso de memória... Vou tentar completar a sua lista, acrescentando mais alguns detalhes: nº mecanográfico, grupo de combate, secção, posto, função, e etnia, de acordo com os elementos de que disponho (e que se reportam à data de Fevereiro de 1970, em que escrevi a história da CCAÇ 12, companhia independente que será extinta em Agosto de 1974).


Sori Modjo Baldé (hoje residente em Taibatá, Sector de Bambadinca, Região de Bafatá): muito provavelmente Sori Baldé, 4º Gr Comb (Comandante: Alf Mil CAv José António G. Rodrigues), 3ª Secção (Sem comandante atribuído, lugar muitas vezes preenchido pelo Fur Mil At Armas Pesadas Inf Luis Manuel da Graça Henriques),  Sold At Inf,    Fula, nº mecanográfico 82110069.

Suleimane Baldé (hoje residente em Taibatá...): 4º Gr Comb, 3ª Secção,  Sold pont LGFog 8,9,  Fula, nº mecanográfico 82110269.

Djambaló Baldé (hoje residente em AmedalaiSector de Bambadinca, Região de Bafatá): Desconhecido, deve ter entrado para a CCAÇ 12 em data posterior a Fevereiro de 1970);

Tcherno Baldé (hoje residente em Taibatá...): 4º Gr Comb, 1ª Secção (Comandada pelo Fur Mil At Inf Joaquim A. M Fernandes), Sold, Ap Metr Lig HK 21, nº mecanográfico 82115269, fula; há um outro, com o mesmo nome, Sold At Inf, nº 82109669, fula, que pertencia ao 3º Gr Comb (Comandante: Alf Mil At Inmf Abel Maria Rodrigues), 3ª Secção (Comandante: Fur Mil At Inf José Luís Vieria de Sousa);

Mamadú Sori Baldé (residente em Demba-Taco,  Sector de Bambadinca, Região de Bafatá): havia dois Mamadú Baldé na CCAÇ 12... Não sei se este não será o Sold Arvorado Mamadu Baldé, nº 821165569, futa-fula,do 2ºGr Vomb (comandante: Alf Mil At Inf ntónio Manuel Carlão), 2ª Secção (Comandante: Fur Mil At Inf Op Esp, Humberto Simões Reis); outro era o Sold nº 821190069, fula, do 4º Gr Comb, 2ª secção (Comandante: Fur Mil At Inf António Fernando R. Marques);

Bobo Soncó [?] (hoje residente em Taibatá):  Desconhecido, deve ter entrado para a CCAÇ 12 em data posterior a Fevereiro de 1970; pelo apelido, parece-me ser de etnia mandinga;

Totala Baldé (hoje residente em Amedalai...): 3º Gr Comb, 1ª secção (Sem comandante atribuído, lugar algumas vezes preenchido pelo Fur Mil At Armas Pesadas Inf Luis Manuel da Graça Henriques), Sold Arv, nº 82108769, fula;

Califo Baldé (1º) (hoje residente em Cabofra (?) /Cossé, sector de Galomaro, Região de Bafatá) e  Califo Baldé (2º) (hoje residente em  Galomaro...): havia de facto dois, com esse nome,  ambos do 4º Gr Comd e da 3ª Secção, e ambos de etnia fula, um com o nº 82117769 e outro com o nº 82118469;

Demba Djau (hoje residente em Bambadinca...): havia três,  todos eles de etnia fula: o Sold At Inf nº 82105869, do 1º Gr Comb (Comandante: Alf Mil At Inf Op Esp Francisco Magalhães Moreira), 1ª Secção (Sem comandante atribuído); e o Sold Ap Dilagrama, nº 82117469, do 2º Gr Comb, 3ª Secção (Comandante: Fur Mil At Inf António Eugénio S. Levezinho); e ainda o Sold nº 821815169,  fula, 3º Gr Comb, 3ª Secção. (LG)










Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS / BART 2917 (1970/72 >  O Umaru Baldé, soldado  da CCAÇ 12 (1969/71)... Depois da independência, veio para Portugal. Morreu há uns anos, de doença...  Vários antigos camaradas,  tugas,  ajudaram-no a sobreviver... Dizem-me que trabalhou na construção civil... 


Para mim, que o cheguei a comandar, várias vezes, em operações, era uma criança na guerra... Não teria mais do que 16 anos quando fez a recruta e a especialidade (em Contuboel, 1º semestre de 1969)... Um belo efebo, com o seu inseparável cachimbo... Dizia-se que era filho do régulo de Badora... Era um bravo combatente e  um temível apontador de  Mort 60. Fula, pertencia ao 4º Gr Comb, 2ª Secção (comandada pelo nosso querido camarigo António Fernando R. Marques).

Fotos: © Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas daa Guiné. Todos os direitos reservados


Carta



[Algures, Guiné-Bissau, omite-se o nome da tabanca, por razões de segurança] 28 de Novembro de 2010



Meus queridos companheiros de armas!


Nós, os africanos que combatíamos ao lado do Exército Português, [… ] certamente cinco anos que sofremos pela luta armada.


Terminada a guerra, fomos forçados [ por lapso, no original, forjados] a viver, até [a]os dias de hoje, 37 anos de angústia!


Não valemos no Governo Guineense, porque não há emprego para os traidores da Pátria, segundo o que os governantes dizem. Também não fomos reconhecidos pelo Governo Português!


Nos 35 anos desde o fim da guerra até [aos] dias de hoje, estamos entre [a] espada e a parede. Muitos morreram por causa destas condições desumanas! E a maioria morreu [, morreram, no original].


Eis: Os soldados africanos [da CCAÇ 12] que ainda [estão ] com vida, mas não me lembro dos seus números mecanográficos. Eu próprio, que escrevi esta carta, chamo-me [,Nome,nº mecanográfico, que se omite por razões de segurança]


2 - Sori Modjo Baldé – Taibatá
3 – Sulimane Baldé – Taibatá
4 – Djambaló Baldé – Amedalai
5 – Tcherno Baldé – Taibatá
6 – Mamadú Sori Baldé – Demba-Taco
7 – Bobo Soncó [?] - Taibatá
8 – Totala Baldé – Amedalai
9 – Califo Baldé (1º) – Cabofra – Cossé
10 - Califo Baldé (2º) – Galomaro
11 – Demba Djau – Bambadinca


Os que [vão] acima mencionados, são os que tenho [a] certeza das suas existências, estão ainda [com] vida. Como atrás mencionei [, mencionados, no original], muitos já morreram e a maioria já morreram etc., etc. etc.


[PS - ] Furriel Reis do armamento, não me esqueças. Saiba que aqui há bastante crise, e a crise aqui é permanente! Obrigado.


[ Revisão / fixação de texto / digitalização / introdução: L.G.]
____________________

Nota do editor:

Último poste da série > 18 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7468: Os nossos camaradas guineenses (28): Sete mil antigos combatentes a necessitar de assistência social, segundo Baciro Djá, citado pela Lusa (Nelson Herbert)

25 comentários:

Luís Graça disse...

Sabemos que ao tempo do BART 2917 (1970/72), houvce vários complementos e recomplementos da CCAÇ 12...

Por exemplo, em Junho de 1971 > Complementos:

- Soldado Ap. Morteiro AMADÚ BALDÉ 82116671
- Soldado Ap Metralh. E/C SANTOS SAMA BALDÉ 82051771
- Soldado Atirador E/C MAMADÚ CANDÉ 82054171
- Soldado Atirador IDRISSA BALDÉ 82134071
- Soldado Atirador MAMA DJAM 82135370
- Soldado Atirador BACARDENA BALDÉ 82153770


Em Agosto e Setembro de 1971 > Complementos


- Soldado Básico MAMADU JALÓ 82001571
- Soldado Corneteiro MUTARO BALDÉ 82001568
- Soldado Condutor - CURAEL DJAU 82052366

E ainda...

Em Novembro de 1971
- COMPLEMENTOS
- CCAÇ 12
- Soldado Ap. Morteiro BABAGALE BALDÉ 82025769
- RECOMPLEMENTOS
- CCAÇ 12
- Furriel Miliciano Atirador ALCINO JOSÉ SOARES
- Soldado Ap. Metralh. SUMAI SILÁ 82174171

- DEZEMBRO DE 1971
- COMPLEMENTOS
- CCAÇ 12
- 1º Cabo Aux. Enfermagem ALCIDES COSTA 13610771
- RECOMPLEMENTOS
- CCAÇ 12
- Soldado Transmissões JOÃO ADULAI CANDÉ 82099871
- Soldado Transmissões ARMANDO MANHÓ EMBALÓ 82000271
- Soldado Atirador ADUL JALÓ 82054271

... A pouco e pouco, os guineenses foram substuindo os especialistas de origem metropolitana...

Anónimo disse...

Camaradas
Como poderemos esquecer os nossos camaradas africanos ? NUNCA !!!
O tratamento do Governo Português FOI, e É IGNÓBIL...
Todos os africanos do Largo de São Domingos em Lisboa são antigos Milícias e Comandos Africanos. Todos eles guardam religiosamente os seus documentos militares de então, amarelecidos pelo tempo.
Eu sei do que falo, pois quando vou a Lisboa vou lá falar Fula.
Um deles já me disse porque é que Portugal saíu da Guiné, seria melhor que estivessem sobre a Bandeira Portuguesa.
Isto é uma LIÇÃO DE PORTUGUESISMO, que muitos nascidos cá não têm...
HONRA E GLÓRIA aos nossos Camaradas Africanos.
Mantenhas
Luís Borrega

Anónimo disse...

É tudo muito complicado, mas o abandono e ostracismo a que todos estes homens (Soldados de Portugal) que tive a honra de ter três na minha secção. Deixam-me envergonhado.

Para além destes haviam ainda as mílicias que embora não enquadrados no Exército Português, combatiam ao nosso lado. Também esses foram ignorados e esquecidos. Com conhecimento de causa, falo dos homens do João Bacar Jaló da mílicia 13 de Catió e tinham sempre duas secções em Cufar.

Foi uma honra para mim, num 10 de Junho, encontrar o Bodo Jau que passando por Cufar, ao fim de alguns anos foi dos que foram buscar o nosso estimado Miguel Pessoa às matas de Guilege.
Fica aqui a promessa de que irei escrever sobre estes grandes homens, por nós tornados apátridas.

Pela minha postura em eguisticamente ignorar e não defender, a posição destes irmãos, publicamente aqui lhes peço perdão.

Reconhecido, agradeço-lhe a mais que possível situação de ainda hoje estar aqui a escrever.

Obrigado camaradas!

Faremos o que for possível.

Mário Fitas

Anónimo disse...

Caríssimo Luis Graça

O Mamadú Sori Baldé de Dembataco, é o do nosso pelotão,mas tem o nº.821110469,pois tenho uma carta que me enviou em 22/9/71 onde refere aquele nº.
Também tenho cartas dele do ano 2000,em que estava de saúde,confirmado por telefonema que lhe fiz para Bambadinca,pois e tinha pedido ao Umaru Baldé para o informar, o dia e hora em que o fazia.
Enquanto o Umaru esteve vivo,o Mamadú estava bem.

Quanto ao José Carlos Suleimane Baldé,trocámos correspondência desde 2000 até 2004, onde perguntava por todos, e lamentava a situação dele e deles.
Tenho as cartas no meu arquivo.

Também tenho muitos aerogramas do Umarú Baldé de 1971 a 1973,bem como cartas e outros escritos,da vinda dele para Portugal,onde chegou em 15 de Abril de 1999 e esteve até falecer,indo só à Guiné em 2001,para estar algum tempo com a família.

Um abraço

António Marques

Luís Graça disse...

António: Obrigado pelos teus esclarecimentos. Quanto à correspondência que possuis, em arquivo, trocada com alguns dos nossos camaradas do 4º Gr Comb (que foi teu, mas também meu..., o Mamadu Sori Baldé,o Umaru Baldé, o José Carlos Suleimane Baldé, gostaria de um dia dar-lhe uma vista de olhos... Acho que seria interessante podermos publicar aqui alguns excertos... Um abraço. Luís

j. eduardo alves disse...

a vitima foi portugal, que foi democratisado por um bando de assltantes de bancos, e levou o país ao estado em que vivemos, e entregou as provincias ultramarinas a grupos armados, e não á pupolação, por isso mesmo eu estou solidáreo com os africanos, disse-me um africano, o Sepinula disia vamos fazer uma Guiné melhor afinal ficou pior, mas afinal isto é politicamente incorreto,

Anónimo disse...

Luis

Tudo o que tenho,está à tua disposição, para lhe dares um vista de olhos.

Hà aqui algo interessante, que vais analisar se publicas ou não.

Quando guardei,longe de mim, que poderia ser interessante partilhar.

Ao fundares o Blogue, abriste muitas portas.

Eu antes pensava, que a minha, estava definitivamente fechada.

Mais um forte abraço

António Marques

Luís Graça disse...

José Eduardo Alves, meu camarada:

Sou capaz de entender o teu "desabafo"... Os tempos que correm são propícios aos destemperos emocionais... Mas não adianta incendiar o capim, não ajuda em nada os nossos antigos camaradas guineenses...

Aqui não se defende o "politicamente correcto" (que eu nem sei o que é...), mas há um consenso sobre o "bloguisticamente correcto", e que remete para uma das nossas 10 regras do bom escrever e do bom conviver:

(...) "Manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a insinuação, a maledicência, a violência verbal, a difamação, os juízos de intenção, etc.)"...

Um abraço. Espero encontrar-te em Monte Real, no dia 4 de Junho. Luis Graça

Luís Graça disse...

Meu querido António: Fico contente por saber que o blogue também abriu portas para ti... O mesmo aconteceu comigo, que estava longe de imaginar, há 7 anos atrás, que estarias aqui, agora, os dois a "blogar", à volta dos nossos camaradas guineenses que, em Junho de 1969, não falavam (nem muito menos escreviam) português nem sabiam onde ficava o Portugal que começava no Minho e acabava em Timor... Terei muito gosto (e curiosidade intelectual) em "vasculhar" o teu arquivo...Luís

Anónimo disse...

Com o nosso sentimento de vergonha(porque ele existe,mesmo nos que se opunham à guerra)em relacäo ao esquecimento a que foram votados os que a nosso lado lutaram,(e em nós acreditaram),acabamos por esquecer que nenhum dos poderes coloniais europeus descolonizou simultâneamente com a queda de uma ditadura de cinquenta anos,seguida de uma situacäo pré-revolucionária com todo o caos de autoridade política,administrativa,e näo menos,militar.Quem,ou quais,provocaram este caos,näo lhe vem diminuir nem a intensidade,nem as consequências.Este facto näo desculpará a tragédia,mas,de certo modo,esclarece-a.Por muito que,como indivíduos, sintamos sincera vergonha,as responsabilidades estavam de tal modo "diluídas" num vastíssimo campo de caos político(e,mais uma vez,provocado ou näo)que acabaram por abranger mais "INSTITUICÖES" que indivíduos. Um abraco.

Hélder Valério disse...

Pois é, caros camarigos.

Esta é uma situação (mais uma) de difícil resolução.
Não foi (bem) tratada em tempo útil e agora será quase impossível.

No entanto nada impede que nos esforçemos (individual e/ou colectivamente) para encontrar solução para um ou outro caso. Não se tratará de 'limpar consciências' mas antes provarmos a nós próprios que a solidariedade não é uma palavra vã.

Abraços
Hélder S.

Carlos Silva disse...

Amigos & Camaradas

1 - Que palavras bonitas aqui são proferidas
2 – O Mário Fitas acima diz:Foi uma honra para mim, num 10 de Junho, encontrar o Bodo Jau que passando por Cufar, ao fim de alguns anos foi dos que foram buscar o nosso estimado Miguel Pessoa às matas de Guilege.
Fica aqui a promessa de que irei escrever sobre estes grandes homens, por nós tornados apátridas.
3 - Eu repito o que referi no Poste 4506 - Estou na Madeira há dias, gozando umas férias deliciosas.
Contudo, não consigo desligar-me do que se passa no nosso Blogue.
Asim, é com satisfação que vejo as notícias sobre o 10 de Junho e a confraternezação dos camaradas, bem como, a alegria dos convivas, estampada nas fotos.
No entanto, registo uma pequena frase do Bodo Jau para com o Miguel Pessoa, que com ironia do destino, para mim diz muito, quando diz a
que ele "estava mais magro quando foi recuperado"
É verdade, mas vocês no meio dessa alegria toda sabiam que o Bodo Jau, pertenceu aos "Roncos de Farim comandadado pelo Alf Ribeiro?
E sabiam que o Bodo Jau sobrevive com dificuldades?
E sabiam que é a Liga dos Combatentes que está a dar uma ajuda?
E sabiam que é a Junta de Freguesia da Damaia ou da Amadora que lhe está a dar de comer?
E sabiam que a Conservatória dos Registos Centrais lhe recusou a nacionalidade?
Enfim, a alegria que que vocês sentiam, por ironia do destino, corre na alma do Bodo Jau uma grande tristeza.
è preciso ajudá-lo.
Vejam o meu SITE
Quando chegar a Lisboa irei fazer um artigo ou contactar alguns amigos.
Pois o Blogue também tem de ter uma par Humana e Social ou então vou pensando nesta mensagem para depois falarmos na Ortigosa
Até lá um grande abraço
Carlos Silva
4 – O Bodo Jau continua na mesma assim como muitos que para em “Bissau 2” leia-se Rossio
5 - De facto o Blogue não é uma Instituição de caridade, mas o que têm feito por esses nossos camaradas? Deixemo-nos de tretas
Um abraço amigo
Carlos Silva

j. eduardo alves disse...

Amigo e camarada Luis Graça hoje ao levar me passei pelo P C, E não podia deixar de dar uma vista de olhos ao blogue, curvo-me perante o seu reparo, ao meu comentário, das três veses que fui á Guiné, tambem me deparei com pedidos desses, mas que se pode fazer, um dia falaremos disso um abraço e até lá

Joaquim Mexia Alves disse...

Meus camarigos

Este é um assunto que me dói de um modo muito especial, e sempre me doeu desde a “descolonização”, dita exemplar.

Comandei estes homens, (refiro-me obviamente aos soldados Portugueses da Guiné), e sublinho, Portugueses da Guiné, porque o eram na altura, porque Portugal deles se serviu, porque Portugal assim os considerou, porque juraram a bandeira Portuguesa.

Durante cerca de 19 meses, foram eles, com mais uns Portugueses da Metrópole, escolhidos a dedo a maior parte das vezes por serem incómodos para os seus comandantes de Companhia ou de Pelotão, das suas unidades oriundas da Metrópole, que foram os meus camarigos, que me defenderam, defendendo-se, que comigo partilharam as suas vidas, que comigo se alegraram e entristeceram, enfim que comigo viveram da forma mais intensa, que é a forma de quem vive em guerra.

Ligaram-me indeléveis laços à C. Caç. 12, mas todas as unidades ditas africanas, companhias ou pelotões, cabem nesta carta escrita, por quem se sente traído e abandonado.

Diz o meu amigo José Belo, para de alguma forma mitigar as nossas responsabilidades, (não me ponho de fora porque sou Português e como tal tenho a minha parte de culpa), que os tempos eram de “confusão” e algum “desnorte”, mas a verdade é que muitos desses que tomaram nas mãos a dita descolonização, não se esqueceram de si próprios, com graduações, lugares e prebendas.

O Carlos Silva fala do Bodo Jau, (que eu não conheço, mas também não é importante esse facto), e eu penso, e apenas falo por mim próprio neste momento, que provavelmente seria um modo de utilizarmos algum dinheiro já recolhido na Tabanca do Centro, e que sempre se destinou a auxiliar combatentes da Guiné.

É algo que terei de colocar aos meus camarigos da Tabanca do Centro, o que farei por mail brevemente.

As “migalhas” que arranjarmos, não resolverão os problemas destes nossos camarigos, mas pelo menos amenizarão qualquer coisa e dir-lhes-ão que não os queremos esquecer.

O blogue não é uma instituição de apoio social, mas pode muito bem fazer uma recolha de fundos pelos camarigos, para criar um “fundo” que ajude estes nossos camarigos guineenses.

Poderá alguém de Lisboa, fazer também esse levantamento no Rossio para percebermos a dimensão do problema e percebermos também como poderemos ajudar em possíveis trabalhos e também na obtenção de documentos.

Se Portugal os esqueceu, que não os esqueçamos nós.

Sinto-me envergonhado, mas essa vergonha não os ajuda em nada!

Um abraço para todos

alma disse...

Dói e Envergonha!

Nenhuma explicação pode atenuar ou

excluir a Responsabilidade

Portuguesa.

Passaram já 37 anos...


Jorge Cabral,Alfero do Pel.Caç.Nat.63

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Certamente o conteudo da carta deste nosso irmao ex-soldado Português não podia ser mais pungente e dramático, mesmo assim, e todos nós o sabemos muito bem, ainda não conseguiu exprimir toda a magoa, incompreensão e impotencia a que foram votados.

Na minha opinião, é injusto e completamente errado pensar que o PAIGC não assumiu as suas responsabilidades nesta questão. eles assumiram sim, impondo a Portugal a sua própria solução.

Não vou me alongar sobre isto, porque, parte destas verdades já aqui foram ditas por pessoas distintas e que merecem todo o meu respeito (refiro-me ao José Couceiro, ao Mexias Alves, Helder Valério etc.) e, a verdade, só a verdade já vale muito mais que todas as compensações materiais possiveis e imagináveis que Portugal, mesmo que tudo fosse diferente, pudesse prodigar.

A posição do José Belo parece mais confortável, ai no frio do Ártico, mas é simplesmente falsa e ilusória, é a tal politica do avestruz...

Solidarizo-me com os nobres sentimentos do Mário Fitas e do Homem Grande, o Mexias Alves que não querem deixar as culpas e a responsabilidade nas instituições como se se tratasse de acções numa SA. Portugal são vocês, somos todos nós, homens e mulheres que alguma vez, mesmo por alguns segundos se identificaram com a sua causa.

Para nós, ainda hoje, a guerra colonial, pela sua destruição e consequencias, é ressentida com a mesma intensidade do que os povos da antiga Soviéticos ressentiram com a grande guerra de 45. Nada e ninguém será esquecido.

Ao Luis Graça quero agradecer e informar que o seu companheiro de armas, Curael Djau, apesar das suas dificuldades pessoais foi nosso tutor e benfeitor em Bafatá entre 1975/77 (eu e o Mulai Baldé entre outros). Homem muito crente a Deus (depois de completamente abandonado pelos homens a unica coisda que resta ao humano é virar-se a Deus). Mais tarde tive que sair porque tinhamos visões um pouco diferentes sobre a religião e as formas de a seguir, mas contiuamos sempre amigos. Acho que já deverá ter morrido. Não posso confirmar de imediato, procurarei saber.

Obrigado e grande abraço a todos,

Cherno Baldé

Anónimo disse...

As "Instituicöes" por mim referidas em comentário,näo seriam propriamente "SAs"(apesar de, no granel político da altura,bem o parecerem!)mas as Forcas Armadas,nas quais(Exército) estes soldados guineenses tinham prestado servico,e pelos quais a "Instituicäo" teria,pelo menos,responsabilidades morais e de honra.E,por muito que,como indivíduos,nos podemos sinceramente sentir "co/responsáveis",as responsabilidades últimas destas "Instituicöes" säo...colectivas.Como PORTUGUÊS,(do que me orgulho ser),sinto grande respeito por todas as afirmacöes de patriotismo.Mas,infelizmente,estas näo invalidam os factos que acabaram por provocar täo vergonhosa página da nossa História. (PS/Os "frios" säo relativos.E,quanto a mim,os avestruzes säo uns simpáticos passarinhos.) Um grande abraco.

Torcato Mendonca disse...

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Torcato Mendonca disse...

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### Dói e Envergonha!

Nenhuma explicação pode atenuar ou

excluir a Responsabilidade

Portuguesa.

Passaram já 37 anos...


Jorge Cabral,Alfero do Pel.Caç.Nat.63

Quarta-feira, Maio 04, 2011 11:42:00 AM
####
Com o pedido de desculpas ao Jorge Cabral.
Em meia dúzia de palavras está tudo dito.
Por vezes falamos falamos e nada dizemos...pois que se parta para a acção. Que se tomem posições concretas. Há quem saiba melhor do que eu e é solidário.

Abraço os ex Combatentes da Guiné, nascidos lá ou cá, foram Soldados de Portugal. Respeitem-nos.
Já aqui escrevi várias vezes sobre o tema. Nada acrescento. Por outra, saúdo só os militares do PAIGC, desse tempo claro e acrescento que não era necessário fuzilar tantos Camaradas meus.

Por um Portugal e Guiné mais Justos, Melhores, Fraternos e Desenvolvidos.

#Ter memória é preciso#

AB T.

Carlos Silva disse...

Amigos & Camaradas

1 – Voltando ao tema que os camaradas invocam terem passado 37.. 39.. 40 anos etc etc, parecendo querer dizer que agora não se pode fazer nada e apenas nos resta aceitar uma postura de resignação, mas sempre com palavras bonitas, blás, blás, mas acções de solidariedade nada.
2 – Já referi que o Blogue não é uma Instituição de Caridade e apesar de invocar esta referência não é para pedir absolutamente nada ao Blogue, mas para dirigir-me aos camaradas.
3 – Referi o caso do Bodo Jau como poderia referir muitos outros africanos e não só. A mensagem que eu quis transmitir foi um apelo à solidariedade e não às “palmadinhas nas costas”.
4 – O Mexia Alves entendeu a mensagem e suscitou a possibilidade concreta e real de um apoio efectivo de solidariedade. Aliás, creio que vem na sequência de uma proposta do Vasco Gama que já apelou para uma Associação de Solidariedade exclusivamente para dar apoio aos nossos camaradas, que talvez tivesse sido suscitada na sequência de uma conversa que tivemos no 1º encontro da Ortigosa e com o Belarmino Sardinha.
Parece que não chegaram a constituir a Associação, mas pelo menos 2º diz o Mexia, criaram um fundo para o efeito e vão amealhando uns tostões.

5 – Não é só este caso deste nosso camarada da CCaç 12, são milhares deles e poderia enviar para o Blogue n cartas. Tendo eu até recebido uma carta de um camarada que remeti para o então 1º Ministro António Guterres, através da qual ele dizia que nasceu português, jurou a bandeira portuguesa e tem uma em casa e que continuava português, assim como, era do Benfica etc etc…Agora tirem as ilações que bem entenderem.

6 – Portanto deixemo-nos de “lamechas”, pois eu não me sinto culpado de nada e nem envergonhado. Assumo as minhas responsabilidades e a minha quota parte na solidariedade.

7 – Quem é o responsável pela situação é Portugal. O Estado Português.

8 – Já alguém do Blogue e algum camarada que acede a estas bandas e pertencem a Associações de ex-Combatentes pensou ou lembrou-se de solidarizar-se com esses camaradas e colaborar na propositura de uma acção de indemnização contra o Estado Português?

9 – Digo isto porque em conversa com um Camarada Ten Coronel hoje na reserva natural e ex-combatente na Guiné da CCaç 18 – Africanos, em conversa me disse que os ex-combatentes argelinos da guerra colonial francesa propuseram uma acção de indemnização devido ao seu abandono, contra o Estado Francês e ganharam.

10 – Deste modo, meus Amigos & Camaradas, deixemo-nos de lamúrias, porque o único responsável pela situação é o Estado português, mas nós para atenuar dentro da medida do possível essas situações críticas, poderemos cada um de nós fazer qualquer coisa, nem que seja contribuir com um euro que poderá ter um efeito multiplicador e atingir milhares.

Recebam um abraço amigo
Até Monte Real
Carlos Silva

alma disse...

Não assumo a Culpa,mas assumo a Vergonha!Sou Português..
Não confundo Caridade com Solidariedade!
Que fez nestes 37 anos o Estado
Português para minorar a situação
destes Soldados Portugueses?
Acção contra o Estado? Pois, dará
uma badalada cobertura mediática..

Abraço.

Jorge Cabral

Joaquim Mexia Alves disse...

Caro Carlos Silva

Li o teu comentário com o qual concordo em parte.

1 – A ideia do fundo para ajudar combatentes, surgiu quando se deu inicio à Tabanca do Centro, que praticamente todos os meses se reúne à volta de um “cozido à portuguesa”, em Monte Real.
Foi uma ideia generalizada e todos os participantes e que consistia em ao pagar o almoço, dar sempre mais qualquer coisa para ir constituindo esse fundo que não foi até agora utilizado.

2 – A sua utilização em prol da ajuda aos combatentes, especificamente num caso concreto, precisa obviamente do acordo dos “cooperantes”, o que não antevejo com dificuldade nenhuma.

3 – Peço-te que ma faças chegar via mail, situações concretas e os possíveis modos de agir, para eu poder propor aos “cooperantes” que são todos os que quiserem ser, ou seja, a Tabanca do Centro está aberta a toda a gente.

4 – Não é uma questão de culpa, é uma questão de vergonha. Eu sou Português e o que o meu país faz reflecte-se em mim. De algum modo até uma certa culpa, porque se as coisas estão erradas também me compete como cidadão pugnar porque elas mudem, e se o não faço, então pelo menos tenho parte na culpa por omissão.

5 – Quanto à acção judicial deixo esse discernimento aos advogados e se for viável apoiá-la-ei no que me for possível.
Pelo menos mediatiza as coisas.

6 – Não me parece, e desculpa, que sejam necessários os termos lamechas e lamúrias, para se ter razão.
Apenas incomodam e muito provavelmente afastam.
Falemos cordatamente, para arranjarmos consensos e podermos efectivamente ajudar quem precisa.

Um abraço amigo para ti e para todos

Antº Rosinha disse...

Os portugueses que governaram nos primeiros anos pós 25 de Abril, eram em geral totalmente «anti-colonialistas».

Mas mais que o anticolonialismo demonstrado, demonstraram mais uma enorme «alergia» a tudo o que não fosse a maravilhosa e civilizada europa.

Daí, ignorarem problemas tão menores como o que se ia passar em África.

Até os movimentos independentistas estranharam a pressa do "nosso abandono".

Esta uma das principais explicações no meu entender para muitas das coisas ´más do nosso comportamento para este caso.

A desistência é a nossa principal qualidade!

Enfrentar de frente os problemas graves, só em casos raros.

Torcato Mendonca disse...

###Falemos cordatamente, para arranjarmos consensos e podermos efectivamente ajudar quem precisa.###
novamente em copy paste.

Porque concordo. Mas jamais em caridade, que detesto, mas em solidariedade.

Se queremos "mediatismo" pois apareça
a tal acção contra o Estado Português. Se não querermos fazer nada pois .... falemos falemos para nada dizer...Nobre Povo.

São estes Soldados e são milhares de outros. Urge pôr fim a esta ignomínia. Hoje, dizem e eu ouvi atentamente, vão ser feitas reformas profundas. Englobem no pacote esta.Até dá votos porra!!!

Abraço T.

Carlos Silva disse...

Meus Amigos & Camaradas

1 – “Lamúrias e lamechas”, empreguei intencionalmente, para provocar reacções o que aconteceu e não foi no sentido de afastar os camaradas de um consenso, longe de mim, tal intenção.

2 – Acção contra o Estado? Pois dará uma badalada cobertura mediática? É a tua opinião Jorge, que respeito muito.
Eu invoquei essa situação tendo em conta a conversa que tive com o camarada referido e ele sabe do que fala.
De facto poderá ser difícil obter êxito e até pode ter prescrito, face ao nosso ordenamento jurídico. Não sei, mas que os argelinos conseguiram contra o Estado Francês numa situação semelhante conseguiram.
Tu és jurista ou advogado, tal como eu e sabes perfeitamente que suscitei a questão não tendo nada a ver com mediatismo. Mas se é essa a tua opinião. Respeito
3 – Já referi e reitero eu não me sinto responsável por a situação em causa e nem me sinto envergonhado. Assumo as minhas responsabilidades e a minha quota parte na solidariedade, e foi isso que referi e nada tem a ver com a expressão empregue que o Blogue não é nenhuma instituição de caridade, que fique bem claro.

4 – Se têm dúvidas aconselho-vos a visitarem o meu Site e o Site da Ajuda Amiga

5 – Acresce que, modéstia á parte, para além de ajudar n camaradas em múltiplos aspectos desde o económico; social e jurídico, patrocinei n acções relacionadas com aspectos aqui invocados, na 1ª instância e na Relação.
Integrei uma Comissão conjuntamente com o Cor Comando Manuel A Bernardo; e comandos Alferes Amadu Bailo Dajaló; Fur Julde Djaquité e Mansata Djau, viúva de do Cap Saieg fuzilado, guineenses elaborando um documento exaustivo contemplando sem excepção todos os ex-combatentes africanos, que entregamos no Ministério da Defesa Nacional e que deu os seus frutos.
Poderia ainda acrescentar mais situações.
Mas fico-me por aqui
Era esta a mensagem que vos queria transmitir sem ter que invocar este tipo de acções efectivas, reais e concretas levadas a efeito por mim e era no sentido de procurar consensos e não de afastá-los.
Perdoem-me se não me fiz entender.
Agora tirem as ilações que bem entenderem
Obrigado pela vossa paciência
Até Monte Real
Carlos Silva